Cuiabá, Sábado, 20 de Dezembro de 2025
NASCIMENTO DE JESUS
20.12.2025 | 18h00 Tamanho do texto A- A+

“Natal combina com partilha; consumismo exagerado é desumano”

Arcebispo de Cuiabá, Dom Mário, cita importância da sobriedade e solidariedade nas festas de fim de ano

Victor Ostetti/MidiaNews

Arcebispo de Cuiabá, Dom Mário Antônio da Silva, que abordou importância do natal

Arcebispo de Cuiabá, Dom Mário Antônio da Silva, que abordou importância do natal

ANDRELINA BRAZ
DA REDAÇÃO

Na semana do Natal, que celebra o nascimento de Jesus, o arcebispo de Cuiabá, Dom Mário Antônio da Silva, refletiu sobre os valores do período diante das práticas da sociedade contemporânea.

 

Porque o Natal combina com partilha, com desprendimento e, como é final de ano, com novos planejamentos de vida

Segundo o líder religioso, esta época do ano deve ser vivida como um momento de partilha, com cautela diante do consumo excessivo de comida, bebidas e bens materiais.

 

O arcebispo ressaltou que ultrapassar os limites de consumo é um ato desumano tanto consigo mesmo quanto com o próximo, em uma data marcada pela “sobriedade e solidariedade”, e destacou a importância da união e da reflexão nas práticas sociais para reduzir a violência no estado.

 

“Todo consumismo, todo exagero na ordem material é até desumano. Às vezes, é desumano até com a gente e, sobretudo, com as outras pessoas. Porque o Natal combina com partilha, com desprendimento e, como é final de ano, com novos planejamentos de vida”, disse ele em entrevista ao MidiaNews.

  

“Não tem como combater a violência e a criminalidade sem paz e harmonia pessoal”, acrescentou.

 

Ainda na entrevista, Dom Mário comentou sobre o aumento do feminicídio em Mato Grosso, contra pessoas LGBTs e a entrada de jovens em facções criminosas. 

 

 

 

Confira os principais trechos da entrevista (e o vídeo com a íntegra ao final da matéria):

 

MidiaNews - O Natal é um momento de intenso consumo. Essa obsessão por coisas materiais não fere o espírito desta época do ano?

 

Dom Mário Antônio - Estamos vivendo na igreja católica o que chamamos de tempo de advento, que é o tempo de espera, de esperança e preparação para o natal. Não poucas vezes, a gente reza pedindo a Deus que nos dê a capacidade de usar os bens materiais, mas sem nele fixá-los, sem depender extremamente deles. Fazer um uso sábio, inteligente, lúcido, como sinal de que aguardamos a realização e esperando os bens espirituais.

 

Todo consumismo, todo exagero na ordem material, é até desumano. Às vezes, é desumano até com a gente e, sobretudo, com as outras pessoas. Porque o Natal combina com partilha, com desprendimento, como é final de ano, com novos planejamentos de vida.

 

Victor Ostetti/MidiaNews

Dom Mário

 

Eu digo esse desprendimento e esse espírito de partilha naquilo que se refere a bens pessoais, seja roupa, seja as suas próprias economias, calçado, também comidas, bebidas, quer dizer, nada em exagero.

 

Quando exagera, o nosso corpo sente, ele já reprova. Na medida em que fazemos isso com naturalidade, com bom senso -  não digo com regras de rigor, essas questões todas - de maneira saudável, faz bem para o corpo, faz bem para a alma, faz bem para nós e para todos que convivem conosco.

 

O Natal é sobriedade e solidariedade. E se necessário algum jejum, alguma restrição, que seja feita com bom senso, lucidez e espírito de partilha.

 

MidiaNews - Acha que o Natal perdeu o real significado ao longo dos anos?

 

Dom Mário Antônio -  Vivemos tempos de muitas mudanças e até mesmo na maneira de viver a espiritualidade e a religião. Embora, o mundo de hoje, sobretudo a nossa população cuiabana, mato-grossense, tem muito afeto pelo religioso, tem muita busca pelo sagrado. Isso é um ponto forte nos dias de hoje. Na mesma medida que tem muita gente buscando o sagrado, tem gente também se afastando. Até mesmo os chamados sem religião.

 

Mas o Natal passa também por mudanças. Hoje a gente vê: quem é muito esperto no tempo natalino é o comércio, com todo respeito e carinho, e a comunicação. São instâncias que estão muito ligadas, muito espertas para o tempo natalino. Mas é preciso que tenha também a mentalidade natalina. Então, o sagrado, a religião nos ajuda a ter a mentalidade natalina.

 

Ou seja, o espírito cristão, bíblico, de partilha e solidariedade, amor aos irmãos, de união familiar. Acredito também que tanto o comércio quanto a comunicação e todas as outras instâncias poderão se revestir do espírito natalino. Na medida em que promove valores humanos e valores cristãos na vivência das pessoas.

  

MidiaNews – E o que o senhor espera para o próximo ano de 2026?

 

Dom Mário Antônio - A gente conversa com muita gente e todo mundo fala: ‘Nossa, como esse 2025 passou rápido’. E eu falo que não sei se 2026 vai demorar, mas que já está chegando.

 

Eu penso assim, que o importante é finalizar de maneira sensata este ano de 2025. É evidente que estamos no último mês e já se trata de fazer um planejamento para o ano que vem. Se for ver a minha agenda para o ano que vem, já tenho vários compromissos.

 

Esses dias estava conversando com uma terapeuta. Ela pediu calma, nada de ansiedade. Vamos viver o aqui e agora, porque o 2026 vai chegar. E de fato, acho que a melhor maneira de prepararmos o ano vindouro é aproveitar ainda muito, muito bem, o espaço cronológico que temos neste ano. Sem ansiedade, mas com muita precaução.

 

Acho que tudo o que fazemos neste ano deve ser uma alicerce para o ano que vem. E, aí, o ano 2026 não é que vai ser maravilhoso, é preciso um caminho. Acho que todo ano tem seus momentos maravilhosos e seus momentos questionantes, interpeladores, de desafio. Por isso, além do cronológico, nós que somos pessoas de fé e esperança temos também o chamado cairológico.

 

O cairológico, quero dizer aquilo que provém da graça de Deus. É aquilo que provém da nossa bondade para com as outras pessoas.

 

 

 

MidiaNews – O senhor abordou dois temas interessantes: a religiosidade e a ansiedade, relacionada à saúde mental. Como é possível conciliar o cuidado com a saúde mental e manter a relação com a igreja e a religião?

 

Dom Mário Antônio - A saúde mental é de fato um elemento irrenunciável hoje. Acho que tudo o que fazemos, até mesmo religioso, deve contribuir para a saúde mental. Porque ela é para o bem do corpo, ou o bem da pessoa. Quando digo pessoa, é corpo e espírito. E nos ajuda a ter o equilíbrio, nos ajuda a ter a sensatez, a avançar sem ansiedade e sem atropelar nada. 

 

Vivemos tempos de muitas mudanças e até mesmo na maneira de viver a espiritualidade e a religião

E o que me ajuda na saúde mental e pode ajudar tantos outros? São as virtudes humanas. Quando falo virtudes humanas, penso na justiça, penso na fortaleza, penso na prudência e penso na temperança. São quatro virtudes que não são apenas quatro palavras, mas que nos fazem pensar de maneira ampla e plena naquilo que nos solidifica como pessoa. Nos faz mais humanos e abertos ao espiritual.

 

Quando falo das virtudes humanas, elas não nos isolam, mas nos colocam em comunhão também com as virtudes cristãs. E, sobretudo, com as virtudes teologais, que chamamos de fé, esperança e caridade. Quanto mais eu me aplicar nas virtudes, nas forças positivas humanas, mais me adentro nas forças positivas espirituais e de santidade.

 

MidiaNews – Com a tecnologia e as redes sociais, os jovens ficam o tempo todo nos celulares. Como a Igreja está buscando dialogar com esses jovens e aproximá-los da igreja?

 

Dom Mário Antônio - Nós vivemos na cultura tecnológica, no mundo da comunicação, você está aí com seu celular ao lado, eu estou com o celular aqui do meu lado, quem está nos ajudando aqui está no seu celular, você que está aí nos acompanhando também não está longe do celular. É mais do que um aparelho, uma tecnologia, é um ambiente, seja de trabalho, de comunicação e até mesmo de santificação.

 

Sempre dialogando com os jovens. Eu pergunto assim: "O que é que mais nos ensina hoje?". Deixo um pouco de silêncio e pergunto: "É a inteligência artificial ou é a nossa família? É a nossa escola no âmbito educacional ou é a internet?". É inegável a importância da internet, da inteligência artificial para as questões de hoje, até para as pesquisas, mas a importância maior tem a vida com a família, as relações, o diálogo e também o ambiente educacional, físico, presencial, como a escola e também a catequese para nós, para os nossos fiéis. O que quero dizer com isso? A importância de toda a tecnologia e seus elementos, mas não pode suplantar as relações humanas.

 

Então é preciso atenção, é preciso disciplina e digamos assim, inteligência para que tudo isso não seja desfavorável ao que de melhor temos: a convivência humana, é a Interajuda [ajuda mútua], é a superação dos males e a promoção do bem.

 

 

MidiaNews  - O ano de 2025 foi um ano de renovação também para a Igreja Católica com a escolha do novo Papa. Como analisa esses primeiros meses do Papa Leão XIV  e como isso pode influenciar também a religiosidade aqui em Cuiabá?

 

Dom Mário Antônio  - Falando de Papa, falando da nossa Igreja, de fato, a Igreja vive sempre um espírito de continuidade e de renovação. Renovação nas pessoas, renovação nos ensinamentos, mas de continuidade com tudo aquilo que Cristo nos deixou: o Evangelho, seu testemunho, sua vida, seu nascimento, vida, morte e ressurreição.

 

Você me faz lembrar o nosso querido e amado Papa Francisco. Mas também me faz me unir com muita esperança e gratidão pelo que temos visto desde a sua eleição, o nosso querido e também amado Papa Leão XIV que tem insistido muito, muito, muito com todas as pessoas, não só pessoas católicas, de serem pontes e produtoras da paz.

 

Ele tem sido incansável diante de guerras e conflitos que precisamos dedicar nosso tempo, dedicar a tecnologia, dedicar nosso tempo de oração e de ação para semearmos a paz. Ele é convicto de que precisamos avançar muito, muito nisso. E eu digo, inclusive no Brasil, inclusive no nosso Estado e na nossa cidade.

 

Victor Ostetti/MidiaNews

Dom Mário

 

MidiaNews – O senhor citou a questão de conflitos e temos visto o aumento, também, de casos de violência contra a mulher e feminicídios. A que atribui esse crescimento e o que acredita que a Igreja pode fazer para evitar?

 

Dom Mário Antônio -  Toda violência deveria, digamos, arrancar de nós gritos. Gritos pela paz. Grito pela defesa dos mais frágeis. Grito por aqueles que são alvos de violência, de abuso e de qualquer discriminação.

 

No campo da violência no Brasil, inclusive em Mato Grosso, a gente tem visto com muita tristeza uma escalada crescente contra a mulher. O feminicídio. A gente fica indignado pelas ocorrências desse fato e pela maneira com que se realizam esses atos. É desumano, é cruel, é inadmissível.

 

Deveríamos realmente nos unir, mulheres e homens, sociedade e Igreja, no combate de toda e qualquer violência, que muitas vezes começa com uma mensagem no WhatsApp, que começa com uma palavra agressiva, em outro aspecto. E depois vai para o campo familiar, social e outros tantos aí, como a gente vê. Então, acho que precisamos encontrar o caminho da paz e esse caminho não vai acontecer se não tivermos Deus no nosso coração. Quando a gente tem Deus no coração, consegue partilhar um pouquinho do amor e da paz que Ele é para todos.

 

A saúde mental da cidade não está na beleza dos prédios, das praças e das ruas. Está nas pessoas, está em você, está em mim, em todos nós. Então, somos colaboradores que a gente possa dar as mãos e realmente optar pela paz, abraçando a justiça, a verdade e a solidariedade.

 

MidiaNews - Ainda nesse sentido, o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, apontou um aumento de violência contra a população LGBT aqui em Mato Grosso, considerado um dos estados mais violentos para a comunidade. Como a Igreja vê esse crescimento da violência motivada pelo ódio ao outro?

 

Dom Mário Antônio – A paz combina com o respeito, combina com harmonia, combina com aceitação do diferente e amor e ajuda ao diferente. Em contraponto, a violência traz o desrespeito, traz as provocações, traz o insulto, traz a maldade, traz a agressão e, às vezes, até o assassinato. Eu vejo que é preciso, primeiro, considerar a dignidade da pessoa humana. Tanto você quanto eu fomos criados à imagem e semelhança de Deus.

 

As pessoas também de orientação sexual foram criadas à imagem e semelhança de Deus. Aqui está o ponto básico, a dignidade do ser humano, que é um valor primordial nas relações pessoais. Claro, para nós da Igreja Católica, acolher a pessoa é algo importante, mesmo que a gente não aprove o comportamento.

 

Mas isso não pode fazer com que eu haja com violência ou com ignorância em relação a essas pessoas. Neste campo, o catecismo da Igreja Católica é muito preciso em nos aconselhar que as pessoas devem ser respeitadas e amadas. Porém, nem sempre podemos, digamos assim, aplaudir ou fazer valer um comportamento que não esteja de acordo com a doutrina cristã no uso da própria sexualidade.

 

Mas isso não nos dá direito de discriminar ninguém. Eu faço votos de que, mesmo que a gente pense diferente, as ações ou as relações sejam de compreensão, seja de entreajuda e de espírito cristão e cidadão. Para que evitemos o desrespeito, a discriminação e os possíveis contextos de violência.

 

A gente também é solidário às famílias das pessoas que integram os grupos LGBT e todas as denominações que se tem, sem aprovar um comportamento de homossexualidade, mas de respeito às pessoas de tal orientação.

 

 

MidiaNews - Falando um pouco sobre a questão dos jovens e a violência urbana. Nos vemos o crescimento de organizações criminosas e observa-se que cada vez mais jovens acabam se envolvendo com o crime organizado. Como a sociedade e a igreja católica podem atuar para reverter essa realidade?

Será um desespero achar que a solução para essa criminalidade, seja construir mais presídios

 

Dom Mário Antônio - A gente tem assistido muitas cenas de violência envolvendo adolescentes, até crianças e muitos jovens. Estarrece o nosso coração perceber que vivemos em cidades, e isso no Brasil todo, não só na nossa Cuiabá, Várzea Grande, mas vivemos em cidades que tem muita violência. Às vezes, nos finais de semana, a morte de muitos jovens, por vingança entre facções, por questão do tráfico de drogas, por violência no trânsito, por violência familiar, por uso de drogas, de bebidas de maneira irresponsável...

 

Isso dói o nosso coração. Agora, não tem como combater tal violência, tal criminalidade, se não pela paz e harmonia pessoal. Depois, consequentemente, no espírito das famílias, mais do que uma estrutura familiar, no espírito familiar de convivência, de harmonia, de docilidade, de entreajuda, e que isso vá se expandindo para a comunidade religiosa ou não, para o grupo de trabalho, para o grupo profissional, para o grupo escolar e, consequentemente, toda a sociedade.

 

Será um desespero achar que a solução para essa criminalidade e até mesmo para a questão das facções criminosas, seja construir mais presídios, seja eliminar mais pessoas ditas, às vezes, do crime organizado. Claro, é preciso estar atento a tudo isso para combater. Não digo que hoje no Brasil não tenha necessidade de mais prisões, tem, infelizmente, mas se investimos em mais prisões e não investimos em escolas, em educação, em oportunidade para que as famílias tenham um ambiente seguro para seus filhos, as facções criminosas, o crime organizado, vai continuar tendo uma clientela grande e muito precocemente.

 

MidiaNews – O senhor comentou sobre o dinheiro e a riqueza em um contexto de forte cultura da ostentação nos dias atuais. Em sua avaliação, esse cenário acaba influenciando jovens a seguirem este caminho da criminalidade?

 

Dom Mário Antônio  - Ostentação, dinheiro, é um atrativo, porque mexe com a soberba, que é um dos pecados capitais. Orgulho, que é a mesma coisa, ou a soberba. E quem hoje não quer ser bem resolvido, ou ter boa aparência, ou ter chance no mundo de hoje? Mesmo que, às vezes, fazendo uso da mentira, da prepotência e da opressão. Parece que não está contando muito isso. Acho que isso não vale a pena. Isso tem curto prazo de felicidade ou até de prazer e validade. Não vale a pena.

 

É preciso optar por aquilo que é mais duradouro e permanente. Mesmo que tenha mais sacrifício. Mesmo que seja mais lento.

 

Mesmo que exija a renúncia para que isso aconteça. Então, longe de nós essa ostentação. Longe de nós essa questão de avareza, de bens materiais em exageros, que a gente possa viver na simplicidade, na naturalidade. Claro, com conforto, mas sem nenhuma ostentação, sobretudo, de uma vida burguesa à custa do sofrimento de outros.

 

 

MidiaNews - Falando um pouco da partilha, a Campanha da Fraternidade de 2026 traz como tema “Fraternidade e Moradia”, propondo uma reflexão sobre a dignidade da moradia. Qual a importância do tema aqui em Mato Grosso, ao levar em consideração que somos um estado rico?

 

Dom Mário Antônio - Nós, na Igreja Católica, temos a campanha da fraternidade no tempo da quaresma. Que vai começar lá em fevereiro. Então, em 2026, a temática é essa mesmo. Fraternidade e Moradia. Jesus veio morar entre nós. Habitou entre nós. É a temática do Natal. Jesus que habita entre nós. O salmista vai dizer que Deus habita esta cidade. E habita onde? Os corações de cada um de nós.

 

E isso nos faz pensar na necessidade da habitação para as pessoas. De moradia. De moradia.

 

Eu tenho a minha casa, a arquidiocese tem lá a residência episcopal, esplêndida, construída por D. Aquino, habitada por D. Orlando, depois por D. Bonifácio, por D. Milton e eu agora lá com outros padres residindo. Que é o ambiente também do nosso trabalho. Mas sei que muita gente não tem moradia digna e se Deus possibilita a vida humana em 2025 e agora em 2026, na nossa cidade, no nosso estado, no Brasil e no mundo, o desejo dele é que todos também tenham moradia. Comida, bebida, vestimenta. Tenham saúde. Mas também tenham moradia. Onde residir de maneira digna, respeitosa para viver sua vida, sua vocação e sua profissão.

 

Victor Ostetti/MidiaNews

Dom Mário

 

Então é o nosso grande desafio para este ano que vem, 2026, na questão da campanha da fraternidade: refletir que a nossa conversão está em sermos capazes de possibilitar, na medida do possível, mais moradia, mais casa, que não seja apenas um prédio, mas que seja um lar.

 

MidiaNews – Como analisa essa discussão, considerando o crescimento de discursos de ódio direcionados à população mais vulnerável, inclusive por parte de figuras políticas?

 

Dom Mário Antônio -  É muito triste isso, porque a gente vê Jesus quando  começa a sua missão e diz: O Senhor me escolheu, me ungiu, me enviou para anunciar o Evangelho aos pobres. Eu sei que ser pobre não é bom. Jesus não valoriza a pobreza. Jesus não aplaude a pobreza, porque a pobreza dói. O que Jesus valoriza é a pessoa do pobre.

 

O que Jesus valoriza e até se identifica é com o pobre e com o necessitado. A gente precisa passar das estatísticas para uma prática que realmente afaste da vida das pessoas, a pobreza e a miséria. E sem preconceito. Claro que hoje é um pouco até demagógico, oportunismo de agir com intolerância aos pobres. Como se eles fossem a chaga da sociedade e como se fossem a causa de todas as mazelas do nosso mundo. No fundo, no fundo, são as vítimas das mazelas existentes.

 

Até das questões climáticas. Quem mais sofre são os pobres e outras consequências todas que eles têm aí em suas vidas. É preciso ter a coragem que teve Jesus de fazer a opção pelos pobres. Se não conseguimos viver como tais, eu, infelizmente, não consigo viver como os pobres, mas que a gente consiga viver como e, ao mesmo tempo, ter projetos, ter ações que possa contemplá-los.

  

MidiaNews  - O ano de 2026 será marcado por eleições, um período que, nos últimos anos, tem gerado forte polarização e conflitos até mesmo entre familiares e amigos. Como analisa esse cenário e que postura os cristãos devem adotar diante das diferenças de opinião?

 

 Dom Mário Antônio - As questões eleitorais no Brasil sempre foram efervescentes. E nos últimos anos ainda mais porque, aquilo que era mais efervescente, pelo menos na minha região, no norte do Paraná, no contexto municipal, onde as famílias se conheciam e tal, hoje se tornou efervescente a nível nacional. Isso não é um mal. Isso é um sinal de que estamos nos inteirando da macropolítica na questão do nosso país.  Mas, claro, isso não pode ser alimento para polarização. Para atitudes de inimizade. Nós precisamos saber conviver com o diferente.

 

 

O diferente nas opiniões políticas, religiosas... É inevitável hoje. Eu posso ter um pensamento diferente, mas não preciso destruir a pessoa. Não preciso fazer fofocas, maledicência com a pessoa que pensa politicamente diferente de mim, sobretudo nas questões partidárias ou nas questões ideológicas.

 

Agora, o que a gente deve fazer é que as questões políticas fiquem na prateleira da política.  Eu sei que tudo o que fazemos hoje tem interconexão com as questões políticas. Mas quando se leva uma ideologia ou uma polarização para um ambiente de religião, de trabalho, não é saudável.

 

MidiaNews -   Para o senhor, fé e política não devem se misturar?

 

Dom Mário Antônio - Aí já é outra questão. A fé não é inimiga da política e nem a política deve ser inimiga da fé. Mas uma não deve suplantar a outra. Uma não deve fazer o papel da outra. Nesse aspecto.

 

Como ciência e fé podem se entreajudar, desde que cada uma fique na sua dimensão, no seu campo. A política não é uma gaveta lá embaixo. Não. É uma prateleira, juntamente com a religião, com a ciência, com o comércio, que tem que ter caminhos de interconexão e não de dependência e supremacia.

 

Confira a entrevista na íntegra: 

 

 

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