É conhecida a frase do crítico cultural norte-americano Henry Mencken de que “para todo problema complexo existe sempre uma solução simples, elegante e completamente errada”.
Tal sentença se encaixa como uma luva para a análise do sociólogo Naldson Ramos, pois avalia um problema complexo como a segurança pública, de maneira simples, quase pueril e completamente equivocada.
Em primeiro lugar, porque carece sobretudo de lógica elementar, pois: como aqueles que lucram com o crime e a desordem social, as facções, seriam as responsáveis pelo próprio prejuízo?
Ainda mais: como as facções, que dependem do crime violento para impor suas ações, se disporiam, elas mesmas, a pacificar o local de sua atuação, jogando assim contra o patrimônio?
Outros pontos que demolem o argumento do sociólogo são os seguintes.
No caso do Estado de Mato Grosso a queda dos índices de homicídios são acompanhados pela queda de outros índices, o que sugere a questão: seria também obra concertada das facções?
Outro ponto de análise sobre a “análise” do sociólogo, trata-se da completa ausência de originalidade ao caso mato-grossense, pois, o pesquisador vale-se da famosa, e gasta, “hipótese PCC”, criada pelo canadense Graham Willis que afirmou, ainda em 2012, que “a regulação do PCC é o principal fator sobre a vida e a morte em São Paulo.
O PCC é produto, produtor e regulador da violência no Estado de SP”. O que o sociólogo Naldson faz é, pura e simplesmente, e sem qualquer base empírica (dados), emular o mesmo raciocínio falacioso. Algo que passaria desapercebido aos menos atentos.
Considerando, sobremaneira, a temática da segurança pública ser multi-sistêmica e de amplo espectro de ação não é de todo arbitrário conjugar variáveis que escapam as ações policiais, citando, por exemplo, o trabalho social dos conselhos comunitários de segurança, sistema prisional, pastorais e demais aparelhos de proteção social. Todos imprescindíveis.
Doutra sorte, atribuir ao próprio agente causador de insegurança (facções) o mérito por diminuir índices criminais beira, contudo, ao surreal e, de certa maneira com o menoscabo aos milhares de profissionais que sacrificam suas vidas pela causa da segurança.
Bem mais que competência técnica e acadêmica, argumentos como o do sociólogo — ao desprestigiar o principal esforço e doação que vem das polícias e seus heróis anônimos — põem em xeque sua própria credibilidade como analista.
GABRIEL LEAL é tenente-coronel, pós doc em Educação e especialista em Segurança Pública
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4 Comentário(s).
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Mônica 28.01.20 21h06 | ||||
Verdades bem escritas, | ||||
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Jesus Soares de Souza 28.01.20 11h42 | ||||
O Professor Naldson Ramos não é um pedante, mas ele que me desculpe! Eu concordo com o Doutor Gabriel Leal. Thiago de Mello disse que a verdade às vezes estraga prazeres... Mas, convenhamos, verdade seja dita, o Professor Naldson Ramos também não é um insensível e então por certo que ele compreenderá quando eu disser que eu leio a enciclopédia dos pedantes mas não a invoco porque os homens colhem aquilo que semeiam e suas colheitas algumas vezes lhes trazem dor porque eles se digladiam nas arenas de um mundo envenenado por "arcabouços teóricos" cheios de empáfia. E, por fim, manifesto minha opinião dizendo que enquanto o Brasil ficar à mercê de um judiciário dividido e claudicante, e seguir manietado por um legislativo capcioso em seu nível elevado; os brasileiros ordeiros e pacatos continuarão assistindo às havidas facções criminosas se fazendo de "quinto poder" antes de serem despachadas para o "quinto dos infernos". Me dá nos nervos pensar que ainda existem raciocínios tidos e havidos lógicos presumindo que todo brasileiro ordeiro e pacato é um lorpa... | ||||
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Corrêa Filho 28.01.20 10h53 | ||||
Excelente análise! Não se pode fugir da lógica nem do empirismo, se fundamentando em achismos sociológicos/políticos. | ||||
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Rodrigo 28.01.20 07h38 | ||||
Não se esperava outro discurso vindo de um "dotor" policial. | ||||
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