A Polícia Civil revelou que mesmo com a prisão de João Arcanjo Ribeiro, em 2003, o jogo do bicho nunca deixou de operar em Mato Grosso.
Segundo o delegado Luiz Henrique Damasceno, da Delegacia Fazendária, durante os 15 anos em que esteve preso, Arcanjo apenas transferiu o comando da jogatina para o seu genro, Giovanni Zem Rodrigues.
Os dois foram presos durante a Operação Mantus, deflagrada nesta quarta-feira (29).
Ainda conforme o delegado, assim que saiu da prisão em 2018, Arcanjo passou a dividir a liderança com o genro.
“O Giovanni era o líder da organização quando o Arcanjo estava preso. Quando o Arcanjo saiu da prisão, ele retomou o poder junto com o Giovanni”, disse o delegado.
Além do grupo comandado por Arcanjo e Giovanni, a operação também desmantelou outra suposta organização que seria liderada pelo empresário Frederico Muller Coutinho. Ele é um dos delatores da Operação Sodoma, que investigou fraudes que resultaram na prisão do ex-governador Silval Barbosa.
Conforme o delegado, em um ano, os dois grupos movimentaram cerca de R$ 20 milhões no Estado.
“É claro que muita coisa movimentava em dinheiro vivo. O jogo do bicho faz recolhimento todo dia. Então esse não é o valor exato, mas é algo em torno disso”, afirmou.
Disputa acirrada
De acordo com Damasceno, o grupo liderado por Frederico Coutinho começou a operar há cerca de dois anos no Estado.
Ele revelou que havia uma acirrada disputa de espaço pelas organizações, havendo situações de extorsão mediante sequestro praticada com o objetivo de manter o controle da jogatina em algumas cidades.
“Elas utilizavam de todas as formas, inclusive mediante ameaças, disparos de arma de fogo, extorsão mediante sequestro, de maneira estruturada, com contadores, fazendo recolhimento de dinheiro dia a dia e utilizando empresas de fachada para promover a lavagem de capitais”, disse.
Alair Ribeiro/MidiaNews
Operação foi deflagrada nesta quarta-feira pela Polícia Civil
O delegado ressaltou que a disputa era tão grande que Frederico quis se equiparar com Arcanjo até com título de "Comendador".
“O Frederico, recentemente, conquistou o título de Comendador, foi agraciado pela Câmara de Cuiabá. O mesmo título que o Arcanjo tinha, para vocês terem uma noção de como era acirrada, até nos títulos queriam se equiparar”, pontuou.
A operação
Conforme o delegado, a investigação começou em agosto de 2017 quando a Polícia Civil recebeu uma denúncia de um colaborador que não quis se identificar sobre a permanência e continuidade do jogo do bicho em Cuiabá.
No total, a operação visa dar cumprimento a 63 mandados judiciais, sendo 33 de prisão preventiva e 30 de busca e apreensão domiciliar, expedidos pelo juiz da 7ª Vara Criminal da Comarca de Cuiabá, Jorge Luiz Tadeu.
As ordens judiciais são cumpridas em Cuiabá, Várzea Grande e em mais 5 cidades do interior do Estado.
Arcanjo foi preso na sua residência e seu genro, Giovanni Zem, detido no aeroporto de Guarulhos (SP), com apoio da Polícia Federal. Já Frederico foi preso em seu apartamento.
Os suspeitos devem responder pelo crime de organização criminosa, lavagem de dinheiro, contravenção penal do jogo do bicho e extorsão mediante sequestro, cujas penas somadas ultrapassam 30 anos.
Os líderes
João Arcanjo Ribeiro, conhecido como “Comendador”, é acusado de liderar o crime organizado em Mato Grosso, nas décadas de 80 e 90, sendo o maior “bicheiro” do Estado, além de estar envolvido com a sonegação de milhares de Reais em impostos, entre outros crimes.
No ano de 2002, Arcanjo foi alvo da operação da Polícia Federal, Arca de Noé, em que teve o mandado de prisão preventiva expedido pelos crimes de contravenção penal, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e homicídio.
A prisão do bicheiro foi cumprida em abril de 2003 no Uruguai. Arcanjo conseguiu a progressão de pena do regime fechado para o semiaberto em fevereiro de 2018, após 15 anos preso.
O empresário Frederico Müller Coutinho é um dos delatores da Operação Sodoma, que investigou fraudes que resultaram na prisão do ex-governador Silval Barbosa.
Ele trocava cheques no esquema e chegou a passar dinheiro para o então braço direito do ex-governador. Os cheques teriam sido emitidos como parte de um suposto acordo de pagamento de propina ao grupo político do ex-governador.
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