O lobista de Mato Grosso Andreson de Oliveira Gonçalves, acusado de liderar esquema de negociação de sentenças no Poder Judiciário nacional ao lado do advogado Roberto Zampieri, executado em 2023, teria transacionado mais de R$ 1,2 milhão da sua transportadora à Marvan Logística, empresa registrada em nome da esposa de Márcio Toledo, ex-servidor do Superior Tribunal de Justiça (STJ) exonerado do gabinete da ministra Isabel Galotti.
Acusação consta no relatório parcial de 400 páginas encaminhado no último dia 6 pela Polícia Federal ao ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF).
No documento, obtido pelo Olhar Jurídico, o delegado responsável pede a continuação das investigações diante da conclusão de indícios de corrupção em três gabinetes do Superior Tribunal de Justiça (STJ) por meio de servidores, inclusive Márcio, com Andreson e Zampieri. Andreson segue em prisão domiciliar em sua mansão situada em Primavera do Leste, onde vive com sua esposa, a advogada Mirian Gonçalves, também acusada de envolvimento no caso.
No relatório, o delegado responsável pediu que Zanin mantenha as medidas cautelares impostas à Andreson e os demais, especialmente o afastamento dos servidores investigados, a fim de impedir a reativação do esquema e a utilização da estrutura estatal para fins criminosos. Márcio é acusado de forjar minutas de decisões assinadas posteriormente por Gallotti para beneficiar Andreson e Zampieri nos processos que atuavam.
Servidor exonerado
Em setembro, a Corte Superior o exonerou diante das acusações e ele se tornou o primeiro servidor desligado desde a revelação do escândalo. Marcio José exercia função de técnico judiciário da área administrativa do Tribunal. Segundo a publicação, a demissão foi justificada após conclusão de um PAD (Processo Administrativo Disciplinar). A investigação analisou o balanço dos registros bancários de Andreson entre 2021 e 2024 e descobriu que sua principal empresa, Florais Transportes, teria transacionado mais de R$ 1,2 milhão com a Marvan Logística neste período.
Constituída em 2021, a Marvan é sediada em Cuiabá e sua sigla representa, segundo a PF, a 19/10/2025, 08:56 Lobista e ex-servidor do STJ criaram empresa de fachada em Cuiabá para lavar milhões das vendas de sentenças, aponta PF
2 união das iniciais de Márcio (Mar) e da sua esposa Vanessa (Van). A análise cadastral revelou tratar-se de sociedade sem empregados registrados e sem movimentação operacional compatível, sugerindo a hipótese de ser uma empresa de fachada, criada para lavar o dinheiro obtido via o esquema.
O quadro de transferências aponta que, entre maio de 2021 e dezembro de 2023, foram realizados mais de 40 lançamentos da Florais à Marvan, muitos deles de grande vulto, como os repasses de R$ 250.000,00 em duplicidade no mesmo dia (02/09/2021), além de transferências recorrentes de R$100.000,00, R$ 150.000,00 e R$ 200.000,00 ao longo de 2022 e 2023. O maior valor apurado pela PF foi R$ 1,200.000,00 transferidos em 2021.
Contador de 150 empresas
O relatório também identifica a atuação do contador Nilvan Marques Medrado, responsável técnico por mais de 150 empresas, a maioria do setor de transporte. Segundo a PF, a multiplicação dessas firmas, muitas criadas entre 2021 e 2022, servia para dar aparência de legalidade às movimentações financeiras e fragmentar o fluxo de recursos. Ele atuaria tanto para a Florais como para a Marvan.
“O diagrama societário e relacional obtido durante a investigação demonstra que os repasses realizados pela FLORAIS TRANSPORTES para a MARVAN LOGÍSTICA se encaixam no fluxo de corrupção intermediado por ANDRESON, com destinação final em favor de MÁRCIO, então servidor do Superior Tribunal de Justiça. Dessa forma, os elementos reunidos permitem concluir que a MARVAN LOGÍSTICA foi instituída como empresa de fachada para dar suporte ao esquema de corrupção e lavagem de capitais, funcionando como elo entre as transferências provenientes da FLORAIS TRANSPORTES e o núcleo familiar do servidor MÁRCIO, consolidando os indícios de autoria e materialidade dos delitos em apuração”, diz trecho do relatório.
A Operação Sisamnes já teve mais de 10 fases, sendo que a última delas realizou busca e apreensão na mansão de Andreson, em Primavera do Leste. A ofensiva já culminou, em Mato Grosso, no afastamento dos desembargadores Sebastião de Moraes e João Ferreira Filho, e do juiz Ivan Lucio Amarantes, todos acusados de negociarem decisões com Zampieri e o lobista.
Além de investigar o TJMT, os gabinetes de três ministros do STJ estão na mira da PF: Isabel Gallotti, Nancy Andrighi e Og Fernandes. Os principais servidores investigados são, além de Márcio, Rodrigo Falcão e Daimler Alberto Campos.
“O conjunto de diligências realizadas permitiu identificar, em tese, que o esquema não se restringia aos servidores DAIMLER, MÁRCIO e RODRIGO FALCÃO nem ao núcleo ANDRESON/ZAMPIERI, mas integrava estrutura organizada voltada à manipulação de decisões judiciais, reproduzindo padrões típicos de atuação de organizações criminosas. A análise financeira evidenciou, também, um modelo de dissimulação sustentado por um consórcio de beneficiários e pela pulverização de repasses em valores reduzidos e periódicos, estratégia que dificulta a detecção isolada das movimentações”, completou o delegado ao pedir a continuação das investigações.
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