A advogada Sheyla Regina Barros de Souza, de 52 anos, contestou os laudos da Politec que sugerem que a advogada Viviane de Souza Fidelis, de 30, teria cometido suicídio.
Viviane foi encontrada morta em seu apartamento na noite do dia 17 de setembro, em Cuiabá. O caso é investigado pela DHPP (Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa) e está sob sigilo.
Em entrevista ao MidiaNews, Sheyla, que é mãe de Viviane, apontou uma série de “inconsistências” nos documentos e até "desleixo" por parte da perícia.
“Tem muitas inconsistências. Eles falaram que ela não tinha nenhuma marca, tatuagem, mas ela tinha duas tatuagens e nem isso conseguiram perceber. Aí você vê como é mal feita, vê o desleixo da perícia, fazem de qualquer jeito”, afirmou.
O corpo de Viviane foi encontrado por volta das 22h do dia 17 e a perícia de necropsia teve início no dia 18, às 8h52. Segundo o documento, o corpo da vítima estava totalmente enrijecido e o perito estimou a morte entre 18 e 24 horas antes da análise.
Segundo o perito, a vítima foi encontrada em sua casa com “laço constritor”, um cinto em torno do pescoço, fixado à maçaneta da porta do banheiro, “em posição compatível com enforcamento atípico, de baixa suspensão”, diz trecho do documento.
As marcas encontradas na vítima, segundo o documento, tanto internas quanto externas “são típicos de asfixia mecânica por constrição cervical”, isso significa morte por enforcamento ou estrangulamento, quando há pressão no pescoço que impede a passagem de ar e sangue para o cérebro.
As lesões, conforme o laudo, indicam que a vítima estava viva quando aconteceu a pressão no pescoço.
“Os achados são, portanto, compatíveis com morte por asfixia mecânica decorrente de enforcamento atípico, de provável natureza suicida”, diz outro trecho do documento.
Perícia no local
O laudo do local, por sua vez, teve início ainda na madrugada do dia 18, à 0h50. Segundo o documento, a porta do apartamento já estava aberta e não havia sinais de arrombamento e no local estariam “alguns conhecidos da vítima”.
Reprodução
Viviane de Souza Fidelis, que foi encontrada morta em casa
Conforme o perito, a vítima se “encontrava retirada de sua suspensão, deitada no piso do banheiro do seu apartamento”, diz trecho.
O documento descartou que a vítima tenha sido ferida por arma de fogo e no local não havia nem projéteis, estojos ou manchas de sangue próximas do corpo da vítima, “apenas pequeno filete de sangue escorrido do interior da narina direita da vítima”, diz trecho.
Envolta do pescoço de Viviane foi encontrado um cinto que media um metro e dez centímetros de comprimento, um centímetro e meio de largura e quatro milímetros de espessura. Segundo o perito: “Tal cinto era eficiente para produzir asfixia mecânica”.
“A vítima estava deitada sobre o piso do banheiro daquele apartamento. O cinto feminino encontrava-se íntegro, que segundo informações dos conhecidos da vítima tentaram socorrê-la, retirando a extremidade amarrada ao trinco da porta do banheiro a 1,10m de altura”, diz trecho do documento.
Ao lado do corpo da vítima havia um celular e um óculos de grau e, sobre a bancada da sala foram encontrados caixas e cartelas de medicamentos abertos.
O perito explicou que em casos de enforcamentos por suspensão completa ou incompleta, basta uma força correspondente a uma massa de 2 kg para bloquear a corrente sanguínea das jugulares; de 5 kg para bloquear as carótidas e 15 kg para obturar a traqueia.
“O fato de a presente vítima usar a maçaneta da porta, que estava a 1,10m (um metro e dez centímetros) de altura do piso, pode ao leigos causar erroneamente certa estranheza. Muito antigamente na História, não se admitia o enforcamento por suspensão incompleta; No entanto, após inúmeros casos, já se passa a aceitar essa possibilidade. A forma de enforcamento atípica ou incompleta não é tão rara quanto se imagina, pois o peso do corpo adulto é suficiente e capaz de bloquear as estruturas de respiração e circulação da vítima”, explicou o perito.
“Em face do exposto, sugere o perito tratar-se de auto eliminação por enforcamento, cometido pela vítima Viviane De Souza Fidelis, utilizando o sistema de forca já descrito”, concluiu.
Série de inconsistências
Sheyla citou uma série de inconsistência no laudo e contradições nas oitivas das testemunhas que fazem a família duvidar que Viviane tenha mesmo cometido um suicídio. Entre elas, não terem sido colhidas digitais ou realizado exame toxicológico na vítima, uma vez que foram encontrados diversos medicamentos abertos e expostos sobre a bancada.
“Não foram colhidas digitais, não foi feito exame toxicológico. Tinha remédio lá e também para ver se alguém deu alguma substância para ela dormir e sufocá-la. Não colheram DNA embaixo das unhas, não fizeram exame pra ver se tinha semen”, afirmou.
Outro ponto que chamou a atenção da advogada e que não foi citado pela perícia foi a posição dos braços de Viviane, enrijecidos e fechados em punho.
“Pesquisei e cheguei em alguns artigos que falam que isso é uma característica de quem está agonizando depois de ter lutado para não ser sufocada”, afirmou a advogada.
Victor Ostetti/MidiaNews
Sheyla Regina Barros de Souza, de 52 anos, mãe de advogada
Sheyla também questiona a posição do corpo em que a filha foi encontrada que, segundo ela, com base no documento e nos depoimentos das testemunhas, não só foi retirado da suspensão, mas também mexido de lugar.
“Falam que ele [namorado da vítima] retirou o corpo do local porque tentou salvá-la. Mentira, ele sabia que ela estava morta. Pela situação não tinha como salvar uma pessoa daquele jeito e o laudo sequer relatou isso, que ele tirou o corpo do lugar”, afirmou.
Em seu depoimento, uma vizinha afirmou ter encontrado Viviane pendurada na maçaneta da porta, pelo lado de dentro do banheiro. Mas as fotos tiradas pela perícia mostram uma cena completamente diferente.
“A porta foi aberta e ela ficou com a cabeça pelo lado de fora da porta e os pés com direção para o vaso. Imagina o trabalho que deu essa remoção. Tinha um celular ao lado dela, como é que esse celular de trás da porta foi parar do lado dela? A polícia em nenhum momento falou sobre isso, só falam que ele tirou porque tentou salvar”, afirmou.
Outro ponto que causou estranheza na família foi o filete de sangue citado pela perícia na narina direita da vítima, enquanto as marcas no pescoço estavam do lado esquerdo.
“No lado direito do pescoço não tem nenhuma marca e fica estranho porque o filete de sangue do nariz está caído para o lado direito e o corpo enrijeceu para o lado esquerdo”.
Até mesmo o nó feito na ponta do cinto que suspendeu a vítima à maçaneta, causou estranheza. “Eu não acredito que ela conseguiria dar aquele nó”, afirmou.
“Faltou muita coisa que tinha que ser feito em uma cena de crime ou de suicídio. Essas inconsistências fazem a gente duvidar do suicídio. Tem possibilidade de ser suicídio? Tem. Mas tem possibilidade de também não ser e o que a gente quer é que seja descartado tudo antes de dizer que foi suicídio”.
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