Cuiabá, Domingo, 7 de Setembro de 2025
RELAÇÕES PERIGOSAS
30.11.2011 | 15h16 Tamanho do texto A- A+

Delegado liga Josino Guimarães ao traficante Beira-Mar

Superintendente da PF em MT, César Martinez, cita reunião entre empresários e criminosos em Chapada dos Guimarães

MidiaNews/Reprodução

Josino Guimarães e Fernandinho Beira-Mar: ligações perigosas apontadas por ex-chefe da PF

Josino Guimarães e Fernandinho Beira-Mar: ligações perigosas apontadas por ex-chefe da PF

LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO

Arrolado como testemunha do Juízo, o superintendente da Polícia Federal em Mato Grosso, César Augusto Martinez, responsável pela condução do segundo inquérito que apurou o assassinato do juiz Leopoldino Marques do Amaral, afirmou, em seu depoimento, nesta quarta-feira (30), que o empresário Josino Guimarães manteve “relações estreitas” com bandidos perigosos e mafiosos ligados ao crime organizado.

Entre os amigos de Josino, citados por Martinez como freqüentadores da residência do empresário, em Chapada dos Guimarães (67 km ao Norte de Cuiabá), estão os traficantes Arizoli Trindade Sobrinho e o então chefe de um dos morros do Rio de Janeiro ( a Favela Beira-Mar), Fernandinho Beira-Mar, atualmente, preso na Penitenciária de Segurança Máxima de Campo Grande (MS).

Martinez disse ter reaberto o inquérito – após a conclusão dos trabalhos do delegado aposentado José Pinto de Luna, em Mato Grosso – por acreditar que a conclusão das investigações foi “precipitada” e não explorou todos os detalhes do caso da morte de Leopoldino.

“Entendo que os trabalhos presididos pelo Luna foram muito benfeitos. Eles descobriram a autoria e a materialidade do homicídio. Mas, eu acreditei que existiam outras pessoas envolvidas na morte, além de Beatriz (Árias) e (Marcos) Peralta.

Segundo Martinez, quando as investigações passaram a apontar Josino como um possível intermediador ou mandante do crime, o então superintende da PF, Cláudio Rosa, não aprovou os rumos que o inquérito estava tomando e demonstrou, por duas vezes, descontentamento ao ver o empresário como alvo de investigação.

Ligações criminosas

O delegado afirmou ainda que o ex-militar José Jesus de Freitas, o "Sargento Jesus, mantinha relações de parceria com o irmão de Beatriz Árias, Joamildo Barbosa, para desenvolvimento de atividades criminosas.

Além disso, Martinez fez referência a ligações telefônicas, que teriam sido feitas pelo empresário ao desembargador Odiles de Freitas, que não puderam ser investigadas, uma vez que o magistrado possui foro privilegiado.

Segundo o delegado, durante o inquérito, foi constatado que Leopoldino não possuía inimigos ocultos, que poderiam ter motivos para executá-lo, e apenas temia algum tipo de retaliação por parte de desembargadores.

Além disso, Martinez citou uma possível amizade entre o empresário do setor de factoring, Valdir Piran, e Josino Guimarães, mas não soube afirmar se essa relação se estendia para as atividades criminosas nas quais Piran estaria envolvido.

O superintendente citou, ainda, que o Sargento Jesus prestava serviços para Piran, como cobranças, extorsão e, até mesmo, execução e afirmou a ele que foi sondado por Josino para “dar um jeito” no juiz Leopoldino, mas que ele não aceitou o serviço.

“Jesus dizia que matar um juiz era uma atividade de alto risco. Ele dizia que juiz ele não matava, que o negócio dele era com pessoas físicas, comuns”, disse Martinez.

O bom relacionamento de Josino com os desembargadores, segundo Martinez, era principalmente comercial, uma vez que ele vendia tratores e máquinas agrícolas para os magistrados. Martinez afirmou ter recebido informações de que Josino seria um corretor de sentenças do TJMT, mas que essa atividade não foi investigada.

Impugnação

A defesa de Josino tentou, no início da oitiva de Martinez, impugnar o depoimento do delegado Martinez, tirando-o da condição de testemunha e para que ele fosse ouvido na condição de informante (sem o compromisso com a verdade).

Isso porque, segundo os advogados do empresário, como o atual superintendente foi o responsável pela condução do inquérito e estaria diretamente relacionado às investigações do processo, ele poderia de alguma forma “influenciar” os jurados.

O pedido foi indeferido pelo juiz da 7ª Vara Federal, Rafael Vasconcelos Porto, que preside o Júri.

Defesa

Terminou, após três horas de depoimento, a oitiva do superintendente da Polícia Federal. Interrogado pela defesa, Martinez afirmou ter conversado com a viúva de Leopoldino, Rosemar, e ela teria lhe dito que o juiz sofria ameaças por ter denunciado um esquema de venda de sentenças dentro do TJ.

O delegado disse que o sargento Jesus procurou a Polícia Federal para passar da condição de suspeito para informante, a fim de não ter seu nome implicado com o assassinato do juiz. foi quando ele passou a relatar ter recebido proposta, por parte de Josino, para "fazer o trabalho".

"Jesus contou história do encontro com Josino por medo de ser acusado como executor. Mas ele contou de maneira repetitiva, por diversas vezes, a mesma historia, então, ou ele decorou muito bem, ou ele estava falando a verdade", disse Martinez.

O delegado afirmou ainda que os depoimentos dados por Beatriz Árias devem ser vistos com reserva, por se tratar de uma pessoa que "divaga facilmente".

O acusado Josino Guimarães, então, por meio de seu advogado Waldir Caldas, perguntou ao delegado se ele se lembrava de ter dito, durante uma visita de Josino ao seu gabinete na PF, que se arrependia de tê-lo indiciado, afirmação negada veementemente pelo superintendente.

 

"Não me arrependo de ter indiciado Josino Guimarães como partícipe do homicídio", afirmou.

O delegado disse também que os extratos telefônicos do empresário revelevam uma extensa comunicação com desembargadores do Estado, mas que, por não se tratar da competência da PF, tais dados ou conteúdo das conversas não foram alvo de investigação.

Jurados

O Conselho de Sentença, pela primeira vez nesse Júri, fez uma pergunta à testemunha. Um dos jurados quis saber se o delegado da Polícia Civil, João Bosco, foi alvo de investigação da PF, uma vez que teve seu nome exaustivamente citado no processo, em ligações com o irmão de Beatriz Árias.

"Extratos telefônicos demonstravam uma intensa ligação entre Josino, Joamildo e Bosco. No contexto das ligações, Bosco foi investigado, sim", disse Martinez, sem, no entanto, revelar o resultado dessas investigações. (Atualizada às 16h50)

 

 

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