Cuiabá, Terça-Feira, 8 de Julho de 2025
RODRIGO RODRIGUES
08.07.2025 | 05h30 Tamanho do texto A- A+

Educação ou adestramento?

Um grito por liberdade nas salas de aula brasileiras

“We don’t need no education” — o refrão da clássica música do Pink Floyd, Another Brick in the Wall, ecoa como um protesto juvenil contra uma escola opressora, que, em vez de libertar, sufoca. Quase meio século depois do lançamento da canção, a crítica continua assustadoramente atual no Brasil. A escola brasileira, com raras exceções, ainda forma “tijolos no muro”, e não cidadãos críticos. É preciso urgentemente repensar os rumos do ensino no país, e nesse cenário, o legado de Paulo Freire ressurge como farol em meio à escuridão.

 

A crise da educação: números e realidades:

 

O Brasil amarga indicadores desastrosos. Segundo o IDEB, a média nacional do ensino médio está estagnada. Estudantes saem da escola sem saber interpretar textos simples ou resolver problemas matemáticos básicos. Mas o maior fracasso não é só o da aprendizagem mecânica — é o da formação crítica, da capacidade de pensar.

 

Temos uma escola que treina para decorar fórmulas, mas não ensina a questionar. Que cobra silêncio, obediência e uniformidade. A mesma escola que o Pink Floyd denunciava nos anos 70 ainda vive em muitos cantos do país — autoritária, desatualizada, desinteressante. Uma escola que ensina a obedecer, mas não a transformar.

 

Paulo Freire: o educador que queria libertar:

 

Paulo Freire, injustamente atacado por setores que sequer leram sua obra, propôs justamente o contrário disso. Em vez de tratar o aluno como uma “caixa vazia” a ser preenchida, ele o via como sujeito do seu processo de aprendizagem. A chamada “educação bancária” — onde o professor deposita o conteúdo e o aluno apenas recebe — era, para ele, uma forma de opressão.

 

Freire propunha uma educação dialógica, em que ensinar e aprender são processos mútuos. O conteúdo escolar deveria partir da realidade do estudante, de seu contexto social, de suas vivências. Mais do que ensinar o “o quê”, Freire queria ensinar o “como” — como pensar, como refletir, como mudar.

 

“Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”, escreveu.

 

Another brick in the wall: o alerta do rock progressivo:

 

Em Another Brick in the Wall, o sistema educacional é retratado como uma máquina de moer sonhos. Crianças marcham em linha reta, padronizadas, sem voz. “Hey, teacher! Leave them kids alone!” — um clamor de liberdade diante de um modelo que suprime a criatividade e a individualidade.

 

A analogia com o sistema brasileiro é cruel, mas justa. Crianças continuam sendo preparadas para o vestibular, não para a vida. O foco é na nota, não na compreensão. O professor, exausto e mal pago, muitas vezes é pressionado a seguir apostilas padronizadas, sem espaço para adaptar o ensino à realidade dos alunos.

 

Educação é ato político:

 

Paulo Freire nunca negou: educar é um ato político. E é exatamente por isso que seu método incomoda. Porque, ao educar para a libertação, ele ameaça a estrutura de dominação. Uma escola crítica forma cidadãos que questionam, e não apenas consumidores ou eleitores passivos.

 

No fundo, o debate não é apenas sobre métodos pedagógicos. É sobre o tipo de sociedade que queremos construir. Queremos cidadãos pensantes ou apenas mais tijolos no muro?

 

Se quisermos virar essa página, precisamos valorizar o professor, investir em formação crítica, repensar o currículo e, sobretudo, recuperar a ideia de que a escola deve ser um espaço de liberdade, e não de controle.

 

Paulo Freire nos deixou o mapa. O Pink Floyd nos alertou sobre o muro. Cabe a nós decidir: vamos continuar empilhando tijolos ou finalmente derrubá-lo?

 

Rodrigo Rodrigues é jornalista, empresário e graduado em gestão pública.

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

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