O delegado Nilson Farias, responsável pelo inquérito que investiga a morte do advogado Roberto Zampieri, negou que errou ao mandar prender preventivamente a empresária mineira Maria Angélica Caixeta Gontijo.
Ela foi apontada inicialmente como a suposta mandante do crime. Zampieri era especialista em Direito Agrário e foi morto a tiros na noite do dia 5 de dezembro em Cuiabá. A principal suspeita era de que o crime tivesse ligação com a atividade laboral da vítima, que atuava em causas milionárias.
Segundo Nilson, havia diversos indícios contra Maria Angélica e, segundo ele, coincidências que a colocaram na mira da Polícia.
“No caso da Maria Angélica, no primeiro momento, existiam elementos para prisão temporária. [...] São várias situações. Houve ameaças entre os dois, a arma utilizada no crime foi uma 9 milímetros e ela coincidentemente tinha uma 9 milímetros registrada no nome dela”, explicou.
“Tinha todo esse viés que colocava a Maria Angélica como uma das principais suspeitas. Foi uma sequência de coincidências”, afirmou.
O delegado falou também sobre o indiciamento por homicídio dos outros três suspeitos, o coronel Etevaldo Luiz Caçadini de Vargas, apontado como financiador, Antônio Gomes da Silva, que confessou ter executado a vítima, e de Hedilerson Martins Barbosa, suspeito de intermediar o contato entre o mandante e o pistoleiro.
Confira os principais trechos da entrevista:
MidiaNews - A Polícia chegou rapidamente aos envolvidos na morte do advogado Roberto Zampieri. Quais são os primeiros passos em uma investigação de homicídio?
Nilson Farias - A partir do momento que chega uma notícia de homicídio, em Cuiabá ou Várzea Grande, temos que "fazer o local de crime".
Comparecemos ao local onde ocorreu a morte e começamos o procedimento de análise em si.
A autoridade policial requisita os peritos, o IML isola o local e é feita toda uma análise de vestígios.
MidiaNews
Advogado saída do seu escritório no Bosque da Saúde quando foi assassinado
Todo homicídio deixa uma marca, um histórico.
Verificamos o calibre da arma ou o tipo de instrumento usado, verificamos imagens de segurança, levantamos testemunhas, tudo é verificado. Esse primeiro momento é muito importante, costumamos utilizar um jargão: "O tempo que passa é a verdade que foge". Cada crime é peculiar e o tempo de resolução é muito variável.
Não acredito que haja crime perfeito, sempre existe rastro. E, para quem acredita na parte espiritual, acredito que sempre acontecem coisas inusitadas que acabam trazendo a verdade à tona. Em Sorriso, descobrimos a autoria de um homicídio que tinha ocorrido há 20 anos.
MidiaNews - No caso Zampieri, que rastros o criminoso deixou?
Nilson Farias - O executor deu o nome verdadeiro para a secretária do Zampieri. Ele já estava tendo contato com a vítima há quase um mês, os dois conversavam no WhatsApp. Antônio deixou um rastro mais fácil [de ser seguido] e por isso foi tão rápido.
MidiaNews - Que justificativa o pistoleiro usou para entrar em contato com a vítima?
Nilson Farias - Segundo ele, um sobrinho que morava no Texas [EUA] tinha vendido um rancho e estava procurando comprar uma fazenda aqui. Esse rancho teria sido vendido pelo valor equivalente a R$ 200 milhões. Ele procurou Zampieri, não como advogado, mas como se fosse uma espécie de corretor. Como, às vezes, ele poderia conhecer alguém que estava vendendo uma área, a vítima se interessou pela situação e começou a trocar informações.
MidiaNews - O senhor antecipou à imprensa que irá indiciar o Antônio Gomes da Silva, o Hedilerson Martins Barbosa e o coronel Etevaldo Luiz Caçadini por homicídio. Não há mais dúvidas sobre a participação deles no crime?
Nilson Farias - Não restam dúvidas. O relatório final está sendo confeccionado já com a certeza do indiciamento desses três. Tenho convicção do indiciamento pelos elementos de provas técnicas que já foram produzidos.
Reprodução
Pistoleiro foi registrado por câmeras fugindo da cena do crime
MidiaNews - A partir destes indiciamentos, quais são os próximos passos?
Nilson Farias - Essa parte do inquérito é pré-processual. Feito o indiciamento, o Ministério Público recebe, analisa, e se o promotor concordar com a autoridade policial, pode oferecer denúncia em relação a esses suspeitos.
MidiaNews - O fato de não ter indiciado a empresária Maria Angélica, depois dela ter sido presa, evidencia uma falha na investigação?
Nilson Farias - Não houve falha, os elementos que tinham subsistiram a prisão temporária. A prisão temporária não é uma prisão que diz que a pessoa praticou aquele crime, especificamente. É uma prisão da investigação, que serve para esclarecer um ato. Como delegado de Polícia, para pedir a temporária, é preciso ter indícios de que você possivelmente praticou esse crime. Agora, para indiciar, tenho que estar convencido de que você praticou.
No caso da Maria Angélica, no primeiro momento, existiam elementos para prisão temporária. Quando eu analiso os requisitos, porém, não vejo elementos para o indiciamento, que é o ato pelo qual a autoridade policial atribui a alguém a prática de um crime. O delegado é o primeiro garantidor de direitos. Não estamos aqui para prender a qualquer custo. O nosso objetivo é promover a Justiça.
MidiaNews - O quê, no início da investigação, ligava a empresária Maria Angélica ao caso Zampieri?
Nilson Farias - São várias situações. Houve ameaças entre os dois, a arma utilizada no crime foi uma 9 milímetros e ela coincidentemente tinha uma 9 milímetros registrada no nome dela. Coincidentemente, ela estava em Cuiabá no dia do homicídio. Uma pessoa que veio para Cuiabá só duas vezes no ano e, em uma delas, foi exatamente no dia do homicídio... A disputa de terras é outra questão. Ela tinha um contrato em que cedia 50% da sua fazenda para que ele a regularizasse. Depois, eles se desentenderam. Então, tinha todo esse viés que colocava a Maria Angélica como uma das principais suspeitas. Foi uma sequência de coincidências.
Não estou afirmando categoricamente que ela não pode voltar para a investigação. O que estou dizendo é que com o que se tem hoje, ela não será indiciada. Mas pode ser que lá na frente a gente consiga uma prova técnica que mostre que todas essas situações não foram "coincidências".
MidiaNews - Em que linha a Polícia trabalha para chegar ao mandante do crime?
Nilson Farias - Agora, como desde o início, a gente tem amplas linhas de investigação. O advogado tinha muitos casos e a gente não tem um norte específico, o homicídio demanda um tempo para o esclarecimento total da verdade.
MidiaNews - O depoimento do coronel Caçadini foi proveitoso? Ele trouxe algum novo elemento para a investigação?
Nilson Farias - Não. Ele nega a participação e só se defendeu. Porém, temos elementos de provas já juntados ao inquérito que, independente dele negar, o coloca como envolvido no crime.
MidiaNews - Recebemos de fontes a informação de que uma foto do endereço do escritório de Zampieri foi encontrada no celular de Caçadini. Que justificativa ele deu para ter essa foto no celular?
Nilson Farias - Ficou em silêncio.
MidiaNews - A morte de Zampieri teria sido encomendada pelo valor de R$ 40 mil, sendo que R$20 mil foram pagos. Houve mais algum valor envolvido na morte? Mais alguém recebeu algo?
Nilson Farias - Ainda estamos levantando a informação de quanto o Barbosa foi beneficiado financeiramente.
MidiaNews - Outra informação que veio a público na imprensa foi a de um suposto homem de sotaque italiano/sulista apontado como mandante pelo pistoleiro. Há alguma prova de sua existência? A Polícia acredita que Antônio mentiu sobre ele?
Nilson Farias - Não tem prova de sua existência e é exatamente no que estamos trabalhando a fim de identificar. A gente acredita que seja verdade, que exista essa pessoa, mas ainda não sabemos quem ele é.
Liz Brunetto/MidiaNews
O delegado Nilson Farias durante entrevista ao MidiaNews
MidiaNews - Qual a maior dificuldade que o senhor tem encontrado nesta investigação?
Nilson Farias - Acho que não tenho tido dificuldades. Ela tem seguido o fluxo normal das investigações. Inclusive, acho até que, pelos rastros deixados, é menos complexa do que outros casos em relação a se chegar em algum resultado.
MidiaNews - O que falta para concluir o inquérito?
Nilson Farias - O relatório e o final das análises. Vou concluir o inquérito, porque têm réus presos e tenho prazo para concluir. Posteriormente, surgindo elementos que apontem eventual participação de terceiros, ou mesmo algo que robustece a participação da Maria Angélica ou de outra pessoa, posso instaurar um novo inquérito policial complementar. A Polícia vai continuar as análises para chegar ao mandante.
MidiaNews - Qual a mensagem que o senhor dá para a família e amigos, e a própria sociedade, que querem saber quem foi o mandante?
Nilson Farias - Crimes de homicídio atentam contra o maior bem jurídico que qualquer ser humano tem: a vida. E é muito fácil tirar a vida de alguém, mas humanamente é impossível restituir a vida de alguém. Então, o que sobra é o trabalho da Divisão de Homicídios aqui da Delegacia de Homicídio, de investigar e punir adequadamente.
É difícil prever prazos, são várias variantes, depende da participação da sociedade, de ‘N’ situações. Mas estamos esperançosos de que em breve poderemos chegar aos mandantes desse crime.
Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).
1 Comentário(s).
|
Osvaldo 05.02.24 08h25 | ||||
Frágil os argumentos e a exposição de motivos para pedir a prisão preventiva,poderia pedir prisão provisória que tem prazo curto e determinado garantindo a investigação.A mulher ficou mais de 30 dias presa,humilhada com o constrangimento ilegal e a execração pública,com certeza ganhará uma quantia significativa do Estado de MT pela prisão arbitrária e os danos morais provocados pelos agentes do Estado e do Judiciário!! | ||||
|