"Deus me colocou aqui; me deu a chance de poder fazer história"

Ídolo da torcida do Cuiabá, o goleiro Walter diz que sua vinda para o Dourado foi determinada por Deus, para fazer história no clube.  

E essa história vem sendo construída com números sólidos. Ele já é o goleiro que mais vezes vestiu a camisa do Cuiabá, com 123 jogos disputados,  sendo fundamental para a permanência do time nos dois primeiros anos na Série A do Campeonato Brasileiro. 

Em entrevista exclusiva ao MidiaNews, o goleiro contou que o “xeque-mate” para assinatura do contrato com o Dourado foi dado pela esposa. Na época, ele estava no Corinthians. 

“Eu tive oportunidade de ir para outros times na época, com um nome um pouco mais elevado, mas foi minha mulher que deu o xeque-mate. E hoje a gente está vendo o por quê. Foi Deus que nos colocou aqui, foi Deus que nos propôs ter essa chance, de poder fazer história no clube”, afirmou.

Na entrevista, o goleiro falou sobre a boa fase do Dourado no Brasileirão, projetos para o futuro e muito mais.

Confira os principais trechos da entrevista:

MidiaNews - Dos três anos na Série A, esse tem sido o melhor para o Cuiabá. A que você atribui essa melhora de desempenho?

Walter - Atribuo ao dia a dia, à dedicação de todos os jogadores. Atribuo ao António [Oliveira]. Ele passa uma ideia e nós estamos cumprindo. Estamos seguindo o plano que ele coloca em todos os jogos, todos os treinos.

E aí esses números aparecem. Vitória contra o São Paulo, vitória contra o Internacional. São três vitórias seguidas, o que nunca tinha acontecido, e aconteceu agora. E a gente pode ir em busca da quarta contra o Flamengo. Por que não?

A gente está muito confiante e trabalhando para que os números continuem melhorando cada vez mais.

MidiaNews - Qual o segredo do António Oliveira para fazer esse time jogar de forma competitiva contra qualquer adversário no Brasil?

Walter - O segredo é passar confiança, mostrar no trabalho da semana o que vai acontecer no jogo. Lógico, a gente olha o adversário, tem as ideias do jogo dele, mas temos o nosso jeito de jogar.

A gente gosta de sair jogando com os zagueiros. Uma bola longa que a gente gosta de fazer no Deyverson. Todos os clubes sabem que a gente faz isso, só que a gente confia naquilo, então a gente faz sempre e acaba dando certo.

Essa confiança que ele passa para nós, que somos grandes jogadores, que estamos fazendo um trabalho de alto nível, transfere para jogo e a gente consegue essas vitórias.

MidiaNews - O time tem o mesmo técnico do ano passado, mas tem sido bem mais forte. Foi o elenco que melhorou?

Walter - A gente teve grandes jogos no ano passado também, mas a vitória não vinha. Neste ano, começamos também fazendo grandes jogos, mas a vitória ainda estava escapando. Com o próprio Botafogo, por exemplo, aqui na Arena Pantanal, fomos muito melhores que eles, mas a vitória não veio.

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"Elenco tem tudo para continuar fazendo bons jogos"

É lógico que passa pelos jogadores também, é o entendimento dos jogadores. Esse ano aqui, o que você pedir para eles fazerem, eles fazem, não reclamam, um ajuda o outro. Lógico que no futebol não é sempre que a gente consegue fazer um grupo tão homogêneo assim, mas passa pelos jogadores que estão nesse momento.

MidiaNews – As equipes das últimas temporadas não eram tão unidas?

Walter - Eram unidas, tinham amizade e tudo. Não sei a palavra certa que eu posso usar, mas acho que a humildade de correr um pelo outro estava faltando um pouquinho.

Não que não aconteceu, mas hoje você percebe muito mais. Ainda mais eu ali de trás, sendo capitão da equipe, você acaba percebendo essa união maior agora do que antes.

MidiaNews –  O Cuiabá fez três novas contratações na janela de transferência que encerrou na última semana. Como você analisa essas novas aquisições? Acha que foi suficiente?

Walter - Essa pergunta tem que ser feita ao treinador [risos]. Mas acho que o elenco tem tudo para continuar fazendo bons jogos. Vieram grandes jogadores, o Derik [Lacerda], o Lucas [Mineiro], o Clayson que voltou. São jogadores de alto nível.

Hoje, estávamos treinando e falando sobre isso, que é difícil, porque os dois times [titular e reserva] são muito bons. Não tem mais reserva e titular, na verdade, porque todo mundo está jogando. Isso que é legal para o grupo e bom para treinador. Lógico que é uma dor de cabeça, porque tem que fazer a escolha. É um detalhe ou outro que vai definir a peça. Mas acho que tem tudo para dar certo até o final [da temporada].

MidiaNews - Recentemente você falou que está na hora do Cuiabá deixar de ficar olhando para baixo da tabela e pensar em coisas maiores. Acha possível uma classificação para a Libertadores?

Walter - É difícil falar em conquistar alguma coisa, ou Libertadores, ou a Sul-Americana... Mas foi o próprio António, depois que a gente venceu duas partidas seguidas, chegou no vestiário e falou: "Vamos olhar para cima". Porque é duro você ficar olhando, torcendo para um time lá embaixo perder e outro empatar, por exemplo.

A gente fazendo o nosso papel e buscando lá em cima, esquece um pouco lá atrás. E é muito melhor de jogar. Claro que a responsabilidade aumenta, mas vejo que a gente, pela confiança que está tendo, pelos jogadores que temos, pela comissão, por tudo que está sendo feito hoje no Cuiabá, merece olhar pra cima.

É importante mantermos o foco, concentração, porque sabemos que os times vão vir com mais força contra nós

MidiaNews – Os próximos jogos prometem ser bastante difíceis. Tem o Flamengo, Athetico-PR, Palmeiras, Bragantino, Grêmio. Fica uma pressão pela vitória?

Walter - Aumenta a responsabilidade. Quando a gente começa a fazer grandes jogos, a responsabilidade começa a aumentar. Por isso, é importante mantermos o foco, concentração, porque sabemos que os times vão vir com mais força contra nós.

Nos últimos jogos, por exemplo, a gente achou que o São Paulo viria com o time reserva, acabou não vindo. Lá no Internacional mesma coisa. Isso cria um respeito para nós, jogadores, e ganhar deles dessa forma é melhor ainda.

Então, lógico, a pressão aumenta, a responsabilidade aumenta, mas sabemos que temos jogadores experientes, jogadores de grande porte que conseguem suprir isso.

MidiaNews - Quando você fechou com o Cuiabá, o time estava estreando na Série A. Chegou a ser aconselhado por parentes e amigos a não vir?

Walter - Não, porque só eu e minha mulher sabíamos [risos]. Quando vim para cá, primeiramente a gente fica: "Cuiabá? Acabou de subir da Série B". Eu tive oportunidade de ir para outros times na época, com um nome um pouco mais elevado, mas foi minha mulher que deu o xeque-mate. E hoje a gente está vendo o porquê. Foi Deus que nós colocou aqui, foi Deus que nos propôs ter essa chance, de poder fazer história no clube, ver o clube crescer.

O clube está em uma evolução enorme e passa por nós, os jogadores, essa evolução de se manter na Série A de 2021, em 2022 e agora essa crescente, essa boa fase em 2023. Então, a gente espera que as coisas caminhem nesse trilho.

A gente sabe que é difícil, não é fácil, ainda mais o campeonato de jeito que é o Brasileiro. Começa o próximo turno, os jogos começam a ficar mais difíceis, começa a ter uma briga muito maior por posição do que agora no começo. Então a gente precisa ter pé no chão. Mas feliz por ter aceitado essa proposta no começo.

MidiaNews - E depois que todo mundo ficou sabendo, chegaram a te chamar de doido por trocar o Corinthians pelo Cuiabá?

Walter - Ah, um ou outro jogador [risos] do Corinthians falou: "Pô, Waltão, vai para o Cuiabá?".  Falei: "É lá que eu tenho que ir". A gente estava sentindo paz. Isso que é o mais gratificante, você sentir paz onde você está indo. E hoje sei o porquê da paz, hoje sei porque vim para cá. Tem outras coisas em volta, tanto família, quanto espiritual que era para eu estar aqui nesse momento.

MidiaNews - E hoje você já é considerado um dos maiores jogadores da história do clube. Você tem consciência da importância que tem nesse time?

Assessoria

"Do jeito que as coisas estão caminhando acho que vou ficar por aqui"

Walter – Não tenho, sou bem tranquilo quanto isso, em questão de ter hierarquia ou não. Mas eu sei que fui um dos primeiros jogadores a vir para o Cuiabá na época para jogar a Série A. Veio o Marlon também, isso querendo ou não, acaba atraindo outros jogadores a vir.

No dia a dia também, jogos grandes que a gente consegue fazer uma vitória com grandes defesas. Isso é normal para o jogador futebol, mas fico mais feliz ainda pelo carinho que eu tenho do torcedor.

MidiaNews - Pensa em encerrar a carreira no Cuiabá ou ainda almeja algo no eixo Rio-São Paulo?

Walter - Do jeito que as coisas estão caminhando acho que vou ficar por aqui. Tem esse ano e o próximo ano ainda [de contrato]. Se tudo ocorrer bem, ainda tem uma projeção de mais um ano. Vamos ver. Estando feliz aqui como estou hoje, acho que pretendo seguir por aqui.

MidiaNews - O Centro de Treinamento do Cuiabá ainda não está pronto. Acha necessário finalizar logo essa obra para dar mais condições aos jogadores?

Walter - Não sei se posso falar muita coisa, mas o que estou sabendo vai ser um grande centro. Já tem, lógico, os campos lá. Se for lá, vai ver as construções como que estão o todo vapor. Acho que vai ficar uma excelentíssima estrutura e vai ajudar muito.

A gente vê que aqui hoje a estrutura é bem abaixo dos clubes da Série A, mas quem vier nos próximos anos terá um baque positivo na hora que ver o CT.

MidiaNews - Como é sua rotina em Cuiabá? Sua família veio com você ou ficou em São Paulo?

Walter – Veio. Moramos eu, minha esposa e minha filha. Ficamos maior tempo eu e elas. Rotina normal de treinamento, sai para comer alguma coisa, vai na igreja, vai rezar, que faz bem para a nossa saúde. Mas normal, nada além disso.

MidiaNews – Nos últimos dias ganharam as manchetes dos jornais a polêmica em torno dos valores dos ingressos para o jogo contra o Flamengo na Arena Pantanal. Você acha que o Cuiabá acertou em colocar esse preço?

Walter – Já deu muito problema isso. Mas se parar pensar, vários clubes nas finais de Copa do Brasil, Libertadores, têm preços exorbitantes. Passa até de cinco, seis vezes mais que o preço normal.

Então, é difícil a gente falar se é certo ou se é errado. A gente sabe que vai lotar da mesma forma. A gente espera que o torcedor cuiabano vá para nos apoiar, mas sabemos que tem muito flamenguista aqui. Mas todo mundo usufrui da cidade, então pode torcer para nós.

MidiaNews - E de alguma forma, todo esse burburinho afeta vocês?

Walter - Não. Passa despercebido, porque até o presidente absorve bem essa situação. Ele já deu entrevista falando sobre isso, o que ele acha. Ele é o dono do clube, faz o que ele bem entender, o que acha mais correto possível. Mas não afeta nós. A gente só pensa no que a gente tem que fazer, que é ganhar os jogos.

MidiaNews – E qual a expectativa para o jogo. Acredita numa vitória contra o Flamengo?

Walter – A gente tem certeza que pode conseguir essa vitória pelo dia a dia, pela confiança que a gente está tendo nos últimos jogos.