Cuiabá, Segunda-Feira, 16 de Junho de 2025
JOÃO CASTILHO
25.03.2012 | 08h14 Tamanho do texto A- A+

"A prevenção ao câncer é na rotina da vida", diz administrador

Mesmo com dificuldades, Hospital de Câncer é referência no tratamento da doença em MT

Lislaine dos Anjos/MidiaNews

João Castilho Moreno: Casa Cor vai deixar um importante legado para o Hospital de Câncer

João Castilho Moreno: Casa Cor vai deixar um importante legado para o Hospital de Câncer

LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
Uma doença perigosa e silenciosa, que não escolhe idade, cor, gênero ou raça. É o câncer, que atinge milhares de brasileiros todos os anos e que, para ser combatido com eficácia, precisa ser descoberto ainda em estágio inicial.

De acordo com uma estimativa divulgada pelo Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), do Ministério da Saúde, em 2012, o Brasil deverá registrar cerca de 520 mil novos casos da doença.
As estimativas apontam que os tipos de câncer mais incidentes no país são o de pele, devido à exposição massiva da população ao sol nos horários não recomendados, como das 10 horas às 16 horas. O segundo tipo mais diagnosticado é o de mama, no caso das mulheres (com 52,7 mil novos casos previstos para 2012), e o de próstata, nos homens (com 60,2 mil novos casos registrados em 2011).
No Estado, a unidade que é referência no tratamento de pacientes com a doença é o Hospital de Câncer de Mato Grosso, instituição inaugurada em fevereiro de 1999 e que presta serviços por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) e de convênios particulares.
Atualmente, a unidade dispõe de 126 leitos, sendo 106 cadastrados no SUS, divididos entre enfermarias de clínicas médica, cirúrgica, pediátrica e Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Somente em 2011, foram realizados 47 mil atendimentos, dos quais pouco mais de 40 mil resultaram em procedimentos.
Neste ano, o Hospital de Câncer vai ganhar um "presente". A instituição irá sediar a Casa Cor 2012 - um dos maiores eventos de arquitetura e decoração do país -, no antigo pavilhão de 3,6 mil m², localizado anexo ao hospital e que está com a reforma paralisada há mais de dez anos.
No final do evento, toda a estrutura montada pela Casa Cor ficará de legado para o Hospital de Câncer e será tranformado em mais ambulatórios e consultórios, que prometem triplicar o número de atendimentos mensais, que hoje gira em torno de 4 mil.
Após a reforma da nova ala, serão construídos 16 novos consultórios, oito leitos de urgência e emergência, sala para fisioterapia, biópsia, exames ginecológicos, além de uma ala administrativa e de um Departamento de Desenvolvimento Institucional.
O MidiaNews conversou com o presidente da Associação Mato-Grossense de Combate ao Câncer, João Castilho Moreno, para entender o funcionamento e as dificuldades enfrentadas pelo Hospital de Câncer de Mato Grosso.
Confira abaixo o resultado da entrevista:
MidiaNews - No ritmo em que a sociedade vive atualmente, o que contribui mais para o desenvolvimento do câncer?
João Castilho - É difícil dizer, mas hábitos, de uma maneira geral, contribuem: fumar, ingerir alimentos quentes e exposição ao sol, por exemplo. Depende muito do estilo de vida que cada um leva. Se você tem pele clara, que é mais sensível, e tomar sol no período das 10h às 16h, por exemplo, sendo que tem grande quantidade de raios ultravioleta, isso pode desencadear um câncer de pele.
Midianews - Em Mato Grosso, qual é tipo de câncer mais comum?
Castilho - No Estado, no Brasil e no Mundo, o câncer mais incidente é o de pele.
MidiaNews - O que as pessoas podem fazer para se prevenir contra o câncer?
Castilho - Se cuidar mais, porque a prevenção é feita na rotina da vida. Esses exames que a gente chama de prevenção são, na verdade, de detecção. A prevenção é durante a vida: não tomar sol, não fumar, não comer alimentos quentes, evitar a ingestão de bebidas alcoólicas, manter hábitos saudáveis.
MidiaNews - A partir do momento em que o paciente descobre que está com câncer, o tratamento é iniciado imediatamente? Como a família é inserida nesse processo?
Castilho - Inserir a família não é o maior problema. O maior obstáculo é seguir todos os trâmites, através da Central de Regulação, para fazer a internação. O tempo que esse processo burocrático demora depende de cada caso.
MidiaNews - Então, a partir do momento em que o paciente descobre a doença, a parte mais difícil e demorada a ser enfrentada é o processo administrativo para internação?
Castilho - Sim, porque é uma fase que não pode ser pulada. Se o hospital tivesse recursos para fazer um gerenciamento autônomo, aí sim, nós poderíamos começar o tratamento de imediato. Mas, todo tratamento nosso é deficitário economicamente, porque o Sistema Único de Saúde (SUS) não cobre integralmente o que a gente realmente gasta no tratamento de cada paciente.
MidiaNews - Atualmente, qual o número de pacientes que estão em tratamento no Hospital de Câncer de Mato Grosso?
Castilho - É difícil quantificar. Porque existem tratamentos cirúrgicos, tratamentos quimioterápicos, de hematologia, de pediatria, de radioterapia e de quimioterapia adulto. Agora, os atendimentos mensais em ambulatório giram em torno de 4 mil por mês. Mas, isso se refere apenas ao número de atendimentos realizados, não significa que todoss têm câncer.
MidiaNews - E pacientes internados, são quantos?
Castilho - Em geral, estamos sempre lotados. Hoje, 112 leitos estão ocupados. O movimento só cai no fim de semana, o que já é esperado, porque algumas pessoas voltam para casa.
MidiaNews – Analisando a estrutura do hospital, como é feita a captação de recursos para manutenção da unidade?
Castilho - Nós arrecadamos pela produção. Tratamos média e alta complexidade. Por isso, temos um contrato com a Prefeitura de Cuiabá, pelo qual ela repassa a verba em função da produção.
MidiaNews - O Hospital de Câncer, atualmente, atende muitos pacientes do interior?
Castilho - A divisão é aproximadamente assim: 51% são pacientes de Cuiabá e Várzea Grande; 49% são pacientes do interior e de outros estados.
MidiaNews – Para suprir os custos e garantir o atendimento dos pacientes do interior, o hospital mantém contratos com cada prefeitura?
Castilho - Não, somente com a Prefeitura de Cuiabá, que tem competência plena para gerir a Central de Regulação do SUS da Capital.
MidiaNews - Quantos funcionários trabalham no Hospital de Câncer?
Castilho - Temos aproximadamente 260 funcionários, gerando uma folha de pagamento de R$ 600 mil.
MIdiaNews - Para cobrir essa folha de pagamento, além dos projetos sociais de captação de verbas, como auxílio da sociedade, por meio da conta de energia e da compras de saco de lixo, é usado o recurso disponibilizado pela prefeitura?
Castilho - Sim, a verba vem da prestação de serviços do Município. O Governo do Estado nos dá R$ 210 mil para complemento dos gastos com a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Senão seria, também, outro “buraco” grande. Com esse complemento, dá pra garantir um bom tratamento e um bom atendimento na UTI.
MidiaNews - A União colabora de alguma forma?
Castilho - Verba federal? Não tem verba federal, apenas o custeio que vai para a Prefeitura de Cuiabá e eles repassam para nós. Diretamente, não. Mas nós já estamos pedindo emendas parlamentares federais para o próximo ano.
MidiaNews - A administração está conseguindo quitar mensalmente as despesas?
Castilho – Todo mês, falta uma quantia, que a gente tenta conseguir por meio de doações e leilões. Agora, quando faltam leilões, por exemplo, o déficit é de R$ 300 mil, ou até R$ 400 mil, por mês.
MidiaNews – Há muitos voluntários atuando no hospital?
Castilho - O voluntariado é muito pequeno. Nós vamos lançar uma campanha voltada para os voluntários, provavelmente no mês de maio, para que eles possam atender os pacientes nas residências.
Temos um projeto já pensado, mas não executado, de montarmos, em cada cidade do interior que mantém uma parceria conosco, uma equipe de voluntários para atuar junto aos pacientes que retornarem do hospital para essas cidades. Esses voluntários seriam treinados aqui no hospital e, depois, iriam para as cidades dar o apoio aos pacientes que retornaram para casa.
MidiaNews - O que falta hoje no hospital? E como o projeto de realização da Casa Cor 2012, no anexo do hospital, vai contribuir para a unidade?
Castilho - Faltavam consultórios para ambulatórios, hoje nós temos cinco, e, com improvisação, dispomos de oito. Com o advento da Casa Cor 2012, vamos passar a ter 18 consultórios de ambulatórios.
Com a saída desse ambulatório improvisado, nós vamos gerar um número maior de leitos, porque, no lugar onde hoje funcionam esses consultórios e a parte administrativa, serão criados novos leitos para o hospital.
Isso vai melhorar muito o atendimento, porque uma dificuldade que nós temos, atualmente, é de internação. Muitas vezes, nós não conseguimos internar pacientes por falta de vagas. Hoje, o hospital já é insuficiente para atender a demanda, apesar de ter apenas 11 anos.
MidiaNews - Nesses casos, os pacientes que não conseguem vagas vão para uma lista de espera ou existe alguma outra unidade onde eles podem ser encaminhados para aguardar tratamento?
Castilho - Não tem outro lugar, esse é o problema. Aí, a internação é feita por prioridade. O paciente que está necessitando mais é internado. E, à medida que as vagas vão folgando, outros vão ocupando.
Outra coisa que está faltando é a ampliação do centro cirúrgico. Hoje, nós temos quatro salas, estamos implantando a quinta sala. Mas, nós temos um projeto para expandir o centro para oito salas.
MidiaNews - Que projeto é esse?
Castilho - Um projeto desenvolvido por nós mesmos e que vamos contar com a ajuda da sociedade, de emendas parlamentares e dos leilões feitos na Capital e no interior para captarmos recursos e o colocarmos em prática.
MidiaNews - O Hospital de Câncer, hoje, consegue oferecer o tratamento integral aos pacientes?
Castilho - Os únicos tratamentos que nós não temos são os de neurocirurgia e as cirurgias ortopédicas. O restante dos tratamentos, todos nós oferecemos, desde o início, até o acompanhamento e a saída do paciente. E nós teremos uma novidade em breve.
MidiaNews – Qual será a novidade?
Castilho - Dentro de dois a três meses, nós estaremos terminando o Centro de Diagnóstico da Mulher, mais especificamente de mama, com tecnologia de ponta, top de linha no mundo. Usaremos os mesmo equipamentos que são usados hoje na Holanda, país onde existe o melhor tratamento e diagnóstico de câncer de mama. Então, nós vamos fazer os exames com os mesmos equipamentos e os mesmos procedimentos usados por eles. Com isso, teremos um melhor prognóstico, uma maior chance de cura.
MidiaNews – Que exames serão oferecidos?
Castilho - Nós vamos fazer mamografias e ultrassons da mama e conseguir um diagnóstico precoce. Tumores de até 2 mm poderão ser detectados com esses equipamentos novos.
Claro que esse centro de prevenção já nasce com déficit financeiro, porque o que o SUS paga para os pacientes fazerem mamografia, ultrassom e até mesmo biópsia de mama, é aquém do que se gasta.
MidiaNews – Como o hospital está pensando em driblar esse déficit?
Castilho - Achar parceiros que ajudem a manter esse centro de prevenção de mamas. Será a ocasião de fazer uma campanha mais incisiva ou, até mesmo, específica para mamas. O Hospital de Câncer de Barretos, por exemplo, mantém parcerias com as empresas Avon e Scania. São as empresas que mantém o centro de mama deles funcionando. Eles não dependem do SUS. Se o SUS pagar ou não pagar, elas (as empresas) pagam.
MidiaNews - Ou seja, é diferente do que acontece em Mato Grosso.
Castilho - Sim, é diferente daqui, em que o Hospital de Câncer tem que carregar a carga. Isso tem que mudar porque, senão, não há quem aguente. Infelizmente, no Brasil inteiro, todos os hospitais de câncer são deficitários. E não acredito que isso seja só no Brasil, não.
MidiaNews - Falta atenção do Estado?
Castillho - Do Estado, não falta. O Governo do Estado é um grande parceiro nosso e esse setor de mama, por exemplo, está sendo construído graças à uma doação do governador Silval Barbosa (PMDB), que repassou R$ 1.620.000,00 para a implantação desse Centro.
Quem doou os equipamentos foi o Cipem (Centro das indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeira do Estado de Mato Grosso), que comprou os equipamentos diretamente do Hospital de Barretos (SP).
MidiaNews – Qual a mensagem de alerta sobre o câncer que o senhor deixa para a sociedade mato-grossense?
Castilho - Hoje, graças à tecnologia, nós podemos fazer um tratamento com grandes chances de cura, desde que seja feito um exame de detecção e houver constatação do tumor ainda no início.O Hospital de Câncer de Mato Grosso já dispõe de grandes tecnologias para tratamento desses tumores.
Mas, todo mundo tem que se preocupar em fazer a prevenção. É um nome meio esquisito, não é? Porque prevenção você faz no dia-a-dia. Você deve fazer o exame regular de mama, próstata, colo de útero, de tal forma que seja detectado um tumor ainda em estágio inicial. Não espere sentir dor ou um problema mais sério para só então procurar um médico.
Procure auxílio médico em tempo e, até mesmo, quando não estiver sentindo nada. Desta maneira, você pode ter um diagnóstico precoce, podendo levar à cura. Quando você procura um médico tardiamente, você pode acabar tendo uma surpresa.

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Nayara  25.03.12 10h24
Parabéns ao médico pela dedicação e pelos mentores do evento CASA COR 2012. Com certeza será uma grande ajuda.
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