Cuiabá, Quarta-Feira, 30 de Julho de 2025
OPERAÇÃO VENTRÍLOQUO
28.05.2017 | 16h00 Tamanho do texto A- A+

Romoaldo admite empréstimo, mas nega ter pago por meio de desvio

Em depoimento, deputado reconheceu empréstimo em valor aproximado ao da propina que supostamente recebeu

Reprodução

Deputado estadual Romoaldo Júnior, acusado de envolvimento em suposto esquema

Deputado estadual Romoaldo Júnior, acusado de envolvimento em suposto esquema

LAURA NABUCO
DA REDAÇÃO

Investigado na operação Ventríloquo, deflagrada pelo Ministério Público Estadual (MPE) em meados de 2015, o deputado estadual Romoaldo Júnior (PMDB) admitiu em depoimento ter feito um empréstimo em valor aproximado da propina que é acusado de receber de recursos desviados da Assembleia Legislativa.

 

Nas declarações, feitas em outubro do ano passado ao próprio MPE, o parlamentar afirmou, todavia, que não sabia que a dívida de R$ 520 mil contraída por ele com o empresário Rodrigo Santiago Frison havia sido quitada por Joaquim Fábio Mielli Camargo, um dos delatores do esquema investigado na operação e responsável por depositar o dinheiro dos desvios em contas indicadas pelos réus.

 

Romoaldo é um dos acusados de participação no suposto desvio de aproximadamente R$ 9,4 milhões da Assembleia Legislativa por meio do pagamento de uma dívida de um seguro contraído pelo Poder com o antigo banco Bamerindus – atual HSBC.

 

Não [recebi vantagens], porém em junho de 2014 Riva me disse que parte do valor pago ao banco, pelo Mielli, foi devolvido para pagar despesas não contabilizadas da ALMT

Segundo a delação do advogado Julio Cesar Rodrigues, ele teria recebido pelo menos R$ 590 mil para assinar o documento que autorizou o pagamento. Na época, o peemedebista ocupava o cargo de presidente da Mesa Diretora em substituição ao ex-deputado estadual José Riva, então afastado por determinação judicial.

 

O valor da suposta propina paga a Romoaldo – R$ 590 mil – é citado em uma conversa entre o também delator do esquema, o advogado Julio César Rodrigues, e Mielli Camargo. Ocorrida em maio de 2014, ela foi gravada por Rodrigues e apresentada ao Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) como parte de seu acordo de colaboração com as investigações.

 

Pagamentos

 

De acordo com o depoimento, ao ser questionado se havia contraído um empréstimo pessoal com Rodrigo Santiago Frison, responsável pela empresa Canal Livre, no valor de R$ 520 mil, Romoaldo respondeu "sim, e não paguei até o momento [outubro de 2016]", completando que "não, não sabia que tinha sido pago pelo Mielli", diante de uma nova pergunta feita por promotores de Justiça.

 

O deputado ainda foi questionado sobre outros pagamentos supostamente feitos pelo advogado delator. Segundo seu depoimento, em junho de 2013, Mielli também teria quitado uma dívida de R$ 600 mil que incluiria serviço de fornecimento de aparelhos de ar condicionado para a Assembleia Legislativa, além de "toda estrutura para a casa de apoio que eu mantinha em Cuiabá".

 

"Apenas tomei conhecimento deste fato um pouco antes da deflagração da Operação Ventríloquo pelo ex-deputado Riva; que na ocasião avisei o Joel, que era o tesoureiro da ALMT à época, que tinha este passivo para pagar, mas não sei quem deu a ordem para o Mielli fazer o pagamento".

 

Na oitiva, o peemedebista ainda negou ter pedido ou recebido qualquer tipo de dinheiro ilícito para autorizar o pagamento dos R$ 9,4 milhões ao banco. Todavia, ele ressaltou que Riva havia lhe dito que parcela do dinheiro supriria outras despesas da Casa.

 

"Apenas segui o parecer da Procuradoria da Casa [...] Não [recebi vantagens], porém em junho de 2014 Riva me disse que parte do valor pago ao banco, pelo Mielli, foi devolvido para pagar despesas não contabilizadas da ALMT".

 

Veja fac-símile de trecho do depoimento:

 

print depoimento romoaldo

 

 

A denúncia

 

De acordo com a denúncia, entre 2013 e 2014, os deputados Romoaldo Júnior e Mauro Savi, em parceria com o ex-deputado José Riva e os demais acusados, - Francisvaldo Mendes Pacheco, Julio Cesar Domingues Rodrigues, Anderson Flavio de Godoi , Luiz Marcio Bastos Pommot e Joaquim Fábio Mielli Camargo - teriam constituído "organização criminosa" estruturalmente ordenada com objetivo de "saquear os cofres" da Assembleia.

 

Conforme o Ministério Público Estadual (MPE), com a colaboração de outras pessoas ainda não identificadas, os investigados "teriam se apropriado ilicitamente de recursos do Legislativo em proveito próprio".

 

Ainda na denúncia, o MPE afirmou que no período compreendido entre fevereiro e abril de 2014, houve o desvio dos cofres da Assembleia de cerca de R$ 9.480.547,69, "valendo-se da facilidade que proporcionava a condição de servidores públicos e agentes políticos de alguns de seus membros".

 

Segundo o MPE, no mesmo período os acusados teriam ocultado e dissimulado a natureza e a origem dos valores, contando com o auxílio dos empresários e assessores parlamentares José Antonio Lopes, Ana Paula Ferrari Aguiar, Claudinei Teixeira Diniz, Marcelo Henrique Cini, Cleber Antônio Cini, Valdir Daroit, Leila

Clementina Sinigaglia Daroit, Odenil Rodrigues de Almeida e Edilson Guermandi de Queiroz, todos denunciados na ação.

 

Consta na ação que as investigações demonstram que o deputado Gilmar Fabris teria sido beneficiário de R$ 95 mil do dinheiro desviado. Segundo o MPE, o parlamentar tinha "ciência da origem espúria dos recursos". Os promotores disseram que ele teria providenciado sua “lavagem” por meio de sua ex-assessora Ana Paula Ferrari Aguiar.

 

Foi também requerida a condenação do grupo ao pagamento de indenização pelos prejuízos materiais sofridos pelo erário, no valor de R$ 9.480.547,69, além da condenação pelos danos morais coletivos sofridos pelo Estado.

 

Foi fixada uma indenização no montante de R$ 10 milhões, cujo valor deverá ser investido em prol das áreas de saúde e educação.

 

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