Cuiabá, Segunda-Feira, 8 de Dezembro de 2025
MARIANA RAMOS
08.12.2025 | 05h30 Tamanho do texto A- A+

Os riscos silenciosos da hipervitaminose

A ideia de que “vitamina não faz mal” se espalhou, mas não corresponde à fisiologia humana

O interesse por saúde e bem-estar nunca esteve tão presente no cotidiano das pessoas. Academias lotadas, perfis nas redes sociais dedicados à nutrição, influenciadores falando sobre energia, foco e imunidade.

O corpo continua funcionando como sempre funcionou: depende de ritmo, de pausa, de alimentação real, de descanso e, acima de tudo, de prudência nas escolhas.

 

A busca por performance virou parte da rotina e, com ela, multiplicou-se o consumo de vitaminas e suplementos. Mas entre boas intenções e resultados rápidos, cresce também um risco pouco comentado: a hipervitaminose, o excesso de vitaminas no organismo, que pode ser tão prejudicial quanto a sua falta.

É natural associarmos vitaminas à saúde. Afinal, aprendemos desde cedo que elas são essenciais para o funcionamento do corpo. O problema começa quando esquecemos que a palavra “essencial” também significa limite. O organismo não utiliza tudo o que recebe e não transforma automaticamente cada cápsula ou sachê em energia vital.

 

Muitas vitaminas, principalmente as lipossolúveis, como A, D, E e K,  se acumulam no corpo e podem provocar intoxicação, alteração hormonal, danos ao fígado e ao rim, além de interferir na absorção de outras substâncias importantes para a saúde. O cuidado, portanto, não está apenas em consumir vitaminas, mas em saber quando há realmente necessidade.

O crescimento da cultura dos suplementos trouxe um paradoxo curioso. Ao mesmo tempo em que temos acesso à informação, surgem diagnósticos baseados em vídeos curtos, conselhos genéricos e testes feitos em laboratórios sem avaliação médica criteriosa.

 

A ideia de que “vitamina não faz mal” se espalhou, mas não corresponde à fisiologia humana. Há pacientes que chegam ao consultório com níveis alarmantes de vitamina D, por exemplo, mesmo sem apresentar deficiência antes de iniciar a suplementação. O corpo não dá lucro com o que sobra: ele reage.

Os sintomas da hipervitaminose são variados e nem sempre chamam atenção. Cansaço persistente, alterações de humor, falta de apetite, dificuldade para dormir, náuseas, irritabilidade. Às vezes parecem sinais de estresse, ansiedade ou sobrecarga de trabalho, mas podem estar ligados a níveis elevados de vitaminas e minerais no sangue. É como se o organismo tentasse avisar, com pequenas mudanças de comportamento e energia, que algo está fora do eixo.

A suplementação pode ser necessária e, em muitos casos, é uma aliada fundamental. Pessoas com dietas restritivas, pacientes após cirurgias, gestantes, idosos e indivíduos com doenças crônicas podem precisar de reposição vitamínica. Mas suplementar exige diagnóstico. E diagnóstico exige olhar clínico, exames adequados e acompanhamento.

 

A ideia de que existe uma receita pronta para todos não se sustenta quando olhamos a individualidade de cada metabolismo. O excesso de informação, aliado ao desejo de rápido resultado, às vezes substitui a escuta do próprio corpo e é nesse momento que o risco se instala.

A hipervitaminose é, em grande parte, um fenômeno moderno. Ela cresce na mesma velocidade que a indústria do bem-estar. Em um mundo de rotinas aceleradas, queremos soluções imediatas para dormir melhor, produzir mais e chegar ao fim do dia com energia de sobra. Mas a saúde não responde a pressa; responde a equilíbrio.

 

O corpo continua funcionando como sempre funcionou: depende de ritmo, de pausa, de alimentação real, de descanso e, acima de tudo, de prudência nas escolhas.

Há uma frase que vale lembrar: suplemento não substitui estilo de vida. A energia não está apenas na cápsula, está no conjunto do dia. A medicina pode ajudar a encontrar esse equilíbrio, desde que o cuidado venha antes da tentativa de resultado. Com orientação, a vitamina certa pode ser ferramenta; sem ela, pode se tornar obstáculo.

O corpo é um sistema inteligente e já sabe quando tem o suficiente. O desafio agora é aprender a ouvir o que ele vem tentando dizer.

 

Dra. Mariana Ramos é endocrinologista em Cuiabá-MT

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

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