LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
Mais de 150 operários que trabalham na construção da Trincheira da Jurumirim, na Avenida Miguel Sutil, cruzaram os braços na manhã desta segunda-feira (19), alegando falta de condições de trabalho.
A obra está sendo executada pelo Consórcio Sobelltar-Secopa e estaria com repasses atrasados por parte da Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo (Secopa). Segundo os trabalhadores, a empresa teria alegado que o montante em atraso somaria R$ 7 milhões.
Os operários reclamam que a empresa não estaria reembolsando as despesas dos funcionários com as viagens para seus estados de origem – até mesmo, descontando a folga do operário da folha de pagamento. O salário, porém, continuaria sendo pago em dia.
De acordo com o ajudante de obras Marcos Souza, 40, contratado há sete meses, a empresa concede a folga prevista na legislação trabalhista para que os operários de outros estados possam visitar seus familiares.
No entanto, o tempo de viagem é longo, o ônibus seria precário e as despesas de viagem (como alimentação) não seriam reembolsadas.
“Quem vai para o Piauí, por exemplo, passa duas noites e um dia inteiro na estrada, gasta de R$ 220 a R$ 290 com alimentação na ida e volta, mas não recebe o dinheiro de volta da empresa”, disse.
Em algumas ocasiões, trabalhos estão deixando de ser realizados por falta de material ou de equipamentos de segurança para os operários.

"Eles mandam a gente vir para o canteiro de obras, nós batemos ponto e ficamos no sol, sem fazer nada, porque não tem serviço, não tem frente de trabalho"
“Eles mandam a gente vir para o canteiro de obras, nós batemos ponto e ficamos no sol, sem fazer nada, porque não tem serviço, não tem frente de trabalho. Isso quando não dá meio-dia e eles nos mandam de volta para o alojamento, porque não tem material para usar na obra”, afirmou R.B.P., de 23 anos, que trabalha no canteiro há nove meses.
“Sem contar que tem dia que não tem como trabalhar porque não tem Equipamento de Proteção Individual (EPI) para todo mundo”, completou Marcos.
Além disso, funcionários doentes estariam sendo obrigados a permanecer no canteiro de obras porque a empresa não teria dinheiro para rescindir o contrato, também por falta de repasse.
É o caso de Manoel Piano da Silva, de 33 anos, que sofre com uma hérnia na coluna há três meses e deseja voltar ao Maranhão – seu estado de origem – para se tratar e ter o apoio da família, mas não consegue entrar em acordo com a empresa para ter o contrato rescindido.
“Eles ficam falando que não tem dinheiro para me mandar embora agora e querem que eu peça demissão, mas não quero perder meus direitos. Estou doente e preciso de tratamento”, disse.
Alexander Souza Lima, 38, também estaria trabalhando sem estar em boas condições de saúde. Ele descobriu que sofre de pressão alta há alguns meses, mas não consegue voltar para a cidade de Piripiri, em Piauí, para continuar se tratando.
Os operários reclamam ainda, da jornada de trabalho, que vem sendo praticada na obra. Segundo Marcos, os funcionários trabalham de segunda à quinta-feira, das 7h às 17h, e às sextas-feiras até às 16h.
“Sábados, domingos e feriados, a obra fica vazia, porque não podemos fazer hora extra. O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) proíbe que os funcionários façam hora extra no canteiro. Mas não vamos trabalhar até cair, queremos apenas ganhar mais”, disse.
Eles alegam que permanecerão sem retomar o trabalho até que a empresa regularize a situação junto aos operários.
Verba “bloqueada”

"Nos sábados, domingos e feriados, a obra fica vazia, porque não podemos fazer hora extra"
O atraso no repasse feito à empreiteira pela Secopa teria começado quando do início da greve dos servidores do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), há mais de um mês.
Isso porque a obra da Jurumirim/Trabalhadores integra o pacote de Travessia Urbana firmado entre o órgão e o Governo do Estado, no valor de R$ 165,7 milhões, para execução de seis obras de arte e tratamento viário das rodovias federais 163,364 e 070 – que cortam Cuiabá e Várzea Grande pelas avenidas Miguel Sutil, Fernando Corrêa da Costa e FEB.
Com a paralisação geral dos serviços, os repasses feitos pelo Governo Federal ao Estado para pagamento das medições das obras ficam “emperrados” no órgão, uma vez o DNIT apenas libera recursos após a realização de avaliações que confirmem o avanço das obras.
O Estado chegou a fazer pequenos repasses às empreiteiras, num montante superior a R$ 4 milhões, para dar “fôlego” e não comprometer o andamento das obras. O valor, porém, não seria o suficiente para suprir o repasse em atraso do Governo Federal, que seria de R$ 52 milhões.
A obraCom 960 metros de extensão, essa é a maior de todas as trincheiras que estão sendo construídas ao longo da Perimetral e deve ser entregue até o final deste ano.
Ela se inicia um pouco antes da Avenida Dante de Oliveira (Trabalhadores) e segue até depois do cruzamento da Avenida Gonçalo Antunes de Barros (Jurumirim), próximo ao viaduto da Avenida Historiador Rubens de Mendonça (Avenida do CPA).
Segundo o último relatório do Tribunal de Contas do Estado (TCE), a obra possui 40% dos serviços concluídos.
Outro ladoA reportagem do
MidiaNews entrou em contato com a Secopa. A assessoria de imprensa afirmou que a pasta vai se pronunciar sobre o caso ainda hoje.
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