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27.07.2017 | 15h40 Tamanho do texto A- A+

Piran nega “cadeirada” e diz que delator pagou dívida de Silval

Empresário é acusado de ter se beneficiado com dinheiro ilícito oriundo de fraude em desapropriação

Alair Ribeiro/MidiaNews

O empresário Valdir Piran: interrogado pela juíza Selma Arruda

O empresário Valdir Piran: interrogado pela juíza Selma Arruda

LUCAS RODRIGUES E THAIZA ASSUNÇÃO
DA REDAÇÃO

O empresário de factoring Valdir Piran foi interrogado na tarde desta quinta-feira (27) sobre o esquema investigado na ação penal derivada da 4ª fase da Operação Sodoma.

 

A audiência foi conduzida pela juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital.

 

Piran é acusado de ter se beneficiado do suposto esquema que teria desviado cerca de R$ 15,8 milhões do Estado, por meio do pagamento da desapropriação de uma área no Bairro Jardim Liberdade, no valor de R$ 31,7 milhões, à empresa Santorini Empreendimentos Imobiliários.

 

O valor desviado teria sido destinação à organização criminosa comandada pelo ex-governador Silval Barbosa (PMDB).

 

De acordo com a denúncia do Ministério Público Estadual (MPE), dos R$ 15,8 milhões roubados, o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) teria lucrado R$ 10 milhões e repassado o dinheiro a Piran por meio da empresa SF Assessoria, do empresário e delator Filinto Muller, como pagamento de uma dívida de campanha eleitoral.

 

O empresário chegou a ser preso em Brasília (DF) em setembro de 2016, quando a operação foi deflagrada. No mês seguinte, contudo, ele conseguiu a liberdade com monitoramento eletrônico após pagar fiança de R$ 12 milhões.

 

Na oitiva, Piran disse que fez um empréstimo a Silval Barbosa, mas não sabia que os R$ 10 milhões devolvidos como pagamento tinham origem no esquema da desapropriação. 

 

Ele também negou ter tentado agredir o ex-governador com uma cadeira no Palácio Paiaguás durante uma das cobranças da dívida.

 

Confira como foi a audiência:

 

Denúncia falsa (atualizada às 15h44)

 

Valdir Piran alegou que a denúncia e falsa e que, antes de ser preso, já havia se colocado à disposição para colaborar com o Ministério Público Estadual (MPE).

Dias depois eu fui procurado pelo Filinto, que já chegou me pagando. Me deu R$ 2,5 milhões em dinheiro e R$ 7,5 milhões em cheques

 

"Eu comecei a ouvir comentários de que tinha uma pessoa fazendo delação premiada e citando meu nome. E eu escutei muito isso até eu procurar o MPE, a promotora Ana Bardusco, e me coloquei à disposição para colaborar com o que pudesse. Toda semana eu vinha para Cuiabá, mas nunca fui ouvido, era alguém da Polícia Civil que ia me ouvir. E por surpresa eu fui preso. Estranhei muito aquilo, porque eu estava disposto a esclarecer".

 

"Quanto mais colaboro, pior fica" (atualizada às 15h52)

 

Piran também reclamou que teve que comprar mais de 10 passagens aéreas quando foi preso em Brasília, chegando a pagar até para os policiais que o acompanharam.

                       

"Isso porque fomos perdendo os voos, óbvio, não tinha policiais suficientes para me acompanhar, acampanar o Arnaldo [Alves, ex-secretário de Planejamento]. Os policiais estavam vindo de carro, daí eu paguei passagens para eles. E me parece que quando eu mais eu quero colaborar, pior fica a situação pra mim".                        

 

"Quando eu cheguei em Cuiabá me levaram para a Polinter. Lá eles não me deram água, comida, nada, e ainda disseram que eu ia dormir com pernilongo".

 

Empréstimo a Silval (atualizada às 15h56)

 

Piran contou que na campanha em que Silval se elegeu governador, emprestou cerca de R$ 5 milhões ao peemedebista. A dívida com os juros e correções, ficou estimada em R$ 10,2 milhões.

 

"Depois que ele assumiu o Governo, eu comecei a procurá-lo para receber o dinheiro".

                       

O empresário contou que reclamou com Silval que não havia feito negócios com o Estado, mas sim com a pessoa de Silval.

 

"Eu achava muito ruim ir ao Palácio falar com ele, mas era a maneira que tinha. Teve um vez que cheguei lá e ele me entregou cheques de terceiro. Eu vi que aqueles cheques não serviam para mim, porque eram cheques que não eram dele. Aí falei: 'Silval, não quero esses cheques'. Porque tinha cheques ali que já tinham vencido. Eu falei: 'eu não quero cheques de terceiros, quero cheques seus'".

                       

"Aí ele respondeu que eu estava nervoso, que falaria comigo depois. Eu respondi que não estava nervoso e que só queria receber. Depois o Pedro Nadaf me procurou e me disse que ia resolver minha situação".

 

Dívida paga por delator (atualizada às 16h13)

 

Piran contou que o valor atualizado da dívida ficou em R$ 10,2 milhões, mas Silval afirmou que pagaria só R$ 10 milhões. O empresário disse que o ex-secretário da Casa Civil, Pedro Nadaf, informou que o empresário Filinto Muller - delator da Sodoma - pagaria a dívida.

É muito difícil a pessoa chegar e dizer de onde saiu o dinheiro. Eu só desconfiaria se ele chegasse lá com um saco de dinheiro

                   

"Dias depois eu fui procurado pelo Filinto, que já chegou me pagando. Me deu R$ 2,5 milhões em dinheiro e R$ 7,5 milhões em cheques" .                       

 

"Desse dinheiro que eu recebi de Filinto eu emprestei cerca de R$ 6,2 milhões para Marcelo Malouf. Aí teve R$ 1,4 milhão que eu também emprestei para o Mikhael Malouf".

                      

Sem cadeirada (atualizada às 16h22)

 

Piran também contestou a informação trazida por Pedro Nadaf de que ele teria tentado agredir Silval com uma cadeira em razão do não pagamento da dívida. 

 

"O que aconteceu foi o seguinte: eu disse para o Silval que não queria mais ir até lá no gabinete, que não me sentia confortável. Mas não teve nenhuma agressão, não lembro de cadeira nenhuma, nada disso".

 

A promotora Ana Cristina Bardusco questionou o porquê de Piran não ter executado a dívida de Silval na Justiça.

                      

"Eu acredito que entrar na Justiça é a pior forma de cobrar alguém".

 

Transações (atualizada às 16h37)

 

O empresário ainda explicou que ficou em posse do cheque de R$ 7,5 milhões que recebeu até que Filinto lhe passasse o valor total. Ele disse que não se lembra em quantas parcelas esses R$ 7,5 milhões foram pagos. 

 

"Eu tive quatro buscas e apreensões na minha casa. Os documentos que poderiam me auxiliar a levantar esse quantitativo devem ter sido levados".

 

Ana Bardusco então perguntou onde ele guardou o dinheiro que recebeu.

 

"Não vou falar aqui onde está né, tem muita gente. Depois eu posso falar no particular para a senhora, mas posso garantir que não está debaixo de um colchão".

 

Em seguida, a promotora respondeu que é melhor ele não falar onde está o dinheiro.

 

"Não desconfiei" (atualizada às 16h48)

 

Piran argumentou que não sabia que o dinheiro usado para pagar o empréstimo tinha origem na fraude na desapropriação do terreno.

 

"Se eu soubesse que o dinheiro era ilícito, eu não receberia de jeito nenhum. Eu ouvia muito falar do Filinto como empresário, não desconfiei. É muito difícil a pessoa chegar e dizer de onde saiu o dinheiro. Eu só desconfiaria se ele chegasse lá com um saco de dinheiro".

 

De acordo com o empresário, os R$ 10 milhões recebidos já foram regularizados e declarados à Receita Federal.

 

"Eu posso até fazer um compromisso aqui de mostrar todos os documentos".

 

Encontro na academia (atualizada às 16h58)

 

Piran também foi questionado sobre a informação de que seu filho Valdir Piran Jr teria encontrado o filho de Pedro Nadaf na academia. Na ocasião segundo a ação, Piran Jr. teria perguntado se Nadaf estava fazendo delação e, caso estivesse, para não citar o nome de Valdir Piran no esquema da desapropriação do terreno.

 

"Isso não existe a mínima possibilidade. Jamais ele falaria isso, porque ele não sabia disso aí, nem eu sabia. Só ficamos sabendo disso aí depois que procuramos a senhora [promotora], mas não entendi até hoje isso aí".

 

O depoimento foi encerrado.

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