LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
Membro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-MT) e doutor em engenharia civil da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), o professor Luiz Miguel de Miranda criticou o erro cometido na execução de um dos pilares do viaduto da UFMT.
A falha, cometida e identificada pelo Consórcio VLT Cuiabá-Várzea Grande há pouco mais de um mês, é apontada como “gravíssima” pelo conselheiro – digna, até mesmo, de ser alvo de uma ação judicial.

" Ninguém comete um erro desses em um projeto de tal envergadura"
“Esse erro é grosseiro mesmo. Todo mundo sabe. Merece uma ação judicial. Ninguém comete um erro desses em um projeto de tal envergadura. Vai ver quanto isso vai custar para os cofres públicos”, afirmou Miranda, em entrevista ao
MidiaNews.
O problema está ligado à cota de acabamento (altura) dos pilares para assentamento das vigas pré-moldadas, o que impede o nivelamento das três faixas previstas para serem construídas no elevado.
Miranda disse ser um crítico da falta de anteprojeto para a realização da obra – uma vez que a obra foi licitada pelo modelo de Regime Diferenciado de Contratação (RDC), dentro do pacote de implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).
O professor salientou que, apesar de ser apontado como um “errinho” pelo governador do Estado, Silval Barbosa (PMDB), e das tentativas da Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo (Secopa) de minimizar o fato, o erro é grave e passível de cassação do diploma do engenheiro responsável pelo projeto.
“Esse erro aí é para entrar no Crea [Conselho Regional de Engenharia e Agronomia] e perder a licença. É para suspender o diploma de quem fez esse projeto. Se isso daí passa no conselho, na minha mão, eu proponho de imediato responsabilizar o projetista e ir atrás do diploma desse cara. Ele não pode cometer um erro desses, tal a gravidade técnica da obra”, afirmou.

"Esse erro aí é para entrar no Crea e perder a licença. É para suspender o diploma de quem fez esse projeto"
Correção do problemaPara solucionar o problema, o consórcio informou que irá demolir a viga travessa e a complementação do pilar, para que atinja a altura prevista no projeto.
As vigas pré-moldadas já lançadas sobre os pilares deverão ser removidas e recolocadas quando a ação for concluída.
Segundo o consórcio, a correção será finalizada até o final deste mês e o viaduto será entregue pronto para uso em agosto deste ano – sem risco de comprometimento do cronograma.
De acordo com Miranda, um erro dessa magnitude implica em ajustes de prazos e cronogramas, independentemente do tamanho da falha que, segundo o secretário da Copa, Maurício Guimarães, não passou de 30 cm de diferença na altura de um dos pilares.
“Você inviabiliza todo um prazo já previsto. Não sei onde foi esse defeito, mas se for de 5 cm, 20 cm ou 40 cm, o trabalho é o mesmo. Tem que destruir uma peça e recompor para colocar na cota certa do projeto”, explicou.
Sem riscosO conselheiro do Crea-MT explicou que o risco físico e estrutural da obra é “praticamente zero”, e que o único problema é que a correção do problema resulta em gastos a mais na obra – ainda que a Secopa afirme que os custos serão assumidos integralmente pelo consórcio.

"O que a sociedade quer saber é quem está bancando esses custos. É um problema fácil de você corrigir, só que custa dinheiro"
“Risco de engenharia não tem nenhum. O problema é você destruir o que já está feito para reconstruir e fazer novamente. Tudo isso daí tem custos. O que a sociedade quer saber é quem está bancando esses custos. É um problema fácil de você corrigir, só que custa dinheiro”, disse.
A obraO elevado está sendo construído pelas empresas Santa Bárbara, CR Almeida, CAF Brasil Indústria e Comércio, Magna Engenharia Ltda. e Astep Engenharia Ltda.
O consórcio formado pelas empresas é responsável pelo pacote de obras para implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) na Grande Cuiabá, orçado em R$ 1,477 bilhão.
Atualmente, a obra possui 70% dos serviços concluídos – sendo 100% referentes à fundação, 78% da mesoestrutura e 32% da superestrutura.
O viaduto da UFMT terá 428 metros e será erguido sobre os entroncamentos das avenidas Brasília, Fernando Corrêa da Costa e Tancredo Neves e a via de acesso ao campus da UFMT.
A obra será constituída de duas faixas de circulação por sentido para o tráfego geral e uma via central permanente para a passagem do VLT.
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