As acusações mútuas de compra de votos, na véspera da eleição em Cuiabá, foram apenas o capítulo final de uma disputa marcada por agressões verbais, ataques e guerra de liminares.
Na corrida pelo Alencastro, Emanuel Pinheiro (PMDB) e Wilson Santos (PSDB) travaram uma verdadeira batalha judicial com inúmeras representações na Justiça Eleitoral, acusação de coação de servidores públicos e denúncia de um suposto esquema de pagamento de propina.
A maioria das representações judiciais resultou na suspensão dos programas em bloco e das inserções da propaganda eleitoral de ambos os candidatos, no rádio e na TV.
Em diversos momentos, no lugar do programa era exibida uma tela azul com a informação de que o espaço reservado à coligação havia sido suspenso por ordem da Justiça Eleitoral.
Coação de servidores
Os principais momentos da campanha deste segundo turno foram vivenciados pelos candidatos nos últimos dias.
O primeiro deles foi a divulgação de um áudio em que Elias Santos, irmão de Wilson Santos, aparece coagindo servidores da Metamat.
No áudio, de quase 50 segundos, divulgado no dia 19 de outubro, por Emanuel Pinheiro, Elias convoca os servidores comissionados da autarquia para uma reunião política, sob pena de exoneração.
“O governador Pedro Taques convocou todos os cargos comissionados para uma reunião às 20 horas e 30 minutos no Hotel Fazenda Mato Grosso. Todos, sem exceção. Aquele que não for será exonerado no outro dia. Eu não estou com brincadeira, aquele que não for será exonerado. Desculpa falar desta forma. Todos os cargos comissionados têm que estar hoje”.
A assessoria jurídica de Emanuel Pinheiro enviou o áudio ao Ministério Público Eleitoral e pediu que o órgão abra uma investigação por improbidade administrativa contra Elias e Pedro Taques.
Em um primeiro momento, Wilson chegou a duvidar que a voz do áudio fosse realmente de Elias Santos. Depois, o tucano admitiu que a voz era de fato do irmão e justificou o ato dizendo que ele “agiu com o coração”.
No mesmo dia em que o áudio foi divulgado, o governador Pedro Taques exonerou Elias Santos da presidência da Metamat.
Caso “Caramuru”
Outro áudio revelador que repercutiu fortemente nos últimos dias da campanha foi a conversa mantida entre Wilson Santos e os empresários Marco Polo Pinheiro, conhecido como Popó, e Bárbara Pinheiro, irmão e cunhada de Emanuel Pinheiro (PMDB).
Reprodução
A empresa Caramuru Alimentos foi acusada de pagar propina para receber incentivos fiscais; o dinheiro teria sido pago à Marco Polo Pinheiro e Bárbara Pinheiro (no detalhe)
A gravação da conversa teria sido feita pelo próprio tucano, que disse ter sido procurado, de surpresa, pelos empresários em seu apartamento no dia 24 de setembro, pedindo que ele não explorasse em sua campanha um esquema envolvendo uma suposta propina de R$ 4 milhões destinada a Emanuel. O dinheiro seria oriundo de uma transação com a empresa Caramuru Alimentos, com sede em Itumbiara (GO).
Um mês depois, durante debate na TV Record, Wilson trouxe o fato à tona e, no dia seguinte entregou um dossiê à Delegacia Fazendária, com um pedido de investigação sobre o suposto esquema, que também teria a participação da irmã da cunhada de Emanuel, Fabíola Cássia de Noronha Sampaio.
Em contrapartida, Emanuel acusou Wilson Santos de ter usado “trucagens” e adulterado tal áudio, fazendo uma “montagem grosseira” trocando uma palavra por outra.
O peemedebista afirmou que o adversário degravou o trecho da conversa de Bárbara da seguinte forma: “O que deram pra gente até hoje é....4 milhões de reais. Fiz a operação e a Fabiola recebeu 2 milhões de reais. Fabiola ficou com o dinheiro dela e o que era meu paguei as contas da cozinha [industrial, montada na Construtora Aurora]”.
No entanto, Emanuel afirmou que a frase correta é: “A Aurora deve pra gente até hoje é....4 milhões de reais”.
Emanuel negou qualquer envolvimento com o caso.
“Calamidade na saúde”
Um dos entraves que marcaram a campanha foi feita por Emanuel Pinheiro, que criticou a gestão de seu adversário na área da Saúde, quando o tucano foi gestor municipal, entre os anos de 2005 e 2010.
Durante exibição de um dos programas eleitorais do peemedebista, no dia 11 de outubro, dois médicos da Capital deram depoimentos afirmando que, quando comandou a Prefeitura, Wilson deixou a Saúde pública no “fundo do poço”.
“Em 2009, a Saúde Pública, como um todo, foi para o fundo do poço. Na época o prefeito era Wilson Santos. O Pronto-Socorro estava, realmente, em situações desumanas”, dizia um dos médicos.
Na época, Wilson Santos estava a frente da Prefeitura de Cuiabá exercendo seu primeiro ano de segundo mandato e enfrentou uma longa greve dos médicos, que dificultou o regular andamento dos serviços nas unidades públicas de saúde.
Chico Galindo e a CAB
O ex-prefeito Chico Galindo também foi “tema” abordado diversas vezes no período eleitoral. Galindo é apontado como um dos mais importantes coordenadores da campanha de Emanuel Pinheiro.
Galindo também foi responsável por viabilizar a doação de R$ 507 mil do PTB para a campanha de Emanuel.
Mesmo assim, oficialmente, Emanuel negou a influência do ex-prefeito, que trouxe a CAB para Cuiabá durante sua gestão.
“O apoio do ex-prefeito Galindo é o apoio dele como cidadão. Se o Galindo quer votar em Emanuel Pinheiro, é um direito dele, e ele está acompanhado de mais de quase 100 mil pessoas”, afirmou o peemedebista.
Ao discutir o assunto com seu adversário, Emanuel chegou a chamar Wilson de “pai da CAB e do Galindo” e disse que o tucano agora queria “deserdar o filho”.
Ao negar a influência e participação de Galindo em sua campanha, Emanuel tenta não ser contaminado com a rejeição pública do ex-prefeito.
Além de ter trazido a CAB para gerenciar os serviços de água e esgoto da Capital, causando revolta na população pelos péssimos serviços, Galindo lançou programas superficiais, como o Poeira Zero, orçado em quase R$ 300 milhões, e que fez o asfalto conhecido como "casca de ovo" em diversos bairros de Cuiabá.
Caso Rodoanel
Ednilson Aguiar/Midia News
Os candidatos a prefeito em Cuiabá, Wilson Santos (à esquerda) e Emanuel Pinheiro (à direita)
Em debate realizado pela TV Record, no dia 23 de outubro, Emanuel citou que o prefeito Mauro Mendes foi intimado a devolver a quantia de R$ 1 milhão por conta de recursos do Rodoanel.
De acordo com Emanuel, o atual prefeito teve de assumir uma dívida que era do tucano.
“Por se tratar de TCU, é natural que se cobre do município para depois abrir ação até criminal contra antigo gestor. Depois de 7 anos longe da Prefeitura, Wilson continua dando prejuízo a Cuiabá”, afirmou Emanuel Pinheiro.
Para rebater o peemedebista, Wilson contra-atacou questionando sobre outro assunto fortemente abordado nesta campanha: o Fundo de Assistência Parlamentar (FAP) recebido por Emanuel.
“Quem tem dado prejuízo a população é seu FAP. Você pagou R$ 580 mil e se chegar aos 85 anos, você terá recebido R$ 15 milhões, com 100% de dinheiro público. Quem tem lesado erário é Emanuel. Eu denunciei o FAP”, disse Wilson.
Em outros momentos da campanha, Emanuel ressaltou que o benefício é legal e que contribuiu para recebê-lo. Atualmente o valor recebido pelo peemedebista já somaria R$ 4 milhões.
FAP
O FAP foi um dos principais temas levantados por Wilson Santos, durante os dois turnos da campanha. O tucano chegou a dizer que o benefício, mesmo sendo legal, é imoral.
Emanuel recebe do fundo, mensalmente, R$ 25 mil, desde os 30 anos de idade.
Em resposta as acusações de “imoralidade” apontadas por Wilson, o peemedebista sempre citou o nome de outros políticos que são beneficiados pelo FAP, mencionando, inclusive, Dante de Oliveira, que dá nome à coligação tucana.
“Eu não recebo aposentadoria, recebo previdência. Paguei por ela, fiz justiça a ela, de uma lei que existia à época, que não foi eu que criei, como tenta valer meu adversário. Eu fiz jus, assim como Roberto França e, pasmem, Dante de Oliveira, que recebe o nome da coligação do meu adversário. Mas recebeu porque também contribuiu”.
Compra de votos
Neste sábado, os ataques começaram pela manhã, quando Emanuel Pinheiro convocou uma entrevista coletiva para revelar a existência de um pedido de cassação de registro de Wilson pela acusação de compra de votos. A ação foi resultante de uma denúncia e investigação da Polícia Federal, que contou até mesmo com um agente infiltrado.
À tarde, foi a vez de Wilson acusar o adversário de simular a contratação de cabos eleitorais para, na verdade, comprar votos. A denúncia foi feita por um suposto cabo eleitoral contratado no primeiro urno. Uma queixa-crime foi protocolada na Justiça Eleitoral de Cuiabá.
Leia mais e relembre o 2º turno da campanha para prefeito em Cuiabá:
Candidatos a prefeito fazem "guerra" de representações na Justiça
Debate na TV é marcado por clima quente e troca de acusações
Programa de Emanuel culpa Wilson por "calamidade" na saúde
WS liga Emanuel a Silval; peemedebista: tucano é "pai da CAB"
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WS chama Emanuel de estagiário; adversário rebate: “arrogante”
Irmão de Wilson teria ameaçado servidores; Governo o exonera
Wilson: cunhada e irmão de Emanuel admitiram receber propina
1 Comentário(s).
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diego 30.10.16 09h40 | ||||
SEGUNDO TURNO; CAMPANHA POBRE EM PROPOSTAS, RICA EM DENÚNCIAS (VERGONHOSO)SAUDADES DO MAURO MENDES. | ||||
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