Cuiabá, Segunda-Feira, 7 de Julho de 2025
ESTELIONATO
12.07.2017 | 15h53 Tamanho do texto A- A+

Empresário nega ser líder de golpes e se diz “vítima” de chinês

Em interrogatório, Walter Magalhães negou ter dado golpes em clientes da empresa Soy Group

MidiaNews/Montagem

O empresário Walter Magalhães, que negou ter dado golpes de estelionato

O empresário Walter Magalhães, que negou ter dado golpes de estelionato

LUCAS RODRIGUES E THAIZA ASSUNÇÃO
DA REDAÇÃO

O empresário Walter Dias Magalhães Júnior, presidente da Soy Group, negou ser o líder de um esquema que usava a empresa para cometer golpes de estelionato no Estado, investigado na Operação Castelo de Areia.

 

Walter Magalhães foi preso em agosto do ano passado, quando a operação foi deflagrada. Ele chegou a conseguir a soltura no Tribunal de Justiça, mas continua na cadeia em razão de não ter conseguido pagar a fiança arbitrada em R$ 6,1 milhões.

 

Em interrogatório ocorrido nesta quarta-feira (12), ele se disse vítima de seu ex-sócio Mauro Chen, um chinês de São Paulo que se passava por dono de um banco na China. Mauro Chen também é réu da ação e atualmente está foragido da Justiça.

 

Além de Walter e Mauro Chen, são réus da ação penal a esposa do empresário, Shirlei Aparecida Matsouka Arrabal; o ex-vereador João Emanuel; o irmão do ex-vereador, o advogado Lázaro Roberto Moreira Lima; o pai dos dois, o juiz aposentado Irênio Lima; o empresário Marcelo de Melo Costa; o contador Evandro José Goulart

 

"Eu fui vítima do chinês. Em dezembro de 2015, um cliente meu de São Paulo veio me visitar e me disse que o chinês Chen, que entrou no negócio com a gente, tinha feito muita 'arte' em São Paulo. Comecei a investigar ele e as informações que consegui não era de quem seria dono de um banco, um grande homem de negócios. Eu 'apertei' ele porque ele não estava cumprindo com os contratos com os clientes. Ele foi em cada propriedade, nomeou o João Emanuel como representante dele. E em janeiro [de 2016], quando eu apertei ele, ele sumiu", disse o empresário.

 

"A Soy passou cerca de R$ 3,5 milhões para o Chen, mas ele não honrou os contratos. Ele nunca devolveu nenhum valor que foi repassado", completou.

 

A audiência é conduzida pela juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital.

 

Confira como foi a audiência:

 

Início da empresa (atualizada às 16h06)

 

Walter Magalhães disse que abriu a empresa no início de 2015, em uma parceria com o ex-vereador João Emanuel. 

 

"No começo de 2015 eu comecei a procurar uma saída para entrar no mercado. Fui procurado por João Emanuel, que me ofereceu uma área na Avenida do CPA. Eu disse para ele que não tinha condições de comprar uma área. Eu já sabia da fama do João Emanuel. Acabou que nós fechamos um acordo para abrir uma empresa de empréstimos bancários. O João Emanuel me apresentou o pai dele, o Irênio, que disse que estava aposentado mas tinha experiência na área".

A Soy passou cerca de R$ 3,5 milhões para o Chen, mas ele não honrou os contratos. Ele nunca devolveu nenhum valor que foi repassado

                       

"Em junho de 2015 começaram a fluir as coisas, a aparecer os clientes".

 

Problemas com chinês (atualizada às 16h09)

 

De acordo com Walter Magalhães, os problemas começaram a aparecer em dezembro de 2015, quando passou a desconfiar da conduta de um dos sócios da empresa, o chinês Mauro Chen.

 

Conforme a denúncia, Chen se passava por um "chinês" aos clientes da empresa, suposto dono de um banco na China. Ele chegaria a fingir falar chinês em reuniões com clientes e João Emanuel, ocasião em que o ex-vereador simularia traduzir o que Chen falava.

 

"Eu fui vítima do chinês. Em dezembro de 2015, um cliente meu de São Paulo veio me visitar e me disse que o chinês Chen, que entrou no negócio com a gente, tinha feito muita 'arte' em São Paulo. Comecei a investigar ele e as informações que consegui não era de quem seria dono de um banco, um grande homem de negócios. Eu 'apertei' ele porque ele não estava cumprindo com os contratos com os clientes. Ele foi em cada propriedade, nomeou o João Emanuel como representante dele. E em janeiro [de 2016], quando eu apertei ele, ele sumiu", disse o empresário.

 

"A Soy passou cerca de R$ 3,5 milhões para o Chen, mas ele não honrou os contratos. Ele nunca devolveu nenhum valor que foi repassado".     

 

Empresa desanda (atualizada às 16h16)

 

Após este episódio, de acordo com a empresário, a Soy Group "começou a desandar". 

 

"O João Emanuel vinha quando queria. A relação com o Irênio não ia bem, discutíamos muito. Eu fiz o negócio com o João porque eu sabia que, quando ele fazia negócio junto com o pai, ele fazia correto. O João Emanuel é muito simpático, acaba transmitindo confiança. Começamos a conversar todos os dias e fechamos o negócio".  

 

Negou golpes (atualizada às 16h22)

 

A juíza perguntou qual era a versão dele sobre o golpe relatado pelo empresário Léo Flávio Costa. A vítima disse que Walter pediu um adiantamento de R$ 29 mil para um investimento, mas que só deu R$ 5 mil de retorno.

 

"É um cliente bem antigo. Fez um negócio comigo, mas acabei restituindo o dinheiro e ficou por isso mesmo. O contrato era ele pagar R$ 30 mil por serviços de consultoria. Fiz o depósito de R$ 5 mil e depois paguei o resto em dinheiro".

 

Walter também se explicou sobre o caso relatado por outra vítima, Ademir da Silva. Conforme as investigações, Ademir solicitou um empréstimo de R$ 1,6 milhão a marcelo Costa, porém foi exigido um pagamento de R$ 112 mil a título de seguro, correspondente a 7% do valor do empréstimo. O dinheiro foi depositado na conta da empresa de Walter. Marcelo Costa ainda conseguiu convencer a vítima a pedir um valor maior, de R$ 4 milhões, tendo aumentado o percentual para R$ 280 mil. Além de não ter conseguido o empréstimo, a vítima não recebeu o dinheiro de volta. 

 

"Quem me apresentou ele [Ademir] foi o Marcelo Costa, para fazer uma operação para ele. Ele era um cliente bom, só que a gente não teve condições de atender ele mais. Minha intenção é restituí-lo, mas como eu fui preso, não consegui pagá-lo. Só paguei R$ 20 mil.  

Podia chegar no banco e ter sacado tudo sem consultar ninguém. Meu único erro foi acreditar no Chen

 

"Se eu quisesse dar golpe em alguém, eu teria vendido as CPRs [Cédula de Produto Rural], mas eu nunca fiz isso. Podia chegar no banco e ter sacado tudo sem consultar ninguém. Meu único erro foi acreditar no Chen". 

 

Funções na empresa (atualizada às 16h35)

 

Em resposta à magistrada, Walter explicou quais eram as funções dos demais denunciados dentro da empresa.

 

"João Emanuel fazia contrato com os clientes, fechava os contratos. Já eu fazia a parte operacional, que era ver se o cliente tinha condição ou não de fazer o empréstimo. A Shirlei não fazia nada. Lázaro elaborava os contratos. Ele participava de todos os fechamentos dos contratos. O Evandro era financeiro da empresa, o Marcelo era lobista, trazia cliente. O Irênio fazia a parte bancária do negócio, assim como o Julio. O Chen era a pessoa que liberava o crédito", afirmou.

                      

"O faturamento nosso era de 10% a 15% dos negócios. A Soy nunca fechou nenhum contrato, só pré-contratos. Não foi para frente porque o Chen não fazia a parte dele. Eu não tenho ideia do valor que nos foi adiantado, mas parte desse dinheiro foi usada para pagar seguro".

 

O empresário ainda afirmou que aceitou Mauro Chen como sócio em razão das garantias dadas pelo "chinês".

 

"O Chen ofereceu duas mineradoras no Brasil e uma carta de crédito como garantia. A carta de crédito que ele me apresentou era real"     

                       

Walter ainda rebateu a alegação de João Emanuel, que se autoclassificou como apenas um funcionário da empresa.

 

"A função dele era como se fosse presidente da empresa. Muito me estranha falar que era funcionário. Na hora de fazer negócio, era sócio".                       

                                                          

Operação Castelo de Areia

 

A operação Castelo de Areia foi deflagrada no dia 26 de agosto pela Polícia Civil, que apura crimes de estelionato supostamente praticados pela empresa Grupo Soy em todo o Estado.

 

As vítimas eram pessoas com poder aquisitivo alto, como produtores rurais, empreiteiros e empresários.

 

O inquérito policial foi concluído no dia 1° de setembro pela Delegacia Regional de Cuiabá, em parceria com a Delegacia de Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO).

 

Conforme o relatório, assim que os “diretores” conseguiam fazer com que o cliente realizasse o adiantamento, o dinheiro era rapidamente dividido entre eles.

 

“O grupo agia da forma que assim que recebiam os adiantamentos pedidos das vítimas, essa quantia era imediatamente repassada às contas bancárias do grupo e, em seguida,  dividida entre os demais envolvidos no esquema", diz trecho do relatório.

 

Segundo o delegado Luiz Henrique Damasceno da Delegacia Regional de Cuiabá, uma vítima do esquema afirmou que João Emanuel, vice-presidente da SoyGroup, teria utilizado um falso chinês para ludibriá-la em um suposto investimento com parceria com a China.

 

A vítima teria emitido 40 folhas de cheque que somam R$ 50 milhões nas tratativas, que eram “traduzidas” pelo próprio ex-vereador.

 

João Emanuel foi preso preventivamente pela Polícia Civil no dia 26 de agosto de 2016, mas por decisão do desembargador Pedro Sakamoto, do TJ-MT, cumpriu parte da pena em regime domiciliar.

 

No entanto, um laudo médico comprovou que o ex-vereador se encontrava em bom estado de saúde e ele foi detido em setembro de 2016 no Centro de Custódia da Capital, desta vez em decorrência da Operação Aprendiz.

 

Ainda, em setembro de 2016, a juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, recebeu uma nova denúncia contra a suposta quadrilha.     

 

Leia mais:

 

Acusada chora e diz que assinava papéis para o marido sem ler

 

Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).




Clique aqui e faça seu comentário


COMENTÁRIOS
0 Comentário(s).

COMENTE
Nome:
E-Mail:
Dados opcionais:
Comentário:
Marque "Não sou um robô:"
ATENÇÃO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. Comentários ofensivos, que violem a lei ou o direito de terceiros, serão vetados pelo moderador.

FECHAR

Preencha o formulário e seja o primeiro a comentar esta notícia