Cuiabá, Domingo, 12 de Outubro de 2025
EQUILÍBRIO ESTÉTICO; VÍDEOS
12.10.2025 | 11h30 Tamanho do texto A- A+

"Houve show de horrores; as pessoas não querem mais isso"

Dermatologista defende envelhecimento natural, não critica cosméticos baratos e dá dicas de skincare

Victor Ostetti/MidiaNews

A médica dermatologista Cíntia Procópio, que defendeu “envelhecimento natural”

A médica dermatologista Cíntia Procópio, que defendeu “envelhecimento natural”

CÍNTIA BORGES
DA REDAÇÃO

Os exageros da estética deram lugar a uma nova tendência: o retorno ao natural. Em entrevista ao MidiaNews, a dermatologista Cíntia Procópio afirmou que, após uma fase marcada por rostos esticados e expressões congeladas, muitas pessoas começaram a rever o próprio reflexo no espelho.

 

Diziam: ‘Eu não quero mais isso. Quero estar bonita do jeito que posso. Não quero ser outra pessoa

“Diminuiu muito o uso de injetáveis e a procura das pessoas, porque começaram a perceber aquele ‘show de horrores’, de não se reconhecerem, querendo desfazer tudo. Um exagero! As pessoas olhavam no espelho e não se reconheciam”, disse a médica.

 

“Diziam: ‘Eu não quero mais isso. Quero estar bonita do jeito que posso. Não quero ser outra pessoa’”, completou.

 

Para Cíntia Procópio, o segredo da beleza e do envelhecimento natural está no equilíbrio: o uso de injetáveis e tecnologias aliado a um estilo de vida saudável.

 

“O limiar entre a beleza e a feiura é justamente esse olhar delicado, o ponto de saber parar”, afirmou.

 

A médica ainda deu três dicas fundamentais para a saúde da pele, comentou como as redes sociais influenciam a estética e destacou que não há problema em usar cosméticos baratos.

 

 

“Entre não usar nada e usar esses, é melhor usar. Mas o mais importante: se der alergia, pare! Filtro solar deu alergia? Pare. Sabonete deu alergia? Pare!”, alertou.

 

 

Leia principais trechos da entrevista

 

MidiaNews - Doutora, quando falamos em envelhecer, ainda existe muito preconceito. Como a senhora enxerga o envelhecimento?

 

O envelhecimento é basicamente natural, porque a gente envelhece todo dia, todo segundo

Cíntia Procópio - O envelhecimento é basicamente natural, porque a gente envelhece todo dia, todo segundo. Só que as décadas são muito marcantes. Por exemplo, aos 20 anos, a gente não se importa tanto, não vê tanto os sinais do envelhecimento. 

 

Lá pelos 30 anos, é quando a gente começa a perceber o envelhecimento da pele, que vem com as manchas. Já viu que começa a ver umas manchinhas perto do olho, umas sardinhas? Então, entre os 25, 30 anos a gente já começa a perceber que a pele está mudando. E a pele vai mudando a partir das décadas. 

 

Então, a partir dos 30 anos vêm os primeiros sinais do envelhecimento. Aos 40 anos, a gente vai perdendo um pouquinho o contorno do rosto, aquela flacidez ao redor da boca, o bigode chinês. Aos 50 anos, chega a menopausa, que acelera ainda mais o envelhecimento da pele.. 

 

E o mais importante: hoje tem muita tecnologia e muito jeito de tratar. Tanto no início do envelhecimento, aos 20 anos, quanto na década de 60 ou 70 que as pacientes continuam se cuidando. Eu tenho pacientes com 80 anos que se cuidam.

 

A gente tem essas faixas etárias que em cada idade a gente vai ter um tipo de tratamento específico para queixa de cada uma. 

 

MidiaNews – As tendências apontam para esses resultados mais naturais, que preservam a expressão. O que está mais na moda agora? 

 

Cíntia Procópio - Na verdade, a procura por essa beleza natural vem cada vez mais, porque vem se entendendo o processo de envelhecimento. Eu acho que tudo isso mudou o olhar, principalmente do médico dermatologista, em não apagar a sombra que aparecia.

 

Victor Ostetti/MidiaNews

Cintia Procopio

"Antigamente a gente fazia botox, preenchimento, como se fosse o único tratamento para o envelhecimento"

A gente vai perdendo o contorno também porque a parte óssea vai mudando. A gente vai perdendo as estruturas do rosto, porque o coxim de gordura do rosto vai mudando. A gente vai perdendo a flacidez da pele, não só por causa da pele, é por tudo que está atrás dela. 

 

E antigamente a gente fazia botox, preenchimento, como se fosse o único tratamento para o envelhecimento da pele e não é. Hoje, a gente sabe que as tecnologias estão aí para ajudar a envelhecer melhor.

 

E há também a mudança dos pontos, de acordo com que os estudos vêm mostrando, e percebendo que não precisa mais ficar “paralisado”. A gente pode fazer procedimentos que vão ter um resultado fantástico sem as pessoas perceberem o que a pessoa fez de tratamento.

 

Antigamente era status mostrar que faz procedimento, hoje não. As pessoas querem aparecer naturalmente belas sem falar que faz procedimento. E muitas vezes, até chegam a omitir e brincam. Eu falo: “não, gente, mas vocês não fazem nada?”. E eles dizem: “Eu nem falo que eu venho aqui”, dizem brincando. 

 

Porque hoje em dia você diz: “pele bonita”. Mas a pele reflete tudo o que está atrás: a bochecha que está no lugar certo, o músculo que está bem tratado e existe tecnologias para ajudar a ter esse envelhecimento natural, sem mudar o formato do rosto, e pode ter os injetáveis aliado às tecnologias.

 

 

MidiaNews – Quando a senhora fala em tecnologias há também de comprimidos, “pílulas de beleza” ou a senhora fala de lasers?

 

O creme, o skincare, ele é muito usado e é necessário, é uma obrigação a gente usar os produtos

Cíntia Procópio - O creme, o skincare, ele é muito usado e é necessário, é uma obrigação a gente usar os produtos. Só que não é a pílula e não é o creme que trata uma flacidez de músculo. Não tem como o creme entrar em todas as camadas da pele e atingir uma musculatura. 

 

O que faz tratamento de musculatura e de qualidade de pele mais evidente são os procedimentos à base de ultrassom microfocado. Porque o tratamento com ultrassom, como Liftera, Ultrafomer, Atria, fazem uma contração do seu músculo. E isso é um dos tratamentos que revolucionou essa parte da dermatologia e principalmente da área da estética. Porque é um dos poucos procedimentos que trata a flacidez do músculo, que a gente não conseguiria fazer esse tipo de tratamento com os injetáveis.

 

MidiaNews - Tem uma durabilidade boa, doutora?

 

Cíntia Procópio - Depende do tipo do rosto da pessoa. Um rosto mais cheinho pode ser feito a cada seis meses ou uma vez no ano. Um rosto fino tem que ser feito com menos quantidade de disparos e menos frequente. Por quê? Não é o aparelho que faz diferença somente, é quem manipula o aparelho. 

 

Se você pega um rosto fino e faz um disparo como se fosse tratamento de um rosto mais cheio, vai dar flacidez na pele dessa pessoa. Isso faz muita diferença: o olhar da pessoa que está indicando aquele procedimento.

 

MidiaNews - Doutora, e para além dos procedimentos, que hábitos que a gente pode adotar para envelhecer bem, para poder fazer menos procedimentos quando chegar aos 30 e poucos, 40 anos?

 

Cíntia Procópio - O uso de hidratantes, pode ser com clareador ou com antioxidantes, como por exemplo a vitamina C que é muito usada, e o uso do filtro solar. O filtro solar a gente sabe que ele evita mancha, que diminui a chance de ter câncer de pele relacionados com o sol e a exposição solar. E o uso de um sabonete.

 

Victor Ostetti/MidiaNews

Cintia Procopio

"Se você tiver um sabonete, um hidratante e um filtro solar, a sua pele com certeza vai ser viçosa"

Então, se você tiver um sabonete, um hidratante e um filtro solar, a sua pele com certeza vai ser viçosa, bonita. 

 

E o direcionamento seria assim: para uma pele oleosa, é preciso de um hidratante que tem características mais secas, o filtro solar mais seco. Ou seja, a estratégia vai depender de cada tipo de pele, mas essa combinação do sabonete, o hidratante e o filtro, não tem erro. 

 

MidiaNews - Doutora, a indicação sempre é procurar de um dermatologista. Mas, se eu for a uma farmácia preciso comprar aqueles sabonetes de cento e poucos reais, o hidratante do mesmo valor, ou consigo fazer essa rotina com preços mais acessíveis?

 

Cíntia Procópio - Com certeza, eu acho que tem para todos os gostos e bolsos. O mais importante é usar o produto. E importante, se você está usando o produto, seja ele barato ou caro e estiver irritando a pele, tem que parar, porque pode dar reações alérgicas.

 

Filtro solar pode dar alergia, sabonete pode deixar a pele com alergias e os hidratantes. Então, se você comprou por si só um produto e começou a irritar a pele, aí a minha orientação é parar e procurar o médico dermatologista. 

 

MidiaNews - Qual é a importância do paciente aceitar a idade que tem? 

 

Cíntia Procópio - Há os transtornos psiquiátricos, dismóficos, que as pessoas olham no espelho e não se reconhecem, não gostam do que veem. Mas, no dia a dia, a gente consegue, sim, durante a consulta conversar.

 

Envelhecer é natural, e é preciso, é necessário. E eu brinco que as mulheres nunca estão satisfeitas. A gente melhora uma coisa na parte da estética e já começa a perceber outra. E é um ciclo, porque a gente quer estar bem. A beleza é você se olhar no espelho e estar feliz em se olhar.

 

Envelhecer é natural, e é preciso, é necessário.

É você estar com um rosto bonito, estar elegante no jeito que você fala, no jeito que você comunica, que você trata as outras pessoas. Eu acho que a beleza é um conjunto. Porque a pessoa pode estar cuidando da aparência do rosto, mas não cuida da imagem que ela passa. O contexto bonito chama mais atenção do que aquela linha isolada. Tem como tratar, mas eu acho que a beleza é um conjunto. 

 

E as minhas pacientes são bem tranquilas em relação a isso. Elas não chegam com 60 anos querendo rosto de 18. Porque, senão, vaõ começar a ter muita transformação, como aquela bochecha no lugar que não precisa.  

 

Quando chega nesse ponto, é hora do profissional dizer que isso não condiz, porque vai mudando o formato do rosto de acordo com nossas décadas de vida. É hora de falar: “Vamos com calma”, “vamos fazer tecnologia” ou “é melhor fazer um outro tratamento e não o injetável”.

 

Por que as pacientes adoram o injetável, que são o botox e o preenchimento? Porque dá resultado rápido. Só que isso muda o formato do rosto, dependendo do local que a gente injeta. Por exemplo, a gente tem os ligamentos do rosto - igual a gente tem no joelho, que às vezes dá aquela bombeada com passar do tempo. E é ele que segura a nossa bochecha aqui no local. 

 

E esses ligamentos vão ficando frouxos com passar dos anos nas articulações. Se eu faço técnicas de preenchimento ou de estimular a colágeno, eu vou fazer isso. Agora se eu faço essa técnica para frente, eu volumizo, cria volume. 

 

Então com passar do tempo a gente vai mudando o olhar para a gente não tratar a causa e sim a consequência de tudo.

 

MidiaNews – Hoje, tem se falado em "desarmonização", ou seja, a reversão das intervenções estéticas. Aparentemente isso está virando uma tendência. Você tem percebido isso?

 

Cíntia Procópio - Os injetáveis sempre estiveram no arsenal da dermatologia para parte de estética. Só que hoje com menos quantidade porque está se tratando a causa e não a consequência.

 

Antigamente era isso, a gente tratava a consequência. Um exemplo: “Ah, eu quero tratar a bigode chinês”. Então, ia lá e preenchia o bigode chinês. Hoje a gente preenche o bigode chinês, mas tratando esses ligamentos. Por isso, diminuiu muito o uso dos injetáveis e a procura das pessoas diminuiu porque começou a ver aquele show de horrores: de as pessoas não se reconhecendo, querendo tirar.

 

Houve um exagero. As pessoas estavam olhando no espelho e não se reconheciam. E diziam: “eu não quero mais isso. Eu quero estar bonita com quem eu posso estar. Eu não quero ser outra pessoa”. 

 

Os injetáveis dão um resultado muito rápido. E a gente vai esquecendo de como a gente era. Então, a pessoa olha daquele ponto para frente. Mas ela não lembra que não tinha um queixo, que a gente já pôs. E aí ela quer por boca, porque o queixo fez a projeção, a boca sumiu. 

 

Vira aquele ciclo vicioso que chega uma hora e a gente tem que falar: para!

Vira aquele ciclo vicioso que chega uma hora e a gente tem que falar: para! Vamos voltar lá quando a gente começou. Olha como você estava, como você está hoje e veja como está bom. Por isso que o olhar do médico que está fazendo tem que ser também de pautar os tratamentos. 

 

É muito encantadora essa arte. Porque a gente molda um rosto mas tem que ter aquele freio. O limiar da beleza e da feiura vai esse olhar delicado.

 

MidiaNews - E a senhora sente que as redes sociais têm uma influência grande nisso? 

 

Cíntia Procópio - Com certeza, porque chega querendo aquela boca, aparecer com aquela foto, mas às vezes não combina com a pessoa. Boca é uma procura muito grande por preenchimento, mas o lábio é o último local que a gente preenche, porque é a cereja do bolo.

 

Uma boca bem feita é aquela que as pessoas olham e não percebem que é preenchida, porque a bochecha está no lugar, o queixo está legal. A região perioral tem que ser tratada para ela ficar bonita.

 

Por exemplo, uma pessoa que já tem uma flacidez muito importante que é boca e se preencher, não vai ficar bonito. 

 

MidiaNews – E tem uma questão da sensualidade na boca, da mulher querer também transparência. 

 

Cíntia Procópio - Sim, e a boca traz muito resultado, mas em um contexto. Agora, em uma paciente jovem, que não tem sinais de envelhecimento, colocar uma boca fica ótimo, mas numa senhora que às vezes tem uma flacidez para ser tratada, já não combina. E a boca tem toda essa mistificação com lábio. Todo mundo chega na clínica querendo por boca, mas é a última que a gente faz.

 

MidiaNews -  Doutora, hoje muitas pessoas estão fazendo uso das tais canetas emagrecedoras, que são excelentes para o emagrecimento, mas devido à grande perda de peso pode deixar a aparência do rosto envelhecida. Nesse caso, há tratamento na dermatologia? Quais tratamentos usar?

 

Cíntia Procópio - Quando a gente perde gordura, a gente perde gordura do corpo, mas do rosto também. Por isso que com esse emagrecimento tão rápido há essa queixa de flacidez mais rápida no rosto.

 

O que quer essas pacientes? Elas não querem ter o rosto cheio de novo, porque ela está emagrecendo justamente para isso. O que a gente indica? Tratamentos que estimulam o colágeno e firmam a pele. E a gente consegue devolver essa naturalidade sem mudar o formato do rosto e trazer aquela pele viçosa.

 

Porque quando estimula colágeno, além de dar mais uma estruturação na pele, a pele fica mais bonita. E a cada quatro quilos que a gente perde com as canetas emagrecedoras, o ideal é fazer um frasco de um bioestimulador. 

 

Tem pacientes que perdem bastante e por isso a gente tem essa média pra gente fazer uma estruturação no rosto sem mudar o formato. Mas, tem que injetar. Porque a pessoa perde peso muito rápido, e o rosto fica às vezes bem emagrecido mesmo.

 

 

MidiaNews -  Doutora, a gente mora em uma cidade muito quente. Cuiabá faz 40 graus na sombra e é necessário esse hábito dos protetores solares. Tem uma estratégia onde a gente pode passar mais protetor solar?

 

Cíntia Procópio – A quantidade dos protetores solares é muito importante, porque a gente põe um pouquinho, “suja a pele” e passa. Só que quando foram feitos estudos científicos para provar que aquele fator está te protegendo, foi comprovado a regra dos três dedos.

 

Coloca três linhas [nos dedos] e passa aquela quantidade no seu rosto e pescoço. Essa regra é a regra básica para todo mundo. 

 

E eu sempre gosto de explicar: sabe aquele numerozinho, o fator? A cada duas horas, aquele fator cai na metade. Então, a gente não fica protegida o dia todo. Essa é a briga, de nós dermatologistas, para reaplicação.

 

Se você reaplica o fator 50 pela manhã, a cada duas horas, ele cai na metade. Então, na hora do almoço, você está praticamente sem proteção solar. E aí, o ideal, é você reaplicar, pelo menos na hora do almoço, por esse motivo.

 

MidiaNews - Explica-me melhor essa questão do fator de proteção. Então, se eu aplicar um fator de proteção 100 no corpo, por exemplo, ele vai durar o dia inteiro?

 

Cíntia Procópio - Não, a cada duas horas ele vai cair na metade. Você passou um fator 100 de manhã, duas horas depois cai para 50, duas horas depois, ele já vai estar 25, entendeu?

 

Ele acaba te protegendo um pouquinho mais tempo do que um fator 30. Se você passou um 30, daqui duas horas ele está 15. E aí na hora do almoço praticamente já tá sete e meio. Ou seja, ele vai te proteger mais proporcionalmente, mas você não fica protegida o dia todo.  

 

MidiaNews - Doutora, o que o UVA, UVB, UVC significam? 

 

Cíntia Procópio – O sol emite vários tipos de radiação. O que mais se tem estudado são as outras violeta A, B e C. A radiação ultravioleta A está durante todo dia, desde quando o sol nasce até ele se pôr. E ela é a responsável pelo envelhecimento da pele.

 

A radiação ultravioleta B incide das 10h às 16h e é a principal responsável pelos cânceres de pele. Esses dois são os que mais tem se estudado, porque eles são o que mais podem causar danos da pele.

 

A nossa pele é uma esponja. Tudo que a gente se expõe como a radiação, poluição, tudo entra na nossa pele.

A Radiação ultravioleta C ainda é pouco estudada, e tem os infravermelhos. Por exemplo, as cozinheiras que trabalham com mormaço também têm essa radiação que pode penetrar e prejudicar a pele.

 

A nossa pele é uma esponja. Tudo que a gente se expõe como a radiação, poluição, tudo entra na nossa pele. A nossa pele é o maior órgão do corpo, ou seja, a pele tem importância. É preciso a gente cuidar bem, porque ela tá ali tanto para o meio externo quanto para o seu meio interno. 

 

MidiaNews - Doutora, qual é o recomendado para Cuiabá, para o corpo e para o rosto. A gente sabe que no rosto tem que usar um fator de proteção um pouco maior. Aqui, é preciso usar o fator 100, que dói um pouco mais no bolso, ou eu posso usar o fator 30? Também depende da minha cor de pele?

 

Cíntia Procópio - A cor da pele não influencia tanto, depende da sua atividade habitual. As pessoas que trabalham expostas ao sol têm que usar filtros solares mais alto e inclusive usar mangas (roupas) de proteção que tem filtro solar, chapéu, e esses protetores que têm ação física.

 

Ou seja, se é uma pessoa que trabalha exposta ao sol, filtro solar de mais alta proteção junto com óculos e os outros fatores externos, como manga comprida, chapéu, boné. Agora quem trabalha em ambiente fechado não precisa usar o filtro solar de alta proteção, porque a radiação é muito menor do que quem está exposto ao sol.

 

MidiaNews - Doutora, recentemente a Isabela Fiorentino e a Gisele Bundchen geraram polêmica ao falarem sobre o não uso do protetor solar para tratar o melasma (manchas). As declarações tiveram uma reação da comunidade dermatológica. Como a senhora viu esses relatos e o que recomenda de fato aos pacientes?

 

Cíntia Procópio – Nós, como dermatologistas, nós sabemos os benefícios de um filtro solar. Ele evita as manchas, evita o melasma, as manchas do sol e também o câncer de pele. As pessoas escolherem ou não é do livre-arbítrio. A gente não obriga ninguém a usar ou deixar de usar, mas a gente orienta. E eu tenho pacientes que não usam filtro solar. É o livre-arbítrio.

 

Victor Ostetti/MidiaNews

Cintia Procopio

"E eu tenho pacientes que não usam filtro solar. É o livre-arbítrio"

Mas nós temos estudo científico que eles são utilizados, há anos e décadas, que a gente tem essa proteção do sol, e a comunidade dermatológica, como um todo, preconiza isso porque é o que tem estudo científico. E nós, como os médicos, a gente tem que focar em estudo científico, não na opinião pessoal de cada indivíduo.

 

Tem pacientes que, por exemplo,  tem melasma e acha que um filtro solar 70 irritou mais a pele dela do que um filtro solar 30. Isso é comum, pode acontecer, porque filtro solar tem produtos químicos ali e pode reagir na pele, pode levar a uma alergia, pode até piorar o melasma se essa alergia foi em cima da mancha. Então, todo o tratamento depende do perfil do paciente e do tipo de pele de cada um também.

 

MidiaNews - Doutora, tem se falado nas pílulas, que funcionam como protetor solar.  Por que a gente não conhece tanto? Por que isso não é tão difundido? Ela tem um preço muito alto?

 

Cíntia Procópio - Não é custo. É mais sobre estudos que baseiam cientificamente no resultado. Porque a gente tem alguns produtos que têm um efeito antioxidante, que diminui a formação de radicais livres e isso poderia estar associado à diminuição de radicais livres contra o envelhecimento, contra a mancha...

 

Hoje existem três substâncias que atuam como filtro solar oral, que, inicialmente foram estudadas para insuficiência venosa, para varizes. E aí começaram a perceber que ele diminui as chances de queimaduras na pele. Não é que ele é um filtro solar oral, mas para quem se expõe muito ao sol, ele vai diminuir esse risco de queimadura, evitando até os câncer de pele, quanto à piora, por exemplo, de um melasma. Mas é importante dizer que não substitui os filtros solares em creme.

 

Isso é o que todo mundo quer: “Ah, eu vou tomar pílula, que é filtro solar, e não preciso mais passar o filtro em creme”. Na verdade, eles se complementam.

 

MidiaNews -  O Roacotun, a isotretinoína, ficou muito conhecido nos anos 2000 e era um medicamento cheio de mitos. Hoje, por sua vez, é tratada como "pílula da beleza”. A senhora pode nos falar um pouco mais sobre ela? É isso tudo mesmo?

 

Cíntia Procópio - Na época da minha residência, em 2009, foi feito um estudo de mestrado de uma professora minha comparando quem usava a isotretinoína pra estímulo de colágeno e quem não tomava a isotretinoína na mesma faixa etária.

 

O que que se provou? Ela não consegue estimular a colágeno, mas ela deixa a qualidade da pele melhor. Por quê? Ela diminui a glândula sebácea. Os poros ficam mais fechados, a pele fica mais brilhosa, mais fininha, porque ela está menos oleosa, mas sem a produção do colágeno. 

 

As pacientes adoram, porque melhora a textura da pele, o cabelo fica menos oleoso, e isso faz essa sensação de pele bonita, sem espinha, sem acne. A dose baixa melhora a qualidade da pele, mas não estimula o colágeno.

 

MidiaNews - E não faz aquele mal para o fígado, para os rins?

 

Cíntia Procópio – A isotretinoína não é um medicamento forte, como todo mundo fala em si, por passar no fígado. O que ela pode fazer é dar malformação se a mulher engravida tomando a pílula. 

 

Então, o neném nasce com malformações sérias, que tem risco de vida, para o bebê. É preciso tomar muito cuidado para quem indica, porque não pode nem pensar em engravidar. Para as adolescentes eu já falo: “Você vai lembrar de mim”. Não pode sonhar em engravidar porque o neném vai nascer com malformação. 

 

Mas quando a gente usa, a gente faz todo o screening laboratorial. O que mais altera são os triglicerídeos, ela quase não altera muito a função hepática, porque foi mudando a fórmula também, mas o triglicerídeo é um dos que mais aumenta.

 

É um medicamento seguro se fizer com acompanhamento. Não pode só comprar e tomar e principalmente não pode indicar para outros, porque tem sim seus prós e contras como qualquer medicamento e com consequências gravíssimas.

 

MidiaNews – Doutora, as redes sociais têm inflamado as “dicas caseiras” com os cuidados com a pele como massagem facial (com guasha), fitas das coreanas... Isso funciona mesmo?

 

A genética é o que mais influencia para um bom envelhecimento

Cíntia Procópio - Ele complementa. Mas depende muito do tipo da pele. A genética é o que mais influencia para um bom envelhecimento. O hidratante para a sua pele, a sua genética vai influenciar, os seus hábitos de vida. O tabagismo, se a pessoa faz atividade física, se tem uma alimentação saudável, que não tenha muito açúcar. Isso faz muito a diferença. Pra gente envelhecer bem é todo um contexto. 

 

As técnicas ajudam, sim. Não posso te falar que tem estudo científico para isso, com biópsias que provam o estímulo do colágeno, mas é quase um bem estar para pessoa. A pessoa consegue penetrar mais os cremes quando está fazendo aquela massagem com a guachá, consegue levantar um pouquinho o olhar, mas eu não consigo paralisar o músculo com aquilo, porque o músculo continua movimentando. 

 

O que acontece é uma associação de tratamentos que vão fazer a beleza natural vir.  E uma paciente que não é adepta a fazer nada de tratamentos estéticos, mas tem uma rotina de pele com guachá, passa hidratante, ela tem sim uma melhora da qualidade da pele.

 

 

MidiaNews -  Uma ação psicológica também, doutora? Seria também um autocuidado?

 

Cíntia Procópio - Um autocuidado. A pessoa que se cuida, cuida do outro melhor. Se você se olha no espelho, está se sentindo bem, o seu dia vai ser diferente. Tem dias que a gente fala: “ah, eu estou cansada”, mas você põe uma roupa, uma cor que já te traz uma energia melhor, você se cuida melhor, e o outro ao seu redor vai ser cuidado melhor. Pode prestar atenção.  

 

MidiaNews - Doutora, a senhora falou sobre atividade física ao comentar sobre a saúde da pele. Mas, às vezes, a impressão que se tem é que pessoas que fazem esportes – em especial de grande impacto, como corredores - parece que elas envelhecem antes. O que acontece? 

 

e você se olha no espelho, está se sentindo bem, o seu dia vai ser diferente

Cíntia Procópio – A atividade física é favorável, só que esses são atletas de alta performance. Aí eles perdem muita gordura do rosto, porque eles fazem muita atividade física e muda o formato do rosto. O excesso de radicais livres faz esse envelhecimento um pouquinho mais acentuado. Mas, ele não deixa de ser saudável. 

 

MidiaNews – A propósito, o que são radicais livres? 

 

Cíntia Procópio – Você lembra o que é nível celular, quando a gente estuda biologia, química? A gente tem uma célula que o sol abriu essa célula, a atividade física abriu essa célula e essa célula ela envelhece mais rápido por causa desses excessos que a gente vai tendo ao longo da vida. 

 

Então, os radicais livres eles são os responsáveis pelo envelhecimento precoce, pela formação muitas vezes dos cânceres de pele. Por isso que muita gente toma antioxidante. 

 

A vitamina C é antioxidante, o resviratrol, que é a da taça de vinho, é antioxidante. Para tentar neutralizar esses radicais livres, que são estruturas químicas que acontecem no nosso organismo para gente envelhecer melhor, para não ter essas consequências maléficas dos radicais livres, que é um processo natural que todo mundo vai passando.

 

MidiaNews - Mas essa questão dos antioxidantes por meios dos alimentos, eles funcionam mesmo?

 

Cíntia Procópio - A vitamina C é um deles. Suco de laranja, de limão, acerola. Existem alimentos que podem ajudar, sim. As proteínas são um dos principais estimuladores de colágeno e de diminuição de radicais livres. 

 

As proteínas são um dos principais estimuladores de colágeno e de diminuição de radicais livres.

Uma dieta balanceada em vitamina C e proteína, você tem, sim, um envelhecimento muito melhor e a pele responde significativamente. Por exemplo: tomar colágeno. O colágeno não deixa de ser proteínas que a gente ingere, que vai fazer diminuição dos radicais livres, e produzir um colágeno de melhor qualidade se você faz tratamento que vai fazer uma produção de colágeno melhor. 

 

Uma paciente que faz um laser está tomando colágeno e uma que não está tomando colágeno, essa que toma colágeno tem uma melhor resposta do que essa que não tem uma ingestão de proteína tão boa. A alimentação é diretamente proporcional às consequências e os resultados que a gente faz no envelhecimento e no rejuvenescimento da nossa pele.

 

MidiaNews - Doutora, outra queixa é a queda de cabelo - tanto para homens como para as mulheres. Quando é preciso procurar um dermatologista e iniciar um tratamento? Quem tem tendência genética deve dar início ainda na juventude? 

 

Cíntia Procópio - A queda de cabelo é um mundo à parte da dermatologia. A queda de cabelo genética, que é aquela calvície hereditária, é a mais comum e que todo mundo se preocupa muito quando se fala da família.

 

Os primeiros sinais de afinamento, às vezes a pessoa não percebe nem queda, é o afinamento, os fios vão sumindo, elas geralmente tendem a aparecer quando entra na puberdade. 

 

Na adolescência seria a fase ideal de procurar se começar a perceber esse afinamento ou a queda dos fios, principalmente os meninos. Mas as meninas, ultimamente a gente vê muito também essa alopecia androgenética feminina sendo percebida com maior frequência até do que os meninos.  

 

As alopecias a gente tem que dividi-las em não cicatriciais e cicatriciais. E tem que fazer esse diagnóstico, porque quanto mais cedo, melhor é.

 

Se o cabelo está afinando, não está tendo o volume que antes tinha e se fica mais de três meses caindo, o ideal é já procurar um médico dermatologista para o diagnóstico correto. 

 

MidiaNews - E não é essa coisa de ir na farmácia, comprar um minoxidil, passar em casa e está tudo ok?

 

Cíntia Procópio - O minoxidil é um tratamento para as alopecias, mas não está fazendo um diagnóstico correto. Por exemplo, a alopecia areata, que é aquela plaquinha redonda sem cabelo. O minoxidil na fase errada pode piorar e aumentar aquela placa.

 

O mais importante no mundo dos tratamentos dos cabelos é o diagnóstico correto, porque o tratamento iniciado corretamente tem um resultado muito mais rápido, porque o cabelo cresce muito pouco. Ele cresce um centímetro por mês. Imagina pra você deixar perder muito... O resultado demora muito mais. 

 

Mesmo quem falar que vai deixar cair o cabelo todo para depois fazer implante. O tratamento, o implante é um ótimo tratamento, muitas vezes quando vai no consultório já indico o implante antes do tratamento clínico, mas o tratamento clínico ele tem que ser como um complemento. 

 

Porque o cabelo implantado não vai cair mais, mas o restante continua tendo ação dos hormônios. Então, o médico dermatologista é a primeira pessoa que tem que examinar, fazer o diagnóstico correto e dali nortear o tratamento de um paciente que muitas vezes você é um tratamento crônico, como uma pressão alta que ele vai ter que tratar pro resto da vida.  

 

Victor Ostetti/MidiaNews

Cintia Procopio

"Eu fico muito preocupada com as consequências de uma aplicação de um produto"

MidiaNews - Esse ano, ao menos duas clínicas de estética foram fechadas em Cuiabá por usar medicamentos vencidos. Quais são os riscos de os pacientes procurarem essas clínicas que, às vezes, são apenas de estética, não têm médico dermatologista?

 

Cíntia Procópio - Eu fico muito preocupada com as consequências de uma aplicação de um produto. A gente não sabe a origem, se tem algum contaminante, e a gente não tem essa garantia. Isso é a preocupação na saúde pública. E a Anvisa existe justamente pra nos proteger. 

 

Imagina, uma aplicação que tem um contaminante que a pessoa depois tem que tomar antibiótico um ano na vida. Porque isso pode acontecer. Infecções por microbactérias, por bactérias resistentes. É essa a nossa preocupação como médico.

 

A gente se preocupa muito com o outro, porque você não pode fazer nada que vai prejudicar o outro. A primeira coisa é se colocar no lugar da pessoa.

 

MidiaNews - Doutora, uma das coisas que estão famosas são as lojinhas de R$ 10. E eles vendem muitos cosméticos, muitos produtos de maquiagem. O que a senhora pensa sobre esses produtos?

 

Cíntia Procópio – Tudo tem risco independente do valor. É o tipo da pele, não só o produto. Quando a gente tem um produto que tem um custo menor, ele pode ter ativos de custo menor para ser mais barato.

 

E esses produtos podem ser um pouco mais alergênicos, do que um produto de custo-benefício maior. Mas entre não usar nada e usar o de R$ 10, eu até prefiro que use o de R$ 10. 

 

Mas entre não usar nada e usar o de R$ 10, eu até prefiro que use o de R$ 10

Porque eu tenho pacientes que são impressionantes. Ela nunca usou nada na vida. Nunca! Ela começa a hidratar com um creme mais simples que tem, e a pele responde bem. A pele hidratada vai fazer diferença com um produto de R$ 10, de R$ 100, ou um produto de R$ 500.

 

O que a gente conversa muito com um dos produtos mais caros é que eles têm mais estudos científicos em relação aos efeitos a longo prazo.

 

Um outro questionamento é que, toda hora que tem produto novo e gente quer trocar. Não tem nem duas semanas usando um creme, quer usar outro. Para pele estimular um colágeno, você tem que usar quatro meses um creme. Ou seja, não é rápido.

 

Quando a gente faz um produto injetável, são três meses para você ter um resultado total dele. Porque, a formação de um colágeno novo, ele depende de um tempo do seu organismo. Agora o creme depende mais ainda. É preciso ter uma paciência com os tratamentos dermatológicos também em relação à produção do colágeno e a qualidade de pele.

 

Mas tem pacientes que usam o creme desses de R$ 10 reais e as linhas da pele somem, porque hidrata. Entre não usar nada e usar um mais caro é melhor que use esses. E mais importante: se der alergia para! Filtro solar deu alergia? Para. Sabonete deu alergia? Para, porque senão depois você vai sensibilizando seu organismo e você vai se tornar alérgica a muitas outras coisas.  

 

 

MidiaNews – Doutora, e os manipulados ainda são usados muito pela dermatologia? 

 

Cíntia Procópio - Sim, com certeza. Os manipulados são usados quando a gente precisa de um produto específico para aquele tipo de pele, que a gente não tem na indústria. A gente consegue manipular ótimos tratamentos que otimiza aquele tratamento para a pessoa: em vez de passar dois, ou três cremes, a gente usa um. 

 

A pele hidratada vai fazer diferença com um produto de R$ 10, de R$ 100, ou um produto de R$ 500

Por isso que todo tratamento tem que ser muito personalizado.  Vai uma paciente que nunca usou nada. Não adianta eu passar seis passos de skincare. Ela não vai fazer. 

 

Primeiro a gente começa com o básico, vai tratando, começando a ter toda essa rotina. E depois a rotina que entra na vida e está já no seu dia a dia, você vai fazer de modo com que não fica pesada.

 

O cuidado com a gente não pode ser uma coisa pesada, não pode ser uma obrigação. Tem que fazer leve. Por que aí, você vai ver o resultado acontecer aos poucos e você vai se apaixonando por cuidar de você.

 

MidiaNews - Doutora, pra finalizar, eu gostaria de três dicas de skincare que não podem faltar na rotina da doutora Cíntia e por quê? 

 

Cíntia Procópio - Sabonete, porque vai limpar a sua pele de todos os agentes externos que a gente teve durante o dia.  O filtro solar para evitar manchas, rugas que vêm às vezes antes do tempo, inclusive o câncer de pele. E hidratante com antioxidante para recuperar tudo que a pele sofreu durante o dia e ele recupera no período noturno. 

 

Veja entrevista na íntegra:

 

 

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