Cuiabá, Domingo, 19 de Outubro de 2025
ÁLBUM A CAMINHO
19.10.2025 | 08h30 Tamanho do texto A- A+

Multiartista cuiabana resiste para viver da música em Portugal

Ela divide carreira entre Brasil e Europa e detalha desafios da produção independente

Victor Ostetti/MidiaNews

A cantora e atriz Mariana Bandan, natural de Cuiabá mas vive da sua arte em Portugal

A cantora e atriz Mariana Bandan, natural de Cuiabá mas vive da sua arte em Portugal

PIETRA NÓBREGA
DA REDAÇÃO

"Eu fiquei dois ou três anos vivendo da arte de rua em Lisboa. Esse movimento que fazemos de ir pra fora também é sobre se aperfeiçoar. Às vezes você encontra uma oportunidade maior, mas de poder também ampliar sua visão, conhecer outras coisas e poder voltar e fazer a sua arte aqui".

 

Esse movimento que fazemos de ir pra fora também é sobre se aperfeiçoar. Às vezes você encontra uma oportunidade maior, mas de poder também ampliar sua visão

A fala da cuiabana Mariana Badan, 32, resume a percepção que a levou a construir uma carreira entre Cuiabá, Rio de Janeiro e Lisboa, Portugal. Em entrevista, a multiartista – cantora, atriz e compositora – detalhou a rotina de "guerrilha" como imigrante e independente, a resistência da cena cultural mato-grossense e os planos para seu terceiro álbum.

 

Nascida em Mato Grosso, Badan se formou em teatro no Rio de Janeiro, onde também vendeu poemas nas ruas. A mudança para Portugal, em 2018, não foi planejada.

 

"Eu fui fazer um caminho de Santiago de Compostela com uma amiga e acabei ficando. A minha chegada foi no susto", conta.

 

"Não conhecia ninguém, realmente ninguém. Eu fui fazendo tudo na descoberta. No começo não foi fácil, nunca é fácil quando você chega num lugar onde você tem que desbravar tudo zero." Contou. 

 

A base financeira inicial veio da arte de rua. "Eu vivi bastante, eu fiquei dois ou três anos vivendo da arte de rua em Lisboa. A galera incentivava o meu trabalho, eu passava “chapéu", relembrou.

 

 

Sobre o preconceito, ela é direta: "Sim, eu acho que acontece bastante, não podemos negar. São culturas diferentes, falamos a mesma língua, mas será que falamos?". Apesar disso, destaca a receptividade: "Passo por coisas maravilhosas e sinto que vale a pena estar lá e lutando pela minha arte".

 

No meio do cinema, estamos numa crescente incrível. São vários diretores, a galera do cinema se movimentando. Já não é desse ano, é um processo de vários anos

Sua arte, por vezes, causa “estranhamento” em Portugal, algo que ela vê como positivo.

 

“A arte é pra quê? Você tá ali vendo, sentido, pra sair da zona de conforto, pra te fazer pensar, sabe? Pra te fazer pulsar.” Afirmou.

 

Ela cita um episódio em que foi nomeada a melhor canção original no prêmio Sophia de cinema português.

 

“E eu lembro que quando eu fui cantar, como estava na TV, tinha uma parte que eu falava um palavrão e eu pensei, vou tirar essa parte. E um dos idealizadores desse projeto chegou em mim: ‘Mariana, eu ouvi que você tirou o palavrão. Pode cantar!’. E aquilo pra mim foi muito libertador, poder me expressar.”

 

Cena local, covers e cinema em crescimento

 

Ao analisar o mercado cuiabano, Badan vê um contraste. "O que eu vejo toda vez que eu venho para cá é um movimento de músicas do cover, que ainda vende. Uma casa ou outra aceita o trabalho autoral.” Observou.

 

Para ela, a questão central é prática. "Eu venho, fico um pouco, troco com os artistas, mas eu falo: e aí, como que se vive dessa arte, sabe? De verdade, eu me pergunto como que se vive dessa arte autoral."

 

mariana badan

A artista Mariana Badan

"Nós que trabalhamos com arte independente, que tocamos em bares, precisamos ser apoiados. Não reclame do cover artístico, porque é o nosso trabalho, as pessoas estão ali se divertindo, esquecendo dos seus problemas e a gente leva aquele trabalho de casa, de estudar música, cuidar da voz, muita gente não enxerga isso, tem uma preocupação com a estética, com o figurino, o que vamos apresentar para o nosso público”. 

 

Já no cinema, a avaliação é mais positiva. "No meio do cinema, estamos numa crescente incrível. São vários diretores, a galera do cinema se movimentando. Já não é desse ano, é um processo de vários anos. Com a conquista do filme 'Cinco Tipos de Medo' como melhor curta-metragem só mostra que estamos no caminho certo e que é possível fazer cinema mato-grossense. Eu acredito que seguimos numa resistência muito forte."

 

Sua formação em teatro é descrita como alicerce. “O palco me deu tudo, foi pra mim uma divisão dentro do meu peito e de um conhecimento incrível.”

 

Essa base técnica se funde com suas outras expressões.

 

“Eu costumo dizer que eu estudei o palco, então, poder estar cantando, atuando, fazendo filme, são linguagens diferentes, mas que no final elas se entrelaçam.”

 

 

Produção do terceiro álbum

 

Ele tá sexy,  está dançante, ele tem uma onda também bem Brasil, percussiva, entro bastante com o Afro Beat

A artista está produzindo seu terceiro álbum em Lisboa com o produtor Renato Parmi.

 

"Vão ser 10 músicas, já gravamos 5 músicas e agora eu tô voltando pra Lisboa pra terminar.", adiantou.

 

O som promete ser mais dançante. “Ele tá sexy, ele tá dançante, ele tem uma onda também bem Brasil, percussiva, entro bastante com o Afro Beat. O segundo foi mais rock ‘n’ roll, o primeiro foi aquele primeiro encontro no estúdio. Eu acho que ao longo desses anos todos eu vim aprendendo pra eu poder desaguar nesse álbum.”

 

A previsão de lançamento é para o começo de 2026.

 

Ela define o novo trabalho como uma evolução. “A diferença dele para os outros álbuns é a maturidade. Eu falo muito sobre paixões, sobre amor que é também o que me move e sobre é o que eu vivo, eu não costumo criar muito a história, é muito o que eu vivo mesmo.”

 

Questionada sobre a frequência com que artistas locais buscam reconhecimento fora, Mari analisa: “Bom, eu acho que querendo ou não, temos lugares que tem mais oportunidade, cidades maiores que estão ali também com mais castings, com mais visibilidade”.

 

Ela vê essa mudança não apenas como fuga, mas como aperfeiçoamento.

 

“Esse movimento que fazemos de ir pra fora também é sobre se aperfeiçoar, ampliar sua visão, conhecer outras culturas, outras formas de arte”.Concluiu.

 

 

Conexão com MT

 

Eu sou uma artista que, graças a Deus, eu pude vivenciar a nossa terra, assim, pela raiz, o Pantanal, a Chapada. Cuiabá é essa terra que a cada que eu volto tenho mais admiração

Sua ligação com Cuiabá permanece forte e influencia seu trabalho mesmo estando em outro país.

 

“Eu amo. Sempre que eu posso, eu tô aqui, estou trabalhando bastante para sempre voltar e eu faço questão de ir onde tá acontecendo arte, vou no cinema, vou no teatro, vou entender o que tá acontecendo, vou nos bares, estar com esses cantores e pintores que estão aqui mostrando esse trabalho pra mim é incrível voltar e respirar esse artistas.”

 

A cultura local é fonte de inspiração. “Eu sou uma artista que, graças a Deus, eu pude vivenciar a nossa terra, assim, pela raiz, o Pantanal, a Chapada. Cuiabá é essa terra que a cada que eu volto tenho mais admiração pelo cinema e pela música que estão nesta resitência encontrando seus espaços, ganhando prêmios. Eu também escrevo sobre isso. Sobre o Pantanal, escrevi várias, eu tenho algumas canções”, contou.

 

Sua infância foi a maior fonte de inspiração para essência da artista que é hoje. 

 

"Minha vó paterna era pintora, tinhamos muita troca. Meu avô Arnaldo Leite foi um grande compositor aqui e eu pude acompanhar e me lembro bem da forma que ele cantava e tocava e sempre se referindo às suas raízes mato-grossenses". Lembrou.

 

 

Realidade do artista independente

 

Financiar a carreira é uma “batalha” diária, sendo uma artista independente, descreveu Badan.

 

“É muito independente mesmo. Se você para pra pensar, você fala ‘que loucura é essa’, mas eu vou fazer acontecer, entendeu? Basicamente vamos fazendo como dá. Às vezes eu trabalho num bar como imigrante, freelance, fiz muitos amigos em diversas áreas que me ajudam e nós vamos trocando trabalhos, se ajudando, eu tô lá fazendo o que dá". Afirmou.

 

Ela não romantiza a situação, mas valoriza a rede de apoio que conquistou ao longo de sua carrereira.

 

“O último show que eu fiz, tinham sete pessoas trabalhando comigo. Claro que ninguém estava recebendo como merecia, nem eu. E não que isso seja romântico, mas é legal ver que as pessoas tão acreditando, ter amigos, uma rede de apoio que te incentiva”.

 

 

Eu quero deixar a poesia. A poesia e a fé, porque elas transformam. Se eu puder fazer uma pessoa sorrir num dia difícil é minha maior satisfação

Conselhos e legado

 

Para artistas locais que pensam em sair para tentar a carreira em outra cidade, ela deixa um conselho.

 

“Vai com tudo, vai na fé, força e sagacidade, porque a vida é muito doida, fora de casa. Confie no trabalho e sinta o seu corpo onde você tá.”

 

Sobre o legado que deseja deixar, Mariana é clara: “Eu quero deixar a poesia. A poesia e a fé, porque elas transformam. Se eu puder fazer uma pessoa sorrir num dia difícil é minha maior satisfação, é esse amor pela arte. Porque essa travessia que eu faço tantos anos é também pela minha paixão pela arte.” Afirmou.

 

Ela tem planos concretos de desenvolver projetos em Mato Grosso. “Eu tenho muito sonho, e muita vontade de vir pra cá, acredito que em breve eu volto. Quero me lançar aqui e fazer o teatro, fazer música com a galera daqui, fazer cinema.” Contou.

 

Um curta-metragem mato-grossense, no qual ela interpreta uma mulher em um relacionamento abusivo, chamado 'Sobre omissão', dirigido por Everson Teodoro e Anna Magalhães está prestes a ser lançado.

 

Seus planos imediatos incluem focar no novo álbum e em festivais.

 

“Eu quero muito pegar esse álbum e conseguir adentrar em festivais. Eu ainda não tive essa vivência, essa oportunidade. Eu quero muito poder fazer clipes e estar em palcos grandes e poder estar tocando com a galera daqui, com a galera de lá. É um grande sonho.”

 

E finaliza com um convite: “Bom, eu acho que eu vou colocar esses meus fãs para dar uma dançada. Chegou a hora de dar uma dançada. Antes eu tava batendo cabelo e tal, rock and roll. Agora vamos dar uma dançada juntos”.

 

Para quem deseja conhecer mais o trabalho da cuiabana clique AQUI.

 

Veja vídeos:

 

 

 

 

 

 

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mariana badan

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