Cuiabá, Terça-Feira, 8 de Julho de 2025
EDUARTI FRAGA
08.07.2025 | 05h30 Tamanho do texto A- A+

Constituição de papel

Como a elite do Judiciário se descola do estado de direito no Brasil

Enquanto o cidadão comum enfrenta a rigidez do Estado e o peso dos impostos, uma aristocracia institucional opera acima da lei, blindada por privilégios que desafiam tanto a moralidade administrativa quanto os limites constitucionais. A Constituição de 1988, outrora símbolo de um novo pacto democrático, hoje é vista por muitos como uma ficção — aplicada seletivamente e frequentemente ignorada por quem deveria defendê-la.

 

A BOLHA BLINDADA DO JUDICIÁRIO

 

Juízes, desembargadores, promotores e procuradores ocupam um patamar distinto dentro do funcionalismo público. Com salários que frequentemente ultrapassam o teto constitucional — fixado em R$ 44 mil — graças a auxílios e verbas indenizatórias isentas de impostos, esse segmento acumula benefícios que beiram o surreal. Só em Mato Grosso, dados do CNJ revelam que cada magistrado custou em média R$ 116,6 mil por mês aos cofres públicos em 2023.

 

Essas distorções são possíveis devido a brechas legais e interpretações convenientes que mantêm o status quo de uma elite corporativista. Mesmo quando escândalos vêm à tona — como o das cartas de crédito no Ministério Público Estadual ou o famoso caso do “Escândalo da Maçonaria” — as consequências raramente alcançam seus protagonistas.

 

FEUDOS MODERNOS EM PLENO SÉCULO XXI

 

O que se observa é a manutenção de uma lógica patrimonialista herdada do Brasil colonial. Assim como nas capitanias hereditárias, o poder se concentra em castas intocáveis nas instituições, nos poderes da república até em pequenas autarquias, fundações públicas, institutos e universidades, restam, aparelhadas e dominadas por interesses internos e com ramificação de facções de crime organizado que já age como força política. Quem percebe o jogo, ou se rebela e ameaça a quebra do status quo, corre sérios riscos.

 

Qualquer tentativa de enfrentamento é tratada como afronta — e respondida, muitas vezes, com truculência institucional.

 

Na prática, há uma inversão perversa: o aparato legal que deveria servir de escudo à cidadania se torna arma de blindagem para os próprios detentores do poder.

 

A CONSTITUIÇÃO COMO FICÇÃO E O PATRIMONIALISMO NO JUDICIÁRIO BRASILEIRO

 

A Constituição Federal de 1988, marco do Estado Democrático de Direito no Brasil, consagra princípios como igualdade, legalidade e moralidade administrativa. No entanto, para muitos juristas e cidadãos, esses valores têm sido sistematicamente esvaziados quando confrontados com a realidade do funcionamento das instituições públicas — especialmente no que tange à elite do serviço público.

 

LETRA MORTA PARA UNS, PRIVILÉGIO PARA OUTROS

 

A percepção de que a Constituição se tornou uma “letra morta” não é infundada. 

 

Enquanto o cidadão comum é rigidamente cobrado por suas obrigações fiscais e legais, membros da alta cúpula do Judiciário e do Ministério Público frequentemente operam em uma zona de conforto institucional. Subsídios acima do teto constitucional, somados a verbas indenizatórias isentas de Imposto de Renda, criam um sistema de remuneração que ultrapassa os limites legais e morais do serviço público.

 

Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2023, cada magistrado do Tribunal de Justiça de Mato Grosso custou em média R$ 116,6 mil por mês, valor muito acima do teto constitucional de R$ 44 mil. Além disso, todos os 39 desembargadores da Corte receberam remunerações superiores ao permitido, graças a penduricalhos legais e brechas normativas.

 

FEUDOS MODERNOS E A LÓGICA PATRIMONIALISTA

 

A estrutura do Judiciário brasileiro, em muitos aspectos, remete a uma lógica de capitanias hereditárias. O corporativismo, a resistência a reformas e a blindagem institucional criam um ambiente onde a accountability é mínima. Casos como o “Escândalo da Maçonaria” em Mato Grosso ilustram esse cenário: juízes envolvidos em desvios de recursos públicos foram aposentados compulsoriamente, mas posteriormente reintegrados com direito a receber mais de R$ 17 milhões em salários retroativos.

 

Esse episódio, que envolveu o desvio de R$ 1,4 milhão para uma loja maçônica entre 2003 e 2005, revela como a elite do Judiciário pode operar à margem do Estado de Direito, com reações truculentas a qualquer tentativa de questionamento ou responsabilização.

 

O IMPACTO NA CONFIANÇA INSTITUCIONAL

 

A manutenção desses privilégios em meio a uma crise fiscal e social agrava a percepção de injustiça e alimenta o descrédito nas instituições. A proposta de Emenda Constitucional 54/24, que visa limitar os supersalários no funcionalismo público, é uma tentativa de conter esses abusos, com uma economia estimada de R$ 70 bilhões em dois anos. No entanto, sua efetividade dependerá da disposição política de enfrentar o corporativismo arraigado.

 

Se quiser, posso adaptar esse texto para um artigo de opinião, um ensaio acadêmico ou até um roteiro para vídeo. Quer seguir por alguma dessas linhas?

 

O custo social da desigualdade institucional - A manutenção desses privilégios em meio a uma crise fiscal e social agrava a percepção de injustiça e alimenta o descrédito nas instituições. Enquanto milhões de brasileiros enfrentam precarização dos serviços públicos, cortes orçamentários e desemprego, a elite do Judiciário mantém seus benefícios intocados — muitas vezes com respaldo judicial.

 

Essa desconexão entre o topo e a base do funcionalismo público contribui para o aumento da desigualdade e para o enfraquecimento da coesão social. A confiança no Estado de Direito se esvai quando a lei não é aplicada de forma equânime.

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RECONSTRUIR A LEGITIMIDADE: POR ONDE COMEÇAR?

 

A reconstrução da legitimidade institucional exige mais do que reformas pontuais. É necessário:

 

1. Transparência radical na divulgação de salários, benefícios e decisões administrativas;

2. Controle externo efetivo, com participação da sociedade civil;

3. Revisão constitucional de dispositivos que permitem brechas remuneratórias;

4. Educação cívica que forme cidadãos conscientes de seus direitos e deveres.

 

Quando o Estado serve a poucos, todos perdem

 

A crise de legitimidade não é fruto apenas de escândalos ou cifras astronômicas. Ela nasce da percepção de que há duas legalidades coexistindo no Brasil: uma inflexível para o cidadão comum e outra, maleável e indulgente, para os que orbitam o topo da estrutura estatal.

 

Enquanto a Constituição seguir sendo letra morta para uns e escudo para outros, o ideal de justiça continuará sendo apenas uma promessa adiada.

 

Se quiser, posso transformar esse artigo em um infográfico, um vídeo narrado ou até mesmo em um manifesto para publicação em redes sociais. Qual formato você gostaria de explorar a seguir?

 

A força da opinião pública: entre indignação e mobilização

 

A opinião pública tem se mostrado um dos poucos contrapesos reais ao poder quase intocável de certas instituições. Em tempos de redes sociais e acesso facilitado à informação, escândalos envolvendo supersalários, benefícios retroativos e privilégios corporativos não passam mais despercebidos. A repercussão de casos como o dos R$ 10,3 bilhões em benefícios retroativos pagos a magistrados entre 2018 e 2025 gerou ondas de indignação popular e pressionou o Congresso a pautar propostas como a PEC 54/2024.

 

Pesquisas recentes indicam que a confiança da população no Judiciário brasileiro está em queda. Segundo levantamento da ONG Transparência Brasil, mais de 60% dos brasileiros acreditam que o Judiciário favorece os mais ricos e poderosos, enquanto apenas 18% o consideram imparcial. Essa percepção mina a legitimidade das decisões judiciais e enfraquece o pacto democrático.

 

No entanto, a opinião pública também é motor de mudança. A mobilização social tem sido fundamental para pautar debates sobre transparência, controle externo e reforma administrativa. A pressão popular levou, por exemplo, à criação de comissões parlamentares para investigar abusos no uso de verbas indenizatórias e à judicialização de benefícios considerados inconstitucionais.

 

Mais do que indignação, o momento exige engajamento cívico contínuo. A sociedade precisa ocupar os espaços de controle social, exigir prestação de contas e apoiar iniciativas que promovam a equidade institucional. Afinal, quando o cidadão se cala, o privilégio grita.

 

A opinião pública exerce um papel fundamental — e muitas vezes decisivo — na formação, alteração e rejeição de leis no Brasil. Ela atua como um termômetro social que influencia diretamente o comportamento de parlamentares, o ritmo das votações e até o conteúdo das propostas legislativas. Aqui estão algumas formas concretas de como isso acontece:

 

PRESSÃO POPULAR E MOBILIZAÇÃO SOCIAL

 

Manifestações públicas, abaixo-assinados e campanhas nas redes sociais podem acelerar ou barrar projetos de lei. Um exemplo emblemático foi a rejeição da PEC 37 em 2013, após protestos massivos em todo o país.

5. Parlamentares, atentos à repercussão pública, muitas vezes recuam de propostas impopulares para evitar desgaste eleitoral.

 

ELEIÇÕES CHEGANDO E O CÁLCULO POLÍTICO DOS LEGISLADORES

 

Deputados e senadores dependem do voto popular. Por isso, tendem a alinhar suas decisões com o sentimento majoritário do eleitorado, especialmente em anos eleitorais.

 

Pesquisas de opinião pública são frequentemente usadas como instrumento estratégico por partidos e líderes do Congresso para definir prioridades legislativas. 

A imprensa tem papel central na amplificação da opinião pública, dando visibilidade a temas negligenciados e pressionando por respostas institucionais.

 

Escândalos revelados pela mídia, como os supersalários no Judiciário, deveriam gera reação imediata no Legislativo, com propostas de controle e transparência, mas com raras exceções nada se vê.

 

INICIATIVAS POPULARES E PARTICIPAÇÃO DIRETA

 

A Constituição permite que projetos de lei de iniciativa popular sejam apresentados com apoio de pelo menos 1% do eleitorado nacional. A Lei da Ficha Limpa (2010) é um exemplo notável dessa via de participação.

 

Conselhos, audiências públicas e consultas online também são formas de inserir a sociedade civil no processo legislativo.

 

CASOS RECENTES E IMPACTO CONCRETO

 

Segundo relatório do Senado Federal sobre tendências legislativas em 2025, a opinião pública tem sido decisiva na tramitação de pautas sensíveis, como a regulação de plataformas digitais e a reforma administrativa.

 

A PEC 54/2024, que visa limitar supersalários no serviço público, ganhou tração após ampla repercussão nas redes sociais e na imprensa sobre os gastos com verbas indenizatórias.

 

Enfim, a opinião pública, quando bem-informada e mobilizada, é uma força capaz de moldar o rumo das leis e fortalecer a democracia e por essa razão o establishment patrimonialista que tem relação endoparasita com o Estado. 

 

A aristocracia da casta superior aparelha as instituições como feudos ou hodiernas capitanias hereditárias, atuam afinados de forma corporativa para manutenção de privilégios e se incomodam com a visibilidade e descrédito da opinião pública, no entanto ao invés voltar ao trilho do estado de direito e missão dada pelo constituinte originário, promovem uma suprema censura contra a liberdade de expressão e direito à informação.

 

Na prática querem sim criar o ministério da verdade para decidirem por nós pagadores de impostos, a plebe rude da casta dos manés, o que seja verdade ou mentira ou se crítica ou singelo meme constitui discurso de ódio ou ato antidemocrático na nova ágora que são as redes sociais ao anular a vontade do legislador posta nos artigos 19 e 21, ambos do marco civil da internet, rasgando o texto dos artigos 5º, IV e IX e 220, todos da Carta Magna Letra Morta da Silva. 

 

A república precisa ser refundada, com requintes de rusga, lógico que no sentido figurado da expressão, para zerar o jogo, bloquear a bilheteria, trocar juízes e bandeirinhas, rebaixar times, trocar técnicos e jogadores, banir juízes e o escambau. 

Uma nova ordem constitucional impõe-se!

 

Eduarti Fraga é advogado e historiador.

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

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Marcos  08.07.25 08h36
é... digamos que até faz um pouco de sentido o que você diz. Mas o termo "elite do funcionalismo público" é deveras caricato. No Mato Grosso, as isenções fiscais concedidas apenas para a Bungee superaram o valor de 500 milhões de reais. Se somarmos as isenções pagas as 6 maiores beneficiadas já são mais de 3 bilhões de reais em um ano. Esse tipo de textinho igual ao seu, só serve para vilipendiar a imagem do funcionalismo público que, CLARAMENTE, não é o vilão.
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