Da estratégia à entrega

Em tempos de alta incerteza, não basta ter um bom plano estratégico. O diferencial está em ligar objetivos a iniciativas concretas, priorizar recursos com rigor e acompanhar resultados com transparência. A gestão de projetos e de portfólios cumpre esse papel. Ela conecta propósito, capacidades e investimentos, reduz desperdícios, aumenta a previsibilidade da entrega e cria um ciclo contínuo de aprendizado e ajuste. Em outras palavras, transforma estratégia em ação e ação em valor.

Por que isso importa

Empresas e órgãos públicos lidam com escolhas difíceis o tempo todo. Onde investir primeiro. O que adiar. Que iniciativas realmente geram impacto e entregam valor ao cliente e ao negócio. Sem um sistema claro de priorização e execução, prevalecem decisões casuísticas, projetos de estimação e retrabalho. Quando a organização adota uma gestão de portfólio e de projetos de forma disciplinada, os recursos passam a ser direcionados para o que mais importa, o fluxo de entrega melhora e os resultados se tornam mais previsíveis.

Como conectar estratégia e execução

A integração começa pela decomposição dos objetivos estratégicos em resultados esperados e, a partir deles, em programas e projetos com casos de negócio sólidos. Indicadores estratégicos e metas claras alimentam critérios de priorização do portfólio. Um quadro visual de portfólio ajuda a balancear capacidade, dependências e risco. Pontos formais de decisão e revisões periódicas sustentam a realocação dinâmica de orçamento e de pessoas diante de mudanças, preservando o alinhamento sem paralisar a operação.

Em paralelo, planos de realização de benefícios definem responsáveis, metas e hipóteses de valor que serão testadas. A organização acompanha indicadores antecipados e de resultado, aprendendo com o que funciona e recalibrando o que for necessário.

O que muda na prática

Quando bem implementada, a gestão de portfólio traz ganhos imediatos e visíveis:

• Transparência sobre o mix de investimentos entre operar o negócio, crescer e transformar
• Eliminação de iniciativas de baixo valor e redução de projetos de estimação
• Melhor uso de recursos e menos trabalho em progresso ao mesmo tempo
• Fluxo de entrega mais estável e previsível

A governança deixa de ser burocrática e passa a ser adequada ao contexto. As decisões consideram o tamanho do risco, as cadências respeitam o ritmo do negócio e as métricas olham tanto para a capacidade de entregar quanto para o impacto gerado. Isso inclui tempo de entrega, volume de entregas, previsibilidade, custo de atraso, satisfação do cliente, retenção e participação de mercado.

A figura do PMO (Project Management Office — em português, Escritório de Projetos) atua como um orquestrador, padrões e capacitação e, acima de tudo, como parceiro na priorização e na captura de sinergias e interligação dessas iniciativas estratégicas. Em termos práticos, o PMO é a estrutura responsável por alinhar governança, métodos e informações, garantindo que os investimentos certos recebam recursos no momento certo e que a estratégia se converta em resultados mensuráveis. No próximo artigo falaremos mais da importância do PMO em uma organização.

Resultados de quem faz bem

Pesquisas conduzidas pelo Prof. Darci Prado — autor do Modelo de Maturidade em Gerenciamento de Projetos (Prado-MMGP) e responsável pela Pesquisa de Maturidade em Gerenciamento de Projetos no Brasil desde 2022 — indicam que organizações com maior maturidade em gestão de projetos e portfólios tendem a apresentar retornos mais altos sobre os investimentos, menos desvios de custo e prazo, menor tempo para gerar valor e redução significativa do custo de atraso. Esses resultados decorrem, sobretudo, de decisões de sequenciamento mais inteligentes, governança consistente e uso disciplinado de dados para priorização.

Em ambientes mais maduros, os painéis executivos evoluem para incluir indicadores como índice de realização de benefícios, contribuição estratégica do portfólio e saúde do fluxo. Com isso, decisões de alto impacto deixam de depender de percepções isoladas e passam a se apoiar em evidências — alinhando-se às conclusões de Darci Prado sobre a relação direta entre maturidade, previsibilidade e resultados de negócio. Quanto maior a maturidade, mais claro o foco, mais rápido o aprendizado organizacional e maior a capacidade de adaptação às mudanças.

Conclusão

A gestão de projetos e portfólios cria um sistema gerenciável de escolhas, execução e aprendizado que sustenta o planejamento estratégico e potencializa resultados baseado em dados. Quem constrói esse elo entre o que a organização quer alcançar e o que de fato entrega ganha velocidade, foco e vantagem competitiva. Se você deseja dar um passo importante, comece avaliando a maturidade da sua empresa em gerenciamento de projetos, e aos poucos inclua em sua empresa esse modelo de gestão mais eficaz.

Gabriel Osti é administrador e especialista em gerenciamento de projetos, portfólios e PMO, estratégia e finanças corporativas.