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REELEIÇÃO DE BLAIRO
13.04.2017 | 18h00 Tamanho do texto A- A+

Delator: propina era paga a Eder por doleiros em SP; veja vídeo

Em depoimento, João Antônio Pacífico disse que "tudo leva a crer que Blairo tinha conhecimento"

MidiaNews

O ex-secretário Eder Moraes e o delator João Antônio Pacífico Ferreira (detalhe)

O ex-secretário Eder Moraes e o delator João Antônio Pacífico Ferreira (detalhe)

CAMILA RIBEIRO
DA REDAÇÃO

O ex-secretário de Estado, Eder Moraes, teria sido o responsável por receber em São Paulo, através de doleiros, valores referentes à suposta propina paga pela Construtora Odebrecht ao atual ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP). A propina teria sido usada em 2006, quando Maggi se reelegeu governador de Mato Grosso.

 

A informação consta no depoimento de João Antônio Pacífico Ferreira - um dos delatores da Operação Lava Jato - e que era diretor superintendente para as Áreas Norte, Nordeste e Centro Oeste da Odebrecht. O vídeo com o depoimento teve o sigilo levantado pelo ministro do STF, Edson Fachin.

 

“Autorizei o Pedro Leão [diretor de contratos da construtora] a fazer a programação [dos pagamentos] junto ao nosso Departamento de Operações Estruturadas. O codinome do então governador [Blairo Maggi] era ‘Caldo’ e a senha e locais de pagamento eram informados por Pedro ao senhor Eder Moraes Dias”, disse João Antônio, em depoimento prestado ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

 

A maioria dos pagamentos por Pedro ao senhor Eder Moraes, foi feita em são Paulo, através de doleiros

“A maioria dos pagamentos por Pedro ao senhor Eder Moraes foi feita em São Paulo, através de doleiros”, afirmou o diretor.

 

Ainda em seu depoimento, João Antônio detalhou a forma como o suposto esquema foi operado e lembrou que o mesmo surgiu em razão de a Odebrecht deter créditos a receber do Governo do Estado.

 

Os valores seriam referentes à obra da Rodovia MT-010, nos trechos entre as cidades de Diamantino e São José do Rio Claro.

 

“Pelo que o Pedro me relatou, ao longo do mandato do governador Blairo Maggi, o Pedro o procurou várias vezes para tratar do assunto referente a esses recebimentos. Não só procurou por Blairo Maggi, como também pelo secretário de Infraestrutura, Luiz Antônio Pagot, e também Eder Moraes Dias, secretário da Casa Civil”, disse João Antônio Pacífico.

 

“Todas essas abordagens que o Pedro fez não teve sucesso. Sempre ouvia a mesma resposta, que o Estado só ia pagar à construtora quando obtivesse repasses do Governo Federal”, afirmou ele, referindo-se a um pleito que o Executivo tinha junto à União.

 

Em meio às cobranças por parte da construtora para receber os valores devidos pelo Governo de Mato Grosso, a União passou a efetuar repasses financeiros ao Executivo.

 

Foi aí, então, que Eder teria sinalizado que o Governo pagaria a dívida com a Odebrecht, desde que 35% do montante devido fosse retornado em propina.

O mesmo (Eder) falou expressamente que sobre o valor que era devido, do que iriáramos receber junto ao Governo, caberia um percentual de 35% de propina sobre o pretexto de contribuição para a campanha da reeleição do governador Blairo

 

“Valor significativamente elevado”

 

“Quando começou ter esses repasses [da União] e, portanto, antes de começarmos a receber [o que era devido pelo Estado], o Pedro Leão teve uma reunião com o senhor Eder Moraes Dias. Essa reunião foi no Centro Administrativo lá no Governo do Mato Grosso”, disse o diretor.

 

“O mesmo [Eder] falou expressamente sobre o valor que era devido. Do que iríamos receber junto ao Governo, caberia um percentual de 35% de propina sobre o pretexto de contribuição para a campanha da reeleição do governador Blairo Maggi”, afirmou.

 

Durante seu depoimento, João Antônio Pacífico chegou a afirmar, inclusive, que o percentual cobrado por Eder Moraes era “significativamente elevado”.

 

“Esse valor é significativamente elevado. Um valor deste sendo aportado por um obra em execução jamais comportaria”, afirmou.

 

“No entanto, como se tratava de um recebimento crônico, de obras e contratos assinados em 1986 e que vinham se postergando, que não havia nenhuma possibilidade – em nosso entendimento - de recebimento a médio prazo, eu autorizei desde que o pagamento fosse feito pari passu aos nossos recebimentos. Assim foi feito”, disse João Antônio Pacífico.

 

“Blairo deveria ter conhecimento”

 

Ao procurador Rodrigo Janot, o delator afirmou ainda que nunca tratou sobre o pagamento com o então governador Blairo Maggi.

 

Ele, contudo, acredita que Blairo tinha conhecimento do pagamento, já que se tratava de uma alta quantia.

 

“Claro que o Eder dizia para o Pedro que o governador tinha conhecimento. No entanto, nunca esse assunto foi tratado com o Blairo. O que nós imaginamos é que o um pagamento desse, num valor dessa magnitude, claro que se imaginava que ele teria conhecimento. Tudo leva a crer que havia esse conhecimento”, disse.

 

Envolvimento de Pagot

 

Questionado sobre um possível envolvimento do ex-secretário Luiz Antônio Pagot, o diretor da Odebrecth foi taxativo: “Pelo que falou o Pedro, todos os entendimentos dessa operação foram tratados com o senhor Eder Moraes Dias”.

 

“O senhor Luiz Antônio Pagot foi procurado pelo Pedro em várias oportunidades para cobrar a solução de pagamento à Odebrecht. A partir de quando foram feitos repasses da União ao Estado e, consequentemente, daí repassados pagamentos de nossas faturas não quitadas, essa reunião desse entendimento do valor dos 35% me foi relatado por Pedro que foi tratado com o senhor Eder Moraes Dias”.

 

No entanto, no pedido de abertura de inquérito assinado pelo procurador Rodrigo Janot, contra o ministro Blairo Maggi, Pagot é citado como "interlocutor" da negociação que teria resultado no suposto pagamento de propina.

 

Veja o vídeo do depoimento do delator:

 

 

 

Leia mais sobre o assunto:

 

MPF diz que Pagot agiu como "interlocutor" de propina a Maggi

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