"Meu sonho era ir ao circo", contou o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), a um auditório lotado na manhã deste sábado (16), durante o lançamento de sua pré-candidatura à Presidência da República, em São Paulo.
Momentos antes, ele havia sido recebido no palco ao som de "Que País É Esse", música do Legião Urbana, enquanto parlamentares do Novo se enfileiravam para aplaudi-lo. Apesar de toda a pompa preparada para o evento, que lança a pré-candidatura a um ano das eleições de 2026, Zema admitiu que tudo pode mudar se a conjuntura política assim exigir especialmente se o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pedir.
"Eu já participei de duas campanhas, em 2018 e em 2022, e sempre falo que, no decorrer da campanha, ajustes feitos pelos partidos políticos sempre são possíveis", declarou Zema ao ser questionado se abriria mão de sair à Presidência caso Bolsonaro pedisse. "Vejo com naturalidade essas mudanças na política. Vai depender muito das conversas entre os partidos", acrescentou.
Zema elogiou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), visto por muitos na política como o favorito a ser o presidenciável apoiado por Bolsonaro, e afirmou que uma eventual candidatura do titular do Palácio dos Bandeirantes não seria um impeditivo para que ele se mantivesse na disputa.
"O cenário que eu vejo é a direita caminhar com vários pré-candidatos. E lá na frente, no segundo turno, todos estarão juntos. Agora, tudo na política muda. Tem fatos não previsíveis, situações que ninguém consegue imaginar. Mas hoje a proposta, e eu me sinto muito confortável, é ser pré-candidato à presidência pelo Partido Novo", declarou.
Zema discursou por cerca de 15 minutos, como antecipou a Folha de S.Paulo, promovendo ataques ao presidente Lula, ao PT e ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). O governador disse que, em 2026, haverá um acerto de contas "com os três maiores inimigos desse país: o lulismo, os parasitas do Estado e as facções criminosas".
"Vamos chegar a Brasília para varrer o PT do mapa. Vamos chegar a Brasília para acabar com os abusos e as perseguições do Alexandre de Moraes. Vamos chegar a Brasília para libertar o Brasil", disse Zema, que disse "sai do Brics, Brasil" e pediu que o país se liberte do lulismo nas urnas.
"O Brasil caminha na direção de outra crise econômica porque caminha à base de anabolizantes. A visão de que gasto é vida é de uma idiotice sem tamanho. Assim como a aproximação de regimes totalitários."
Apesar de o entorno do governador apontar a necessidade de ele se tornar conhecido nacionalmente para viabilizar a própria pré-candidatura, Zema minimizou isso publicamente, alegando ter vencido duas eleições para o governo em Minas Gerais sendo um neófito na política na primeira delas.
O estado foi amplamente citado no discurso, sendo visto como estratégico nacionalmente porque, localizado na região central de um país de tamanho continental, é o segundo maior colégio eleitoral brasileiro e onde todos os presidentes eleitos desde a redemocratização tiveram a maioria dos votos.
"Em Minas, todos os Brasis se encontram", afirmou o governador mineiro, que fez do evento uma vitrine de ações de sua gestão no estado. "Em Minas não há um beco, uma viela, que seja das facções, onde a nossa polícia não possa entrar. O nosso estado é 100% soberano. Quando eu assumi, Minas Gerais era uma festa para o novo cangaço", disse.
Zema iniciou seu discurso com relatos de uma infância difícil contexto no qual contou que ir ao circo era um luxo para sua família— e traçou uma linha do tempo de sua trajetória até o momento em que decidiu se filiar ao Novo, em 2018, em protesto à tentativa do então governador Fernando Pimentel (PT) de se reeleger.
"Eu sempre tive aversão à política, até vir a crise da Dilma, em 2015", disse ele. "E em Minas foi pior ainda com o governo Pimentel", contou.
Ele admitiu que, em sua cruzada nacional, o maior desafio será conquistar votos na região Nordeste, onde, segundo ele, "a direita é menos votada no Brasil".
"O brasileiro está vendo, depois de 20 anos ou mais, que ficar recebendo eternamente o Bolsa Família não melhora a vida dele. É uma perpetuação de uma vida precária, sem dignidade, sem futuro. Eu acredito em emprego. No dia que o Nordeste acordar para isso, e já está acordando, nós vamos ver essa mudança", afirmou ele.
O governador acrescentou que é necessário "criar um mecanismo de desmame" para o Bolsa Família, mantendo pagamentos para quem conseguir emprego. "É preferível pagar o Bolsa Família mais 3, 4 anos para quem está trabalhando do que ficar pagando 30 [para um desempregado].
A palestra de Zema, no formato TED talks, teve o início ilustrado, ao fundo, por vídeos feitos por inteligência artificial, simulando situações narradas pelo governador, como sua infância trabalhando no posto de gasolina do pai em Araxá.
O evento foi realizado na Câmara Americana de Comércio, em um bairro da zona sul de São Paulo, e tinha por objetivo não só lançar a pré-candidatura do governador como também promover o congresso nacional do Novo, que completa dez anos de sua criação neste ano.
O local foi equipado com food trucks para alimentar os presentes nos intervalos dos discursos. Para receber filiados de fora de São Paulo, o Novo distribuiu uma cartilha com orientações sobre o evento, incluindo a previsão metereológica ("vale levar uma jaqueta leve ou até um suéter") e combinados de happy hour na sexta e no sábado.
Os presentes foram recebidos com faixas e adesivos de "Fora Lula" e "Fora Moraes", alguns dos gritos mais ecoados pelos parlamentares que discursaram e pela própria militância, que carregava faixas, baterias e compôs até mesmo uma música dizendo que o "STF é puxadinho do PT" para viralizar nas redes.
"Temos que fazer que nem as torcidas organizadas e os blocos de Carnaval e levar a música pra rua", disse o deputado estadual do Rio Grande do Sul, Felipe Camozzato.
Nos discursos de quadros políticos do partido, foi exaltada a suposta maturidade da sigla, que deu uma guinada à direita nos últimos anos e embarcou nos ataques a Moraes e ao STF. O senador Eduardo Girão pediu o impeachment de Moraes e o ex-procurador e ex-deputado Deltan Dallagnol, embaixador do Novo, usava uma camisa com os dizeres "Fora Moraes".
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