O prefeito de Cuiabá Abilio Brunini (PL) criticou duramente o sistema municipal de Educação, parte dos servidores da área e o Sintep (Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público), em entrevista ao MidiaNews nesta semana.
Ele apontou que, apesar dos investimentos, o desempenho dos alunos é fraco e classificou a Educação municipal como “falida”.
“A educação do município de Cuiabá é fake, é de baixo desempenho e é mais cara do que a iniciativa privada. [...] Se hoje a gente fosse dar uma nota para todo o sistema de educação, a nota seria de 3 e meio a 4. É um sistema falido!”, afirmou o prefeito.
Há seis meses na gestão, Abilio afirmou que regularizou os salários e benefícios dos profissionais. Para ele, parte dos servidores o trata com ingratidão. “Eu assumi a gestão, não estava pago o salário de dezembro, não estava pago acerto rescisório [...] A gente chegou e pagou. E ainda reclamam. É muito ingrata boa parte do servidor da educação”, disse.
O prefeito ainda citou dados do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) para embasar a avaliação. Segundo o gestor, 50% das crianças saem do ensino fundamental sem saber ler e escrever e 46% não estão alfabetizadas na idade correta. Para ele, a rede pública “entrega material, uniforme, merenda, mas não entrega resultado”.
“Hoje, a gente dá material escolar, a gente dá uniforme, a gente dá todos os instrumentos necessários. [...] Mas sabe o que é ideologia de gênero, cultura woke, ideologias de partidos políticos, mas não sabe quanto é quatro vezes quatro”, criticou.
Na entrevista, Abilio ainda falou sobre a adaptação ao cargo, relata ameaças e o peso psicológico da função, comenta sobre sua nova rotina de saúde e garante o lançamento do programa Cuiabá Card, como forma de melhorar o transporte público.
Confira os principais trechos da entrevista (e a íntegra do vídeo no final da matéria):
MidiaNews - Quando o senhor disputou por duas vezes a Prefeitura de Cuiabá, a sua postura sempre foi criticada, sendo a principal delas de que o senhor não funcionaria no cargo do Executivo, porque tem perfil de legislativo. Com esses seis meses à frente da gestão, acha que se adequou totalmente ao perfil de prefeito?
Abilio Brunini - Não é que me adequei totalmente. Minha melhor cartada foi escolher secretários bons. Sozinho não conseguiria resolver o problema da Prefeitura. Escolhi o Marcelo Bussiki na Economia, que o considero um dos caras geniais na gestão. Já foi vereador e fiscalizava, é auditor do Tribunal de Contas, já tinha sido secretário do Mauro Mendes e agora tem um papel fundamental no equilíbrio das contas do município.
Victor Ostetti/MidiaNews
"Minha melhor cartada foi escolher secretários bons", diz prefeito Abilio Brunini
Chamar, por exemplo, a delegada Juliana Palhares para a Ordem Pública, funcionou muito bem. A gente chamou Solange Dias, para a Secretaria de Educação, que teve que se afastar por motivos pessoais. Hoje tem a Doutora Lúcia Helena Sampaio na Secretaria de Saúde, que é super capacitada. Ela tem as dificuldades de relacionamento político, porque nunca foi político e isso acontece com quem não tinha convívio com a política.
Temos secretários fantásticos. Temos uma equipe vocacionada às suas funções.
MidiaNews - Para que esse grupo fosse formado, o senhor fez uma reforma administrativa, criou algumas secretarias, extinguiu e fundiu outras. Ficou satisfeito com esse resultado? Há a possibilidade da fusão de mais algumas secretárias?
Abilio Brunini - Tem algumas coisas que ainda tenho desejo de mexer. Em seis meses à frente da gestão, é possível perceber muita coisa que não tinha percebido no início. A transição não te prepara para tudo e a observação da gestão pública do lado de fora, como parlamentar principalmente, não te dá a sensação de quais são os reais problemas. E eles são piores do que você imagina. Tem uma surpresa o tempo todo.
Vejo a necessidade de criar o IPDU (Instituto de Planejamento e Desenvolvimento Urbano), como uma autarquia, uma agência ou até mesmo uma secretaria à parte, para ele ter um foco mais no desenvolvimento e planejamento urbano. Diferente da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, que é análise de projetos, questões ambientais... Mas não sei se a gente faz isso esse ano, talvez deixo para o ano que vem.
Algumas outras secretarias não vejo necessidade da questão da fusão, mas tem a questão do trabalho colaborativo que, às vezes, é necessário ter.
MidiaNews – Nesse início de gestão houve algumas mudanças também no secretariado. Pode haver novas trocas?
Abilio Brunini - Todos os cargos são de livre nomeação, todos os secretários sabem disso. Há possibilidade de troca? Claro que há. Vou avaliar o desempenho. Só que ao mesmo tempo que é muito cedo para avaliar o meu desempenho em seis meses, é muito cedo cobrar também um desempenho diferenciado se a pessoa ainda está se adaptando dentro de cada uma dessas secretarias.
Algumas secretarias têm muito mais dificuldade que outras. Por exemplo, a Secretaria de Saúde é um caos. É um problemaço. É um bilhão e meio de orçamento, mas parece que falta centavos todos os dias, porque a demanda é gigantesca. E como que vou cobrar da secretária Lúcia, a mesma sensação de resultado? Porque o resultado dela é gigante, mas a sensação de resultado pela opinião pública é diferente da sensação de resultado da Secretaria de Cultura.
A desproporcionalidade da aplicação de recursos e a desproporcionalidade da sensação de resultado é totalmente diferente. Não dá para cobrar os secretários com os mesmos critérios que a opinião pública cobra.
MidiaNews - Quando houve a troca na Educação, o senhor foi alvo acusado de ser um gestor centralizador. O que passa pelo senhor e o que deixa sob responsabilidade dos secretariados? O senhor é mesmo centralizador?
Abilio Brunini - Não, a gente não vive no parlamentarismo, é diferente. As pessoas, às vezes, confundem. O prefeito é quem tem que tomar a decisão. Quem escolhe o secretário sou eu, quem toma as decisões sou eu.
Agora, dentro da cada secretaria, não tem como eu ficar tomando decisão de cada um, cada um tem suas competências, mas busco sempre estar informado sobre boa parte das decisões que são tomadas. Por quê? Porque, às vezes, tomam decisões equivocadas por não conhecer o nosso perfil e aí a gente tem que falar: “Eu penso diferente de você. E por mais que eu tenha te dado bastante autonomia para ser o secretário, quem foi eleito para administrar Cuiabá sou eu, então o padrão que a gente tem que seguir é o padrão das políticas públicas que estão no meu plano de governo”.
Não posso expressar essa forma na campanha eleitoral, colocar isso no meu plano de governo e de repente o secretário ir na contramão porque pensa diferente. No modo geral, a gente pensa mais ou menos no mesmo alinhamento. Mas vira e mexe tem uma opiniãozinha ou outra que a gente tem divergência. Quando o secretário tem razão, ele me convence e mudo minha opinião.
MidiaNews - O que quer dizer é que a sua gestão não aceita essa imposição talvez de algum grupo de vereadores que não queira determinado secretário?
Victor Ostetti/MidiaNews
"Quanto mais um secretário for perseguido, menos vontade de trocar ele eu vou ter", diz Abilio
Abilio Brunini - Quanto mais um secretário for perseguido, menos vontade de trocar ele eu vou ter. Imagina que você fosse uma secretária: está lutando, se esforçando, chega cedo, sai no fim do dia, está ralando... E eu conheço todo o seu empenho, o seu trabalho. Só que, de repente, os vereadores não gostaram de você.
Falam: não gosto do estilo dela, mando WhatsApp e ela não me responde, quero resolver os meus problemas e ela não está resolvendo. Eu chamo a secretária, converso com ela, questiono se ela tem dificuldade de relacionamento e ela me explica que a questão é que a demanda é tão alta que não consegue responder e dar atenção a todos.
E aí o vereador pode pedir a sua cabeça por não concordar com o seu perfil de relacionamento político. E começa a te bater, atacar e fazer tudo mais. Se eu der crédito a esse ataque, estou indo na contramão de todo o esforço que você está fazendo e eu tenho ciência disso. Agora, se tiver razão e você realmente estiver fazendo corpo mole, serei o primeiro a te tirar.
MidiaNews - E o senhor acompanha isso de perto mesmo, né?
Abilio Brunini – Tudo. Vejo o esforço dos meus secretários. Muita gente me vê na internet, na rua, e tem a sensação que fico na rua o tempo todo, muito pelo contrário. De 100% do meu dia, apenas 10% estou na rua, em 90% estou no gabinete tratando de vários problemas.
Só que não abro mão de ir para rua. Não abro mão de ir lá no bairro, de ir a eventos, de ter relacionamento com as pessoas. Só que se eu ficar postando na internet só em minhas reuniões vai ser um tédio, porque atendo um mundaréu de gente.
MidiaNews - É o senhor que comenta nas postagens ou tem uma equipe?
Abilio Brunini - A resposta sempre sou eu, mas a pessoa me ajuda a fazer publicação, compartilhar histórias, algumas coisas assim. Mas comentários, se tá tendo uma treta e vai lá e responde, sou eu. E eu amo fazer isso.
MidiaNews – E quantas horas por dias o senhor está dormindo?
Abilio Brunini - Eu estou dormindo bem, essa noite foram cinco horas.
MidiaNews - Uma das propostas de campanha foi a remodelação do sistema de transporte público. O senhor propôs pagar as empresas por quilômetro rodado e não pelo número de passageiros, que hoje está em R$ 11,6 por passagem. Como está esse projeto?
Abilio Brunini - No segundo semestre, a gente vai apresentar o CuiabáCard, programa de assinatura para o transporte público, onde vai te permitir, por exemplo, pagar uma vez por mês e usar à vontade durante aquele período.
Victor Ostetti/MidiaNews
O prefeito Abilio Brunini quer lançar Cuiabá Card - um cartão pago mensalmente para uso de passagens no transporte público - já no segundo semestre
Você vai pagar uma vez por mês, um valor de R$ 200 ou R$ 220 e vai pegar quantos ônibus quiser, no sentido, direção e horário que quiser, sem limitação.
Porque a gente entende que o custo do sistema de transporte público coletivo é fixo. Existe um determinado número de ônibus que passa por uma rota, que passa por uma determinada periodicidade. O custo de manutenção desses ônibus é fixo, dos prestadores de serviço é fixo, então o sistema de transporte público tem um custo fixo. Ou seja, só tem aumento de custo quando aumenta o combustível ou quando aumenta número de veículos.
Ou seja, o custo é fracionado pelo número de passageiros, que é calculado por quem passa na catraca. Só que esse número não é correto se calculado dessa forma. Se o custo é fixo, e eu pago por quem passa na catraca, quanto menos passageiros, o custo ficará mais alto. E assim, estimulo o sistema a ter menos passageiros.
A tarifa real é R $11,60 esse R$ 4,95 que as pessoas pagam é a tarifa subsidiada, então a Prefeitura já paga a diferença do pagante e sobre a gratuidade paga integralmente os R$ 11,60.
MidiaNews – E como será o programa?
Abilio Brunini - Se você quiser pagar por passagem, você poderá. Mas vamos ter três planos: de uma semana, quinze dias e de trinta dias. Isso já muda a contabilidade. E ao invés de pagar por passageiro na catraca, vamos pelo custo real do sistema e apurar esse custo do sistema por quilômetro rodado. Essas duas coisas a gente deve implementar no segundo semestre.
MidiaNews - Nesses seis meses, tem algo que se arrepende de ter feito? E algo que gostou que possa destacar?
Abilio Brunini - Eu não tenho ainda essa avaliação, realmente que não parei para ter essa percepção. Algo que achei que ia ser melhor e não foi: a Secretaria de Meio Ambiente na aprovação de projetos. A gente reduziu um monte de burocracia, diminuímos a legislação, simplificamos aquilo que deveria ser aprovado, mas ainda não conseguimos que esse setor entrasse em prática com todas as mudanças.
Agora, estamos tentando trazer mais 20 profissionais de arquitetura e engenharia para fazer mais análises de projetos e ver se assim deslancha, mas ainda não está como eu gostaria que tivesse.
Outra coisa são as obras públicas. Não está ainda também como esperava que fosse. Estamos com um orçamento tão limitado e está muito difícil de a gente conseguir colocar em prática a retomada de boa parte dessas obras, porque elas eram feitas sem um projeto adequado. Nós estamos gastando muito tempo com análise de projetos, levantamento das obras.
E em seis meses não conseguimos resolver a maioria das obras. Tem uma obra no Jardim Passaredo, de uma unidade de saúde, que não foi pago nenhum centavo da obra. O cara saiu construindo, fez o posto saúde e nunca foi pago.
MidiaNews - Nesse seis meses de gestão, fez um enfrentamento duro aos faccionados. O auge foi quando o senhor denunciou uma promoção de festas e de eventos beneficentes que tinham pessoas supostamente ligadas a facções criminosas. Chegou a temer por sua vida, pela dos filhos e esposa?
Abilio Brunini - Quando surge na opinião pública as preocupações com a minha vida e da minha família já demonstra um cenário daquilo que a gente está enfrentando. E eu vejo essa pergunta com muita frequência.
Ameaças, ataques, acusações, sempre tem. Posicionamentos exagerados na rede social, sempre tem. Tem gente que nem é faccionado e acha que é e fica usando a rede social... Tem gente que acha que é status.
O risco existe, e sempre vai existir enquanto eu estiver na vida pública e se eu decidir fazer essa enfrentamento, vai existir. Pode acontecer alguma coisa comigo, com minha família, com minha esposa, com meus filhos? Pode.
Está sob o meu controle? Não. O que posso fazer para impedir? Parar de enfrentar o problema? Parar de me posicionar sobre o assunto? Isso não significa que não vai acontecer. Pode, às vezes, no futuro acontecer sem ser por uma motivação política.
MidiaNews – Sim, mas esse desgaste é maior pelo seu posicionamento, pela forma como enfrenta alguns temas, por não abaixar a cabeça.
Abilio Brunini - Mas se eu não enfrentar, quem vai? Quantos estão enfrentando? Quantos têm se posicionado? Quantos vão à linha de frente? Quantos têm se colocado nessa posição?
O que torna um risco maior é quando a gente está quase que sozinho fazendo esse posicionamento. Mas não estou sozinho. Tem vereadores que estão com a gente, tem deputados, o próprio governador Mauro Mendes com a Operação Tolerância Zero tem buscado fazer um enfrentamento...
Às vezes, eu sou o que fala mais. Mas existem ações, e ações até silenciosas que estão em atividade.
MidiaNews – Insisto: o senhor já teve medo que seja feita alguma ação contra a sua vida?
Abilio Brunini - Já tive medo. Às vezes, acordo às 3 ou 4 horas da manhã assustado. Já tive ataque de pânico, já tive todas as crises, já passei por isso.
MidiaNews - O senhor enviou um projeto à Câmara que suprimia o pagamento de um terço do salário sobre os 15 dias de recesso do mês de julho na base de cálculo das férias dos professores. Depois de uma audiência na Câmara, retirou o projeto de pauta. O que aconteceu ali, sentiu que não teria o apoio dos vereadores?
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O prefeito Abilio Brunini detalhou o motivo de ter retirado de pauta o projeto que cortava benefício de professores
Abilio Brunini - Entendo que o recesso é necessário porque o professores desempenham uma atividade desgastante, ficam dentro da sala de aula com muita pressão, muita criança. Entendo que você tem a necessidade de descansar esses dias. Mas entendo que não é férias, é descanso, é um recesso, é uma pausa, mas não férias.
Imagina se todo ponto facultativo fosse interpretado como férias. Ah, vai ter férias na sexta, férias na quinta, férias na outra quarta, vai emendar o feriadão, então vira férias. Não. O recesso de 15 dias no meio do ano já é pago. A pessoa vai estar sendo remunerada para ficar em casa, como se ela tivesse na atividade de trabalho, mas vai estar sendo remunerada para descansar.
Acontece que em 2020, com base numa interpretação da Constituição Federal, que permitia, não obrigava, ser reconhecido esses 15 dias como férias, a Prefeitura de Cuiabá deu 45 dias de férias, marcou aqueles 15 dias de recesso como férias. Marcou e nunca pagou.
Ele pagava o salário, mas não esse um terço de férias, porque dá um impacto significativo no orçamento, são 9 mil servidores dentro da Educação. Claro que estava escolhendo apenas os professores efetivos, nem eram os contratados. E só recebia quem entrava na Justiça. E os professores estavam pedindo para pagar o retroativo, ou seja, eu terei que pagar 2020, 21, 22, 23, 24 e 25 de um valor que nunca foi pago, os professores nunca receberam esse valor.
Aí falei, vamos ter que reparar esse erro. A situação econômica do município não dá para continuar dessa forma e a gente precisa ser mais sério. Vamos revogar isso, vamos criar um parcelamento desses valores do passado, porque era direito adquirido, diluir isso nos próximos quatro anos para pagar parcelado. Acontece que os próprios vereadores com um perfil que se tem de não gostar de entrar em pautas polêmicas ou difíceis, boa parte deles em início de mandato, falaram: Tem como eu votar uma pauta dessa? Porque eu vou tirar o direito do professor. Se sentiram um pouco constrangidos. Eu falei, então tudo bem. Se a escolha é não remover esse um terço, vamos ter que arrancar de alguma coisa para pagar esses R$ 30 milhões. Esse valor dá para asfaltar seis bairros.
É uma situação delicada que gente vai ter que adaptar. E ainda tem um detalhe: é muito ingrata boa parte do servidor da educação, muito ingrato. Eles precisam entender um pouco dessa situação.
Eu assumi a gestão, não estava pago o salário do dezembro, não estava pago acerto rescisório de quem fez o contrato do seletivo, não estava pago férias... Estavam com salário atrasado, endividados, a gente chegou e pagou e ainda reclamam!
MidiaNews - Mas é um direito e, como o senhor chegou a admitir, um direito que queria retirar por meio de lei. Um direito que não era pago, mas uma hora alguém iria ter que pagar a conta.
Abilio Brunini - Mas quem paga a conta de coisas como essa, é as outras pessoas. Não sou eu que pago o ponto de ingresso, não é meu, quem paga a conta é a população, e essa é uma conta que nunca foi paga, mas que a população vai ter que abrir mão de coisas que seria pra ela.
Por exemplo, a gente deu café da manhã para todo mundo, a população pagou essa conta. A gente tirou o recurso que seria empregado em outras atividades para dar o café da manhã nas escolas. Tanto as crianças quanto os profissionais de educação indistintamente, é todos.
Não vem fundo do Ministério da Educação, não vem fundo de Secretaria de Estado, não vem de nada. É dinheiro da prefeitura. E nem conta como 25% da aplicação. E aí a gente fez tudo isso para conseguir dar o café da manhã para todo mundo, e o que eu vi foi gente reclamando: ‘Esse pão que é dado é seco, é só um chá’.
Pô, quem define o cardápio não sou eu, é o pessoal da nutrição escolar. ‘Ah, mas não é um croissant, não é um pão com mortadela’. Não tinha nada e as pessoas ainda estão reclamando.
MidiaNews – Quando o senhor fala em categoria ingrata, não coloca a culpa em uma categoria que luta pelos direitos adquiridos, e tira a culpa de um mau gestor como o Emanuel, que aprovou o benefício e não pagou?
Abilio Brunini - Só para se ter noção. O Sintep foi à Câmara com uma parcela dos profissionais manifestar sobre isso. Onde o Sindicato estava nos últimos quatro anos? Desde 2020 estava em vigor e não era pago. Cadê o Sintep reclamando da gestão anterior? Por que não reclamou em 2021, 2022, 2023, 2024? Nos últimos quatro anos não foi pago e onde estava o sindicato?
Existe uma seleção, em que para determinados gestores se faz vista grossa, já para outros...
MidiaNews – Acha que isso acontece por que algumas categorias são ligadas ao espectro político de esquerda?
Abilio Brunini – Com certeza. E dizem: ‘É um direito que você está removendo’. É um direito que nunca foi pago. Eu comentei com os vereadores e sugeri: “A gente suspende essa pauta agora, paga o passado parcelado, daqui dois, três anos a gente pode voltar com essa pauta novamente e reinserir para não dar uma sobrecarga no orçamento”.
Porque o que vai acontecer no ano que vem? Eu vou ter que pagar dois, vou ter que pagar o equivalente do ano que vem e o proporcional do outro. Até quitar tudo. Então, provavelmente nos próximos quatro anos, vamos pagar dobrado.
Ou então não vamos pagar e vamos deixar eles também judicializar e fazer manifestação. Então, essa situação que é delicada e eu tenho que fazer esse enfrentamento, pode não ter apoio da Câmara, pode ter rejeição, posicionamentos contrários, e compreendo muito bem isso. Mas onde que estavam esses vereadores e esses sindicatos na gestão passada quando não se pagou nos últimos quatro anos?
Cada ano vamos ter que pagar duas vezes, ou seja, R$ 7 ou 8 milhões em um ano, dando R$ 14 ou R$ 15 milhões de impacto, são três bairros que não terão asfalto. Essa é a decisão.
E eu quero falar mais uma coisa.
MidiaNews – Fique à vontade...
Abilio Brunini - Além da situação que falo de ser ingrato, é de baixo desempenho. A educação do município de Cuiabá é fake, é de baixo desempenho e é mais cara do que a iniciativa privada.
Saiu o resultado do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), e entre as capitais, Cuiabá está em 20º lugar. São 27 considerando o Distrito Federal e ela está em 20º. Mato Grosso está em 8º. E só está em 8º porque a maior parte da população que usa a rede pública municipal, por exemplo, está em Cuiabá, que é a maior densidade populacional.
Então, Cuiabá está puxando o ranking educacional de Mato Grosso para baixo. E tem uma informação mais importante: 50% das crianças que estão saindo da 5ª série, que é o último ano no município, não sabem ler e escrever. 50% das crianças não sabem o básico de matemática. E 46% das crianças não estão alfabetizadas na idade certa.
MidiaNews - Mas essa culpa é do professor?
Abilio Brunini - De todos. Não só do professor. A culpa vai desde quem monitora os professores, instrui os professores, quem faz o plano pedagógico aos professores, quem acompanha as formações e movimentos dos professores. Todos.
Entenda bem como que a gente tem que cobrar essa fatura. Uma criança de Cuiabá custa para o sistema de público de ensino R$ 1.600, para estudar meio período. Na iniciativa privada, com R$ 1.600 se encontra escolas em período integral que vão dar uma educação melhor para o seu filho do que na rede municipal.
Hoje, a gente dá material escolar, dá uniforme, dá todos os instrumentos necessários. A gente vê tanta regalia no sistema público de ensino, seja municipal ou estadual, e os indicadores continuam horríveis. Você vai numa escola, por exemplo, e pergunta para um adolescente de 15 anos quanto que é 4x4. A maioria não sabe responder.
As crianças e adolescentes não sabem interpretar texto, não sabem ler. E aí você vai falar que estamos tendo os melhores indicadores? A educação é só passar para frente, não reprova mais ninguém.
MidiaNews - Agora o senhor está com a caneta na mão e pode mudar isso, ainda que na educação infantil.
Abilio Brunini – É preciso fazer enfrentamentos e eles envolvem dinheiro. Cada vez que você quer fazer um enfrentamento necessário, vai ter que envolver situações de orçamento.
Não existe um orçamento infinito para Educação, orçamento infinito para saúde, orçamento infinito para outros problemas. Existe um orçamento finito, existe um limite de recursos.
Se a gente vai investir 70% ou 80% dos recursos em folha de pagamento, porque a Câmara Municipal não tem coragem de enfrentar um problema que a gente precisa enfrentar, então tem que valer. Tem que ser os melhores professores, melhores educadores e oferecer os melhores desempenhos.
Se gosta do Paulo Freire, vai atrás do Paulo Freire, pegue todas as práticas e apresente os melhores resultados dentro da educação.
Agora, não posso fechar os meus olhos e dizer que estamos pagamos tudo em dia, dando todos os materiais, e 50% das nossas crianças saem da sala de aula sem saber ler e escreve e sem fazer o básico de matemática. Mas sabe o que é ideologia de gênero, o que é cultura woke, ideologias de partidos políticos, mas não sabe quanto é quatro vezes quatro.
E você me diz: Abilio, você está sendo muito duro com os profissionais da educação. E eu digo: Alguém vai ter que ser. Se hoje a gente fosse dar uma nota para todo o sistema de educação, a nota seria de 3 ou 4. É um sistema falido.
MidiaNews - Uma das questões para se evitar esse enfrentamento com o servidores é por conta das eleições de 2026. Muitos vereadores da Câmara vão disputar cargos eletivos. Como está vendo essa movimentação política e analisando o tabuleiro eleitoral?
Victor Ostetti/MidiaNews
Abilio Brunini: "Sou um cara que sempre entrou nas polêmicas, nunca evitei conflitos"
Abilio Brunini - Eu não sei. Sou um cara que sempre entrou nas polêmicas, nunca evitei conflitos. Não é a primeira vez que tenho opiniões diferentes em questões de servidor público. Não é a primeira vez que isso acontece.
Uma vez, fui xingado para caramba, até levei um tapa na cara lá na Câmara no início do meu mandato de vereador. A Prefeitura de Cuiabá tinha enviado um projeto para mexer no Prêmio Saúde, os servidores lotaram a galeria para apoiar o Emanuel. E fui lá falar com aqueles servidores que era um golpe.
E eu saí como inimigo do servidor naquele dia. Hoje está aí, o servidor reclamando do Prêmio Saúde, que antes era valorizado, hoje sendo desvalorizado. Às vezes, você tem que ter coragem para fazer enfrentamento. Nem sempre vou estar certo e nem sempre o servidor vai estar certo nos seus interesses.
Qual seria o caminho mais correto da minha gestão? Pagar os salário, rescisão e 13º do servidor e parcelar em até 14 meses? O Mauro fez isso quando ele assumiu o Governo do Estado na sucessão do Pedro Taques. Eu não, cortei no orçamento da prefeitura R$ 100 milhões para poder pagar. Encerramos os nossos seis meses de gestão pagando dentro do mês todos os salários. Pouquíssimos fizeram isso em seis meses de gestão. E nisso a gente ampliou duas secretarias e diminuiu o número do servidor.
E ainda tem gente ingrata, sim, que diz que eu sou anti-servidor, que eu sou inimigo do servidor público. E eu estou vendo os caras todos endividado com consignado, entrando em dívida de cartão de crédito de 8% ao mês, mas suspendemos todos os consignados de cartão de crédito.
Estamos fazendo um refinanciamento para a dívida do servidor, para sair de 8% para 2% ou 2,5 % de juros ao mês, diminuir a despesa dele. E ainda tem gente reclamando.
MidiaNews - Se o senhor não é o inimigo dos servidores, como querem te classificar, quem é o gestor Abilio quando se trata do servidor?
Abilio Brunini - Tenho dois filhos. O mais velho, Sebastian, nasceu com fissura labiopalatina, tem autismo e alimentação seletiva. A mais nova, Ana Regina, também desenvolveu uma alimentação seletiva por espelhamento de comportamento do Sebastian.
Ambos só comem alguns alimentos, não comem todos, e por conta disso, às vezes, eles têm que tomar alguns remédios para complementar a vitamina. Eles odeiam, vomitam, me mordem, me batem. E aí, vou agradar eles e não dar o remédio e deixar irem para o hospital?
MidiaNews – Então, o senhor é o pai do servidor?
Abilio Brunini - Não é ser o pai do servidor, sou o zelador do cofre da Prefeitura. Às vezes, vou ter que tomar decisões que as pessoas odeiam. Por exemplo, tive que tirar a taxa do lixo, porque entendo que o IPTU já é o suficiente para pagar a coleta do lixo. E removi a taxa do lixo.
E vou criar mais impostos para aumentar as despesas com aquilo que a pessoa quer dentro da máquina pública? Isso vai ter que mudar. Porque não posso penalizar a maioria da população que não é servidor público para alimentar um sistema de uma parte da população que presta um serviço ao público que paga.
Não estou dizendo que o servidor não paga imposto, mas estou te dizendo que ele é o maior beneficiado da aplicação dos impostos. Então, vou sempre buscar uma medida que vai ajudar a ter a sustentabilidade econômica do sistema da prefeitura e algumas vezes vou ter que tomar medidas amargas.
MidiaNews - Para finalizar, o senhor está esbelto. A última vez que noticiamos foram 18 quilos eliminados com a ajuda das canetas milagrosas, mas creio que com muito esforço. Tirando essa parte estética, o que melhorou nesse período com relação à saúde?
Abilio Brunini - Melhora, mas não é uma questão estética. No começo da nossa gestão, tive crise de pânico e de ansiedade e fui parar na UPA de Chapada dos Guimarães e fiz os primeiros atendimentos.
Naquele momento, tive a sensação que estava tendo um infarto: perda de ar, coração apertando, pontadas... Vim para Cuiabá, fiz angioplastia, algumas pessoas chamam isso de cateterismo. E eu não tinha risco de ter tido um infarto, mas a minha pressão estava 16 por 10, e nunca tive essa pressão alta, dor nos olhos, falta de ar, etc.
Comecei medicação para pressão alta, que ajudou um pouco no controle da pressão. Contudo, fui para Brasília e tive um problema novamente: a pressão subiu, tive outro ataque de pânico e acabei indo para o hospital em Brasília também. Voltei para Cuiabá e por pouco não fui a terceira vez para o hospital.
Victor Ostetti/MidiaNews
O prefeito Abilio Brunini já perdeu 20kg e relatou que fez cateterismo: "Tive a sensação que estava tendo um infarto: perda de ar, coração apertando, pontadas..."
Fui conversar com médico, ele me fez uma série de exames, que tratavam sobre risco cardíaco, de AVC, e tudo mais. O excesso de peso, principalmente por ter muita gordura visceral, aumenta as possibilidades de infarto. E não é por que você não teve, que não pode ter.
O cardiologista que me acompanhava era o Dr. Juliano Slhessarenko, que falou: Você precisa perder de 15 a 20 quilos, porque se você não chegar na casa dos 100 quilos novamente, daqui para frente, vai ser muito mais difícil, porque seu organismo vai ser mais lento para a perda de peso e o seu risco de chegar aos 56 anos e ter um problema é muito grande. E eu tenho 41 anos. E tive que mudar.
Eu experimentei algumas medicações: Ozempic, Rybelsus, e outras ações e nenhuma delas era medicação apropriada. Porque cada uma dessas medicações, apesar de auxiliar na perda de peso, atua de forma diferente em cada corpo.
Eu só fui conseguir emagrecer, antes de começar a tomar o Mounjaro, com um medicamento chamado Contrave. É um medicamento manipulado que reduz a ansiedade e reduz a compulsão por doces. Porque eu não estava comendo muito na hora do almoço e nem na janta. Estava comendo mal. Comia várias coisas erradas durante o dia por causa da ansiedade. Eu tomava três litros de Coca-Cola e apesar de brincar com baguncinha, comia muito mesmo e tudo isso foi agravando.
Então, hoje eu tomo um medicamento para pressão, redução de ansiedade, para a compulsão por doces, um medicamento para dormir, que me alivia as preocupações. Eu chego à noite em casa, a cabeça tá mil. Talvez só um Mounjaro não desse o resultado que eu esperava, mas fui fazer uma reeducação alimentar, entrar pra academia...
MidiaNews - E hoje a pressão está 12 por 8?
Abilio Brunini – A pressão está boa, às vezes fica muito baixa por causa da perda calórica e eu tenho que comer. Agora é diferente. Eu pesei hoje e estava com 104kg, quando comecei eu estava com 124kg.
MidiaNews – Menos vinte quilos. E qual é a meta?
Abilio Brunini - Vou ter que chegar a 100 quilos. Falei para o médico: “Vou ficar descaracterizado”. Como que o humorista Thiago Mourão vai fazer meme meu e colocar na internet?
Eles vão ter que usar inteligência artificial e reeditar todas as figurinhas. Não pode perder tudo isso.
Assista a íntegra:
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