Cuiabá, Sexta-Feira, 10 de Outubro de 2025
VENDA DE SENTENÇAS
10.10.2025 | 09h21 Tamanho do texto A- A+

PF aponta empresa de Cuiabá como núcleo central de esquema

Polícia quer aprofundar investigação sobre eventual participação de filha de ministro do STJ

Agentes da PF durante deglaração de fase da Operação Sisamnes

Agentes da PF durante deglaração de fase da Operação Sisamnes

DA REDAÇÃO

Reportagem do jornalista Aguirre Talento, do Estadão, revela que a Polícia Federal apontou a empresa Fource, com sede em Cuiabá, e seus sócios, Haroldo Augusto Filho e Valdoir Slapak, como núcleo central do esquema criminoso de compra de decisões judiciais.

 

Em um relatório parcial, a PF apontou que Haroldo tinha “influência direta” em gabinetes do STJ e citou como exemplo o relacionamento pessoal do empresário com a advogada Catarina Buzzi, filha do ministro do STJ Marco Buzzi.

 

Confira a íntegra da reportagem:

 

A Polícia Federal solicitou ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Cristiano Zanin autorização para aprofundar a investigação sobre vendas de decisões judiciais no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

 

A PF quer apurar o envolvimento de novos personagens e também a atuação da filha de um ministro da Corte. Zanin é relator do caso no inquérito que trata do assunto e tramita no Supremo.

 

No relatório parcial, a PF afirmou que o núcleo central do esquema criminoso de compra de decisões judiciais é ocupado pela empresa Fource e seus sócios, Haroldo Augusto Filho e Valdoir Slapak.

 

A PF apontou que Haroldo tinha “influência direta” em gabinetes do STJ e citou como exemplo o relacionamento pessoal do empresário com a advogada Catarina Buzzi, filha do ministro do STJ Marco Buzzi.

 

A Fource, Catarina e Marco Buzzi foram procurados na noite de quinta-feira, 9, mas não responderam. Questionada anteriormente sobre esses fatos, Catarina Buzzi afirmou que nunca atuou em processos de interesse de Haroldo que tramitaram no gabinete de seu pai.

 

O gabinete do ministro também já afirmou que não tem conhecimento das relações de sua filha e que não proferiu decisões favoráveis aos interesses do empresário. A defesa de Haroldo não havia se manifestado sobre esses fatos.

 

Segundo a PF, além de manter relação com esses gabinetes, Haroldo também contratava para os serviços ilícitos o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves e o advogado Roberto Zampieri, que foi assassinado em dezembro de 2023.

 

O Estadão antecipou, em julho, que a PF apurava vínculos do empresário com familiares de ministros do STJ e que Haroldo tentou organizar um jantar para o ministro Marco Buzzi. O Estadão também revelou que o escritório de advocacia de Catarina funcionava em um imóvel pertencente à Fource --ela disse pagar aluguel pelas salas.

 

“O trânsito direto da Fource, por meio de Haroldo, lhe proporcionava espaço privilegiado para patrocinar eventos jurídicos de grande repercussão, nos quais buscava, notadamente, aproximar-se de autoridades. Inclusive, essa inserção alcançava também relações pessoais, como se observa na interlocução de Haroldo com a filha do ministro Marco Buzzi, a advogada Catarina Buzzi, que, em seguida, chegou a estabelecer contato com Roberto Zampieri”, diz o relatório.

 

De acordo com o inquérito, essa deve ser uma das novas frentes de apuração do caso.

 

“Tais elementos, contudo, por envolverem outras unidades jurisdicionais, serão tratados em procedimento próprio, de modo a evitar a dispersão do objeto e garantir a efetividade das investigações. Em síntese, os elementos reunidos indicam que o grupo Fource Consultoria/Participações, sob o comando de Haroldo e Valdoir, estruturou-se como pilar de impulsionamento do esquema criminoso em apuração”, diz o relatório.

 

De acordo com a PF, os sócios da Fource identificavam processos de interesse econômico da empresa e acionavam os dois contatos: Zampieri e Andreson. “Ao advogado Zampieri competia a função de intermediador, responsável por organizar as demandas, ajustar encaminhamentos e articular contatos externos. Já ao lobista Andreson cabia a atuação em Brasília, com especial foco no Superior Tribunal de Justiça, valendo-se de seu acesso privilegiado a servidores e gabinetes para manejar prazos, minutas e pautas processuais”, apontou a investigação.

 

PF encontrou novos diálogos

 

O inquérito da Polícia Federal obteve acesso à extração de dados da nuvem do celular do lobista Andreson de Oliveira Gonçalves. Com base nessas provas, a PF aprofundou as suspeitas envolvendo a compra de decisões judiciais por parte dele.

 

A PF diz que o lobista montou uma “sofisticada rede de intermediários, operadores e servidores estratégicos” para a comercialização de decisões judiciais do STJ e outros tribunais. Para isso, buscava acesso a servidores públicos ou a intermediários com trânsito nos gabinetes.

 

“As apurações revelaram a existência de um mercado paralelo de influência, no qual contratos milionários de advocacia ou de consultoria eram firmados com o propósito de assegurar decisões previamente combinadas, em substituição à efetiva atuação técnico-jurídica nos autos”, diz o relatório.

 

As provas mais robustas obtidas pela investigação envolvem a cooptação, por parte do lobista, do servidores do STJ Márcio Toledo Pinto, que foi demitido no mês passado por causa das suspeitas do seu envolvimento no esquema.

 

A PF detectou que um contador ligado ao lobista abriu uma empresa em nome da esposa do servidor do STJ.

 

Essa empresa recebeu transferências de R$ 4 milhões de Andreson, no período em que Márcio repassava ao lobista minutas de decisões do gabinete da ministra Isabel Gallotti. Na nuvem do celular de Andreson, a PF encontrou diálogos entre os dois.

 

Nas conversas, o lobista enviava a Márcio os comprovantes de depósitos para a empresa da sua esposa. As defesas deles não se manifestaram.

 

O relatório apontou ainda citações nos diálogos aos nomes de outros possíveis servidores do STJ e modificação de minutas por eles. Por causa disso, a PF apontou que a rede de venda de decisões do tribunal pode ser ainda maior e seria necessário prosseguir o aprofundamento dessas informações.

 

“Nesse contexto, os dados extraídos da nuvem de Andreson, além de confirmarem sua condição de articulador das manipulações judiciais, revelaram novos elementos de relevância probatória. Entre eles, destacam-se os contatos mantidos com servidores, chefes de gabinete e Magistrados, as tratativas financeiras e a concessão de empréstimos de aeronaves para uso particular de autoridades, bem como indícios de influência em indicações de Magistrados para cargos públicos”, afirmou o relatório.

 

Conclui a Polícia Federal: “Registra-se, por fim, que o presente Relatório Parcial não encerra a investigação, mas estabelece uma base indiciária para o avanço das diligências e para a atribuição individualizada de potenciais responsabilidades penais. Sendo assim, encaminham-se os autos a Vossa Excelência para ciência e deliberação quanto às medidas que entender cabíveis”.

 

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