Cuiabá, Sábado, 2 de Agosto de 2025
LUIZ HENRIQUE LIMA
02.08.2025 | 05h30 Tamanho do texto A- A+

O Gol Contra de Vini Jr.

Ele deveria ter seguido exemplo do ex-companheiro no Flamengo, Diego Ribas

Há cerca de dois anos publiquei um artigo com o título “O golaço de Vini Jr.”.  Não me referia ao belo gol marcado numa Final da Champions League, nem ao título de melhor futebolista do mundo, que conquistaria posteriormente. Fazia menção ao seu golaço fora dos gramados, quando, vítima de racismo em um estádio espanhol, reagiu com coragem e dignidade, tornando-se símbolo mundial da luta antirracista. Um jovem negro, oriundo da periferia, que venceu a pobreza e o preconceito para brilhar no Real Madrid e nos corações dos brasileiros. Um gesto que mereceu aplausos e reverência.

 

Mas hoje, com tristeza, sou obrigado a registrar um feio gol contra do craque. Esse também não foi dentro de campo. Vini Jr. aceitou protagonizar campanhas publicitárias de casas de apostas esportivas online — as chamadas bets. Um erro grave, que compromete a sua credibilidade como figura pública e contraria os valores que ele tem representado e vocalizado.

 

Segundo estudo da Anbima e Datafolha, cerca de 23 milhões de brasileiros apostaram em bets em 2024, o equivalente a 15% da população. O problema não é apenas o número, mas o perfil: quase metade dos apostadores está com dívidas em atraso, e 3 milhões apresentam alta tendência ao vício. Entre os mais pobres, o impacto é devastador. Um relatório do Santander revelou que as classes D e E destinam quatro vezes mais do orçamento às apostas do que as classes ricas, com a fatia saltando de 0,27% em 2018 para 1,38% em 2023.

 

A correlação com o superendividamento é evidente. Em maio de 2025, 78,2% das famílias brasileiras estavam endividadas, e 29,5% inadimplentes. O vício em apostas não é apenas uma questão financeira — é uma questão de saúde pública, que desorganiza lares, compromete a renda e destrói sonhos.

 

Vini Jr. deveria ter seguido o exemplo de seu ex-companheiro e capitão no Flamengo, Diego Ribas, que criticou duramente a influência das bets sobre os atletas. Em vídeo público, Diego condenou o vício, relatou casos de jovens jogadores internados por dependência química e cobrou responsabilidade dos clubes e das empresas envolvidas. Um posicionamento firme, ético e coerente com a missão de quem inspira milhões.

 

Verdade que Vini Jr. não é o único esportista de renome a tentar surfar – e lucrar – nesse tsunami. Os demais também merecem censura. Porém, pelo protagonismo social que assumiu ao liderar o combate ao racismo, Vini Jr. é o que mais tem a perder. Verdade também que a propaganda, em si, não é ilegal, como não era a de um famoso atleta da década de 70 que alugou seu prestígio a uma marca de cigarros. Mas, como aquela, é inadequada, inoportuna e incoerente.

 

Ao associar seu nome e imagem às bets, Vini Jr. pode ter ficado um pouco mais rico — mas ficou bem menor. Perdeu a chance de preservar seu carismático sorriso para causas nobres e coletivas. O garoto que um dia nocauteou o racismo agora promove um jogo que nocauteia as famílias pobres brasileiras. Faltou discernimento. Espero que este gol contra seja apenas um tropeço e que Vini Jr. reencontre o caminho da grandeza — dentro e fora dos gramados.

 

Luiz Henrique Lima é professor e conselheiro independente certificado.

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

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