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25.12.2025 | 11h00 Tamanho do texto A- A+

Estupro e feminicídio no campus da UFMT chocou cuiabanos

Criminoso já tinha abusado de pelo menos mais três vítimas; ele procurava mulheres vulneráveis

Victor Ostetti/MidiaNews

Estupro e feminicídio de Solange Aparecida Sobrinho, na UFMT, marcou o ano de 2025

Estupro e feminicídio de Solange Aparecida Sobrinho, na UFMT, marcou o ano de 2025

LARISSA AZEVEDO
DA REDAÇÃO

Um dos casos mais crueis registrados neste ano, em Mato Grosso, foi o estupro seguido de feminicídio de Solange Aparecida Sobrinho, de 52 anos, cometidos pelo reincidente Reyvan da Silva Carvalho, de 30, dentro de um prédio da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) de Cuiabá. 

 

Pelo histórico do boletim de ocorrência, ele pegava pessoas vulneráveis. A nossa vítima, Solange, tem esquizofrenia. A última vez, ele pegou uma grávida. Então, pegava mulheres indefesas

O corpo da vítima foi encontrado por uma funcionária da Universidade às 7h do dia 24 de julho, na antiga associação Master, área desativada do campus. O crime ocorreu entre 23h do dia 23 e 00h. 

 

Solange sofria esquizofrenia, de acordo com a Polícia Civil, o que a fazia uma vítima mais vulnerável, o tipo de alvo de Reyvan. 

 

O criminoso costumava agir contra mulheres em situação de vulnerabilidade social, e já estuprou pelo menos outras três vítimas, sendo que uma delas também foi morta por ele, e outra estava grávida.

 

Com a notícia do crime, estudantes e funcionários do campus ficaram assustados e com medo de circular pela universidade, principalmente na área em que o corpo foi encontrado, próximo à Casa do Estudante Universitário (CEU). 

 

Houve discussões sobre a falta de segurança no campus e a UFMT por conta deste e de outros casos de violência no campus. Na época, a Reitoria da instituição informou que estava sendo realizada uma parceria com o Programa Vigia Mais MT para monitorar o local, e que a segurança foi reforçada. 

 

Reyvan foi preso no dia 29 de agosto, andando pela Universidade, onde costumava procurar vítimas, segundo o delegado Bruno Abreu, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Cuiabá. 

 

"O lugar que ele frequentava bastante era a UFMT, segundo a mãe dele, que veio aqui na delegacia falar comigo. O reduto dele é a UFMT. Pelo histórico do boletim de ocorrência, ele pegava pessoas vulneráveis. A nossa vítima, Solange, tem esquizofrenia. A última vez, ele pegou uma grávida. Então, pegava mulheres indefesas", afirmou o delegado na época. 

 

Encontro do corpo

 

O corpo de Solange Aparecida Sobrinho foi encontrado seminu, apenas com sutiã, e apresentava marcas evidentes de esganadura no pescoço, que estava bastante inchado.

 

Ainda na manhã do dia 24 o delegado Bruno Abreu afirmou que ela poderia ter sido estuprada, pois havia sinais de relações sexuais. No momento, Solange não portava documentos, e não havia tatuagens que facilitassem sua identificação inicial.

 

Mais tarde, o laudo pericial confirmou sua identidade e que a morte ocorreu por asfixia decorrente de estrangulamento. A família relatou que Solange não era usuária de drogas e frequentava tanto a UFMT quanto o Univag, embora não fosse aluna ou funcionária das instituições. 

 

Pistas em câmeras de segurança

 

As investigações também se apoiaram na análise de imagens de câmeras de segurança, que registraram os últimos passos de Solange dentro e fora do campus. 

MidiaNews

solange Aparecida Sobrinho

Solange caminhando para o local em que seria estuprada e morta

Um vídeo mostra ela saindo de casa, em Várzea Grande, às 13h do dia 23 de julho, usando blusa vermelha, bermuda jeans, bandana clara e carregando uma bolsa estampada, que não foi encontrada no local do crime.

 

Dentro da UFMT, novas imagens captaram Solange caminhando sozinha às 16h, passando próxima à cafeteria da Faculdade de Engenharia (Faeng). Sete minutos depois, ela aparece novamente, seguindo pela passagem de terra em direção ao prédio abandonado onde seu corpo foi encontrado. 

 

A mesma câmera flagrou Reyvan passando pelo mesmo local que a vítima, às 14h30. 

 

Durante as investigações, a Polícia descobriu ainda que uma câmera instalada exatamente na posição que mostraria o ato estava quebrada há anos, desde a gestão anterior da Universidade. Isso prejudicou a reconstituição completa do trajeto e da dinâmica do crime.

 

Além do crime cometido contra Solange, outro episódio de violência dentro da UFMT ocorreu: uma estudante registrou boletim de ocorrência após ser agarrada por um homem na manhã do dia 28 de julho, aumentando ainda mais o clima de insegurança.

 

Resultados de DNA 

 

O laudo da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec) confirmou que Solange foi estuprada antes de ser assassinada. Exames laboratoriais identificaram a presença de sêmen nas cavidades vaginal e anal da vítima. 

 

A extração do DNA permitiu que o perfil genético fosse comparado dentro do Banco Nacional de Perfis Genéticos.

 

O material coletado no corpo de Solange coincidiu com DNA encontrado em uma bituca de cigarro recolhida na cena. Em seguida, o perfil foi confrontado com amostras de seis suspeitos apontados pela Polícia Civil, todos negativos.

 

Após a inclusão no banco de dados, o DNA do caso foi relacionado a outros três registros anteriores: um estupro seguido de feminicídio em 2020, no Parque Ohara, e dois estupros ocorridos em 2021, contra uma grávida de seis meses, e 2022, nos bairros Tijucal e Jardim Leblon. 

 

Com isso, as investigações levaram a Reyvan, que havia sido preso anteriormente por um dos estupros.

 

A perícia confirmou também que Solange lutou antes de morrer, o que deixou o material genético dele em suas unhas. “Provavelmente, no momento em que ela tentou agarrá-lo para se livrar do ato, ele acabou deixando fragmentos sob suas unhas”, explicou Abreu

 

Solange também apresentava lesões nas costas, joelhos e um galo na cabeça, reforçando a conclusão de que houve resistência.

 

Negativas e indiciamento

 

Reprodução

Reyvan

Reyvan da Silva Carvalho negou o crime

Reyvan foi preso dentro da UFMT em 29 de agosto, andando pelo campus, área que frequentava com frequência. Ao ser conduzido à Delegacia de Homicídios, ele chorou e negou repetidamente qualquer envolvimento. “Eu não fiz nada, não sei nem porque fui preso”, disse. 

 

Mesmo diante das negativas, o delegado destacou que a prova de DNA encontrada no sêmen, nas unhas da vítima e na bituca de cigarro era “irrefutável”. 

 

“Ele vai negar, acho que porque não entende a prova que nós temos. Prova de DNA é irrefutável e não se discute. Graças ao empenho da Politec (Perícia Oficial e Identificação Técnica) descobrimos o autor desse estupro seguido de morte”, afirmou.

 

Segundo a Polícia, na data da prisão, estava no campus possivelmente em busca de uma nova vítima. 

 

Absolvição de inocente 

 

O Tribunal do Júri de Cuiabá absolveu, em 23 de setembro, Julho César Correa da Silva, por um estupro seguido de feminicídio em 2020. Após a coleta de dados, Reyvan foi identificado como autor dos crimes. 

 

Ele foi, inclusive, uma testemunha essencial para a prisão de Julho, durante as investigações. 

 

"Além do mais, a testemunha Reyvan da Silva Carvalho, ao ser interrogada durante o processo policial (conforme consta nas páginas 89 a 92 do arquivo físico, equivalente às páginas 10 a 13 no documento identificado como 49002549), afirmou que, além do acusado Julho César Correa da Silva, conhecido como "Peba", "Boquinha" ou "Maike", não há outros suspeitos", consta em trecho do processo.

 

Julho ficou preso por dois anos e seis meses, após ser detido em junho de 2021. Ele só deixou a cadeia em janeiro de 2024, mediante medidas cautelares. 

 

A absolvição reconheceu que ele não teve participação na morte da vítima.

 

Reforço na UFMT

 

A assessoria da UFMT afirmou ao MidiaNews que as medidas de segurança no ampus estão sendo reforçadas, principalmente com a cooperação com o Programa Vigia Mais MT. Foram instaladas 66 câmeras de longo alcance e os equipamentos já existentes estão em manutenção e adequação. 

 

A instituição também reforça a segurança por outros meios. "Além da modernização tecnológica, a UFMT avança em ações estruturais e operacionais, como a requalificação de alambrados, o reforço no controle de acesso e o treinamento de vigilantes terceirizados e servidores que atuam na segurança do câmpus. A Universidade também mantém parceria com a Polícia Comunitária e a Polícia de Proximidade, fortalecendo a presença e o diálogo com a comunidade acadêmica. Todas essas medidas têm como objetivo elevar a sensação de segurança e proteger estudantes, técnicos, docentes e demais usuários do espaço universitário", disse, em nota. 

 

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