Confesso em boa e lisa verdade, das altitudes everestianas em que se aloja minha incondicional admiração pelo papa Francisco, haver experimentado uma pontinha de preocupação e desconforto com a notícia de que o Vaticano não descobriu na agenda pontifícia espaço de tempo, mínimo que fosse, mode permitir ao Dalai Lama bater papo reservado com Chico.
Imagino que só mesmo razões poderosas demais da conta, um tanto quanto também misteriosas, poderiam influenciar tão desconcertante atitude.
Os temores de que o autoritário governo chinês pudesse vislumbrar no cordial gesto da Igreja, em recepcionando o líder budista, sinal “inamistoso” capaz de perturbar a evolução dos entendimentos diplomáticos em marcha no sentido de que a China conceda maior liberdade religiosa às minorias cristãs, parecem-me, de princípio, insuficientes como argumento para explicar aquilo que, de fato, rolou nos bastidores.
O Papa, pelo que todos nos habituamos a observar, não é alguém que contenha os impulsos generosos de seu DNA diante de desafios tormentosos nascidos das incompreensões e intolerâncias mundanas, que se anteponham à caminhada em favor de uma construção humana fraterna.
Mas, diante do episódio já consumado, nada me compete fazer além deste despretensioso registro.
Quem, afinal de contas, pensa ser este desajeitado escriba, com suas quimeras em torno da vida, pra querer adivinhar o que exatamente ocorreu nessa tentativa frustrada de aproximação, para diálogo inequivocamente positivo, dos dois carismáticos personagens?
Maior estadista destes modernos e conturbados tempos, Francisco - desfazendo rançosos padrões de comportamento nas relações inter-religiosas e políticas - tem consagrado atenção especial à conciliação universal, a práticas ecumênicas em condições de reconectarem o mundo com sua essência espiritual e humana. Isso pesa na interpretação dos atos que promove como líder da Igreja.
Pecados jornalísticos. Recebendo no Vaticano um punhado de comunicadores ligados à televisão europeia, o Papa Francisco relacionou para os visitantes os grandes pecados da atividade jornalística no mundo contemporâneo. São estes: calúnia, difamação, desinformação.
O pontífice condenou também o alarmismo catastrófico, a falta de sensibilidade social e a tendência para relatos dos acontecimentos pela metade.
Noutra manifestação palpitante, o Pontífice conclamou as pessoas a enfrentarem por meio do diálogo respeitoso, da vivência ecumênica, os dramáticos problemas suscitados pelo fanatismo, pelo radicalismo, pelos preconceitos e intolerância existentes neste mundo tocado pela pluralidade de ideias.
CÉSAR VANUCCI é jornalista.
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