LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
Comerciantes que possuem lojas no Centro Histórico de Cuiabá podem começar a abrir as portas também aos domingos. A proposta é de que a ação seja uma forma de revitalizar a região, que carece de investimentos do poder público, e também de atender parte da população, que, por falta de tempo, acaba não frequentando o local.
A ideia, que está sendo discutida por empresários e pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) da Capital, agrada aos moradores da região, que veem na oportunidade uma forma de movimentar o centro e aumentar a segurança, uma vez que o local fica completamente abandonado, durante os fins de semana e feriados.
Lislaine dos Anjos/MidiaNews
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Praça da República: feiras gastronômicas e culturais para atrair a população
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Atualmente, andar pelo Centrão, em dias em que o comércio fecha as portas, tornou-se uma aventura perigosa. O local virou refúgio de usuários de drogas e os casarões abandonados, que tanto remetem à arquitetura colonial, são alvos constantes de pichação e depredação.
Caso a ideia se concretize, a região do Centro Histórico poderá se tornar mais uma opção de lazer, aos domingos, para as famílias cuiabanas. Isso porque, para atrair a população, o movimento pretende manter os restaurantes abertos e também realizar feiras gastronômicas e culturais, nas três praças da região: Ipiranga, República e Alencastro.
Além disso, a ideia contempla buscar, junto ao sistema de transporte público da Capital, a redução de 50% na tarifa de ônibus, chamada de “tarifa social”, que hoje é de R$ 1,35.
De acordo com o presidente da Associação dos Comerciantes do Centro Histórico de Cuiabá, Paulo Salem, os cuiabanos precisam retomar o costume de frequentar o Centro e, para isso, é necessário que lhes sejam ofertados algo mais, além do comércio puro e simples, como música, artesanato e entretenimento em geral.
“Começamos essa conversa nesta semana, mas a ideia já é um desejo nosso antigo, que estamos discutindo há três anos. Queremos transformar o domingo em um dia comum. Grandes redes já aderiram a essa ideia e deu certo. Só o ‘miolinho’ do Centro que não funciona aos domingos”, disse Salem, em entrevista ao MidiaNews, na sexta-feira (26).
Salem afirmou que o projeto já está certo e será implantado, mas faltam acertar alguns pontos com os comerciantes locais e funcionários das lojas.
“Inicialmente, pretendemos funcionar aos domingos, das 8h às 13h, durante uns dois meses seguidos, como forma de teste”, afirmou.
O presidente da associação acredita que a experiência será positiva e, para tanto, argumenta que as lojas localizadas nos grandes bairros da Capital, como CPA e Pedra 90, já abrem as portas aos domingos e possuem uma movimentação considerável.
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Comércio funcionaria das 8h às 13h, durante a fase de teste
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“Quase 80% das lojas de bairro já fazem isso e já tem o domingo como o melhor dia para vendas. No Centro, o sábado é o melhor dia, mas acredito que, dentro de seis meses, o domingo se tornaria o dia mais lucrativo, sem dúvidas”, garantiu.
O expediente no centro também daria oportunidade à população para fazer suas compras com qualidade, tendo mais opções de lojas, não se restringindo aos shoppings da Capital.
Alguns empresários, como é o caso de Junior Vidotti, da loja Moda Verão, avaliam a iniciativa como rentável e com possibilidade de expansão.
“No bairro Pedra 90, já abrimos nesse dia e ele representa o nosso segundo melhor dia de movimento”, afirmou.
A ideia também agrada a João Firmino, de 64 anos, que todas as manhãs vai ao Centro para tomar seu café da manhã e rever os amigos. Ele disse que aprova a mudança e está ansioso para ver os calçadões movimentados, outra vez.
“Você anda por aqui, no fim de semana, no feriado, e não tem ninguém, nada aberto. É triste isso. Eu espero poder tomar meus cafés aos domingos, aqui também”, disse, animado.
Uma reunião para definir mais critérios e implementar o projeto junto à totalidade dos comerciantes da região foi marcada para a próxima quarta-feira (30), às 8h30, na CDL.
Na ocasião, representantes do setor de Segurança Pública deverão participar também, segundo Paulo Salem. Eles serão convidados a implantar medidas para aumentar a segurança no local, tratando o domingo como um dia comum da semana.
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Calçadão da Ricardo Franco: movimento já estava fraco na manhã de sábado
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Geração de emprego e rendaA CDL acredita que o projeto poderá aumentar, consideravelmente, o índice de geração de emprego e renda na região. Segundo o diretor da CDL Cuiabá, Sérgio Rotini, os funcionários serão ouvidos e informados da proposta e as leis trabalhistas serão respeitadas.
Dessa forma, os funcionários que fizerem expediente aos domingos poderão contar com um dia de folga durante a semana. Além disso, a cada dois domingos trabalhados, o empregado contaria com um domingo de folga.
A diretora da CDL, Maria Cândida Camargo, argumentou que a oportunidade de aumento nos lucros, por parte dos empresários, é uma justificativa forte para que os comerciantes façam sua adesão à proposta, além da chance de revitalização do Centro.
“Abrir aos domingos é ainda a possibilidade de recuperar o que perdemos durante os feriadões, quando ainda não se conseguiu mobilizar a abertura de grande parte das lojas”, afirmou a diretora.
Resistência
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André Luiz desaprova a abertura do comércio aos domingos: "é dia de descanso"
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Apesar dos grandes lojistas serem apontados como apreciadores do projeto, a iniciativa não é bem vista pelos pequenos comerciantes.
André Luiz Oliveira, 45, já trabalha no Centro Histórico desde os oito anos de idade e reclama que a abertura aos domingos irá apenas gerar prejuízo e falta de convivência familiar, não rendendo vendas suficientes para cobrir os custos da abertura da sua loja, localizada no Calçadão da Galdino Pimentel.
“O pequeno comerciante já é esmagado, quase não tem espaço. Eles só querem fazer isso para arrecadar mais dinheiro. Não bastam todos os impostos que a gente já paga? O público não justifica a abertura das portas. Desse jeito, nós viramos escravos do comércio”, reclamou.
Sobre a proposta de realização de feiras nas praças para atrair a população, Oliveira discorda.
“Aqui não é lugar de passear, é lugar de trabalhar. Fim de semana é dia de descanso, não de fazer compras. Eu não vou deixar de viver e descansar com minha família no domingo”, afirmou, acrescentando que muitos colegas devem oferecer resistência à implantação do projeto.
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Adelar Schrader acredita que a iniciativa é arriscada e nem todos devem aprovar a medida
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Apesar de também ser contrário à ideia, o comerciante Adelar Schrader, 48, acredita que a iniciativa pode até ser rentável, a longo prazo, mas que se torna uma aposta arriscada que nem todos os empresários podem abraçar.
“É uma aposta de dinheiro alto e a maioria vai achar muito arriscado. Hoje, abrir as portas em dia de feriado já mostrou que não compensa. O teste já foi feito e acredito que a maioria não vai querer”, afirmou.
Schrader trabalha no Centro Histórico desde 1998 e afirmou que, para os comerciantes pequenos, a proposta não é viável.
“Os comerciantes pequenos não conseguiriam lucrar tanto assim... não seria suficiente para cobrir as despesas”, disse.
ReclamaçõesComerciantes reclamaram ao
MidiaNews que, antes de a proposta ser implantada, precisaria haver uma diminuição dos impostos cobrados para que eles funcionem no Centro Histórico, como uma forma de incentivo à adesão da ideia.
Além disso, eles reclamam do abandono do poder público em coisas simples, como conserto de bancos localizados nos calçadões, a instalação de lixeiras – que hoje são caixas de papelão improvisadas pelos pequenos empresários na porta das lojas – e também o fechamento adequado dos bueiros que, por exalarem um forte mau cheiro, são tampados diariamente por pedaços de papelão.
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