Novo presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Cuiabá, o empresário Júnior Macagnam afirmou que um dos maiores desafios de sua gestão será enfrentar a concorrência desleal entre o comércio local e as lojas virtuais chinesas, que dominam o mercado de vendas atualmente.

"Hoje, a nossa concorrência não é mais local, porque concorremos com sites que estão instalados na China. A ideia da CDL é preparar os nossos lojistas para que forneçam aos consumidores a melhor experiência possível, com o apoio, inclusive, da tecnologia", afirmou.
Em entrevista exclusiva ao MidiaNews, ele defendeu a ideia de se criar um atendimento personalizado nas lojas e estabelecimentos de Cuiabá, para, dessa forma, oferecer um diferencial em relação às compras virtuais.
Essa estratégia, segundo ele, poderá minimizar a situação de lojistas que já vem sendo diretamente afetados em Cuiabá.
"Entendo que a população quer comprar por um valor mais barato. Todo mundo quer comprar mais barato. Mas também não é justo o comerciante local pagar impostos caríssimos e o importado não pagar impostos, porque aí a gente não entra em condições de igualdade de competição", disse.
Ao longo da entrevista, o presidente da CDL Cuiabá também fala sobre os obstáculos na transição da Reforma Tributária, avalia o primeiro ano do Governo Lula (PT) para o comércio e demonstra preocupação com a queda na produção de safra em Mato Grosso.
Confira os principais trechos da entrevista:
MidiaNews - O senhor acaba de assumir a presidência da CDL Cuiabá. Quais as diretrizes de sua gestão?
Júnior Macagnam - O grande desafio hoje, do varejo, do comércio, dos serviços, é tentar personalizar o atendimento cada vez mais. É tratar o cliente com tudo que ele gosta, para que na hora que chegar em uma loja, tenha a melhor experiência possível.
Hoje, a nossa concorrência não é mais local, porque concorremos com sites que estão instalados na China. A ideia da CDL é preparar os nossos lojistas para que forneçam aos consumidores a melhor experiência possível, com o apoio, inclusive, da tecnologia.
Chega o cliente na loja e, a partir do momento da identificação dele pela face, o sistema já vai ter que dar informações se o cliente já comprou, do que poderia ter comprado, etc. Temos que preparar os lojistas para que eles entrem efetivamente na era tecnológica, porque isso ainda é carente em nosso Estado.
MidiaNews - Então, a ideia é fazer um banco de dados para as lojas?
Júnior Macagnam - Na verdade isto vai começar pela tecnologia. Vamos ter que buscar formas dos lojistas renovarem o parque tecnológico deles, para que tenham computadores, celulares, de forma que possam fazer com que essa inteligência artificial rode.
MidiaNews - E, em sua opinião, quais os outros desafios do comércio de Cuiabá para 2024?
Júnior Macagnam - Outro grande desafio será os projetos de lei da reforma tributária, que passaram na Câmara, que ainda faltam os projetos para determinar qual que vai ser a alíquota.
Hoje, há estudos que indicam que vamos ter a maior alíquota do mundo. Vamos ter que preparar o lojista para essa transição de reforma tributária, que pelo que a gente leu até o momento, parece que vai ser bastante complexa.
MidaNews - Em relação à reforma tributária, acha que essa era uma medida necessária?
Júnior Macagnam - A reforma tributária é uma luta de mais de 40 anos. O sistema tributário que a gente tem hoje é o mais enrolado do mundo. Nesse aspecto de simplificação, vai atender aos objetivos. Porém, com várias exceções que foram colocadas, ficou a dúvida sobre a alíquota.
Como disse antes, a impressão que passa é que a alíquota será a maior do mundo. E aí também entra o aspecto da transição, porque vamos ter um período no qual estarão funcionando dois sistemas, por isso ela vai ser complexa e trabalhosa.
O que espero é que depois dessa transição, a gente realmente esteja num lugar melhor, com mais facilidade e sabendo realmente como será a alíquota.
MidiaNews - A safra da soja pode ter uma quebra de 20% neste ano por causa da seca. O senhor teme que isso se reflita em queda nas vendas do comércio?
Júnior Macagnam - Na realidade, o agronegócio é que alavanca o Estado, consequentemente tudo esta atrelado a ele. Se o Agro apresentar queda, provavelmente vai ter queda na renda de colaboradores.
As próprias empresas do agronegócio terão menos rentabilidade e menos lucro. Isso, de uma forma geral, acaba influenciando em tudo. O Governo do Estado poderá arrecadar menos, o que gera menos investimento, menos dinheiro circulando, que significa que terá menos compras e menos vendas. Acredito que, de certa forma, o comércio também será atingido.
MidiaNews - Como está a questão da informalidade, que sempre existiu no comércio de Cuiabá, com sonegação de impostos?
Júnior Macagnam - A CDL sempre primou pela defesa da legalidade. Não podemos esquecer que sonegar e vender produtos falsificados, além de ser crime, traz prejuízos à imagem e reputação da empresa junto aos seus clientes.
O Estado vai buscar essa arrecadação sonegada naqueles que pagam impostos fazendo com que a carga tributária desses seja maior, ou seja, além de tudo é uma injustiça com quem recolhe tributos.
A CDL, em parceria com o Governo, tem o programa Empreenda Mais, que neste ano está impactando mais de 4 mil pessoas com treinamento e acompanhamento técnico para que legalizem suas atividades e tenham sucesso nos seus empreendimentos.
Quem vive na informalidade é importante buscar se legalizar, porque com a reforma tributária vai praticamente acabar.
MidiaNews - As grandes redes do varejo brasileiro vivem uma crise. E parte da culpa está na concorrência desleal de plataformas como a Shein e Shopee, que conseguem colocar produtos chineses no Brasil a preços impraticáveis. Como enfrentar isso?
Júnior Macagnam - Acho que o empresário brasileiro quer equidade de competição. Se o produto chinês entra sem imposto e nós pagamos uma das maiores cargas tributárias do mundo, fica muito difícil competir.

A gente sabe que na Internet, o grande número de consumidores são formados pela Geração Z, que é muito comprometida com o meio ambiente, com a sustentabilidade.
Agora eu pergunto: como é que esses produtos são produzidos na China? Porque os que são produzidos no Brasil seguem uma legislação trabalhista extremamente rigorosa. Todos os nossos trabalhadores têm seus direitos pagos, o comerciante, o industrial paga os impostos. Mas como é que são esses produtos que vêm de fora?
Então, o que a gente quer é que haja uma equidade de competição. Para que o imposto de lá seja o mesmo que o daqui, senão, realmente, fica muito difícil.
MidiaNews - O senhor acha que esse comércio online é capaz de quebrar os lojistas no varejo brasileiros ?
Júnior Macagnam - Eles estão atrapalhando, porque a gente viu que a rentabilidade de algumas redes sofreram um baque bastante significativo, principalmente quando você vê o volume de vendas que estão sendo efetuados por esses marketplaces internacionais. De uma certa forma, afeta diretamente o nosso comércio.
MidiaNews - Ainda nesta questão de controle da produção, o senhor acha que precisa de mais exigências referente às informações de onde vem os produtos?
Júnior Macagnam - Acho que essa é uma exigência que deve vir do consumidor. Ele é que tem que ditar, pedir e se informar. Essa é uma prerrogativa que tem que partir do consumidor, saber onde é produzido e por quem é produzido. Não é a gente como empresário e lojista que vai poder exigir isso.
MidiaNews- Houve um período, em 2023, que o Governo Federal afirmou que iria cobrar impostos de produtos vendidos online. Como consequência houve uma grande "revolta online" e o Governo recuou.
Júnior Macagnam - Entendo que a população quer comprar por um valor mais barato. Todo mundo quer comprar mais barato. Mas também não é justo o comerciante local pagar impostos caríssimos e o importado não pagar impostos, porque aí a gente não entra em condições de igualdade de competição.
Isso afeta muito a sobrevivência dos negócios aqui, porque acaba que não geramos emprego, renda, impostos, que é convertido a investimentos em educação, saúde e segurança… Então, essa é uma coisa muito mais complexa do que simplesmente não querer pagar impostos.
É muito fácil falar: não quero pagar imposto, porque quero o produto mais barato. Ok, mas também tem que pensar que você vai ficar sem educação, sem saúde, sem segurança, porque isso é advento do Estado e ele não produz dinheiro. O dinheiro do Estado é fruto da arrecadação de quem produz.
MidiaNews - O pequeno comércio também perdeu terreno para os chineses em Cuiabá?
Júnior Macagnam - O pequeno comércio, na realidade, tem cada vez mais que personalizar o atendimento. Trazer experiências positivas para o consumidor, de forma que o preço seja a última coisa que ele vá pensar: "Prefiro pagar um pouquinho mais caro, mas ter um atendimento diferenciado, com estacionamento na porta, onde todos me trata bem, todos me conhecem, onde não sou mais um número no cadastro".
Na realidade, o que o pequeno comércio tem que fazer é isso, treinar cada vez mais os colaboradores, ser mais assertivo nos estoques, para que atenda o cliente e cada vez mais pessoalizar o atendimento.
MidiaNews- Como o senhor avalia o primeiro ano do Governo Lula para o comércio?
MidiaNews
Júnior Macagnam assumiu a presidência da CDL Cuiabá agora em janeiro
Júnior Macagnam - Tivemos alguns momentos de baixa, principalmente no mês de agosto, setembro, onde as vendas caíram em função de uma inflação nos alimentos, mas depois de outubro e novembro a inflação caiu, e o consumo retomou. Mas temos também que agradecer a independência do Banco Central.
O fato do Banco Central ser independente e o Roberto Campos Neto estar firme nas posições, fez com que os juros tivessem queda, mesmo com o governo não controlando o déficit público, porque o Governo, infelizmente, está gastando mais do que arrecada, o que causa um rombo na faixa de R$ 77 bilhões. Mas a inflação começou a cair, graças à independência do Banco Central.
Eu acho que o programa “Desenrola" do Governo Federal foi um bom programa. Acho até que o Governo poderia fazer, além de um Desenrola para pessoa física, um programa para CNPJ no ano de 2024, porque é muito mais fácil conseguir abrir negociações antes de que as empresas peçam recuperação judicial.
Passou a reforma tributária, o que é um avanço que queríamos há muito tempo. Eu acho isso um ponto positivo, mesmo com todas essas incongruências que apontei no início da entrevista. Vamos ver se o Governo vai conseguir manter o déficit zero neste ano 2024, porque o dólar está baixando, a inflação está baixando, o juro está baixando e talvez a gente tenha um ano 2024 promissor
MidiaNews- E qual avaliação faz do Governo Mauro Mendes?
Júnior Macagnam - Mato Grosso tem os maiores PIBs do país, o crescimento do Estado é um dos maiores do país. O Governo está preocupado justamente em fazer a infraestrutura, que é o que a gente tem necessidade.
Vejo o governador Mauro Mendes também preocupado com a industrialização, porque é muito importante não só exportar matéria-prima, na realidade a gente tem que transformar essas matérias daqui para agregar valor e para deixar esse valor no Estado.
Ele está fazendo vários investimentos em hospitais, em Saúde, na Segurança e tem sido um parceiro do comércio. Fizemos as campanhas de Natal junto com o Governo, que atendeu os apelos do comércio e manteve a alíquota básica em 17%.
MidiaNews - Setores como o agronegócio, as igrejas evangélicas e os servidores públicos, por exemplo, há tempos estão representados na política. O senhor não acha que os lojistas carecem de uma maior representatividade na política mato-grossense?
Júnior Macagnam - Tenho plena convicção de que sim, nós somos mais de 200 mil empresas, quer dizer, se só o proprietário da empresa votasse em um candidato a deputado federal ou no candidato a deputado estadual, teríamos uma bancada.
Poderíamos fazer um a dois deputados federais, três a quatro deputados estaduais, mas infelizmente o nosso setor não tem essa consciência de união. O empresário do comércio é politizado, mas evita participar da política partidária. Isso faz com que o setor acabe não elegendo representantes. Diferente de outro setores, como o agronegócio, que sempre está lutando para eleger representantes.
MidiaNews - Esse cenário pode ser mudado entre os lojistas?
Júnior Macagnam - Sem dúvidas, e acredito que essa seja uma forte tendência. Temos políticos, como o deputado Diego Guimarães, que fez a frente parlamentar do comércio na Assembleia Legislativa. Ele e mais alguns deputados têm atendido nossas demandas e sempre nos recebem bem. Mas não são do comércio.
Seria interessante a gente ter representantes, não só na Câmara Federal, na Assembleia, mas também na Câmara Municipal. Isso obviamente nos fortaleceria.

MidiaNews - Nesta semana entrou em vigor a legislação estabelecendo que os juros do cartão de crédito rotativo não podem exceder em 100% o valor original da dívida.
Júnior Macagnam - Provavelmente, o que vai acontecer é que os bancos vão restringir mais o crédito. Os juros são extorsivos, mas a partir do momento que você começa a criar distorções, criar legislações, o setor vai se defender e acabar limitando o crédito para evitar que a pessoa se endivida. Inclusive, os bancos estão pedindo até para que se restrinja as parcelas de parcelamento, na venda parcelada.
Os bancos queriam que isso fosse bastante reduzido, mas a gente conseguiu, via CNDL, manter as parcelas como está hoje. É uma medida simpática, mas acredito que o efeito prático vai ser muito pequeno, porque, às vezes, se você tem um crédito, acaba não conseguindo pagar o mínimo e o que eles vão fazer com quem só paga o mínimo?
Eles vão restringindo e vão aumentar o juros de outras coisas para colocar esse dinheiro de volta, porque na realidade a rentabilidade dos bancos com isso vai cair.
Midianews - O brasileiro é um povo bastante endividado. O senhor atribui isso à falta de educação financeira ou a uma certa esperteza de querer levar vantagem?
Júnior Macagnam - Não tem como levar vantagem no crédito, porque a conta chega. Basta ver que a gente tem quase 70 milhões de pessoas registradas com SPC no Brasil. Quase um terço da população brasileira está no SPC.
Acho que falta mesmo é educação básica de qualidade, educação financeira: fazer orçamento, fazer planejamento. Isso aí só vai vir na hora que a gente melhorar nossa educação.
O Brasil está novamente entre os últimos lugares na Educação - e não é por falta de recursos. Tem 40 anos que a gente gasta 6% do PIB em educação, a Coreia gasta 6% do PIB em educação. Há 40 anos atrás um operário brasileiro tinha o mesmo nível de produtividade de um operário coreano.
Hoje o operário coreano produz 4 vezes mais que o operário brasileiro e consequentemente está ganhando 4 vezes mais. Então, a gente gastou mal nesses 40 anos nosso 6% do PIB em educação. A gente gasta muito na educação superior e pouco na básica.
MidiaNews - O senhor defende a formação financeira no ensino público do país?
Júnior Macagnam - A gente não pode obrigar ninguém a aprender, mas se estiver lá na grade curricular, com noções básicas de educação financeira, com noções básicas de finanças, de controle orçamentário, até para que entendam que não tem como você gastar mais do que ganha, a coisa começa a mudar. O brasileiro, no geral, não tem essa cultura de poupar.
MidiaNews - A CDL Cuiabá já tem um balanço de como foi este fim de ano no comércio?
Júnior Macagnam - O balanço da CDL em Cuiabá foi extremamente positivo. Em outubro, fizemos uma parceria com a Fiemt (Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso), onde mais de 4 mil vagas para emprego foram ofertadas e apareceram mais de 6 mil candidatos. Com isso, conseguimos fazer com que muitas pessoas passassem o Natal empregadas. E as empresas também puderam contratar com mais facilidade, já que há uma grande dificuldade em encontrar colaboradores.
Para finalizar o ano, fizemos a campanha “Natal premiado CDL”. O sorteio será no dia 12, às 10 horas da manhã no Aecim Tocantins, e serão sorteados 4 carros, 4 motos, 4 caminhões de prêmios e 80 vale prêmios. Também serão premiados 12 colaboradores das lojas que atenderam os premiados. Essa é a maior campanha de varejo já feita no Estado, em parceria com o Governo do Estado.
O que sentimos nesse final de ano, aqui em Cuiabá, foi que os shoppings estavam bastante decorados, mas a gente sentiu muita falta de luz, de decoração natalina nas ruas da cidade. Esse é um compromisso que temos para o ano de 2024: levar iluminação para as ruas, para que a gente consiga fazer em Cuiabá um Natal Iluminado. Em 2023, infelizmente, isso não aconteceu.
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