Cuiabá, Domingo, 26 de Outubro de 2025
MAGISTRADO SOB SUSPEITA
24.11.2010 | 10h50 Tamanho do texto A- A+

STJ manda investigar juiz por suposta venda de sentença

Denúncia de desvio de conduta havia sido arquivado pelo TJ; ele teria recebido R$ 20 mil por decisão judicial

Reprodução

Juiz Fernando Miranda responderá ação junto ao TJ por desvio de conduta

Juiz Fernando Miranda responderá ação junto ao TJ por desvio de conduta

ANTONIELLE COSTA
DA REDAÇÃO

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou que o Tribunal de Justiça de Mato Grosso investigue o juiz da 1ª Vara de Família e Sucessões de Várzea Grande, Fernando Miranda Rocha, por desvio de conduta no exercício profissional.

O magistrado foi eleito desembargador, em janeiro deste ano, mas, como responde a processo administrativo, teve sua posse impedida pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

O caso de desvio de conduta havia sido denunciado pelo Ministério Público Estadual em 2005, mas foi arquivado pelo Judiciário mato-grossense. O MPE recorreu e conseguiu reverter a decisão do STJ.

De acordo com o MPE, Miranda teria violado o dever funcional, se beneficiando de "vantagem indevida", decorrente da sua função de magistrado. O juiz teria participado de um esquema para garantir a permuta de um apartamento, localizado no bairro Jardim das Américas, em Cuiabá, que estava em nome de um menor de idade. Ele teria recebido R$ 20 mil para concessão de uma decisão favorável à permuta.

O recebimento da denúncia contra o juiz foi determinado pela Sexta Turma da Corte Superior, que entendeu que os fatos narrados pelo MPE se enquadram no tipo penal da denúncia, o que autoriza o seguimento da ação. Para o ministro Og Fernandes, o arquivamento foi precipitado.

De acordo com o ministro, a investigação não retrata juízo de valor sobre os fatos, determina apenas que sejam devidamente apurados, com o necessário respeito ao contraditório, à ampla defesa e ao devido processo legal.

Entenda o caso

Em 2005, o procurador de Justiça, Paulo Ferreira Rocha, apresentou uma denúncia de suposta venda de sentença contra Miranda junto ao Tribunal de Justiça, relatando um caso em que o magistrado teria recebido R$ 20 mil.

Segundo o MPE, magistrado teria participado de um esquema para garantir a permuta de um apartamento, localizado no bairro Jardim das Américas, em Cuiabá, que estava em nome de um menor. O caso envolve a esposa do magistrado, Elizabete Lima Miranda Rocha, que é advogada.

A denúncia relatava que a mãe do menor, Alcione Caso Zeferino, representada por Elizabete, tentou, sem sucesso, trocar o imóvel que estava no nome do filho, por uma casa de propriedade do comerciante Renato de Freitas Santana, localizada no bairro Shangri-lá, também na Capital.

Segundo o Ministério Público, Alcione e Renato teriam tentado, por diversas vezes, autorização da Justiça de Cuiabá para conseguir realizar o negócio, já que o imóvel estava em nome de um menor. Entretanto, não conseguiram sucesso nas investidas.

As investigações apontaram que Alcione era dependente química e queria fazer a permuta com o imóvel de menor valor, para usar o dinheiro que pegaria para comprar drogas.

Depois de não conseguir posicionamento favorável do promotor de Justiça de Cuiabá, o MP narra que os denunciados forjaram um endereço falso para Alcione, em Várzea Grande. A partir daí, tentariam conseguir a decisão favorável na comarca da cidade, onde atua o juiz Fernando Miranda.

Para o representante do Ministério Público Estadual, o ato criminoso é flagrante, já que a mesma petição que havia sido protocolada na Comarca de Cuiabá foi apresentada à Justiça da Cidade Industrial.

"(...) Os denunciados, sem sequer se darem ao trabalho de formular outra inicial, copiaram na íntegra a anterior, preservando, inclusive, a formatação e o tipo de letra ali utilizada (folhas 421/423 e 915/917-TJ) e interpuseram "nova" ação de alvará judicial, desta feita na Comarca de Várzea Grande, na qual sabiam, desde o princípio, que lograriam êxito, já que contavam com a atuação ilícita do magistrado, que aderira à inescrupulosa trama", relatou o procurador Paulo Rocha.

Depois disso, o próprio juiz Fernando Miranda Rocha teria sido responsável em distribuir o processo para si mesmo, bem como determinado que o Ministério Público Estadual se manifestasse sobre o pedido. Desta vez, o então promotor José Zuquetti deu parecer favorável aos acusados.

De acordo com a denúncia, a permuta dos imóveis teria rendido a Alcione R$ 40 mil. Desse valor, R$ 20 mil teriam sido repassados à esposa do magistrado, a título de honorários advocatícios, mesmo que a peça protocolada na Justiça de Várzea Grande tenha sido assinada por outro advogado.

Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).




Clique aqui e faça seu comentário


COMENTÁRIOS
1 Comentário(s).

COMENTE
Nome:
E-Mail:
Dados opcionais:
Comentário:
Marque "Não sou um robô:"
ATENÇÃO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. Comentários ofensivos, que violem a lei ou o direito de terceiros, serão vetados pelo moderador.

FECHAR

Fatima Guedes  24.11.10 17h48
Há tantos casos assim... de venda de sentença em nosso querido Mato Grosso. Por que isso, gente?! Não se pode confiar na justiça. Há um livro: "As injustiças da justiça". É a mais pura verdade!
0
0