Zaque diz que Governo tenta desviar a atenção ao falar de fraude

O promotor de Justiça, Mauro Zaque afirmou não ter dúvidas de que o governador Pedro Taques (PSDB) se utilizou da coletiva de imprensa concedida na última sexta-feira (12), para tentar desviar o foco das denúncias em relação a um suposto esquema de grampos ilegais realizado pela Polícia Militar (PM-MT).

O alegado esquema foi denunciado por Mauro Zaque quando ele ocupou a secretaria de Estado de Segurança Pública, e aponta que as interceptações clandestinas foram feitas sob a conivência do governador. O crime teria sido cometido por meio da tática de “barriga de aluguel”, quando números de telefones de cidadãos, sem conexão com uma investigação, são inseridos em um pedido de quebra de sigilo telefônico à Justiça.

Taques, por sua vez, disse que Zaque teria feito duas denúncias acerca do assunto, sendo que a segunda, para o governo do Estado, trata-se de uma fraude, com erros no protocolo.

“Não vou polemizar com o governador, não vou bater boca. Acho que os fatos são gravíssimos e estão aí colocados, nós não podemos priorizar o ‘acessório’ em detrimento do principal. O principal são as denúncias”, disse Zaque, em entrevista ao MidiaNews.

Mas, não adianta querer me atacar, me desqualificar. Não ataquei ninguém, não apontei ninguém. Agora, minha honra será defendida a qualquer custo

“É lógico e não tenho dúvida (que houve uma tentativa de desviar o foco). Mas, não adianta querer me atacar, me desqualificar. Não ataquei ninguém, não apontei ninguém. Agora, minha honra será defendida a qualquer custo. Não vou admitir que manchem minha honra, que falem qualquer inverdade sobre meu comportamento”, afirmou.

Ainda durante a entrevista, o promotor rebateu declarações do governador dando conta de uma suposta chantagem, comentou as críticas feitas contra ele por Taques, entre outros pontos.

Veja os principais trechos da entrevista:

MidiaNews – O que tivemos conhecimento até o momento é que o senhor recebeu uma denúncia anônima dando conta que uma rede clandestina de escutas telefônicas estava sendo operada na Polícia Militar. O que o senhor pode falar dessa denúncia, ela trazia elementos concretos?

Mauro Zaque - Recebi documentos que demonstravam o que estava acontecendo [as escutas clandestinas]. Ao receber esses documentos, eu fiz uma análise preliminar, não foi uma investigação. Fiz essa análise e constatei que os documentos poderiam sim ser verdadeiros. E a partir daí, fiz os encaminhamentos para que os fatos fossem devidamente apurados.

MidiaNews – Essa apuração, no entanto, não ocorreu? O senhor conversou com o governador e ele preferiu não dar encaminhamento à investigação?

Mauro Zaque - Ele disse que ele tinha o tempo dele, que ele iria promover essa investigação no tempo dele. E eu já percebendo isso, entendi que já não estava mais conveniente permanecer no Governo. Pedi para sair e, posteriormente, fiz o encaminhamento ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para que ele apurasse os fatos.

Veja bem, as pessoas colocam que fiz uma denúncia e tal, mas não. O que eu fiz foi submeter os fatos ao procurador-geral da República. Tão somente narrei pra que eles investiguem os fatos. Não apontei culpados, nem responsáveis.

MidiaNews- Essas informações preliminares apontavam nomes de supostos envolvidos?

Mauro Zaque - Esses documentos eram da PM, fazendo solicitação [de escutas] ao juiz. O juiz deferia essas solicitações da PM. Óbvio que a investigação vai apontar com exatidão quem fez, quem pediu, quem são os responsáveis. Por isso é necessário que se investigue.

Não vou polemizar com o governador, não vou bater boca. Os fatos são gravíssimos e estão aí colocados, nós não podemos priorizar o acessório em detrimento do principal. O principal são as denúncias

MidiaNews  Durante a coletiva de imprensa realizada na última semana, o governador apontou, por exemplo, que o senhor teria feito chantagem...

Mauro Zaque - Não vou polemizar com o governador, não vou bater boca. Acho que os fatos são gravíssimos e estão aí colocados, nós não podemos priorizar o acessório em detrimento do principal. O principal são as denúncias.

Ora, falaram que eu chantageei o governador porque eu queria que demitisse algumas pessoas. Lógico que eu queria, se havia o envolvimento dessas pessoas em algo dessa magnitude, óbvio que eu queria que essas pessoas fossem afastadas, até para que a investigação pudesse ocorrer já naquele momento.

Falam também 'ah não, o doutor Mauro Zaque queria influenciar na eleição do MPE'. Nunca houve essa conversa e eu tenho prova disso gravado. Nunca houve. Nunca fui fazer pleito em favor do promotor José Antônio Borges, apesar de ele ser meu amigo. Isto porque qualquer um dos três candidatos do Ministério Público são excelentes pessoas.

Ainda que eu tivesse feito isso, não teria nada de ilegal, pois é legitimo qualquer cidadão pleitear junto ao governador que ele indique esse ou aquele. Ainda que eu não tenha feito isso, mas você pleitear, não tem nada de ilícito, de ilegal, de imoral. Mas não fiz e tenho como provar que não fiz.

MidiaNews – Quando o senhor fala essa questão de que falou-se muito em “acessórios”, ao invés de tratar da denúncia em si, é porque o senhor entende que, durante a coletiva, houve uma tentativa de desviar o foco?

Mauro Zaque – Lógico. Não tenho dúvida disso. Mas acho que não adianta querer me atacar, me desqualificar. Não ataquei ninguém, não tentei desqualificar ninguém. Eu cumpri com meu papel de secretário de segurança, meu papel de promotor, meu papel de cidadão.

Eu sempre fui leal ao governador, porque ele estava, naquele momento, como meu chefe e como amigo de 20 anos. Não poderia deixar de levar ao conhecimento dele – até em razão dessa lealdade – esses fatos gravíssimos que estavam acontecendo.

E quando eu disse a ele quando saí, falei 'governador não estou aqui para criar problema. Estou aqui para resolver. Mas pra mim não dá mais, muito obrigado' e saí.

MidiaNews – E como o senhor recebeu as declarações do governador dando conta de que o senhor teria fraudado o documento do protocolo da denúncia?

O protocolo não fica sob minha gestão. Se alguém tem que falar sobre isso é o próprio governo, que é quem faz a gestão do protocolo deles

Mauro Zaque - O protocolo não fica sob minha gestão. Se alguém tem que falar sobre isso é o próprio governo, que é quem faz a gestão do protocolo deles. O governador assumiu que houve um primeiro ofício meu, que ele encaminhou para o Gaeco. Quer dizer, esse não foi fraudado. Esse chegou a Casa Civil, foi encaminhado. Aí houve um segundo que desapareceu. Quem tem que explicar isso é o governo, quem faz a gestão do protocolo não sou eu. Eu tenho documento protocolado. O que mais seria exigível de alguém que quer fazer uma comunicação do que um protocolo?

MidiaNews – O governador também mencionou que deverá processá-lo. O senhor também avalia alguma medida desta natureza contra o governador ou qualquer outra pessoa que esteve presente na coletiva?

Mauro Zaque - Eu não quero polemizar, o que falarem de mim que não for verdadeiro.... todo mundo sabe que você é responsável por aquilo que você diz ou por aquilo que você faz. Volto a dizer: não ataquei ninguém, não apontei ninguém, mas a minha honra eu vou defender a qualquer custo.

Não fui responsável por grampo, fiz o que era certo. Cumpri com meu dever, não acredito que ninguém vai querer tomar uma postura de partir para qualquer enfrentamento pessoal, até porque eu não fiz isso com ninguém. Agi dentro dos mais rígidos padrões legais e éticos. Agora, minha honra será defendida a qualquer custo. Não vou admitir que manchem minha honra, que falem qualquer inverdade sobre meu comportamento.

MidiaNews - O senhor fala que não partiu pra nenhum tipo de ataque pessoal, nenhuma crítica em relação a uma ou outra pessoa. Em contrapartida, o governador mencionou que o senhor deveria ser “observado” por um psiquiatra. Como o senhor vê essa postura? Acredita que ele errou no tom? É um ataque da parte dele?

Mauro Zaque - Acredito que cada um reage da forma que entende pertinente. Eu jamais ajo dessa maneira. Tenho o respeito como um princípio. Se tiver que discutir qualquer coisa, discuto nos autos, no processo.

Veja bem, fiz essa representação já tem um tempão, não procurei a imprensa, não procurei holofotes em cima disso. Então, acho que a gente tem que ter seriedade no trato dessas questões. Não vou ficar polemizando com o governador ou com quem quer que seja.

Acredito que cada um reage da forma que entende pertinente. Eu jamais ajo dessa maneira. Tenho o respeito como um princípio. Se tiver que discutir qualquer coisa, discuto nos autos

Fiz meu papel, cumpri com minha obrigação, com meu dever de cidadão, dever de agente público, e é isso que interessa. Minha consciência está tranquila nesse sentido.

MidiaNews - A revelação desse esquema foi o fator primordial para a saída do então secretário Paulo Taques da Casa Civil?

Mauro Zaque - Acho que os fatos falam por si só.

MidiaNews - Há algum tipo de envolvimento dele nessa questão?

Mauro Zaque - Acho que a investigação é que vai poder dizer isso com precisão. Com detalhamento. Depois de investigado, aí eu acho que dá para saber o que pode ter acontecido.

MidiaNews - Em relação a investigação, o senhor acredita que o esquema pode ser ainda maior? Fatos mais graves podem ser revelados?

Mauro Zaque - Acho que a investigação vai ser feita com muita competência, muita qualidade e ela vai poder esclarecer os fatos. Acredito que tudo o que falarmos agora é prematuro. Vamos aguardar a investigação, que é quem vai ter autoridade pra dizer o que está ocorrendo de fato, o que aconteceu.

MidiaNews - Por ora, o senhor deve adotar alguma medida? Vai acompanhar o desenrolar dessas investigações?

Mauro Zaque - Por enquanto estou avaliando. O que eu tinha que fazer era encaminhar a denúncia. Estou avaliando o que acontecer e, a partir do momento que encaminhei, a minha responsabilidade cessou.

MidiaNews - A deputada Janaina Riva chegou a emitir uma nota, disse que vai propor uma CPI para investigar tais fatos. O senhor acredita que a medida é válida? É necessária?

Mauro Zaque – Ela, no âmbito do Legislativo, que é o Poder que ela representa, tem o direito de propor a CPI. Enfim, ela se sentiu ofendida e com toda a razão. Mas isso é algo que é uma decisão muito institucional, vai depender da leitura da Assembleia Legislativa, como encaminhar. Acho que cada um vai imaginar e pensar como pode fazer os encaminhamentos de forma detalhada para cada instituição.

Só acho que é importante que isso seja investigado. Isso é algo que não atinge A, B ou C, mas é algo que atinge toda a sociedade. Definitivamente é algo que a gente não pode permitir.

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