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02.09.2012 | 18h14 Tamanho do texto A- A+

Relatório aponta problemas no Ginásio Aecim Tocantins

Falta de reparos podem comprometer a sede de novos eventos, diz superintendente

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Joubert Brito de Lima, superintendente do Complexo Poliesportivo Verdão

Joubert Brito de Lima, superintendente do Complexo Poliesportivo Verdão

LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
Cinco anos após ser inaugurado, o Ginásio Poliesportivo Aecim Tocantins, em Cuiabá, apresenta novamente problemas estruturais. Construído pela empresa Lotufo Engenharia e Construções Ltda., no bairro Verdão, o ginásio custou aos cofres públicos aproximadamente R$ 26 milhões. Em um relatório elaborado no primeiro semestre deste ano, e enviado à Secretaria de Estado de Esportes e Lazer, ao qual o MidiaNews teve acesso, o superintendente do Complexo Poliesportivo Verdão, Joubert Brito de Lima, destacou problemas “ainda sem solução sob responsabilidade da Empresa Lotufo” que, caso "não fossem urgentemente reparados, poderiam comprometer a sede de novos eventos".

“Essa situação já está se arrastando desde 2006. A obra foi entregue, mas oficialmente, com tudo pronto, não. Eu entendo que deveria corrigir tudo e entregar de acordo com o que tem que ser. A responsabilidade é da Lotufo, ela tem que terminar o que começou. A empresa tem que fazer os reparos, sem cobrar nada a mais. O valor orçado foi pago, e eles deveriam entregar o que foi contratado, sem custo nenhum para o Estado”, afirmou.

"Agora, depende da Auditoria Geral do Estado fazer a fiscalização e notificar a empresa para realizar os reparos"

Lima disse que a obra não deveria ter sido recebida oficialmente pelo Estado como concluída.

“Na nossa secretaria aqui não tem uma assinatura referente ao recebimento da obra. Dentro do valor de R$ 26 milhões não está prevista a manutenção, que é de responsabilidade do Estado, mas todos os problemas relatados são da construção, inclusive coisas que não foram feitas”, observou.

Thiago Bergamasco/MidiaNews

"São problemas fáceis de serem resolvidos. Só falta boa vontade", disse Lima

Segundo ele, uma sindicância foi aberta pela Auditoria Geral do Estado (AGE), mas ainda não houve respostas.

“Agora, depende da Auditoria Geral do Estado fazer a fiscalização e notificar a empresa para realizar os reparos. A Lotufo chegou a fazer alguns reparos depois de 2006, mas não foi satisfatório, dentro do que deveria ter sido feito”, reclamou.

Lima teme que, caso os reparos não sejam feitos, o ginásio poderá acabar fechando as portas para novos eventos esportivos, inclusive internacionais

“As falhas podem comprometer a sede de eventos, sem dúvida alguma. Ainda não chegamos a perder nenhum evento, mas se exigirem piso de madeira na quadra, por exemplo, não podemos realizar o evento. Se a quadra não estiver adequada, com a pintura e o piso normal, as federações têm que trazer os pisos. Então, se nós estamos com um ginásio que oferece um piso de madeira em boas condições, como que agora eu te apresento um piso de concreto? O correto é que nós ofereçamos o que está no papel”, disse.

Área externa


Thiago Bergamasco/MidiaNews

A estrutura externa do ginásio já apresenta pontos de ferrugem

Lima mostrou à reportagem todos os problemas relatados, como a ausência de instalação da rede elétrica no estacionamento, o que obriga a administração, durante os eventos noturnos, a fazer uso de geradores para garantir a iluminação externa.

“Lá, no estacionamento, não tem a rede elétrica instalada. Debaixo das lâmpadas, não tem nenhum bico de luz. Quando acaba um evento de noite, falta iluminação, tem que usar geradores”, disse Lima.

As rampas que dão acesso às arquibancadas também são alvo constante de reclamação por parte da administração, uma vez que o desnivelamento do terreno, que segundo o superintende deveria ter sido resolvido durante o aterro para construção do ginásio, faz com que elas acumulem água durante a chuva.

"Agora há pontos de ferrugem que, pelo tempo que a obra tem, não eram para existir. Eu não sou engenheiro, mas o mais coerente é que não acontecesse isso"

“Tentaram cortar, nivelar, para não empoçar mais a água. Mas eles teriam que refazer tudo isso. Está totalmente desnivelado”, afirmou.

Segundo Lima, os pilares que sustentam a estrutura, feitos de concreto armado, precisaram ser revestidos com "camisas de aço", após não suportarem a movimentação da cobertura, devido à força do vento, o que ocasionou fissuras e trincas nos pilares do ginásio.

“Agora há pontos de ferrugem que, pelo tempo que a obra tem, não eram para existir. Eu não sou engenheiro, mas o mais coerente é que não acontecesse isso”, opinou o superintendente.

Nesta semana, os pilares passaram por soldagem para extração de material e análise em laboratório, procedimento considerado normal pela superintendência do Ginásio.

“Eles extraem material dali para levarem para o laboratório e saber se o prédio está 'trabalhando' dentro do esperado. É um procedimento normal, o material vai para São Paulo e de lá, o laboratório manda o resultado da análise. Vai acontecer todo ano, depois que foi feito o revestimento do concreto”, explicou.

Segundo ele, esse procedimento e qualquer outro reparo constante no relatório serão feitos sem custos ao Estado, porque a obra, devido às constantes notificações, ainda estaria na garantia.

“Podemos cobrar da empresa, porque a cada vez que a empresa é notificada, o contrato é renovado em cinco anos”, afirmou.

Blocos

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Pfeier's afundando na área externa também constam no relatório

Chamados de "pfeier’s", os pequenos blocos de concreto que compõem a parte externa do ginásio (foto ao lado), também estão afundando em vários pontos. De acordo com Lima, pode ser sinal de problema no aterro.

“Eles até mandaram para a gente um pronunciamento, dizendo que a grande causa de afundamento disso aqui são formigas... Mas você já pensou no ‘caminhão’ de formigas que precisaria ter ali para afundar? Está escrito lá. Tem os focos de formiga, mas isso não quer dizer que elas sejam responsáveis”, afirmou.

Área interna


Ao entrar no ginásio, uma grande trinca no piso de entrada chama a atenção. Segundo Lima, o local já passou por reparos três vezes, mas o problema continua.

“Pela distância, segundo os engenheiros, faltou espaço para dilatação. Eles passaram o produto e o piso não expande mais, mas fica feio”, reclamou.

"As falhas podem comprometer a sede de eventos, sem dúvida alguma"

As trincas em pisos e azulejos também podem ser encontrados nos banheiros, vestiários, corredores e bares do ginásio.

Além disso, outro problema crônico nessas salas, bem como na bilheteria, é a má colocação das placas de isopor nos forros, que acaba sendo levadas pelo vento, deixando grandes buracos no teto.

“Aqui é um elemento vazado, para ventilação do prédio. Se esse isopor não estiver com a presilha bem fixa, quando venta, ele vai sair. A presilha que eles colocaram não é a adequada. O vento entra e, quando as salas estão fechadas, ele sobe e leva o isopor do forro, saindo pela parte vazada de cima. Eles vieram há uns três anos pra corrigir isso, apenas recolocam as placas no lugar, mas aí, quando venta, sai de novo”, afirmou.

Quadra

Os degraus das arquibancadas também apresentam problemas na junta-dilatação que, segundo Lima, não foi feita da forma correta.

“Ela vai abrindo e o cimento que reveste ela vai acabar quebrando. Só faltou revestir, fazer de novo e usar o isopor que hoje já é usado para cobrir essas juntas”, disse.

Na quadra poliesportiva, os problemas continuam. De acordo com o superintendente, o piso atual, de cimento, deveria ser provisório, enquanto o piso de madeira contratado não fosse instalado. Além disso, em seu centro, há uma rachadura acentuada, que liga de uma extremidade à outra da quadra.

“Não tem um ralo para escoamento de água, porque, inicialmente, aqui seria um piso de madeira e não precisaria ser molhado. Aí, quando eles decidiram fazer esse piso de cimento, até se resolver a questão da madeira, ficou desse jeito. Esse era provisório que virou eterno. Não estavam encontrando madeira compatível com a nossa região. O piso deveria ser de madeira, como foi comprado. Não pode ficar do jeito que está”, afirmou Lima.

Thiago Bergamasco/MidiaNews

O forro dos vestiários, banheiros, bares e bilheterias apresentam o mesmo problema

O acesso à tubulação que corre por baixo dos corredores também é questionada pelo superintendente, uma vez que as caixas de passagem instaladas são de cimento e lacradas, impossibilitando a manutenção.

"São reparos que precisam ser feitos, porque foi pago, mas não compromete a segurança dos visitantes"

“Deveria fazer manutenção na tubulação que tem embaixo, mas ela está selada. Da maneira como está aqui, não faz, não tem como. Ela deveria ter uma alça, ser flexível. Como que eu faço uma manutenção aqui? Se eu precisar, vou ter que quebrar o piso, porque está selado”, criticou.

Além disso, o acesso impossibilitado às lâmpadas e telhas do ginásio também foi apontado como um problema sério a ser resolvido. Além de telhas transparentes, que atrapalham os jogadores durante os eventos – e por isso foram colocados panos pretos para cobrir o ginásio – muitas placas estão faltando nos telhados.

Devido à complexidade no acesso, para serem trocados, o Estado precisaria contratar uma empresa terceirizada.

“Não tem estrutura de acesso para trocar as lâmpadas ou telhas. Precisam subir pessoas com materiais de segurança especializados, empresas especializadas, não qualquer um”, pontuou.

Segurança e TAC

Apesar dos problemas apontados, o superintendente do ginásio afirmou ao MidiaNews que nenhum deles compromete a segurança do local.

“São reparos que precisam ser feitos, porque foi pago, mas não compromete a segurança dos visitantes”, afirmou.

Em março deste ano, a superintendência assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Corpo de Bombeiros, que solicitou a execução de uma série de medidas de segurança contra incêndio no local. De acordo com Lima, tudo foi cumprido e eles apenas aguardam a nova vistoria a ser feita pelos bombeiros.

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Quadra poliesportiva do Ginásio Aecim Tocantins: sem telhas e piso inadequado

“Foi feita a vistoria geral deles e o que precisava ser feito já foi realizado ou encaminhado. Tudo o que está previsto no TAC já foi cumprido e regularizado. Agora, falta somente eles virem aqui para fazer uma nova vistoria, ver se falta alguma coisa. A segurança, segundo o parecer do Corpo de Bombeiros, não está comprometida. Senão eles teriam interditado, lacrado tudo. Eles deram um prazo dilatado, no TAC, porque não era nada comprometedor”, pontuou.

Outro lado


Procurada pela reportagem, a Empresa Lotufo Engenharia e Construção Ltda. afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a obra foi entregue e executada da maneira como contratada. E que não há nenhuma solicitação de manutenção pendente no local.

Em nota enviada ao site, a empresa ressaltou ainda a qualidade dos serviços prestados, afirmando que atende a um Sistema de Gestão de Qualidade e a todas as exigências feitas pela contratante - à época a Sinfra (Secretaria de Estado de Infraestrutura).

Confira abaixo a íntegra da nota enviada pela empresa:

“A Lotufo Engenharia e Construções Ltda., em atendimento ao contato realizado pelo site MidiaNews, comunica que a obra do Ginásio Aecim Tocantins foi executada e entregue oficialmente em conformidade com o contratado, atendendo a todas exigências e procedimentos.

Em todos os comunicados realizados oficialmente pela Contratante (SINFRA), para solicitação de manutenções, foram realizadas as vistorias e respondidos, sendo tomadas as ações de correção quando pertinente. Atualmente não existe nenhuma solicitação pendente a ser respondida.

Finalmente, esclarecemos que a Lotufo sempre trabalhou com um Sistema de Gestão da Qualidade, visando satisfazer os clientes, servindo-os com ênfase na qualidade e na produtividade. A empresa realiza auditorias periodicamente, visando garantir o cumprimento dos requisitos de seu Sistema de Gestão de Qualidade e de acordo com o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat PBQP-h e ISO 9001”.

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GALERIA DE FOTOS
Thiago Bergamasco/MidiaNews

Operário soldando - Aecim Tocantins

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Solda - Aecim Tocantins

Reprodução

Piso de entrada trincado - Aecim Tocantins

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Pfeiers afundando - Aecim Tocantins

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Paredes trincadas - Aecim Tocantins

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Caixa externa sem luz - Aecim Tocantins

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Azulejo trincado - Aecim Tocantins




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15 Comentário(s).

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juarez  03.09.12 15h57
O erro nao e da construtora e sim quem contratou e aprovou um projeto desse tipo (Brasil terra do cimento,pedra e areia)fazer um ginasio de lata (estufa ) a ferrugem vai se incumbir de derruba-lo.O mesmo vai para o circo que esta se erguendo ao lado, deixar um estadio ventilado que era o vedao para gastar milhoes com uma estufa de lata e lona.
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Uermes  03.09.12 14h57
Uma impresa do porte da Lotufo não pode dar discupa de formigas eu sou estudante de arquitetura e até quem não entende da area sabe que isso é problema no aterro que foi mal execultado será que foi feito sondagens de forma correta no terreno será que foi feito um estudo preliminar ?????? são pergunta que só quem deve responder é a construtora.
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Ademir  03.09.12 13h43
Cadê uma cobrança mais forte por parte do MP e outros, isso é muito sério, não se fez tudo e receberam tudo, e o que se fez, foi muito mal feito, no mínimo deviam proibir esta empresa de contratar com qualquer órgão público enquanto não resolvesse estes problemas.
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Paulo Octavio   03.09.12 13h34
Obra problemática, empresa nova no mercado.... Faltou tarimba para a construção de uma obra daquela magnitude. Imaginem se tivessem ganhado a Arena Pantal !?? rs r
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luiz fernando  03.09.12 11h34
Pra min o pior problema deste ginásio e o fato dele não possuir climatização, isso praticamente impossibilita a realização de competições durante o dia, pois o mesmo é uma imensa sauna!
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