Cuiabá, Quinta-Feira, 14 de Agosto de 2025
OURO NO PAN
06.09.2015 | 08h15 Tamanho do texto A- A+

"Quero inspirar outros atletas de MT a serem campeões”

O judoca David Moura, 28, foca nas Olimpíadas 2016 e sonha em ser um espelho para outros atletas do Estado

Marcus Mesquita/MidiaNews

O judoca cuiabano David Moura, que tem como sua mais nova meta, se tornar um medalhista nas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro

O judoca cuiabano David Moura, que tem como sua mais nova meta, se tornar um medalhista nas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro

THAIZA ASSUNÇÃO
DA REDAÇÃO
Aos 28 anos e com uma trajetória de sucesso no Judô, coroada com a recém-medalha de ouro conquistada nos Jogos Pan-Americanos deste ano, o atleta cuiabano David Moura vem ganhando cada vez mais admiradores por onde passa.

Filho de um judoca que conquistou a medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de 1975, Fenelon Oscar Müller, David Moura é conhecido pelos projetos sociais em que se envolve e pela forma como tenta ajudar os outros atletas do interior do Estado a virem para Cuiabá para treinarem e estudarem, atividade esta que ele pretende ampliar, a fim de fomentar a prática do judô na Capital do Estado, ao lado de seu pai.

"Mas esse plano ainda é segredo”, disse o atleta, destacando que já procurou, por diversas vezes, o Governo do Estado e a Prefeitura de Cuiabá em busca de auxílio para o desenvolvimento do projeto, mas sem sucesso.

O projeto, aliás, é uma das coisas que seguram David em Cuiabá. Ele afirmou que não faltaram propostas para deixar a Capital mato-grossense, assim como tantos outros atletas que se destacam fazem, buscando uma carreira mais promissora em outro Estado.

“Eu acredito que o atleta tem que ter uma referência para poder acreditar que pode ser campeão. É isso que eu quero para as crianças daqui. Que elas olhem para mim e busquem seus objetivos”, afirmou.

Em entrevista ao MidiaNews, David fala sobre suas vitórias e derrotas, sobre as dificuldades enfrentadas e as realizações alcançadas e sobre o sonho, ainda a ser conquistado, de ser um campeão olímpico.

"Eu acredito que o atleta tem que ter uma referência para poder acreditar que pode ser campeão. É isso que eu quero para as crianças daqui. Que elas olhem para mim e busquem seus objetivos"


Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

MidiaNews – Como começou a sua trajetória no judô?

David Moura – Tudo começou por conta do meu pai que foi da Seleção Brasileira de Judô. Quando ele parou de ser atleta, voltou para Cuiabá e montou uma academia. Então, eu praticamente nasci em cima do tatame. Cresci vendo ele dar aula e também ouvindo-o falar das competições que participou, das viagens. Enfim, foi aí que eu me apaixonei pelo judô. Algumas pessoas que me viam treinando falavam que eu levava muito jeito para o esporte. Em 2014, aos 16 anos, no entanto, eu sofri um rompimento no joelho e tive que fazer uma cirurgia. Foi uma fase muito complicada, a recuperação não foi fácil e eu só voltei a treinar aos 20 anos, ou seja, em 2008. Mas quando voltei, voltei decidido a ser atleta mesmo, porque antes eu levava tudo na brincadeira. Eu não sabia aonde eu ia chegar, nem nada, mas era em cima do tatame que eu me sentia mais feliz. Em 2010, eu consegui ganhar a seletiva olímpica em Londres e entrei para a Seleção Brasileira onde estou até hoje. E, entre as várias conquistas, esse ano está sendo muito especial porque eu consegui ganhar os Jogos Pan-Americanos, no Canadá. E isso pra mim é a realização de um sonho. Hoje eu já me sinto realizado como atleta. Tenho títulos que são muitos difíceis de conseguir. Estou realmente muito feliz.

MidiaNews – Você foi chamado de última hora para participar do Pan Americano no Canadá e conseguiu uma medalha de ouro. O que essa medalha representa pra você hoje?


David Moura - Foi uma surpresa muito grande. Saiu a convocação e não era o meu nome, era o Rafael Silva. Mas, dois dias antes da concentração da galera para ir para os Jogos, eu recebi a ligação do gestor técnico da Confederação Brasileira de Judô, que me disse que o Baby - que é como o Rafael Silva é conhecido -,tinha se machucado e que eu ia para o Pan. Então foi uma notícia ruim dele ter se machucado, mas ao mesmo tempo uma notícia boa porque eu ia participar dos Jogos, o que já era um sonho meu, até porque meu pai, em 1975, foi bronze no Pan. Fiquei muito feliz, reforcei os treinamentos e dei o meu máximo para conseguir a vitória. Difícil dizer o que esse ouro representa pra mim. É um sonho realizado.

MidiaNews – Você esperava vencer? E ainda vencer tão rápido como foi a luta?

David Moura – Não. Ganhar tão rápido foi uma surpresa. Eu entrei pra final com a adrenalina muita alta, mas ao mesmo tempo muito focado na luta, então, na hora que a luta começou e eu vi a oportunidade de fazer o meu golpe principal, eu fiz e deu certo. Realmente foi muito rápido.

MidiaNews – Você voltou agora do Mundial de Judô em Astana, no Cazaquistão, mas infelizmente não trouxe nenhuma medalha. Como você analisa seu desempenho nessa competição?

David Moura – Eu sai daqui no dia 12 de agosto e fui para a França. Fiquei dez dias lá treinando e no dia 24, fui para o Cazaquistão. Foram duas competições, a individual e por equipe. No individual eu ganhei a primeira luta, fui muito bem, mas logo na segunda, contra o japonês Ryu Shichinore, eu não consegui a vitória por conta de uma falta duvidosa que recebi logo no início da luta. Mas, mesmo com a derrota, eu consigo analisar a minha evolução, e é claro que eu também consigo ver que eu preciso melhorar muita coisa ainda, principalmente por conta do meu próximo objetivo: as Olimpíadas no Rio.

Marcus Mesquita/MidiaNews

David Moura, sobre vitória em poucos segundos no Pan-Americano: "Não imaginei que seria tão rápido"


MidiaNews – E como está a sua preparação para as Olimpíadas?

David Moura – Na verdade eu tenho que ganhar algumas competições antes para estar nas Olimpíadas. Eu disputo a vaga olímpica com o Rafael Silva, e eu estou um pouco atrás dele no ranking, então eu preciso passar ele. Dia 15 de outubro eu vou para Paris disputar o Grand Slam de lá e, no dia 4 dezembro, vou disputar o Grand Slam de Tóquio. No ano que vem tem o Gran Prix de Cuba, o Campeonato Pan-Americano, então eu preciso estar preparado para ir bem nessas competições e chegar às Olimpíadas.

MidiaNews – E como é a sua rotina de treinamento? Há treinos específicos para cada competição ou é algo contínuo?

David Moura – Meu treino é contínuo. Faço três vezes na semana, além da academia e levantamento de peço. Os meus preparadores traçam um planejamento e dentro desse planejamento tem algumas competições alvos, como Campeonato Pan-Americanos, Jogos Pan-Americanos e o Mundial.

MidiaNews – Você se sente preparado para estar nas Olimpíadas e consequentemente sair com vitória?


David Moura - Estou muito preparado. Me sinto cada vez melhor. A preparação está cada vez mais ajustada e a minha equipe está cada vez mais empenhada. Todo mundo está sonhando esse sonho junto comigo. Não só a minha família, mas todo mundo que treina na academia David Moura. Quando eu estou muito cansado, eles vão e me dão força. Todo mundo quer subir no pódio junto comigo, e esse energia, pra mim, não tem preço.

MidiaNews – Seu pai é a sua grande inspiração. Como é a sua relação com ele?

David Moura – Quando eu resolvi ser atleta, meu pai já sabia as dificuldades que eu ia passar, os sofrimentos que eu ia ter. Então, ele me perguntou se eu queria mesmo ser atleta, e eu disse que sim. Ele respondeu que ia me apoiar em tudo que eu precisar. E é isso que ele faz até hoje. Mas é importante deixar claro que meu pai não me inspira só por ele ter sido um atleta de judô, mas sim como pessoa, como um exemplo.

MidiaNews – Apesar do Brasil receber no ano que vem as Olimpíadas, ainda tem atletas que não recebem nenhum investimento. Você acredita que o Brasil acaba centrando seu foco em se manter como o "país do futebol" ou há espaço para os demais esportes, como o judô?

David Moura – Eu acho que o futebol é uma paixão nacional e a mídia ajuda muito nisso, gira muito dinheiro. Eu não falo mal do futebol, mas se um pouco do dinheiro que rola no futebol fosse para os esportes olímpicos, não me refiro apenas ao judô, já seria um grande ganho nacional. Até porque não é só o futebol que muda a vida das crianças, são todos os esportes. Então, o investimento deveria ser mais pulverizado. Mas acho sim que essa cultura [do futebol] é muito forte no Brasil, as pessoas param para assistir uma final de Copa do Mundo ou Campeonato Brasileiro e isso não acontece com os outros esportes.
 

"Eu não falo mal do futebol, mas se um pouco do dinheiro que rola no futebol fosse para os esportes olímpicos, não me refiro apenas ao judô, já seria um grande ganho nacional"

MidiaNews– É difícil receber apoio para ser um atleta de judô?


David Moura – Hoje eu não posso dizer que não tenho apoio. Graças a Deus tenho as empresas que me ajudam, além da minha família. Mas eu não posso deixar de dizer que quando o atleta mais precisa de apoio, que é quando ele ainda não é campeão, é muito difícil conseguir. Ainda é muito difícil as empresas acreditarem que apoiar um atleta não é jogar dinheiro fora. Realmente acreditar no potencial e depois colher os frutos, eu ainda não vi isso acontecer aqui.

MidiaNews – Quais são os seus patrocinadores?

David Moura – Hoje eu conto com o apoio da Unimed Cuiabá, além de bolsas do Governo Federal, como a Plano Brasil Medalhas e também um salário da Confederação Brasileira de Judô. Hoje eu já tenho uma condição muito boa porque eu já cheguei na Seleção Brasileira. Mas, antes disso,para um atleta que não é campeão brasileiro, a única coisa que ele consegue ganhar é uma bolsa atleta que o nosso Estado já não paga há três anos.

MidiaNews – E esses investimentos que você recebe hoje, suporta tudo que você precisa para participar das competições?


David Moura - Hoje, sim. A Confederação Brasileira de Judô supre todas as minhas necessidades, viagens, enfim. E os demais patrocínios eu invisto no meu treinamento, como a suplementação, alimentação e também uso para pagar apartamento para uma molecada do interior para treinar comigo.

MidiaNews – Alguns atletas de Mato Grosso acabam buscando apoio em outros Estados. O que você acha que precisa ser feito para que eles permaneçam aqui?

David Moura – Essa questão de melhorar o esporte no nosso Estado é muito ampla. Mas eu acredito que o primeiro passo é fomentar mais a prática de esportes nas escolas, nos ginásios, parques, praças. Utilizando, por exemplo, o Palácio das Artes Marciais, que na minha opinião deveria estar tendo todo dia aulas de artes marciais lá, de graça para as crianças, pois é um investimento muito baixo para o Estado, Prefeitura, quem quer que seja, pagar pra mudar a vidas das crianças, pra tirar as crianças das ruas e deixar ali, praticando um esporte. E isso não acontece. A gente vê que a intenção das políticas sociais que são feitas aqui é muito mais para chamar atenção da mídia do que qualquer outra coisa. E lógico que, depois disso, o esporte precisa de ídolos, precisa de referências para os atletas que estão vindo se espelharem e buscarem aquilo. Mas se os atletas que se destacam saem daqui, como que as crianças vão se espelhar?

"Ainda é muito difícil as empresas acreditarem que apoiar um atleta não é jogar dinheiro fora"

MidiaNews- É por conta disso que você resolveu ficar em Cuiabá?


David Moura –
Eu resolvi ficar aqui porque, primeiro, graças a Deus, a minha família teve e tem condições de me apoiar em tudo que eu precisei e preciso, desde o tatame até a academia e a fisioterapia. Meu pai e minha mãe sempre bancaram isso pra mim. Mas, a minha condição não é realidade dos demais atletas aqui no nosso Estado. O segundo motivo foi, é claro, para mostrar, realmente, que o atleta quando se destaca não precisa ter que ir pra São Paulo, Rio de Janeiro ou Minas Gerais. Eu acredito que é possível mudar isso, e eu só posso provar isso ficando aqui. Eu não sabia se isso ia dar certo, mas hoje a gente já sabe que está dando certo, e que já estamos conseguindo mudar a história do judô dentro do nosso Estado. Eu acredito que o atleta que tem que ter uma referência para poder acreditar que pode ser campeão. É isso que eu quero para as crianças daqui, que elas olhem para mim e busquem seus objetivos. Mas é claro que muitos não conseguem apoio e saem de casa atrás disso e outros que até desistem porque as pessoas ficam ali questionando: E aí você vai ficar só treinando? A pressão é muito grande. As pessoas ainda acham que o atleta é vagabundo, que ele só quer saber de treinar. Não entendem que realmente o atleta tem que passar muito tempo descansando para treinar bem. Não entendem que descansar faz parte do treino. Além disso, continuo aqui porque antes de eu encerrar a minha carreira eu já quero ter asfaltado um caminho para que os outros atletas de Mato Grosso sejam campeões, no sentido de criar um caminho que as pessoas possam trilhar depois. Quero que o nosso Estado valorize um atleta que se destaca em qualquer esporte. Eu não sei como fazer isso, já procurei alguns secretários de esportes, políticos, mas não saiu nada ainda.

MidiaNews – Mas você e o seu pai já deram um primeiro passo com a construção da academia David Moura. Como ela funciona? Há um projeto social?


David Moura – Hoje, a nossa academia é uma academia particular, mas temos alunos que são bolsistas. Porém, nós estamos trabalhando em um projeto, que eu ainda não posso contar, mas que vai fomentar o judô em Mato Grosso.

Marcus Mesquita/MidiaNews

"As pessoas ainda acham que o atleta é vagabundo", criticou o judoca


Midia News – Para você, qual foi a luta mais importante da sua vida e por quê?

David Moura –
Com certeza, foi a final do Campeonato Pan-Americano, por que eu ganhei do Rafael Silva que, naquele momento, era o melhor do mundo e também o meu maior adversário dentro do Brasil. Então, juntando tudo isso, eu acredito que essa luta é mais importante pra mim.

MidiaNews – Para encerrarmos, qual é o incentivo que você dá para quem quer crescer no judô e ser um campeão ?


David Moura - O judô, em minha opinião, tem sido como um caminho de vida, uma filosofia de vida, e era o que o criador do esporte, Jigoro Kano, pregava. A busca do equilíbrio. Quem quer ser campeão tem que viver essa filosofia, porque é o que fica. A competição é temporária, você compete cinco, dez anos, mas, e depois? Acho que não adianta você ser campeão no judô sem a filosofia que o judô leva. Se o atleta não vive isso, eu nem torço para ele ser um campeão, porque o campeão ele é um exemplo. E se o atleta se torna um campeão e não segue a filosofia do judô ele é um mau exemplo. O que eu torço e que prego muito é que a filosofia é muito mais importante do que a vitória em si, porque a vitória passa, ela perde o valor com o tempo, mas o que fica é a essência da filosofia.

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Giovanna Fortes  10.09.15 14h36
Bom como ele falou aqui no estado de mato grosso deveria melhorar a condição em todos os esporte,David moura sou muito sua fã!!! Judoca pra sempre
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Neto  06.09.15 16h13
Essa profissão se ganha muito pouco e não é valorizado. Só se ganha bem no Brasil lutador de Ufc e jogador de futebol. Esse Menino é a cara de um rapaz que vendia salgado na cantina da escola , parece que melhorou um pouco na vida.
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