A esquerda representada pelo PT, a direita capitaneada por Bolsonaro e o Centrão liderado pelo Congresso disputam o mando político no Brasil a partir de 2027.
A turma do Lula parece desmotivada, percebendo, ao que parece, a possível derrota no próximo ano. Seria o que se chama em engenharia fadiga de material: o Lula está velho e o povo cansou-se dele.
O grupo do Bolsonaro, por sua vez, a julgar pela desanimada manifestação do dia 29/06/25 em São Paulo, não está tão apaixonada pelo mito como antes.
Enquanto isso, o Congresso Nacional a cada dia toma as rédeas nas mãos, impondo sua vontade ao executivo. Grande parte do orçamento da União hoje é administrado pelos legisladores através das Emendas Parlamentares. Com elas, deputados e senadores direcionam verbas para suas bases eleitorais.
Elas (as emendas) não são ilegais, pois estão previstas na Constituição, mas passam a ser indecentes quando o executivo subordina sua liberação a votos de seu interesse ou os legisladores chantageiam o governo para aprovarem as pautas dele. Sem falar nos recorrentes desvios das tais verbas.
A direita, percebendo o aumento do poder dos parlamentares, resolveu concentrar suas forças na eleição de deputados e senadores, com os quais, se perderem as eleições majoritárias em 2026, podem inviabilizar eventual governo da esquerda. Se a direita ganhar, haveria uma base de apoio mais amistosa. A esquerda, vendo o movimento do concorrente, seguiu o mesmo rumo.
Este poder dos parlamentares de comprometerem a administração está claro não só no governo de esquerda em andamento, como também no de direita anterior. Eles exigem cada vez mais privilégios. Agora, por exemplo, aumentaram o número de deputados e o valor do fundo partidário.
O Lula poderia vetar essa excrecência do legislativo, mas provavelmente não o fará. Primeiro porque é de sua índole apoiar o inchaço do Estado, segundo porque não tem força para contrapor o congresso que cada vez manda mais.
Esse comportamento de legisladores de oposição tentarem inviabilizar o governo do momento, nos sistemas de coalizão, infelizmente é comum nas democracias. Mas revela uma lógica perversa: evitar o sucesso do governante da ocasião, para não perder força política e, com ela, a chance de voltar ao poder. Assim, criam obstáculos como bloqueios de pautas, distorções em projetos importantes ou gerando instabilidade com narrativas que desgastam a imagem do presidente.
É impensável imaginar esse tipo de conduta em uma empresa privada. Se numa companhia, grupos rivais sabotassem os projetos em andamento apenas para minar seus concorrentes internos, o resultado seria desastroso: prejuízo financeiro, perda de espaço entre os concorrentes e, em casos extremos, falência. Na iniciativa privada os interesses da empresa estão acima das picuinhas dos dirigentes.
O mesmo deveria valer para o Estado. A democracia pressupõe alternância no poder, mas não autoriza a destruição da governabilidade. A oposição é legítima, todavia o boicote sistêmico privilegia grupos, prejudicando o todo.
Esse vício político é um dos males do presidencialismo de coalizão. Sempre foi assim e é ingenuidade esperar mudança nesta dinâmica. Ainda não inventaram um herbicida capaz de destruir esta maligna erva invasora. Cumpre mantê-la sob controle.
Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor.
Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).
0 Comentário(s).
|