Cuiabá, Terça-Feira, 22 de Julho de 2025
VAIDADE FEMININA
09.07.2022 | 19h09 Tamanho do texto A- A+

"Muitas têm vergonha de sua parte íntima e cirurgia é libertadora"

Diretor da SBCP em Mato Grosso, Vidal Guerreiro diz ainda que vaidade não pode estar somente na beleza

MidiaNews

O médico Vidal Guerreiro, diretor da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, regional Mato Grosso

O médico Vidal Guerreiro, diretor da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, regional Mato Grosso

ENZO TRES
DA REDAÇÃO

O médico Vidal Guerreiro lida diariamente em seu consultório com elementos da alma feminina, como autoestima, vaidade, vergonha e aceitação.

 

Em sua experiência, o cirurgião plástico explica que muitas mulheres recorreram à cirurgia estética não para agradar o parceiro, mas a si mesmas. É o caso, por exemplo, daquelas que buscam a ninfoplastia, o procedimento estético na região íntima.

 

"Muitas mulheres têm vergonha do aspecto estético da região íntima, que, às vezes, não têm nada de mais, mas elas se constrangem. Essa é uma cirurgia que acaba sendo libertadora", diz o profissional, que é formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e mestre pela Universidade Federal de São Paulo.

 

Diretor da regional mato-grossense da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, o médico catarinense diz ainda que as mulheres não devem basear sua autoestima apenas na beleza.

 

"Se a pessoa é linda e sofre um acidente, ela pode não conseguir se olhar mais no espelho", diz.

 

Vidal recebeu a reportagem do MidiaNews em seu consultório para uma entrevista, onde também falou de hamornização facial, cirurgia de mama, influencers e a busca pela beleza e juventude.

   

Confira os principais trechos da entrevista:

 

MidiaNews –  É comum profissionais de outras áreas que não a medicina façam harmonização facial. Como enxerga esse procedimento sendo feito por profissionais sem formação em cirurgia plástica?

 

Vidal Guerreiro – O que posso dizer é que a melhor maneira de escolher o profissional é pelo seu treinamento. Hoje em dia, há outros profissionais que não são médicos, mas que têm legalmente o direito de fazer procedimentos. O treinamento deles é diferente do treinamento dos médicos. Em relação ao treinamento e ao estudo, as áreas desses outros profissionais têm um tempo de ação muito menor.

 

É natural que um médico consiga ver mais coisas que outro profissional que aprendeu a fazer os procedimentos em cursos de finais de semana, enquanto os médicos levam anos para se aperfeiçoar. Mesmo depois de terminada a residência, as atualizações ainda continuam. Se você observar, a maioria absoluta dos estudos para a evolução dessas áreas é feita por médicos, mas outros profissionais acabam usando isso para crescimento.

 

MidiaNews – Há casos em que a harmonização piora ou danifica o rosto da pessoa. Por que isso acontece?

 

Vidal Guerreiro – Na maioria das vezes por uma avaliação incorreta. O treinamento, os anos de estudo levam a uma melhor percepção. Nesses cursos de final de semana, é ensinada uma maneira padronizada, todo mundo ganha a mesma “receita de bolo”. Todo mundo vai fazer do mesmo jeito, tantos mililitros aqui, tantos mililitros lá, então todos ficam com a mesma cara.

 

Já as complicações são diferentes. Todos os profissionais, inclusive médicos, têm complicações, porque é inerente ao procedimento, mas a chance de complicações é muito menor, porque a avaliação é mais completa. Quando olhamos para um rosto, identificamos vários pontos importantes como distâncias e angulações. Com isso, conseguimos customizar o tratamento. Quando o profissional faz todo mundo do mesmo jeito, haverá acertos em uma grande parte, mas em outra haverá erros.

 

Para evitar complicações, nos congressos de cirurgia plástica existem mesas redondas de estudos e apresentações. Em outros eventos não ocorre assim, porque eles tentam falar o mínimo possível de complicações. Recebemos pacientes com problemas de aplicação, necrose de pele, porque a aplicação foi feita de maneira errada por uma pessoa que foi em um curso e não teve treinamento, apenas viu fazer. Eu, inclusive, já atendi pacientes que foram modelos desses professores e tiveram necrose.

 

MidiaNews

VIDAL 1

Vidal Guerreiro alerta sobre os cuidados na hora de escolher o profissional para realizar procedimentos estéticos

 

MidiaNews –  Considera que algumas pessoas exageram na busca desenfreada pela beleza?

 

Vidal Guerreiro – Existe uma procura aumentada. O mercado da beleza é muito amplo. Existem, sim, pessoas que têm um transtorno dismórfico corporal. Elas pegam pequenos detalhes do seu corpo e aquilo as incomoda demais e acabam fazendo muita coisa para melhorar aquilo, mas isso não é a maioria das pessoas. As pessoas começam a se melhorar com procedimento e pouco a pouco querem mais. Isso, em algumas situações, é exagerado. Pode ser um transtorno ou pode ser simplesmente uma pressão social.

 

Hoje em dia, vemos que a maioria sofre uma pressão social. A pessoa vê que todo mundo que convive com ela está bonito, fez botox, fez um procedimento e ela não fez. Então, ela também acaba correndo atrás. Eu diria que é mais um contexto social de que as pessoas envelhecem mentalmente mais tarde e acabam não se reconhecendo na aparência. E isso leva ao aumento da procura por procedimentos estéticos.

 

MidiaNews –  A exposição que as redes sociais trouxeram para vida das pessoas contribuíram para elas queiram cada vez mais ter o corpo perfeito?

 

Vidal Guerreiro – É exatamente isso! Ninguém é triste no Instagram, ninguém come mal, todo mundo come bem, está em uma praia e com o corpo bonito. Muitas vezes, isso é um filtro que é colocado. As fotos são trabalhadas para que as pessoas pareçam mais bonitas e então, socialmente, as pessoas olham e também querem ficar bonitas, porque é uma imagem de sucesso, de prazer.

 

A rede social influencia muito na procura por cirurgia plástica. O papel do cirurgião plástico é reconhecer o limite do resultado. Então, muitas vezes chegam pacientes que estão bem, não do mesmo jeito que a amiga dela que não teve filhos, mas ela está bem. Cabe ao cirurgião plástico mostrar que aquilo que está sendo vivido ainda está bom e que, se ela fizer algo, talvez o resultado não seja o desejado. Cabe a nós limitar a paciente, apontando o real ganho. Claro que isso é muito pessoal, não são todos os profissionais que fazem isso, infelizmente.

 

MidiaNews –  Uma questão que abrange saúde mental é a comparação. Em que momento as comparações do tipo “eu quero ter o corpo igual ao de tal famosa” começam a ser problemáticas?

 

Vidal Guerreiro – Desde o primeiro momento. Os pacientes chegam com fotos no consultório dizendo: “Eu quero esse nariz, quero essa mama”. E o que falo claramente é que eles são diferentes dos famosos. Os famosos vivem disso. Eles não engordaram ao longo do tempo, malham todos os dias, vivem do corpo e da beleza, se tratam porque vendem essa imagem. Os pacientes não. Às vezes, eles são empresários que levam os filhos na escola de manhã, sofrem estresse, pegam sol e chuva, não conseguem fazer o cabelo, não malham por falta de tempo. Não há como os corpos serem os mesmos.

 

Você se comparar desde o início já é um problema. O que você tem que fazer é ter a melhor versão de si mesmo. A comparação não dá. Além disso, também tem uma questão de anatomia. Como é que uma pessoa que tem quadril mais largo por causa da genética vai se comparar com uma atriz de padrão europeu, mais reta, que não tem bumbum e quadril? Não é possível, porque a genética é diferente.

 

Muitas vezes, se conseguir um resultado igual ou parecido, não vai combinar. Me trazem fotos dos narizes dos famosos pedindo para eu fazer um igual, mas se fizermos uma simulação e colocarmos aquele nariz no cliente, não fica bom, porque fica desproporcional.

 

MidiaNews – Vivemos em uma sociedade ensinada e acostumada a apreciar um padrão de beleza muito específico. De que forma as pessoas que fogem desse padrão podem apreciar a própria beleza, tendo uma boa relação com a autoestima e confiança?

 

Vidal Guerreiro – A autoestima não deve ter apenas um pilar. É um problema quando a pessoa baseia a autoestima dela só na beleza. Se a pessoa é linda e sofre um acidente, ela pode não conseguir se olhar mais no espelho. Você pode ser muito bonita, mas também se relaciona bem, cozinha bem, é uma pessoa forte que as pessoas querem ter por perto. Basear a autoestima só na beleza nunca é um bom negócio, porque você a perde de uma hora para a outra.

A autoestima não deve ter apenas um pilar. É um problema quando a pessoa baseia a autoestima dela só na beleza. Se a pessoa é linda e sofre um acidente, ela pode não conseguir se olhar mais no espelho

 

MidiaNews –  Como as pessoas podem se proteger dos prometidos "milagres estéticos" que alguns profissionais tentam vender na internet?

 

Vidal Guerreiro – A primeira dica é não ser tão ingênuo. E quando você vê uma propaganda que oferece muita coisa, você deve ter o bom senso de ver que aquilo não é bem assim. Se fosse, aquilo ali já existiria há muitos anos. Uma forma milagrosa não viria do Instagram, viria nacionalmente, como uma novidade mundial.

 

Outra coisa importante: as redes sociais são muito boas para obter informação, olhar e curtir. É uma forma de lazer, mas escolher um profissional por causa das publicações nas redes sociais é um erro clássico, porque ele não vai te mostrar problemas que podem acontecer.

 

Hoje é importante investigar os profissionais. Você pode colocar os nomes deles na internet e ver a avaliação das pessoas que já foram atendidos por eles. Veja os comentários. A melhor maneira é a indicação. Uma amiga sua te indicar um profissional é muito mais confiável do que escolher alguém que faz show na internet por conta própria.

 

MidiaNews –  Um dos procedimentos que mais ganharam destaque nos últimos anos foi a ninfoplastia, que é a cirurgia intima feminina. O senhor tem notado aumento na procura desse procedimento?

 

Vidal Guerreiro – Sim. Essa é uma cirurgia que existe no mercado há muito tempo. Uns dez anos atrás, houve um aumento na procura por essa cirurgia. Na época, eu morava em São Paulo e a Geisy Arruda falou sobre isso. Ela era famosa, disse que fez e bombou de gente querendo fazer. Agora, a busca por esse procedimento cresceu novamente. Essa é uma cirurgia extremamente positiva, que ajuda muito.

 

Muitas mulheres têm vergonha do aspecto estético da região íntima, que, às vezes, não têm nada de mais, mas elas se constrangem. Essa é uma cirurgia que acaba sendo libertadora. Têm pacientes com vergonha da depiladora, porque colocam biquíni e ficam com um volume que incomoda. Algumas têm vergonha do parceiro ou parceira.

 

MidiaNews – Como é feita a ninfoplastia?

 

Vidal Guerreiro – Na região íntima você tem os grandes e pequenos lábios. A cirurgia intima é quando o excesso dos pequenos lábios é retirado. Muitas vezes, os pequenos lábios são muito para fora, tem uma coloração mais escura com pele excessiva. A cirurgia retira esse excesso sem mudar a sensibilidade do órgão, apenas a estética. Às vezes, a paciente tem um excesso em cima, no prepúcio do clitóris. E depois de retirado o excesso, a área fica mais “limpinha”. Temos relatos de que a sensibilidade melhorou após a cirurgia, que a relação melhorou, mas não é verdade. O que melhora é que a pessoa se sente bem.

 

É uma cirurgia rápida, que leva cerca de 40 minutos, não precisa de internação. A anestesia é local e há o uso de alguns remédios para que a paciente possa relaxar. Depois de feita, ela sai caminhando normalmente. O cuidado pós-operatório é muito tranquilo também.

 

MidiaNews –  Acha que as mulheres fazem essa cirurgia mais para si mesmas ou mais para agradarem os parceiros?

 

Vidal Guerreiro – Mais para elas mesmas. Disso não tenho dúvidas. Elas têm vergonha não só do parceiro, mas também da depiladora, de se trocar na frente das amigas ou de experimentar uma roupa em um provador. Muitas vezes, nem é tudo isso que ela acha. A vergonha não é só do parceiro, mas também de outras situações da vida dela. A partir do momento que ela faz a cirurgia, parece que o problema nunca existiu.

 

MidiaNews – O implante de silicone ainda é mais procurado que a ninfoplastia?

 

Vidal Guerreiro – Sim. A cirurgia mais procurada hoje em dia é a cirurgia de mama e, em seguida, as cirurgias de contorno corporal.

 

MidiaNews – Como funciona a mastopexia, que é a elevação da mama? É usado silicone no procedimento?

 

Vidal Guerreiro – Pegamos a mama que caiu, tiramos o excesso de pele e levantamos, colocando ela no lugar. Podemos classificar a mastopexia em dois tipos: pode ser simples, sem prótese, usando o próprio tecido da pessoa; ou com prótese, na qual levantamos a mama e colocamos prótese. A diferença é que na primeira ocorre diminuição do tamanho da mama e, na segunda, a mama aumenta de tamanho e seu formato fica mais contornado.

  

MidiaNews – No ano passado, o Fantástico fez uma reportagem sobre a doença do silicone, que pode acometer pessoas que implantaram próteses. Depois disso, houve uma redução na procura? As pessoas ficaram mais receosas?

 

Vidal Guerreiro – Logo na sequência dessa reportagem, houve, sim, muitas pacientes questionando a respeito, mas não notamos diminuição no número de cirurgias, até porque a doença do silicone é uma coisa muito inespecífica. O que percebemos é que uma parte dessas pessoas preferiu usar seu próprio tecido e aceitou uma mama natural, porque não tem como conseguir uma mama redonda sem o silicone. As pessoas vinham colocar prótese, mas decidiam apenas levantar a mama e aceitar o formato natural.

Logo na sequência dessa reportagem, houve, sim, muitas pacientes questionando a respeito, mas não notamos diminuição no número de cirurgias, até porque a doença do silicone é uma coisa muito inespecífica

 

MidiaNews – Como essa doença do silicone ocorre?

 

Vidal Guerreiro – São sintomas inespecíficos, gerais: queda de cabelo, fadiga, cansaço extremo, secura na pele, enfim. São muitos sintomas que também tem a ver com outras coisas. Podemos dizer que sim, o silicone pode desencadear esses sintomas, porque é um corpo estranho que pode ativar o sistema imunológico a ponto de você ter alguns sintomas ou a manifestação de uma doença autoimune para a qual as pessoas já teriam predisposição. Só que antes nenhum gatilho teria sido acionado para iniciar esses sintomas.

 

Essa associação direta do sintoma com as próteses não pode ser feita, porque esses sintomas também acontecem com outras coisas. Pessoas que colocam DIU também podem ter isso, porque o DIU também é um corpo estranho, só que ninguém chegou nas redes sociais e disse “eu coloquei DIU e estou tendo queda de cabelo, cansaço, falta de memória e atenção”.

 

MidiaNews – O que diria para as mulheres que querem colocar silicone, mas temem essa doença?

 

Vidal Guerreiro – Eu diria para elas que essa doença é extremamente rara. Não dá pra fazer essa ligação direta. Eu diria para as mulheres que elas continuem vivendo bem, se sentindo bem, com sua autoestima renovada e, se elas começarem a sentirem esses sintomas, a primeira coisa que têm que fazer é uma autoavaliação. Olhar para trás e analisar os meses que antecederam os sintomas e ver se não teve outro evento.

 

Será que ela não perdeu um familiar e está triste por isso? Será que ela não teve um problema no trabalho? Será que ela está estressada por causa de algo na família ou alguma mudança? Se excluirmos todas as alternativas, temos uma possibilidade de retirar o implante, mas sem prometer a resolução dos sintomas, porque eles podem continuar.

 

MidiaNews – A toxina botulínica ainda é muito usada ou já surgiram procedimentos melhores e mais modernos?

 

Vidal Guerreiro – A toxina botulínica tem várias marcas, mas independente da marca ela é o procedimento estético mais realizado, porque é um procedimento de baixo risco com resultados muito grandes pela melhoria da mímica facial. O sorriso fica mais leve, a pessoa fica mais jovem.

 

O que a toxina botulínica faz nenhum outro procedimento faz: ela paralisa o músculo de forma coordenada. A paralisação do músculo permite sorrir sem rugas e corrige algumas assimetrias.

 

Os outros procedimentos não tem a mesma ação. Quando falamos de harmonização, é normal vermos as pessoas associarem preenchimentos à toxina botulínica. Ela continua sendo o procedimento estético mais realizado no mundo.

 

 

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