Cuiabá, Segunda-Feira, 20 de Outubro de 2025
MARIA AUGUSTA RIBEIRO
14.11.2024 | 05h30 Tamanho do texto A- A+

Cidades inteligentes e habitantes exaustos

Aumento da exaustão são reflexos do uso excessivo de dispositivos digitais

A ascensão das cidades inteligentes tem revolucionado a vida urbana ao integrar tecnologia nas esferas pública e privada. No entanto, a hiperconectividade que essas inovações proporcionam também impõe um custo elevado aos cidadãos.

 

O aumento da exaustão mental, ansiedade e insônia são reflexos claros do uso excessivo de dispositivos digitais e da sobrecarga de informações – um fenômeno conhecido como Infobesidade.

 

Então como  é possível criar cidades que sejam ao mesmo tempo tecnológicas e promotoras de bem-estar? Como não gerar impactos da hiperconexão na saúde mental? Algumas iniciativas mundo a fora sugerem que precisamos descansar sem as telas por perto. E cidades inteligentes que investem em estratégias para reduzir esses efeitos e discutem o papel das políticas de desconexão são tendencia para não adoecer sua sociedade.

 

Os Impactos da Hiperconexão na Saúde Mental

 

A hiperconexão está diretamente associada à exaustão cognitiva e a problemas psicológicos. Segundo um estudo realizado por Mark Carrigan e seus colaboradores, a constante necessidade de se manter atualizado e responder a estímulos digitais contribui para o aumento de ansiedade e burnout.

 

A pesquisa destaca que, especialmente em ambientes urbanos, o uso de smartphones e redes sociais cria um ciclo vicioso: o cidadão se sente pressionado a estar sempre disponível, mesmo durante momentos de lazer. Essa falta de fronteiras entre trabalho, vida pessoal e descanso tem como consequência níveis elevados de estresse. 

 

Outro estudo relevante, conduzido por Jean Twenge em 2017, sugere que o uso excessivo de dispositivos digitais afeta negativamente a saúde mental, particularmente entre jovens. Twenge observou uma correlação significativa entre o aumento do tempo de tela e a incidência de depressão e insônia, reforçando que a hiperconexão pode minar o bem-estar. Embora esses estudos ofereçam uma visão clara do problema, eles também sugerem que as cidades, enquanto agentes organizadores da vida cotidiana, têm a responsabilidade de mitigar tais impactos.

 

Desconexão: Uma Nova Perspectiva para as Cidades Inteligentes 

 

Para evitar que as cidades se tornem verdadeiras armadilhas para a saúde mental, é necessário adotar um modelo de urbanismo que integre momentos e espaços de desconexão. Cidades inteligentes, como Copenhague e Singapura, já estão implementando estratégias inovadoras para reduzir a carga tecnológica sobre seus habitantes.

 

Em Copenhague, por exemplo, foram criados espaços verdes com Free zones digitais, áreas livres de sinal Wi-Fi. Essas zonas incentivam os moradores a desconectar-se voluntariamente da internet e reconectar-se com a natureza. A cidade investe também em programas de promoção de transporte ativo, como ciclismo e caminhadas, estimulando os cidadãos a se deslocarem de forma mais saudável e menos dependente de dispositivos. Como resultado, a qualidade de vida em Copenhague é considerada uma das melhores do mundo.

 

Já Singapura apostou na criação de programas de smart health, que monitoram o bem-estar dos cidadãos, mas também incentivam práticas de descanso digital. Por meio de aplicativos municipais, o governo orienta os habitantes a equilibrar o uso de dispositivos e a participar de atividades ao ar livre, como parques temáticos e jardins. Além disso, o uso de tecnologias como a iluminação inteligente, que reduz o brilho das telas em determinados horários, favorece uma melhor higiene do sono, diminuindo os níveis de insônia.

 

O Papel das Políticas de Desconexão 

 

Cidades que desejam mitigar os efeitos da exaustão digital podem seguir o exemplo dessas metrópoles e adotar políticas de desconexão. Isso envolve a criação de espaços urbanos que estimulem a pausa digital, como parques, bibliotecas e centros culturais. Além disso, é fundamental implementar campanhas de conscientização sobre o uso consciente de tecnologias e encorajar empresas a adotarem jornadas de trabalho mais flexíveis e equilibradas. 

 

Outra iniciativa importante é o desenvolvimento de aplicativos de desintoxicação digital, que enviam notificações para lembrar os cidadãos de pausarem o uso de telas. Em paralelo, as cidades podem incentivar o design urbano focado em mobilidade ativa e convivência offline, integrando ciclovias, praças e eventos comunitários. Essas estratégias ajudam a restaurar o senso de pertencimento e diminuem a sensação de isolamento provocada pela vida digital intensa.

 

Embora a hiperconectividade tenha trazido benefícios inegáveis para as cidades e seus habitantes, seus efeitos colaterais são evidentes na saúde mental e na qualidade de vida.

 

Como demonstram os estudos de Carrigan e Twenge, a pressão por estar sempre disponível e o uso excessivo de dispositivos estão diretamente associados ao aumento do estresse e de doenças psicológicas. No entanto, como evidenciam as cidades de Copenhague e Singapura, é possível utilizar a tecnologia de maneira estratégica para promover o bem-estar. A chave para isso é equilibrar conexão e desconexão, criando espaços urbanos que permitam pausas digitais e incentivem interações presenciais. 

 

As cidades inteligentes do futuro precisam ir além da eficiência tecnológica e adotar uma abordagem humanizada, onde o bem-estar dos cidadãos é prioridade. Com políticas de desconexão bem planejadas, será possível criar espaços urbanos que não apenas aproveitem os benefícios da tecnologia, mas também preservem a saúde e o equilíbrio emocional dos habitantes. Afinal, a verdadeira inteligência de uma cidade está em promover o bem-estar de seus cidadãos, e não apenas conectá-los a redes sociais.

 

Maria Augusta Ribeiro é especialista em Netnografia e comportamento digital.

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

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