Por que falar de baleias com tantas coisas graves e urgentes acontecendo no Brasil e no mundo?
Porque talvez elas possam nos ajudar a encontrar algumas respostas.
As baleias são mamíferos marinhos que fascinam pela imponência e pela inteligência. Dotadas de cérebros complexos e estruturas sociais sofisticadas, desenvolveram formas de comunicação que incluem cantos, sons e gestos, capazes de transmitir informações, emoções e até tradições entre gerações. A ciência já reconhece que algumas espécies, como a jubarte e a orca, possuem dialetos próprios e padrões de comportamento que revelam uma cultura coletiva.
Mas o que podemos aprender com esses gigantes do oceano?
Ao contrário dos humanos, as baleias não competem entre si por territórios. Compartilham vastas áreas marinhas sem conflitos, respeitando os ciclos migratórios e alimentares de cada espécie. Não guerreiam, não se matam e não permitem que as mais jovens morram de fome, como estamos fazendo com as crianças em Gaza.
Ao contrário dos humanos, as baleias não exaurem os ecossistemas dos quais dependem — alimentam-se de forma equilibrada, sem comprometer a renovação dos recursos. Durante suas jornadas migratórias, que podem atingir 18 mil km anuais, fertilizam os oceanos com nutrientes, contribuindo para a produção de fitoplâncton, que gera mais de 50% do oxigênio do planeta.
E, talvez o mais inspirador: ao contrário dos humanos, as baleias não se discriminam entre si. Orcas, jubartes, cachalotes e baleias-francas convivem em harmonia, cada uma com suas peculiaridades, sem que isso gere segregação ou hostilidade. Baleias não praticam xenofobia ou racismo.
Essa convivência pacífica e sustentável deveria servir de exemplo e inspiração para a parcela da humanidade, autoprogramada para explorar, dividir e destruir. Porém, ao invés de aprender com as baleias, há quem prefira matá-las.
Historicamente, a caça às baleias foi uma atividade econômica relevante em diversos países, inclusive no Brasil, com registros desde o século XVII. O óleo de baleia iluminava cidades, movia engenhos e alimentava mercados. Mas esse modelo extrativista revelou-se insustentável. A sobrepesca levou várias espécies à beira da extinção, e a consciência ambiental impulsionou tratados internacionais, como a moratória da Comissão Internacional da Baleia (IWC), em vigor desde 1986.
A maioria das nações aderiu a esse pacto de preservação. No entanto, em 2019 o Japão se retirou da IWC em 2019 e retomou a caça comercial em suas águas costeiras, alegando razões culturais e científicas. Essa decisão, embora legal sob sua jurisdição, representa um retrocesso ético e ambiental. As imagens revelam um massacre violento e cruel contra criaturas inofensivas e indefesas. Também a Noruega e a Islândia permitem essa barbárie.
Ademais, as baleias também sofrem com a poluição dos oceanos. Baleias próximas a grandes cidades ingerem até 3 milhões de microplásticos por dia. E o tráfego marítimo duplicou a poluição sonora subaquática na última década.
É preciso condenar veementemente a caça às baleias e renovar o apelo global pela sua proteção. Que elas continuem a cantar nos oceanos, não como lamento, mas como celebração da vida. Que possamos aprender com sua sabedoria tranquila e transformar nossa relação com o planeta e com nós mesmos.
Luiz Henrique Lima é professor e conselheiro certificado independente.
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