LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
Funcionários de empresas terceirizadas, que prestam serviço à CAB Ambiental – concessionária de saneamento de Cuiabá – afirmam que estão vivendo em situações degradantes e análogas ao trabalho escravo, na Capital.
A denúncia foi feita por cerca de 50 trabalhadores que moram em um alojamento localizado no bairro Bandeirantes, próximo à Avenida Coronel Escolástico, na região central de Cuiabá. Eles foram contratados pela empresa Mundial Urbanização.
Outros 30 funcionários, contratados por outra empresa terceirizada, que não teve o nome divulgado, moravam em uma casa localizada no bairro Areão em condições idênticas.

"É uma situação terrível. Eles vivem amontoados no alojamento, dormem ao relento, em varandas que foram cercadas com compensados para serem transformadas em quartos"
A maioria dos trabalhadores foi contratada no interior do Estado da Bahia e trazida à Capital com promessas de boas condições de alojamento, alimentação e salário.
Porém, ao chegarem em Cuiabá, eles tiveram as despesas de viagem descontadas do pagamento, salários assinados na carteira em valores inferiores ao combinado e condições precárias de alojamento.
Representantes da Central Única dos Trabalhadores em Mato Grosso (CUT-MT) e do Sindicato dos Trabalhadores de Água, Esgoto e Saneamento Ambiental (Sintaesa) estiveram no locais, atestaram as irregularidades e montaram um dossiê da situação encontrada.
“É uma situação terrível. Eles vivem amontoados no alojamento, dormem ao relento, em varandas que foram cercadas com compensados para serem transformadas em quartos, sem ventilador e colchões finos, que mais parecem folhas de madeira. Eu nunca tinha visto uma situação como essa dentro da área urbana”, disse o secretário de Comunicação da CUT-MT, Robinson Ciréia.
Ao
MidiaNews, ele relatou que os funcionários vivem com medo de represálias e alguns não possuem crachás de identificação, sendo, muitas vezes, vistos com desconfiança pelos moradores da região.
“As pessoas têm medo, acham que são bandidos. Eles trabalham sem uniforme adequado, estão cheios de doenças porque mergulham os pés e mãos no esgoto e não possuem assistência médica. Depois que eles denunciaram, os responsáveis pela empresa trancaram a casa e gritaram com os trabalhadores por terem feito a denúncia”, afirmou.
De acordo com o presidente do Sintaesa, Ideueno Fernandes, alguns trabalhadores estariam, até mesmo, se embriagando para suportar a situação vivida, bem como as jornadas exaustivas de trabalho.
“O operário tem que trabalhar bêbado para aguentar a jornada de trabalho. Eles foram captados na cidade de Feira de Santana, na Bahia, não têm noção dos seus direitos trabalhistas e cumprem mais de oito horas de trabalho por dia, sem receber hora extra. Eles estão adoecendo, dormindo ao relento e não contam com assistência médica”, disse.
Divulgação
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Alojamento de funcionários da CAB Ambiental: varandas transformadas em quartos
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Segundo a denúncia, até mesmo produtos de higiene pessoal, como sabonete e pasta de dente, bem como sabão em pó e detergentes, são vendidos pelas empresas contratantes aos funcionários e anotados em cadernetas, para depois serem descontadas da folha de pagamento.
“Eles recebem apenas um uniforme para trabalhar e precisam anotar todos os produtos de limpeza usados em uma caderneta. Um copo de sabão em pó ou um detergente custa R$ 2 cada. Eles precisam comprar da empresa sabonete, papel higiênico, tudo”, relatou Fernandes.
Os funcionários reclamam que, com as dívidas, não conseguem voltar para a cidade baiana e acabam “presos” na Capital. Ao todo, segundo o presidente do Sindicato, 200 funcionários estariam vivendo dessa forma.
O dossiê montado com as denúncias será protocolado, ainda hoje, pelas entidades na Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE) e no Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso (MPT-MT).
Fiscais do trabalho devem vistoriar,
in loco, a situação para somente então os órgãos se pronunciarem a respeito.
Outro ladoO
MidiaNews não conseguiu manter contato com a direção da empresa Mundial Urbanizações.
Em entrevista à
TV Centro América, Valter da Silva, diretor da empresa, alegou que não vê irregularidades nos alojamentos disponibilizados aos funcionários.
Reprodução/TVCA
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"Não vi nada irregular aqui não", diz Valter da Silva, dono da empresa Mundial Urbanização
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“Não vi nada irregular aqui não. Foi feito vistoria e disseram que o alojamento estava bom”, disse à emissora.
Em relação aos produtos de limpeza e higiene pessoal vendidos, Silva afirmou que oferece o serviço para garantir a comodidade dos funcionários.
“Não cobro um real a mais do que é vendido nos supermercados. Eu pensei que estava ajudando, mas agora vou tirar tudo também”, afirmou.
Não sabiaA CAB Ambiental, apontada pelas entidades sindicais como corresponsável pela situação dos funcionários, afirmou que não tinha conhecimento da situação, e que irá afastar as empresas terceirizadas, caso as denúncias sejam comprovadas.