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20.05.2019 | 11h34 Tamanho do texto A- A+

Após visita, Selma cita “fábrica de cadáver” e pede auditoria

Senadora do PSL disse que já viu muitas cadeias mais limpas que a unidade de saúde da Capital

Alair Ribeiro/MidiaNews

A senadora Selma Arruda, que citou condições desumanas a pacientes do Pronto Socorro de Cuiabá

A senadora Selma Arruda, que citou condições desumanas a pacientes do Pronto Socorro de Cuiabá

CAMILA RIBEIRO
DA REDAÇÃO

A senadora Selma Arruda (PSL) fez duras críticas à situação do Pronto Socorro de Cuiabá após realizar uma visita à unidade, na última sexta-feira (17). Segundo ela, há pacientes morrendo na unidade em razão de procedimentos realizados de maneira inadequada ou ainda por conta da falta de insumos básicos.

 

“Vi uma fotografia de uma criança de 7 meses que quando foram entubá-la, pelo tipo de equipamento errado que escolheram, arrancaram seus dois dentinhos e cortaram a língua da criança. Ao invés de colocar o tubo na traqueia para mandar oxigênio, colocam no estômago. A criança fica sem conseguir respirar e o estômago enchendo de ar”, disse.

 

“Quando isso acontece e a criança começa a ficar roxa, até a UTI receber o paciente, a criança já ficou tanto tempo sem oxigênio que vai ficar em estado vegetativo para o resto da vida. Isso está acontecendo todo dia na nossa rede pública de saúde. Não dá para deixar assim. Tem gente morrendo. Nossa rede pública de saúde é uma fábrica de cadáveres. As pessoas entram no hospital com problema nem tão grave e não saem de lá ou saem em estado vegetativo”, acrescentou.

 

O desabafo foi feito pela senadora na manhã desta segunda-feira (20), em um encontro com vereadores da Capital.

 

Fui até lá e vou confessar para vocês, eu fiquei muito mais chocada do que eu imaginei. Eu já vi muita cadeia mais limpa do que aquele Pronto Socorro Municipal

Semanas atrás a senadora já havia publicado um vídeo – que foi rebatido pela secretaria de Saúde – dando conta da falta de insumos no Pronto-Socorro. Ela disse que decidiu fazer a visita “sem alarde”, de modo a verificar as reais condições do hospital.

 

“Fui até lá e vou confessar para vocês: eu fiquei muito mais chocada do que eu imaginei. Eu já vi muita cadeia mais limpa do que aquele Pronto Socorro Municipal. Fiquei 22 anos atuando como juíza criminal, já visitei cadeias de vários locais do País e vi muita cadeia mais limpa que o Pronto Socorro. Mais limpa e mais cheirosa”, disparou Selma.

 

A visita, segundo ela, foi acompanhada pelo promotor de Justiça que atua na área da saúde, Alexandre Guedes, além de um auditor do Ministério da Saúde e um representante dos Sindicato dos Médicos (Sindimed-MT).

 

“Ferrugem está ao lado de paciente machucado. Em uma parte da UTI tem um ‘caldo marrom’ descendo de uma parede, sai de um esgoto, sabe Deus porque dentro da UTI. Paredes descascadas. Não tem um ambiente naquele Pronto-Socorro que você não veja mofo”, disse.

 

“Vi também falta de seringa, as luvas só tinham tamanho P que não cabia nem na minha mão. Fui em alguns departamentos, não havia remédio para dor, não tinha anticoagulante, o que é algo inimaginável dentro de um Pronto-Socorro”, acrescentou a senadora.

 

“Gambiarra”

 

Ao citar a falta de insumos, a juíza disse ainda ter visto uma espécie de “gambiarra” para driblar a ausência de medicamentos.

 

Ela citou como exemplo a existência de um remédio para dor que atende somente casos leves ou moderados. Este medicamento é dado para o paciente que tem uma dor mais forte e, para que ele não fique gritando de dor, lhe aplicam um medicamento para dormir.

 

Aquela sala vermelha mais parece um campo de concentração de guerra. Corredor lotado. Diria a vocês que falta humanidade ali

“É assim que estão sendo tratados pacientes na UTI do Pronto Socorro. Aquela sala vermelha mais parece um campo de concentração de guerra. Corredor lotado. Eu fotografei. Diria a vocês que falta humanidade ali”, disse ela, que explicou se fazia alusão ao slogan do prefeito Emanuel Pinheiro (MDB), que diz ter uma “Gestão Humanizada”.

 

“Vi um senhor na recepção fedendo porque ele tinha que amputar o pé e não tinha a serra para fazer cirurgia. Ele está apodrecendo. E quando você chega pra fiscalizar, de repente, aquele paciente some dali. Engraçado, né?.Aquilo é desumano. Pessoas ali estão sendo tratadas pior que bicho”, afirmou Selma.

 

Auditoria

 

Aos vereadores, a senadora afirmou que se reunirá ainda nesta semana com o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, solicitando uma auditoria do Ministério da Saúde na unidade.

 

“O povo não tem voz para lutar contra isso. Quando a gente tem um parente doente, você fica suscetível, fica à mercê daquilo, fica impotente. Morreu, você vai pra casa, você chora, amanhã é vida que segue. Isso não pode continuar. A gente precisa desde já ter muita responsabilidade e atitude contra esse descaso que é a saúde pública”, disse.

 

“Estou voltando a Brasília hoje e devo essa semana estar em reunião com ministro da Saúde, vou relatar esses problemas e vou requisitar uma auditoria oficial do Ministério”, concluiu.

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COMENTÁRIOS
13 Comentário(s).

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Edson  22.05.19 11h21
Esse papel e dos vereadores,mas infelizmente tem que vir a nossa nobre senadora e fiscalizar isso
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Luiz  21.05.19 13h03
Imagino que a senadora filmou ou fotografou esse caos para sustentar seu relato. Caso contrário o relato não se sustenta.
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Andreia  21.05.19 12h37
Todo ano a mesma coisa mas ninguém muda a situação. Serve de campanha! O P.S de Cuiabá é assim desde que cheguei em Cuiabá e isso já faz muito tempo. Vamos ver se essa senhora vai mesmo fazer algo.
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Luiz Fernando Jorge da Cunha  20.05.19 16h33
Em sendo verdade, e acredito que uma ex juíza não iria fazer umas declarações desse nível se não fosse verdade, essa situação tem quer devidamente investigada e apurada. Falta de recursos é uma coisa, agora o que ela cita na referida reportagem não se deve apenas a falta de recursos, mas no mínimo falta de vergonha na cara de quem administra.
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daniel antonio de oliveira carneiro  20.05.19 16h10
É muito forte e chocante este depoimento da senadora relatando a situação desta criança de 7 meses no inicio da reportagem, é triste, cruel e desumano a situação do pronto socorro... Parabéns a senadora.
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