Envolvido em "venda do PRTB" vira assessor de Mendes

Desde as eleições de 2008, o PRTB passou a ser visto como sinônimo de "escândalo eleitoral". Pelo fato de apoiar determinados candidatos supostamente a troco de recursos financeiros e cargos nas administrações públicas, a sigla também passou a ser tachada "de aluguel".

Denúncias que ganharam destaque na mídia nacional, por exemplo, dão conta de "acertos" nas cidades de Cuiabá e Curitiba (PR). Nas duas ocasiões, a divulgação de vídeos com os flagrantes dos supostos acertos financeiros entre filiados do PRTB e de outros partidos deixaram a legenda em situação delicada.

O mais recente escândalo é revelado pelo site O Documento, ao publicar a relação empregatícia entre o advogado Fernando Capilé - envolvido nas denúncias de compra do PRTB em Cuiabá - com o presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt), empresário Mauro Mendes (PR). O republicano disputou as eleições de 2008, saindo derrotado, mas acabou acusado de ter comprado o apoio do PRTB, que estava na base do então candidato à reeleição, o prefeito Wilson Santos (PSDB).

Capilé, candidato derrotado a vereador por Cuiabá, atua desde maio na função de assessor sindical da Fiemt. Em entrevista ao MidiaNews, nesta quarta-feira (24), ele negou qualquer relação política com seu cargo, destacando que essa informação faz parte de um processo que teria a finalidade de prejudicá-lo, mas não cita nomes e nem grupos que teriam esse interesse. "Querem buscar de alguma maneira me prejudicar. Isso é perseguição! Nem tenho contato com Mauro Mendes", afirmou.

A respeito da denúncia publicada na Revista Época, no final do ano passado, revelando as supostas negociações entre PRTB e PR, Fernando Capilé, que foi apontado com um dos líderes do esquema, juntamente, com Pedro Moura e Marcionei Curvo, negou as acusações. Os três foram flagrados pela Polícia Civil saindo juntos de uma reunião, num jipe Pajero, no dia 13 de outubro de 2008, com vários envelopes com dinheiro e material de propaganda da campanha de Mauro Mendes. Na ocasião, eles foram encaminhados à Polícia Federal, onde prestaram depoimento. O caso está na Justiça Federal.

Fernando Capilé negou a negociação para apoiar Mauro Mendes, destacando que não apareceu nas imagens mostradas pela Revista Época. Além disso, ele diz que o flagrante feito pela Polícia Civil não passou "de uma armação". "Naquele dia, sai da reunião partidária e peguei uma carona com o Marcionei, pois ele iria passar próximo da minha casa. Abordaram o carro e disseram que encontraram os envelopes e material de campanha, mas isso foi uma armação", disse.

O episódio foi filmado e foram divulgados quatro vídeos que mostravam, segundo Revista Época,"como assessores, empresários e políticos ligados ao governador Blairo Maggi, contrataram o PRTB, um minúsculo partido de aluguel, para trocar de candidato no segundo turno da eleição para a prefeitura de Cuiabá. O pagamento seria em dinheiro e cargos no Governo Estadual". O valor acertado, segundo os vídeos, foi de R$ 420 mil e cargos no Governo do Estadol. Ao todo, 19 candidatos derrotados teriam vebdido apoio.

Nos vídeos aparecem negociando a compra o então candidato à reeleição,  deputado federal Homero Pereira (PR), o secretário estadual de Planejamento, Yenes Magalhães (PR), o empresário Mauro Carvalho - na ocasião, o coordenador de finanças da campanha de Mauro Mendes. Além dos candidatos do PRTB, liderados pelo secretário-geral da sigla, Pedro Moura.

Moralização

Nesta semana, o vereador cuiabano Néviton Fagundes (PRTB), em entrevista, observou que esses escândalos prejudicam o partido no País. "Essas pessoas saem e o partido acaba enfraquecido diante das dificuldades", afirmou. Ele destacou que o PRTB tem que passar por um processo de moralização para mudar a imagem no Brasil.

O vereador afirmou que, mesmo com o desgaste, continuará no partido, mas pediu providências ao diretório nacional, para que reverta essa situação junto à opinião pública. "Temos que fazer ações para mudar a imagem do PRTB, pois não podemos pagar por atitudes de alguns filiados, o partido é maior que esses escândalos", destacou..

Caso Ralf Leite

Outro escândalo que afetou o partido em Cuiabá foi o envolvimento do vereador Ralf Leite com um travesti menor de idade. Ele foi flagrando por dois policiais militares, em fevereiro passado, na região do Zero KM, em Várzea Grande, fazendo sexo oral com um adolescente em uma Pajero. Ralf é acusado de tentar intimidar os militares, utilizando da prerrogativa de vereador. Por este motivo, ele responde a uma ação disciplinar na Câmara de Vereadores e corre o risco de ser cassado.

No Paraná

A armação em Curitiba foi mostrada em vídeo divulgado neste fim de semana, pelo programa "Fantástico", da Rede Globo. Pelo menos 28 dos 55 candidatos a vereador pelo PRTB em Curitiba teriam desistido de suas candidaturas, mediante recebimento de dinheiro não declarado à Justiça Eleitoral e cargos na prefeitura, para dar apoio a Beto Richa (PSDB), prefeito reeleito.

Outro lado

O presidente da Fiemt, Mauro Mendes, não foi encontrado para dar a sua versão sobre os fatos.

A Assessoria de Comunicação da Fiemt informou que Fernando Capilé é funcionário da entidade e que passou por todo um processo de seleção para ser contratado. Capilé, segundo assessoria, realizou todos os procedimentos padrões. O departamento negou qualquer possibilidade de Capilé ter sido beneficiado por indicação de caráter político-partidário.