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RETROSPECTIVA
25.12.2021 | 11h30 Tamanho do texto A- A+

De viúva saudosa a mandante do crime: caso Toni Flor marcou ano

Caso foi solucionado após um ano e 5 pessoas, incluindo a esposa da vítima, foram acusados pelo crime

Reprodução

Ana Cláudia Flor e Toni Flor eram casados há 15 anos

Ana Cláudia Flor e Toni Flor eram casados há 15 anos

LIZ BRUNETTO
DA REDAÇÃO

O desfecho do assassinato do empresário Toni da Silva Flor, de 38 anos, surpreendeu os mato-grossenses e se tornou pauta nacional.

 

O crime aconteceu no dia 11 de agosto de 2020, quando o empresário chegava para malhar em uma academia do Bairro Jardim Santa Marta.

 

Inicialmente, acreditou-se que Toni havia sido morto por engano, ao ser confundido com um policial federal que malhava no mesmo local que ele e tinha um carro similar ao seu. 

 

Essa hipótese, no entanto, não se sustentou e logo nas primeiras semanas de investigação, por meio de uma denúncia anônima, surgiu o nome do primeiro suspeito, Igor Espinosa. 

 

Ele teria se vangloriado em uma festa por ter matado um “lutador de Jiu Jitsu" a mando da própria viúva da vítima. Apesar das suspeitas, Igor só foi preso um ano depois de ter cometido o crime, em 10 de agosto de 2021.

Reprodução

Ana e Toni

Ana Cláudia e Toni estavam juntos há 15 anos

 

Após confessar o crime, dando detalhes da execução de Toni, ele apontou a também empresária, Ana Cláudia Flor, viúva da vítima, como sendo a mandante. 

 

Ela, que ao longo de um ano de investigações, encenou o papel de esposa sofrida em busca de respostas ao assassianto do marido, subindo, inclusive, a hashtag #Justiçaparatoniflor.

 

A frieza e o calculismo de Ana Cláudia surpreendeu até mesmo os investigadores que cuidavam do caso. 

 

A empresária está detida desde agosto de 2021 na Penitenciária Feminina Ana Maria do Couto.

 

Lobo em pele de cordeiro

 

Ana Cláudia usava suas redes sociais como uma espécie de “disfarce”. Nelas, a empresária pedia a resolução do caso, justiça pelo marido e se mostrava saudosa de Toni. Ela mobilizou a cidade, organizou passeatas, foi à televisão e consolou parentes do marido. 

 

Em sua rede social no Instagram - com quase 30 mil seguidores - Ana Cláudia realizava as publicações periodicamente e em datas comemorativas, como a do dia dos pais. “Uma palavra tão pequena, mas com significado tão importante, palavra esta que gostaria que minhas filhas repetissem todos os dias [pai]”, diz um trecho da mensagem.  

 

A última postagem feita por ela foi no dia da prisão do primeiro suspeito, quando a morte de Toni completou um ano. “Só eu sei o que sinto e a falta que você me faz em tudo [...] Vou te amar para sempre até um dia meu Tudão”.

Arquivo Pessoal

ANA CLAUDIA FLOR

Ana Claudia Flor era mãe de três meninas

 

O comportamento de Ana Cláudia, segundo o delegado Marcel Oliveira, que coordenou as investigações, desde o começo levantou suspeitas: "não era condizente com o de alguém que havia perdido um ente querido”. Ela se mostrava muito interessada, beirando o “desespero”, em descobrir detalhes da investigação. 

 

“Dissimulada, ardilosa, enganosa”, disse ele, indicando como surgiu o nome da operação que a prendeu, intitulada Capciosa - alguém que procura enganar, induzindo ao erro. 

 

Família enganada

 

Depois da morte de Toni, Ana Cláudia se aproximou muito da mãe e da irmã do marido, situação que incomum para a família. Através de mensagens, ligações ou visitas, a cunhada sempre se tentava fazer presente, conta Viviane. 

 

A mãe do empresário, Leonice Flor, de 69 anos, não tirava da cabeça que a nora tinha envolvimento no crime. 

 

No dia do aniversário da mãe e do filho de Viviane, Ana Cláudia foi à casa de Leonice, levou bolo e chorou com a família, dizendo sentir falta de Toni. 

 

"O tempo todo se mostrando como uma ótima mãe e esposa, que não deixava ninguém falar dele. Todo mês ela postava coisas relacionadas a ele e ao sentimento deles. Isso era para tapar os nossos olhos, para não levantarmos suspeitas, não tem outra explicação", disse a irmã de Toni, a gerente financeira Viviane Aparecida Silva Flor. 

Reprodução/ Arquivo Pessoal

TONI FLOR

Toni e a mãe, Leonice Flor, que enfrenta depressão severa desde o homicídio

 

"Para mim, ela é um Judas em forma de gente na Terra. Uma pessoa que te abraça, que chora junto com você, que lamenta a dor. Para mim capciosa ainda é bonito para ela. É um verdadeiro Judas, tenho nojo de lembrar das coisas que ela falava", continuou ela. 

 

Prisões dos suspeitos

 

O primeiro suspeito, Igor Espinosa, foi preso exatamente um ano depois de cometer o crime, no dia 10 de agosto deste ano. Em depoimento, ele deu detalhes da ação e indicou a viúva da vítima como sendo a mandante do crime.

 

Nove dias depois, em 19 de agosto, foi a vez da empresária Ana Cláudia Flor ter o mandado de prisão cumprido no condomínio onde mora, no Bairro Jardim Imperial. Nesse mesmo dia, outras duas pessoas também foram presas.

 

Ao chegar na delegacia, Ana Cláudia foi recebida por uma barreira de jornalistas. Ela negou qualquer tipo de participação no crime e respondeu de forma incisiva que não era a mandante: “Óbvio que não!”. Na ocasião também negou conhecer o suspeito preso. 

 

No dia 27 de agosto mais uma suspeita de envolvimento no crime foi presa, ela era a peça chave que faltava para compreender a dinâmica do crime - a manicure de Ana Cláudia. Ela foi a ponte entre Ana Cláudia e os outros três envolvidos na morte do marido. 

 

Segundo a Polícia Civil, os quatro suspeitos - inclusive a manicure - confessaram a participação no crime, menos Ana Cláudia, que permaneceu calada durante o depoimento.

 

Todos responderão por homicídio qualificado, tendo, alguns deles, circunstâncias que agravam a pena.

 

Motivação

 

A principal motivação para o crime, segundo o delegado Oliveira, seria a herança deixada por Toni. 

 

“Ele [Toni] tinha uma empresa de representação comercial muito forte, responsável pelo abastecimento de diversos supermercados da cidade. Era uma pessoa financeiramente estável com uma renda entre R$ 15 e R$ 25 mil”, completou o delegado, citando os diversos bens da vítima.

 

Assim que o empresário morreu, a documentação da herança estava em estágio bastante avançado, levantando ainda mais suspeitas sobre Ana Cláudia.

 

Começo do plano e calote 

 

No ano de 2019, Ana Cláudia fez um boletim de ocorrência contra o marido por agressão. Quando questionada pelos investigadores, no entanto, ela omitiu esse fato. Depois desse episódio, o crime teria começado a ser arquitetado.

 

Após uma briga com o marido, a empresária teria ligado para a manicure e amiga, relatando que ambos haviam se agredido. O motivo seria que Toni havia descoberto uma traição dela.

 

Durante a ligação, a empresária teria dito “que precisava de alguém para fazer um rolo”. Esse rolo seria matar o marido, porque ela “não aguentava mais ficar com ele”.  

 

Foi por meio da manicure que Ana Cláudia teve contato com dois dos envolvidos. A dupla foi responsável por contatar o atirador, Igor Espinosa, e monitorar os horários de Toni para saber o melhor momento de matá-lo.

 

De acordo com a Polícia Civil Ana Cláudia Flor prometeu R$ 60 mil ao executor do assassinato. No entanto, do valor acordado, apenas um terço - R$ 20 mil - teria sido quitado.

 

Desdobramentos

 

No dia 3 de setembro, o Ministério Público Estadual (MPE) ofereceu denúncia contra Ana Claudia de Souza Oliveira Flor pelo crime. Além dela, também foram denunciados Igor Espinosa, Wellington Honorio Albino, Dieliton Mota da Silva e Ediane Aparecida da Cruz Silva.

 

A denúncia inclui ainda Sandro Lúcio dos Anjos da Cruz Silva, que responderá por falso testemunho, após ter feito afirmação falsa no âmbito do inquérito policial.

 

Até o momento, a Justiça já negou dois pedidos de habeas corpus solicitados pela defesa da empresária, mantendo a prisão de Ana Claudia.

 

Leia mais sobre o assunto em:

 

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