LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
Falta de segurança, lixo, emaranhado de fios nas fachadas dos casarões e dependentes químicos escondidos em imóveis abandonados.
Esse é o retrato atual do Centro Histórico de Cuiabá, imagem que a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), em parceria com entidades sindicais e comerciantes da região, tenta mudar, por meio de projetos que visem à revitalização do local.
Em entrevista ao
MidiaNews, a diretora da CDL, Maria Cândida Camargo, afirmou que projetos para transformação do Centro Histórico em um “shopping a céu aberto” e a realização de feiras gastronômicas já foram apresentados, mas faltam parcerias e uma atuação do Poder Público para garantir que o sonho de recuperação da área saia do papel.
“Município e Estado precisam impor, não pedir. Eles precisam fazer uma exigência às empresas para que apoiem a causa, seja por normativa ou por lei. Eles acham que o que eles já fizeram está bom, que foi a troca do calçadão, que ainda assim não foi completa. Acho que é um descaso”, afirmou.
A diretora acredita que é necessário que alguma secretaria de Governo assuma a frente de criar um projeto de revitalização de todo o Centro Histórico, garantindo a limpeza, segurança e manutenção da região.
Lislaine dos Anjos/MidiaNews
|
 |
Cândida aponta falta de atuação do poder público na recuperação do Centro Histórico
|
Camargo ressaltou que um dos projetos que a CDL possui hoje trata do rebaixamento dos fios da rede elétrica e de telefonia, a exemplo do que já foi feito em centros históricos de outras cidades do país e, em Cuiabá, na Praça Bispo Dom José.
A ideia é limpar as fachadas das lojas e casarões, melhorando o visual da região.
“Nós pretendemos que seja feito o rebaixamento desses fios, que é um dos fatores principais para o visual do Centro Histórico. Existe um projeto para isso e o visual dá uma diferença enorme. Do jeito que está, você mal enxerga os casarões”, afirmou.
Ela acredita que a aplicação do projeto seria o “pontapé inicial” para os gestores municipais e estaduais auxiliarem na recuperação do local. Conforme o estudo, o custo para fazer o rebaixamento dos fios de toda a região do Centro Histórico giraria em torno de R$ 35 milhões.
“Esse valor pode ser até menor, se for feito da mesma foram como foi feito na Praça Bispo Dom José. Na época, era para ser feito o rebaixamento em todo o Centro Histórico, mas parou por ali. Sempre tem algo que atrapalha a liberação de verbas por parte do Município e o projeto nunca tem continuidade”, reclamou.
VantagensCaso a revitalização do Centro Histórico seja feita, uma das principais vantagens apontadas pelos moradores locais é o aumento da movimentação e da segurança da região.
Uma das ideias, já encaminhada pela CDL e pela Associação dos Comerciantes do Centro Histórico de Cuiabá, é a de fazer o comércio funcionar aos domingos e feriados, tornando-se mais uma opção de compra e também de lazer para as famílias cuiabanas, com a oferta de feiras artesanais e gastronômicas nas três praças da região: Ipiranga, República e Alencastro - Clique
AQUI.
Resistência
Lislaine dos Anjos/MidiaNews
|
 |
Centro fica praticamente abandonado durante os finais de semana
|
Para a diretora da CDL, a resistência inicial apresentada pelos pequenos e micros comerciantes à ideia de funcionar em horário estendido se trata apenas de um “retardamento ao acontecimento”.
“Os shoppings já funcionam desse jeito, as lojas de bairro também. Então, isso é um acontecimento natural. Se nós trabalharmos na revitalização, teremos que estender a nossa jornada de trabalho para os domingos, abrir até às 20h nos dias de semana. Sempre há resistência para o novo. Mas, quando passar a ser implantado, isso será corrigido”, afirmou.
Segundo ela, apesar do temor pelo prejuízo que o funcionamento em horário além do comercial poderia resultar, os pequenos empresários precisam apostar em mudanças, assim como já fazem as grandes lojas da região, que fecham depois das 18h nos dias de semana e abrem aos domingos.
“Os pequenos comerciantes têm que acompanhar os grandes, que já abrem aos domingos, trabalham até mais tarde. Os pequenos acham que isso gera custo, mas, se todos abrirem, vai haver resultado, porque nós vamos investir em marketing, informar a sociedade do novo horário de funcionamento”, disse.
Camargo acredita que, caso o comércio e os restaurantes localizados no Centro Histórico funcionassem no período noturno, não faltaria público.
“Se o centro tivesse um movimento à noite, ele teria público. E olha quanto emprego e renda a extensão de horário e a revitalização traria... O Centro Histórico está fora do eixo”, pontuou.
Como exemplo, ela citou a revitalização pela qual o Cine Teatro de Cuiabá passou, voltando a sediar inúmeros eventos teatrais e musicais.
“As pessoas que vão ao Cine Teatro, depois que acaba o espetáculo, saem e precisam ir aoshopping ou à Praça Popular para comer, porque o Centro está fechado. Nós estamos perdendo toda essa clientela”, analisou.
Copa do Mundo
Lislaine dos Anjos/MidiaNews
|
 |
Falta de manutenção é uma dos principais problemas do Centro Histórico
|
Camargo ressaltou que a CDL e os comerciantes pretendem conversar com a Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo (Secopa), para tentar uma parceria na busca pela recuperação do Centro Histórico de Cuiabá.
“Queremos conversar com a Secopa, para saber se eles não podem nos ajudar. Porque tem que haver um trabalho mais extenso, focado na preservação. Fala-se muito em mobilidade urbana, parque para aos fãs (Fan Park), mas o principal, que é o Centro Histórico da Capital, está esquecido”, criticou.
Para a diretora da CDL, a cultura local está sendo lentamente esquecida e, dessa maneira, não há como os cuiabanos se preparam para recepcionar os turistas durante o Mundial de 2014.
“Como nós vamos preparar a recepção para os turistas que virão conhecer Cuiabá? Fala-se muito em preservação da cultura, mas, na execução, não existe”, completou.