Cuiabá, Sábado, 23 de Agosto de 2025
DESVIO DE R$ 15,8 MILHÕES
04.07.2017 | 15h33 Tamanho do texto A- A+

Nadaf diz que Piran tentou agredir Silval usando uma cadeira

Ex-secretário diz que metade de valor pago pelo Estado voltou para organização

Alair Ribeiro/MidiaNews

O ex-secretário de Estado Pedro Nadaf, que é réu confesso na ação

O ex-secretário de Estado Pedro Nadaf, que é réu confesso na ação

LUCAS RODRIGUES E THAIZA ASSUNÇÃO
DA REDAÇÃO

O ex-secretário de Estado Pedro Nadaf confessou ter participado do esquema investigado na 4ª fase da Operação Sodoma e afirmou que os crimes foram engendrados durante um almoço com o "staff" da gestão do ex-governador Silval Barbosa (PMDB).

 

Nadaf prestou depoimento na tarde desta terça-feira (04), à juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital. Ele foi preso em setembro de 2015, durante a 1ª fase da Sodoma, e foi solto em setembro de 2016, após decidir colaborar com a Justiça. 

 

A 4ª fase da Sodoma apura esquema ocorrido em 2014, consistente na desapropriação de um terreno de R$ 31,7 milhões no Bairro Jardim Liberdade, em Cuiabá, sendo que metade do valor (R$ 15,8 milhões) teria retornado como propina à organização criminosa comandada por Silval.

 

Segundo ele, parte do desvio (R$ 10 milhões) foi usada por Silval para pagar uma dívida com o empresário Valdir Piran, do ramo de factoring. 

 

Ele ainda relatou que o empresário Valdir Piran chegou a tentar agredir Silval com uma cadeira por conta do não pagamento desta dívida e pelo fato de o ex-governador ter lhe passado um cheque sem fundos.

 

Confira a audiência em tempo real:

 

Nadaf reafirma confissão (atualizada às 15h41)

 

O ex-secretário reafirmou a veracidade da denúncia e corroborou a confissão feita à Delegacia Fazendária (Defaz).

 

"Trata-se de uma desapropriação de uma área. Na época, o Silval tinha que saldar um compromisso financeiro que ele tinha com o [Valdir] Piran e o governador estava procurando formas de buscar recursos para pagar esse empresário".

 

"Silval comentou que o [procurador aposentado] Chico Lima havia dito que tinha uma área que já estava pronta para fazer o pagamento, que eu aprofundasse esse assunto com o Chico Lima. E aí eu conversei com o Chico Lima se tinha possibilidade. Ele disse que sim, e que inclusive ele disse que já tinha conversado com o dono da área e que estava acordado o retorno de propina no valor de 50%".

 

Segundo Nadaf, Chico Lima explicou que havia um jeito do Estado pagar esses R$ 30 milhões do terreno e ter o retorno de R$ 15,8 milhões.

 

"Mas o processo tinha que ter os trâmites legais dentro do Intermat, Administração, Fazenda. Fizemos uma reunião na hora do almoço com todos esses secretários dessas pastas e foi colocado o que cada um tinha que fazer para passar o procedimento. E aí foi feita a desapropriação"                       

 

Eu também utilizei parte do dinheiro da desapropriação para pagar a ex-deputada Luciane Bezerra [atual prefeita de Juara]. A dívida com ela era de R$ 700 mil, eu fui tirando um pouco dali, outro daqui para ir saldando

"Do valor de R$ 15 milhões de propina, R$ 10 milhões foram para pagar a dívida com o [Valdir] Piran", disse ele, referindo-se à dívida do ex-governador com o empresário do ramo de factoring.

 

Divisão da propina

 

Além dos R$ 10 milhões destinados a pagar a dívida de Silval com Piran, Nadaf explicou como ocorreu o restante da partilha da propina. 

 

"O restante ficou com a organização: R$ 600 mil para o Filinto [Muller, delator], R$ 700 mil para mim, R$ 600 mil para o Afonso Dalberto [presidente do Intermat], R$ R$ 700 mil para o Marcel [de Cursi, ex-secretário de Fazenda] - que na época disse que não queria o dinheiro naquele momento e que era para ficar guardado comigo -  e R$ 600 mil para o Arnaldo [Alves, ex-secretário de Planejamento].  

 

Nadaf também disse ter utilizado a sua própria parte da propina para pagar uma dívida de Silval com o empresário Alan Malouf, sócio do Buffet Leila Malouf.                     

 

"Nessa época o governador me trouxe uma questão de uma dívida com o Alan Malouf com relação ao evento da posse. Então utilizei R$ 200 mil desse dinheiro da desapropriação para pagar ele. Também dei mais R$ 100 mil para o jornalista [Antônio Carlos] Millas".

                      

"Eu também utilizei parte do dinheiro da desapropriação para pagar a ex-deputada Luciane Bezerra [atual prefeita de Juara]. A dívida com ela era de R$ 700 mil, eu fui tirando um pouco dali, outro daqui para ir saldando".

 

"A divida que eu assumi pagar com ela [Luciane Bezerra] foi de R$ 700 mil, não sei quanto eu tirei do desvio da desapropriação, eu sei que paguei esses R$ 700 mil em quatro vezes".

 

Compra de ouro (atualizada às 15h58)

 

O ex-chefe da Casa Civil contou que Marcel perguntou a ele se conhecia um operador para trocar cheques da esposa dele. Nadaf respondeu que conhecia o João Justino, então presidente da Metamat.

 

"Na primeira troca, o Justino me entregou o dinheiro, e eu entreguei para o Marcel. E nisso eu falei para o Marcel que fazia um negócio com o Justino com relação a cooperativa de ouro em Peixoto de Azevedo'.

                      

"Aí eu passava para ele [Justino] recursos para comprar ouro. E aí eu falei para o Marcel disso: 'Então se você quiser o que eu estou te devendo [parte do dinheiro da desapropriação] eu pago para você em ouro'. Aí o Marcel disse que poderia receber essa parte em ouro e complementou mais em cheque, para dar em torno de 10kg. O João Justino entregou para ele cerca de 5 kg e eu entreguei depois mais 5kg pra ele, na frente da Fecomércio".

O Alan sabia que o dinheiro não era lícito e que não seria pago com dinheiro do caixa do Estado, por não ser pagamento por empenho

 

"Então no total o Marcel ficou com esse 10kg de ouro, que foi pago com R$ 700 mil que era parte dele no esquema mais o que ele complementou. Eu fiquei com R$ 500 mil".

 

Citação de ex-Secopa (atualizada às 16h20)

 

Nadaf também relatou que outra parte da dívida de Silval com o buffet em razão da festa de posse, no valor de R$ 500 mil, ficou sob responsabilidade do ex-secretário extraordinário da Copa, Maurício Guimarães. 

 

"Eu paguei com dinheiro de caixa 2, mas não sei como o Maurício pagou. O Alan me procurou umas duas vezes dizendo que o Mauricio não pagou. Eu dizia: 'Vai atrás dele'. Mas ele [Alan Malouf] continuava me cobrando".  

 

"O Alan sabia que o dinheiro não era lícito e que não seria pago com dinheiro do caixa do Estado, por não ser pagamento por empenho".         

 

"No total a dívida com Alan Malouf era de R$ 950 mil, eu passei R$ 200 mil, o Arnaldo mais de R$ 600 mil e o Mauricio pagaria o resto, mas acabou não passando e eu tive que quitar o restante".        

 

Briga entre Silval e Piran (atualizada às 16h38) 

 

O ex-secretário contou que, por conta da dívida de Silval com Valdir Piran, quase ocorreu uma agressão física no Palácio Paiaguás.

 

Segundo Nadaf, em novembro de 2014 Valdir Piran chegou no Paiaguás muito nervoso e se reuniu com ele com Silval.

 

"Ele começou a xingar o Silval de mentiroso, picareta, que não pagava. Em um determinado momento, ele pegou uma cadeira para jogar no Silval. Eu segurei a cadeira e afastei ele, o Silval saiu da sala e eu fui acalmando ele. Depois nós fomos acertando os pagamentos com ele, mês a mês eram resgatadas as notas promissórias com Piran e entregues para Silval".                                

 

"Essa briga aconteceu porque o Silval havia entregue cheque sem fundo para o Piran".

 

Nadaf também contou que o filho de Valdir Piran, Piran Junior, chegou a visitá-lo quando ele estava preso no Serviço de Operação Especiais (SOE).

 

"Ele pediu para que eu não contasse em minha delação que o dinheiro da desapropriação foi usado para pagar ele. Acho que eles não queriam que chegasse a tudo isso".

 

Lavagem de dinheiro (atualizada às 17h16)

 

O ex-secretário ainda contou que emprestou R$ 1,5 milhão para o empresário Alan Malouf, dinheiro oriundo de propina e que até hoje não foi pago.

 

"Esse empréstimo foi a juros de 1%", respondeu ao advogado do empresário, Huendel Rolim.

 

O advogado questionou o motivo do empréstimo.

 

"Para lavar o dinheiro da propina pedi para que ele oficializasse um contrato entre a minha empresa NBC Consultoria e o buffet, para que pudesse ter lastro financeiro. Este valor ainda está com ele", respondeu Nadaf.

                              

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Julio  05.07.17 06h16
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