Cuiabá, Sábado, 8 de Novembro de 2025
MEMÓRIA POLÍTICA
08.11.2025 | 18h00 Tamanho do texto A- A+

“MT era um Estado curral comandado por poucos; UFMT dividiu isso”

Fundador e primeiro reitor da universidade fala sobre política, educação, saúde e a ditadura militar

Victor Ostetti/MidiaNews

O médico e professor Gabriel Novis Neves, que falou sobre a fundação da UFMT

O médico e professor Gabriel Novis Neves, que falou sobre a fundação da UFMT

JONAS DA SILVA
DA REDAÇÃO

Aos 90 anos, o médico e professor Gabriel Novis Neves avalia que a instalação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) em Cuiabá propiciou a liberdade de pensamento na sociedade contra um “estado curral”, como ele denominou a situação antes do funcionamento da instituição.

A Universidade Federal de Mato Grosso veio para dividir esse imenso curral, esse curral não pode ser patrimônio de uma pessoa, ou de um grupo, tem que ser de todos

 

Neves dá nome à cidade universitária, foi seu fundador e reitor por mais de uma década, entre 1970 e 1982. Formou gerações de médicos não só na universidade, como em outros centros de ensino. Profissionais dos quais hoje é paciente na saúde.

 

“Cada um deve ter liberdade para escolher seu candidato e votar, isso é o que acho. Mas aqui, antes da universidade, era chamado de Estado curral”, disse ele em entrevista ao MidiaNews, ao ser questionado sobre a polarização direita e esquerda.

 

“O ministro da Educação militar, o coronel Jarbas Gonçalves Passarinho, disse o seguinte: a Universidade Federal de Mato Grosso veio para dividir esse imenso curral, esse curral não pode ser patrimônio de uma só pessoa, ou de um só grupo, tem que ser de todos”, acrescentou.

 

Ao longo da sua trajetória, Novis Neves conviveu com diversas lideranças. Ele foi secretário de Estado de Educação do ex-governador Pedro Pedrossian, no Mato Grosso integrado e uno, na década de 1970.

 

Além de falar de saúde e medicina, os avanços dessa área da sua formação, comentou também sobre educação, fatos políticos do Estado e de Cuiabá. E relembrou histórias da ditatura militar em Mato Grosso. Uma, o fato de a UFMT não ter instalado o Serviço Nacional de Informação (SNI) para bisbilhotar estudantes, professores e técnicos. E o resultado da sua negativa de não instalar o serviço: ser o único reitor cassado durante o regime de exceção. 

 

 

Confira os principais trechos da entrevista (e o vídeo com a íntegra ao final da matéria):

 

MidiaNews - O senhor dá nome à UFMT e foi o primeiro reitor temporário da universidade em março de 1970 e depois entre 1971 a 1982. Os principais desafios foram encontrar professores ou questões de infraestrutura do novo campus?

 

Gabriel Novis Neves –  Eu fui um dos fundadores da universidade, mas ninguém faz nada sozinho. Ainda mais instalar uma universidade federal, em 1970, no Centro-Oeste brasileiro. Era uma aventura. Ninguém acreditava. O cuiabano estava tão desiludido naquela época que falavam: 'Ah, saiu no papel, saiu no Diário Oficial, mas isso aí vai ficar por aí'. Porque muitas coisas, muitos projetos saíam do "Diário Oficial" e não eram transformados em realidade. Então foi essa a minha missão, de tirar do papel e transformar em realidade a Universidade Federal de Mato Grosso.

 

Claro que não fiz isso sozinho. Eu fui o comandante dessa grande batalha em prol da educação, da juventude de Mato Grosso, da família mato-grossense.

 

Victor Ostetti/MidiaNews

Gabriel Novis Neves

Gabriel Novis Neves: "Minha missão foi tirar do papel e transformar em realidade a Universidade Federal de Mato Grosso"

Eu comecei como reitor pró-tempore, porque o ministro criou a universidade em Campo Grande. A Universidade Cuiabana, nasceu em Campo Grande. Imagina, o maior rival de Cuiabá. Depois, a minha escolha de reitor pró-temporário foi em Corumbá, do Centro Educacional Júlia Gonçalves Passarinho. E foi por aclamação. E eu vim instalar a universidade em Cuiabá. Então, você vê que coisa bonita é esse começo da história da universidade.

 

Uma história que começou em 1808, em Vila Bela da Santíssima Trindade. Todo mundo fala o seguinte: o ensino superior de Mato Grosso começou na época de Gabriel. Não! Começou em 1808. Quando a família real foi expulsa pelas armas de Napoleão Bonaparte e vieram para Salvador, na Bahia.

 

E chegando em Salvador, aquele pessoal que era da Casa Civil, vamos dizer assim, lá do Imperador do Brasil, exigiram que se criasse uma faculdade de medicina em Salvador, porque era impossível, inadmissível, ter a família real morando em uma cidade que não tivesse faculdade de medicina. Daí, a coisa elitizante do curso de medicina começou aí. Começou aí, ou continuou aí, não sei. Mas aqui no Brasil, começou aí.

O aluno de medicina, ele tinha orgulho de falar que ele estudava medicina na Praia Vermelha

Então foi criada em Salvador a Escola Imperial de Medicina, como marco da chegada da família real em Salvador. Isso foi em fevereiro de 1808. Em novembro, a família muda para o Rio de Janeiro. Aí é criada a Universidade do Rio de Janeiro. Essa universidade foi a que estudei, que na época chamava-se Nacional, porque a capital federal era no Rio, era a Faculdade Nacional de Medicina, mais conhecida como a Universidade da Praia Vermelha. A Praia Vermelha era símbolo de qualidade. 

 

O aluno de medicina, ele tinha orgulho de falar que ele estudava medicina na Praia Vermelha. Hoje ficou a Federal do Rio de Janeiro, o fundão, com traficante, droga... Todo mundo tem medo de ir no fundão. Eu tenho medo de ir no fundão.

 

MidiaNews - E qual foi o impacto inicial dessa formação aqui em Cuiabá, dessa formação universitária, tanto para a cidade, quanto para o mercado de trabalho? Já que muitos, como o senhor disse, iam estudar no Rio e em São Paulo?

 

Gabriel Novis Neves – Com a chegada da universidade, as famílias não precisavam mais preocupar de ter que mandar filhos para estudar fora de Cuiabá. Porque isso, inclusive, custava dinheiro. E os migrantes que estavam chegando aqui sabiam que podiam vir para cuidar da lavoura, da roça, da agricultura. E o fundamental para eles era a educação dos filhos. E eles tinham onde educar o filho em uma boa universidade, que era a nossa.

 

Então, o impacto foi muito grande. Não precisavam mais sair de Cuiabá para estudar medicina. Agora, gostaria de lembrar que a ideia começou em 1808, em Vila Bela. E aí, a capital veio para Cuiabá. Algumas iniciativas aqui e ali. Até que, em 1952, no primeiro governo do Fernando Corrêa da Costa, criou a Faculdade Estadual de Direito. Sem condições de funcionar, foi fechada.

 

Mais tarde, já no governo do Jango, criou a Faculdade Federal de Direito, que foi a primeira escola federal em Cuiabá, mas era isolada. O Fernando criou o Instituto de Ciências e Letras em 1966, e o Pedro Pedrossian, quando assumiu, deu início aos cursos de Ciências Contábeis, Letras, aquele curso de cuspe, que falavam, que não precisava de laboratório, não precisava de nada. E, em 1968, veio a Engenharia Civil.

 

Em 70, no início de 70, o Pedrossian me chamou, falou que tínhamos que preparar o Estado para ser sede de duas universidades. Uma universidade com sede em Campo Grande e outra em Cuiabá. Pela lei, a federal tinha que ser em Cuiabá. E Campo Grande a estadual.

 

O curso de Medicina foi criado em 1970 e só começou a funcionar 10 anos depois, porque era um curso elitizante e a elite é cruel com os pobres, não querem. Demorou 10 anos para começar a funcionar, hoje nós temos uma escola de Medicina aí com 45 anos, muito bem avaliada pelo MEC, formando excelentes profissionais, inclusive muitos desses meus antigos alunos da Faculdade de Medicina são meus médicos hoje.

 

E eu vou dizer mais uma coisa para você, a medicina de Cuiabá é excelente, só que, infelizmente, não abrange a todos

MidiaNews - E como é que está a educação pública universitária hoje, melhorou ou piorou?

 

Gabriel Novis Neves – Em minha opinião, estou afastado do dia a dia da universidade, da sala de aula, dos departamentos, mas a minha opinião é que melhorou muito a medicina do Brasil. A medicina do Brasil não deve nada às melhores escolas de medicina do mundo.

 

E eu vou dizer mais uma coisa para você, a medicina de Cuiabá é excelente, só que, infelizmente, não abrange a todos. Por exemplo, o SUS não teve condições ainda de ser um Sistema Único de Saúde para todos, mas quem tem recurso, não precisa mais sair de Cuiabá para nada.

 

Esse marca-passo que tenho aqui no peito, coloquei aqui e quem colocou foi um ex-aluno nosso, de Cáceres, garoto, saiu daqui na época que não tínhamos ainda especialização. Ele fez isso na USP e defendeu uma tese, que foi aprovada nos Estados Unidos e recebeu um troféu de uma universidade americana. 

 

MidiaNews - Aqui se faz as mais variadas cirurgias.

 

Gabriel Novis Neves – Você não precisa sair daqui hoje para fazer cirurgia sofisticada, por exemplo uma cirurgia bariátrica, cirurgia cardíaca. Tem gente aqui que faz excelentemente bem. Houve uma época em que o melhor médico de Cuiabá era o aeroporto. Então, as pessoas que estão passando mal e têm o recurso, o aconselhamento que se dava era pegar um avião.

 

E no Brasil todo houve isso. Acho que a medicina evoluiu muito nesses últimos 50 anos aqui no Brasil e aqui em Mato Grosso e em Cuiabá.

 

 

MidiaNews - O senhor tem 90 anos e tem um bom desempenho intelectual e também de saúde. O que o Gabriel, médico, faz para manter isso?

 

Gabriel Novis Neves –  Eu me cuido muito. Eu, por exemplo, vou fazer todos os exames de sangue, faço quase que mensalmente. Imagina, nunca na minha vida médica de mais de 50 anos pedi o exame de imunoglobulina. Eu acho que poucos médicos pedem esse exame.

 

Fui em São Paulo para fazer um check-up e lá foram pedidos exames de imunoglobulina subclasses. Porque você pode pedir imunoglobulina ou imunoglobulina e subclasse. A minha subclasse estava muito baixa. Então eu frequentemente era cometido de infecção pulmonar, pneumonia. Não tem mais.

 

MidiaNews - Isso tudo graças a esse exame detalhado?

 

Gabriel Novis Neves – Graças a esse exame. Sei que vocês têm muitos leitores e muita gente vai falar, poxa, nunca fiz esse exame. E muita gente vai pressionar o médico para fazer. Eu faço. 

 

Não podemos ter um líder, temos que ter líderes, e a universidade está aí para formar líderes

MidiaNews - O senhor, como médico, o que acha que precisa melhorar na Saúde do Estado e principalmente em Cuiabá?

 

Gabriel Novis Neves – Olha, a medicina precisa melhorar para todos. Porque para alguns, ela está ótima. Por exemplo, eu tenho condições de chegar ao médico, pagar exame. Então, para mim, ela está ótima. Mas, a grande maioria não está. Por quê? A grande maioria ainda depende do Programa Saúde da Família, onde tem um médico, geralmente, recém-formado, generalista. E hoje, ser generalista [médico geral] é complicado. Eu, quando formei, ainda era generalista. E hoje, o conhecimento, é infindável, né? Enquanto não criar o cargo de médico do Estado, a medicina não vai para a frente.

 

MidiaNews - E o que seria esse médico do Estado?

 

Gabriel Novis Neves – O médico do Estado é o seguinte: você para ser juiz federal, faz o concurso para juiz federal, não vai poder advogar. Aí, dependendo do resultado do seu exame, se você for bem classificado, vai escolhendo as cidades. Os mais bem classificados ficam mais perto das grandes cidades. Os menos, vão para outras cidadezinhas. Enfim, tem que criar a função do médico.

 

Você criando a função do médico, vai ter esse médico, não vai ter clínico. Ele vai, vamos supor, para Aripuanã. Aí fica lá dois, três anos, aí faz uma provinha. Se ele acrescentou conhecimento, aí vem para Juara. Aí fica mais algum tempinho. Porque tem que estudar. Se ele fizer o outro teste e demonstrar aproveitamento, vem para cá. Porque os que estão entrando aqui e que tem pouco conhecimento vão lá.

 

Porque você vê o seguinte, o Brasil forma milhares de médicos por ano. Milhares. Ele é um dos países recordistas em escolas de medicina. Mas falta médico no Brasil. Mas falta médico onde no Brasil? Aonde falta médico? Em São Paulo? Na Rua Augusta? Na Avenida Atlântica? Em Cuiabá? Não. Falta exatamente nesse município pequeno.

 

MidiaNews - Eu sei que o senhor não gosta de falar de política, mas gostaria de saber como o senhor vê hoje essa formação do aspecto ideológico, com dois grandes grupos, direita e esquerda. O que isso está impactando no dia a dia do País?

 

Gabriel Novis Neves – Essa história de direita e esquerda é a favor ou contra, é uma besteira tão grande. Por exemplo, eu trabalhei com os militares durante o meu período todo. E vou dizer para você, foi o melhor período da universidade em termos de investimento, em termos de expansão física, da rede física. O campus aqui, praticamente, foi feito em 11 anos, teatro, biblioteca, ginásio, pista de atletismo, restaurante, praça, os centros. Tudo foi feito na época dos militares. Eu nunca puni nenhum aluno pelo 477 [decreto do período da ditadura], nem professor, ninguém, nunca houve nada disso.

 

Fui o único cassado como reitor. A universidade de uma hora para a outra ficou sem reitor, sem nada.

Mas eu era visto como o homem dos militares. E vou dizer uma coisa para você, depois que eles saíram, é só blá-blá-blá. E as universidades hoje mal pagam os seus professores, e pagam mal. Na época, a inflação era galopante, a inflação era muito alta, o salário do professor era muito pequeno. Para lecionar em Cuiabá, você tinha que captar professores de fora do Estado, porque, senão, não criava a universidade. 

   

MidiaNews - Voltando a essa questão da dicotomia direita e esquerda, como isso pode prejudicar o país, já que não há um debate saudável hoje em dia?

 

Gabriel Novis Neves – Cada um deve ter a liberdade para escolher seu candidato e votar, isso é o que acho, mas aqui, antes da universidade, era chamado de Estado curral, Mato Grosso era Estado curral, o ministro da Educação militar, o coronel Jarbas Gonçalves Passarinho, disse o seguinte: a Universidade Federal de Mato Grosso veio para dividir esse imenso curral, esse curral não pode ser patrimônio de uma só pessoa, ou de um só grupo, tem que ser de todos, como quem disse o seguinte: não podemos ter um líder, temos que ter líderes, e a universidade está aí para formar líderes.

 

MidiaNews - E quem eram os donos desse curral que era Mato Grosso, que o ex-ministro Jarbas Passarinho falava?

 

Gabriel Novis Neves – Ele falava, todo mundo falava, todo mundo falava que o governo de Mato Grosso era um grande curral, e quem comandava era Filinto Müller, Fernando Corrêa da Costa, João Vila das Boas, Lúdio Coelho, Saldanha Derzi, João Ponce de Arruda. Esses aí, eram donos do curral. Tinha que universalizar! Tinha que ser de todos e isso machucou muita gente, muita gente não entendeu, isso custou, inclusive, a minha cassação. Fui o único cassado como reitor. A universidade de uma hora para a outra ficou sem reitor, sem nada.

 

 

MidiaNews - E isso foi em que ano da universidade ?

 

Gabriel Novis Neves – Isso foi em 1978. O Golbery [do Couto e Silva] era chefe da Casa Civil, me chamou em Brasília e falou: Gabriel, apreciamos muito o seu serviço, o seu trabalho, mas você é o único reitor que não implantou o serviço do SNI dentro da universidade, que analisava o currículo para ver a ideologia do camarada para saber se podia contratar. Não quis implantar isso aqui, não implantei.

 

Você sabe quem definiu muito bem essa questão de direita e esquerda? Foi uma pessoa que admiro muito, chamada doutor Agrícola Paes de Barros, que foi um médico cuiabano e se declarava comunista. Ele tinha um jornal comunista, que escrevia, mandava imprimir e distribuía de graça.

 

Quando veio a revolução, claro que foram prender de madrugada o doutor Agrícola e foi um constrangimento, porque quem foi prender era afilhado dele. Mas ele era comunista por convicção e os atos dele na medicina, inclusive, eram comunistas. Ele era um benemérito da pobreza de Cuiabá, a pobreza de Cuiabá só tinha um lugar para chegar: o doutor Agrícola Paes de Barros, que eu conheci muito bem. 

Gabriel, apreciamos muito o seu serviço, o seu trabalho, mas você é o único reitor que não implantou o serviço do SNI dentro da universidade

MidiaNews - E como o senhor avalia hoje a questão social, econômica e política do Estado de Mato Grosso?

 

Gabriel Novis Neves – Mato Grosso é um Estado que cresceu muito, progrediu muito, mas ainda deve desenvolvimento, porque uma coisa é crescimento e outra coisa é desenvolvimento.

 

Por exemplo, o desenvolvimento social, ainda devemos muito. Tem muitas classes que estão marginalizadas. Acho que isso poderia ser corrigido futuramente com governos que tivessem essa visão para o social, que a visão hoje dos nossos governantes é mais empresarial, é com empreendimento, é com fazenda de soja, fazenda de milho, de garimpo, mineração, criação de galinhas, mas socialmente falando, isso beneficia um grupo muito pequeno de pessoas e precisávamos beneficiar mais pessoas.

 

MidiaNews - E o que fazer neste caso para resolver essa questão de crescimento e desenvolvimento?

 

Gabriel Novis Neves – Fazer mais escolas, nas escolas conscientização dos alunos, fazer com que a escola não seja apenas para alfabetizar, mas também para fazer com que o aluno sinta as dificuldades do meio em que  vive, que nem todo aluno mora nos Florais, tem muitos alunos que moram ainda distantes. Tem muito município pobre aqui em Mato Grosso ainda.

 

MidiaNews - O que o senhor se lembra lá no Bar do Bugre, do seu pai Olyntho? O que se debatia, quem geralmente frequentava o Bar do Bugre?

 

Gabriel Novis Neves – O Bar do Bugre, durante muitos anos, foi o grande centro de vivência de Cuiabá. Tinha nove portas de frente para Prefeitura e cinco portas para a Praça da República. Então, era um lugar privilegiado para ver, inclusive, o sermão de Dom Aquino. Cheguei de assistir o sermão de Dom Aquino.

 

MidiaNews - Do lado da Avenida Getúlio Vargas, ao lado na Igreja Matriz?

 

Gabriel Novis Neves –  Ele fazia os sermões ali, na sacada da Catedral. As campanhas políticas, me lembro dos pracinhas, quando eles se despediram de Cuiabá, a despedida foi lá, várias campanhas políticas encerravam discursos inflamados lá.

 

 

MidiaNews - Isso tudo lá no Bar do Bugre do seu pai, em frente onde hoje é a Prefeitura?

 

Gabriel Novis Neves – Não, na Catedral. No Bar do Bugre você ouvia e via. E aí tem fatos interessantíssimos. teve uma pessoa, um candidato a vice-governador, que não sabia fazer discurso, então ele leu o discurso. Eu nunca vi uma pessoa, candidata ao governo, ler discurso. E tem outras coisas interessantíssimas.

 

O papai, quando morreu, nós fomos ver o escritório dele, o que tinha de fiado, de gente. Daria para comprar uma casa boa lá nos Florais.

MidiaNews - O senhor tem uma história de vários locais interessantes aqui em Cuiabá. Gostaria que o senhor comentasse um pouco a história do então engenheiro Floriano Peixoto, que fez uma grande contribuição para Cuiabá. O que ele fez ? O nosso segundo presidente do Brasil República.

 

Gabriel Novis Neves –  O Floriano Peixoto era alagoano, cursou a escola militar lá de Porto Alegre, e nessa escola existia um aluno de Uruguaiana, Vasconcelos, que foi colega de turma dele e grande amigo. O Floriano era político, o Vasconcelos era técnico, os dois engenheiros. Então, o Floriano sempre ocupava cargos políticos, e o presidente era o Marechal Deodoro, que morou em Cuiabá, casou em Cuiabá, com uma mulher enganada, sabia disso, né? Ele casou com uma mulher enganada, que não era a namorada dele.

 

Depois veio o Floriano também, morou aqui. Então, o governador de Mato Grosso na época era o coronel Alencastro, que pediu  para o quartel-general um engenheiro capacitado para dar uma imagem, uma fisionomia de capital a Cuiabá, já que parecia um arraial. 

 

Aí, o Floriano chamou o colega de turma, o Vasconcelos, e falou: você vai para Cuiabá e vai construir o mais belo jardim que você já viu na sua vida, não tem problema de recursos. Aí ele pegou a mulher, filha única, carioca, e veio para Cuiabá. Então, chegou com uma menina de 14 anos.

 

Chegando aqui em Cuiabá, ele importou o coreto, a fonte luminosa, que hoje está lá na Praça Ipiranga. Ele fez o traçado do jardim caprichoso, com ruas, com roseiras, com palmeiras imperiais, com ipês. No dia da inauguração estava tão bonita que o coronel Alencastro falou assim: será a Praça Alencastro. A minha geração chama de jardim, tudo acontecia no jardim.

 

MidiaNews - E quem que era essa filha do amigo do Vasconcelos, amigo do Floriano Peixoto?

 

Gabriel Novis Neves –  A filha chamava-se Eugênia de Vasconcelos. Ela casou com o Gabriel de Souza Neves, então ficou Eugênia de Vasconcelos Neves. Os filhos delas todos tinham sobrenome Neves. Um chamou Vasconcelos, porque ele tinha ideia de ir para o Clube de Forças Armadas, então falou que o nome deveria influenciar. Acabou sendo agrônomo e ganhou dois apelidos. Mocinho e Seu Zé. 

 

O primeiro e o segundo filho dessa família, da Eugênia, ela teve condições de educar no Rio e tornaram-se desembargadores. Mas de 1947 em diante, meu pai, foi cobrador da farmácia do Pedro Celestino. Época em que vendia-se fiado em Cuiabá. Tudo era fiado. O papai, quando morreu, nós fomos ver o escritório dele, o que tinha de fiado, de gente. Daria para comprar uma casa boa lá nos Florais.

 

MidiaNews - O senhor só não falou quem era a Eugênia, que veio junto com Vasconcelos, amigo do Floriano Peixoto?

 

Gabriel Novis Neves – Era minha avó, a Eugênia era minha avó.

 

Assista a entrevista completa:

 

 

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