O ex-secretário de Estado Pedro Nadaf confessou que usou parte do dinheiro arrecadado no esquema investigado na 4ª fase da Operação Sodoma para pagar dívidas próprias e do ex-governador Silval Barbosa (PMDB).
Ele prestou depoimento à juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, na tarde desta terça-feira (04).
Na oitiva, Nadaf disse que lucrou R$ 500 mil com os crimes, sendo que parte do valor foi usado para para pagar uma dívida de Silval com o empresário Alan Malouf - também réu da ação - e uma dívida pessoal com a ex-deputada e atual prefeita de Juara, Luciane Bezerra (PSB).
"Nessa época o governador me trouxe uma questão de uma dívida com o Alan Malouf com relação ao evento da posse. Então utilizei R$ 200 mil desse dinheiro da desapropriação para pagar ele. Também dei mais R$ 100 mil para o jornalista [Antônio Carlos] Millas".
"Eu também utilizei parte do dinheiro da desapropriação para pagar a ex-deputada Luciane Bezerra [atual prefeita de Juara]. A dívida com ela era de R$ 700 mil, eu fui tirando um pouco dali, outro daqui para ir saldando".
O esquema em questão teria ocorrido em 2014, por meio da desapropriação de um terreno de R$ 31,7 milhões no Bairro Jardim Liberdade, em Cuiabá, sendo que metade do valor (R$ 15,8 milhões) teria retornado como propina à organização criminosa comandada por Silval.
"A divida que eu assumi pagar com ela [Luciane Bezerra] foi de R$ 700 mil. Não sei quanto eu tirei do desvio da desapropriação, eu sei que paguei esses R$ 700 mil em quatro vezes".
Nadaf também relatou que outra parte da dívida de Silval com o buffet em razão da festa de posse, no valor de R$ 500 mil, ficou sob responsabilidade do ex-secretário extraordinário da Copa, Maurício Guimarães.
"Eu paguei com dinheiro de caixa 2, mas não sei como o Maurício pagou. O Alan me procurou umas duas vezes dizendo que o Mauricio não pagou. Eu dizia: 'Vai atrás dele'. Mas ele [Alan Malouf] continuava me cobrando".
De acordo com Nadaf, Alan Malouf sabia que o dinheiro era ilícito, pois não era pago com valores oriundos do caixa do Estado.
"No total, a dívida com Alan Malouf era de R$ 950 mil. Eu passei R$ 200 mil, o Arnaldo [Alves, ex-secretário de Planejamento] mais de R$ 600 mil e o Mauricio pagaria o resto, mas acabou não passando e eu tive que quitar o restante".
O ex-secretário ainda contou que emprestou R$ 1,5 milhão para o empresário Alan Malouf, dinheiro oriundo de propina e que até hoje não foi pago.
"Esse empréstimo foi a juros de 1%. Para lavar o dinheiro da propina, pedi para que ele oficializasse um contrato entre a minha empresa NBC Consultoria e o buffet, para que pudesse ter lastro financeiro. Este valor ainda está com ele", disse Nadaf.
Sodoma 4
Alair Ribeiro/MidiaNews
O ex-secretário Pedro Nadaf, que confessou esquema
Segundo as investigações, o empresário e delator Filinto Muller foi procurado pelo então procurador do Estado Francisco Andrade Lima Filho, o “Chico Lima”, que teria lhe pedido para criar uma empresa, em nome de laranja, a fim de possibilitar a lavagem de dinheiro da organização.
Esta empresa, segundo a Polícia, recebeu várias transferências bancárias da Santorini Empreendimentos, por meio do advogado Levi Machado de Oliveira, no intuito de “lavar” a propina.
A Polícia ressaltou que a Santorini tinha autorização para expropriar a área desde 1997, mas só em 2011, por meio do sócio Antônio Rodrigues de Carvalho, pediu que o Estado adquirisse a área pelo valor de R$ 37,1 milhões.
Porém, apenas no final de 2013, o então chefe de gabinete do ex-governador Silval Barbosa, Sílvio Araújo, encaminhou o pedido a Chico Lima para que este elaborasse um parecer.
Segundo a Polícia, apenas 55 hectares (no valor de R$ 17,8 milhões) estavam aptos a serem desapropriados, mas o grupo aumentou para 97,5 hectares, “a fim de obter lucro”.
O delator e sócio da Santorini, Antônio Rodrigues de Carvalho, contou que, em janeiro de 2014, foi a uma reunião agendada com Chico Lima e o então secretário de Estado de Fazenda, Marcel de Cursi, na sede da Sefaz. Nesta reunião, segundo ele, Cursi exigiu que 50% do valor pago pela desapropriação retornasse para o grupo.
Dias depois, de acordo com a representação, o à época chefe da Casa Civil, Pedro Nadaf, editou o decreto que autorizou a desapropriação da área, subscrito por Silval Barbosa.
Para legalizar o futuro pagamento da indenização, o então presidente do Intermat, Afonso Dalberto, solicitou que a Sefaz agilizasse recursos para garantir o repasse.
Entretanto, como na época o Intermat não possuía o recurso para fazer o pagamento, o secretário de Planejamento Arnaldo Alves teria ajustado dotação orçamentária suficiente para atender a demanda da indenização.
O próximo passo da organização, conforme a Polícia, foi a abertura de decretos orçamentários que viabilizaram créditos suplementares para a regularização fundiária.
Assim, entre maio e outubro de 2014, foram publicados sete decretos que possibilitaram que os R$ 31,7 milhões fossem pagos pela área. Pedro Nadaf detalhou como foi feita a lavagem de dinheiro do esquema, durante depoimento em que confessou os crimes, trazendo cheques da empresa SF Assessoria emitidos a pessoas próximas.
No esquema, Afonso Dalberto disse que se beneficiou de R$ 606,4 mil. Já o delator Filinto Muller relatou que Chico Lima ajustou com ele que os R$ 15,8 milhões do “retorno” seriam lavados por meio da empresa dele, a SF Assessoria.
As investigações também apontaram que o advogado Levi Machado de Oliveira recebeu uma “comissão” de 3% do montante (R$ 474 mil) para colaborar nas tratativas.
Ainda segundo a Polícia, era Chico Lima o responsável por definir quais membros receberiam as propinas oriundas dos desvios. Além dele próprio, também seriam beneficiários: Silval Barbosa, Pedro Nadaf, Marcel de Cursi, Arnaldo Alves e Afonso Dalberto.
Segundo a denúncia, a propina recebida por Nadaf e Arnaldo, por outro lado, teria sido lavada com a ajuda do empresário Alan Malouf, sócio do Buffet Leila Malouf.
Já a parcela de Silval Barbosa, no valor de R$ 10 milhões, teria sido integralmente repassada ao empresário de factoring Valdir Piran, a título de pagamento de dívidas de campanha.
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