Foi Elias Santos, irmão do candidato a prefeito de Cuiabá Wilson Santos (PSDB), quem gravou a conversa da empresária Bárbara Pinheiro e seu marido, Marco Polo Pinheiro, cunhada e irmão de Emanuel Pinheiro (PMDB), em que eles falam de recebimento de dinheiro, supostamente fruto de um esquema de propina, feito em 2014 com a empresa Caramuru Alimentos, em troca de incentivos fiscais, ainda na gestão de Silval Barbosa (PMDB).
A conversa, ocorrida na noite de 24 de setembro passada, foi gravada na sala do apartamento de Wilson, localizado no 13º andar do edifício Ravena Park, no bairro Duque de Caxias, em Cuiabá.
Na ocasião, por volta das 21 horas, Marco Polo Pinheiro, conhecido como Popó, ligou para o celular de Wilson Santos. Quem atendeu foi Elias. Popó disse que precisaria falar urgente com seu irmão, e que estariam indo para o edifício.
Poucos minutos depois, marido e mulher chegaram ao Ravena Park e interfonaram para o apartamento do tucano. Como havia acabado de chegar de compromissos de campanha, Wilson pediu para que o irmão atendesse o casal, na portaria do prédio.
Ao descer, Elias encontrou os dois aparentemente nervosos, e Bárbara chorando. Eles relataram que precisavam pedir para Wilson não usar o assunto em seu programa eleitoral de TV.
Então, Elias subiu de novo ao apartamento e disse a Wilson que a coisa parecia ser grave. E que seria melhor ele atendê-los.
Wilson desconfiou da presença dos dois, e pensou até mesmo que se tratava de alguma "armação", já que achou estranha a presença do irmão e da cunhada de seu adversário, a uma hora daquelas e sem avisar.
Wilson pediu então que Elias descesse enquanto ele iria tomar um rápido banho. Antes de descer, Elias colocou um celular na cueca, na parte da frente da calça e tomou o elevador.
Durante uns dez minutos, os três ficaram conversando no hall do edifício e, em seguida, subiram.
Reprodução
Os empresários Marco Polo Pinheiro e Bárbara Pinheiro:
Choro e medo
Após se acomodarem na sala do tucano, e antes de começarem a falar, o casal se mostrou preocupado diante da possibilidade da conversa ser gravada.
Popó teria até mesmo perguntado: "Ninguém está gravando, né? Não vão sacanear...". Todos disseram que a conversa não seria gravada, e até teriam, em seguida, colocado seus celulares sobre uma mesa.
Durante os cerca de trinta minutos seguintes, Bárbara falou sobre o recebimento de dinheiro, supostamente de uma consultoria para que a Caramuru Alimentos recebesse benefícios fiscais do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Indústria e Comércio, na ocasião sob comando de Allan Zanata (PMDB).
O irmão de Emanuel praticamente não falou durante o tempo em que parmaneceram no apartamento.
Em pelo menos duas vezes, Bárbara chorou na reunião. Em um dos trechos, ela demonstrou preocupação com os desdobramentos do caso.
"Eu falei pro Popó, eu só não fui embora ainda (de Cuiabá) porque eu não posso deixar a minha mãe. Mas eu quero ir embora. Eu não quero ser presa. Eu tô com medo. Eu tô com medo, eu juro por Deus, eu tô com muito medo”, disse (veja transcrição e áudio abaixo).
No diálogo, a empresária disse que possuía uma cozinha industrial em Várzea Grande que atendia funcionários de empreiteiras. Segundo ela, em 2014, o governo federal começou a atrasar pagamentos a essas construtoras, que, consequentemente, começaram a atrasar pagamentos a ela.
“Alguns cheques foram sustados. Enfim, agora [o prejuízo] deve estar em torno de R$ 4 milhões”, disse. Uma dessas empresas foi a Aurora Construtora, que também "quebrou", segundo ela.
Diante da possível falência, a empresária disse que foi, junto de seu esposo, Marco Polo Pinheiro, conhecido como Popó, à Secretaria de Estado de Indústria e Comércio para conseguir acelerar o processo de enquadramento da empresa Caramuru Alimentos no programa de incentivos fiscais. Segundo as informações, a empresa tentava obter os benefícios desde 2011.
“Fui lá na secretaria, marquei. Eles foram e fizeram reunião. Uma reunião eu fui junto, nas outras eu não fui. Não é nada ilegal. O que eu consegui lá dentro muitas empresas já fizeram isso”, afirmou.
Segundo o relato de Bárbara Pinheiro, após a ajuda dela para enquadrar a Caramuru nos incentivos, a empresa cobriu parte do prejuízo que ela tinha em suas empresas.
“Fiz a operação e a Fabíola [de Cássia Noronha, irmã de Bárbara] recebeu R$ 2 milhões. Aí, era para fazer pelo escritório dela, só que o escritório dela não é simples. Daí, ela queria que eu mandasse pros escritórios (...) Dei pros escritórios e eles pagaram. Fabíola ficou com o dinheiro dela, e o que era meu paguei as contas da cozinha”, disse (veja outros trechos da conversa abaixo).
Elias não teria avisado sobre a gravação
Segundo apurou a reportagem, Elias Santos, após o término da conversa, não teria avisado ao irmão que havia gravado a conversa.
O candidato e a cúpula de sua campanha só teriam ficado sabendo da gravação, e de sua gravidade, após o programa eleitoral de Emanuel Pinheiro usar outro áudio, em que Elias Santos ameaça demitir servidores da Metamat caso eles não comparececem a uma reunião, no último dia 20 de outubro, com secretários de Estado e o governador Pedro Taques (PSDB), no hotel Fazenda Mato Grosso.
Diante da repercussão negativa das ameaças de Elias, a cúpula tucana decidiu contra-atacar, e trouxe o assunto a público, por meio de uma denúncia formal feita na Delegacia Fazendária, no última segunda-feira (24).
Ouça o áudio abaixo:
Veja a transcrição da conversa:
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8 Comentário(s).
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SANDRO 27.10.16 09h10 | ||||
JAMAIS CONFIE EM WILSON!, essa é a melhor definição dessa reportagem. | ||||
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maysa 27.10.16 08h59 | ||||
Acho que o tiro saiu pela culátra! | ||||
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CRIS 27.10.16 08h34 | ||||
História mais sem pé e nem cabeça, nada com nada. Irmão e cunhada de Emanuel procurar Wilson Santos? | ||||
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Osvaldo 26.10.16 23h46 |
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Maria Auxiliadora 26.10.16 19h02 |
Maria Auxiliadora, seu comentário foi vetado por conter expressões agressivas, ofensas e/ou denúncias sem provas |