Cuiabá, Segunda-Feira, 24 de Novembro de 2025
TRIBUNAL DO JÚRI
10.09.2015 | 21h29 Tamanho do texto A- A+

Em interrogatório, Arcanjo nega que mandou matar empresários

Após 13 horas, julgamento do ex-chefe do jogo do bicho em MT é suspenso e será retomado nesta sexta

Divulgação/TJMT

O ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro, acusado de mandar matar empresários em 2002, em Cuiabá

O ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro, acusado de mandar matar empresários em 2002, em Cuiabá

LUCAS RODRIGUES
DO MIDIAJUR
O primeiro dia de julgamento do ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro foi suspenso, às 21h30 desta quinta-feira (10), por decisão da juíza Mônica Catarina Perri Siqueira, que preside o júri.

Arcanjo é acusado de mandar matar, em 2002, os empresários Fauze Rachid Jaudy Filho e Rivelino Jacques Brunini e da tentativa de homicídio contra Gisleno Fernandes. Em interrogatório, ele negou que tenha participação nas mortes

Nesse primeiro dia, foram ouvidas todas as testemunhas de acusação e de defesa.

As testemunhas prestaram depoimento em outras localidades por carta precatória tiveram os depoimentos lidos pela assessora da juíza.

Também foi realizado interrogatório de Arcanjo, durante a noite, que negou qualquer envolvimento com os crimes pelos quais está sendo julgado.

Ele disse, inclusive, que chegou a ser convidado a participar do negócio envolvendo os caça-níqueis, mas que recusou a proposta por "não achar viável".

"Eu fui convidado a participar, mas não quis. Primeiro, pelo Arthur e o Júlio Bachs. Depois, veio o Rivelino, o Jesus e o Rogério. Eles me apresentaram um laudo pericial dizendo que os caça-níqueis eram legais, mas eu não quis", disse ele.

Ligação com Bachs

Arcanjo admitiu que era amigo de Júlio Bachs, apontado como um dos operadores dos caça-níqueis no Estado e suposto mentor do crime, e que ambos jogavam futebol duas vezes por semana.

Porém, ele negou que recebia mensalidades por cada caça-níquel e disse desconhecer a alcunha de "papai do céu", que supostamente Bachs atribuía a ele.

O ex-bicheiro também se defendeu da acusação de que uma das provas de seu envolvimento era o fato de as máquinas conterem o símbolo de um colibri, mesmo símbolo de uma das factorings dele.

"Quando eu fiquei sabendo do símbolo, reclamei com o Jesus e o Rivelino. Tanto que, a partir disso, eles tiraram o símbolo e colocaram outro. Eu não tinha interesse nas máquinas, pois já explorava o jogo do bicho em Cuiabá.

Reunião em factoring

A juíza Mônica Perri perguntou ao ex-bicheiro o porquê de ter sido realizada uma reunião na factoring dele com diversos integrantes da máfia dos caça-níqueis. Arcanjo afirmou que naquela reunião,  os sócios dos caça-níqueis no Rio de Janeiro tentaram o convencer a firmar parceria com eles, mas que não era ele quem autorizava ou não a entrada das máquinas no Estado.

Mônica Perri também questionou Arcanjo sobre a informação de que, em razão de Rivelino ter sido proibido de atuar em Cuiabá, o empresário implantou caça-níqueis em Chapada dos Guimarães.

Em razão do prejuízo em Chapada, segundo relatou a juíza, Rivelino instalou caça-níqueis em Várzea Grande, o que teria deixado Arcanjo furioso pouco antes da data do crime, mandando apreender as máquinas de Rivelino que estavam em um galpão.

"Nunca existiu isso. Nunca mandei nem colocar nem retirar máquinas. Isso é um absurdo. Não tem porque eu ter feito isso. Eu conhecia o Rivelino, gostava dele", defendeu Arcanjo.

Documentos apontariam ligação

O promotor de Justiça Vinícius Gahyva pediu que Arcanjo explicasse os motivos pelos quais foram encontrados, na casa de Júlio Bachs, rascunhos sobre um projeto de supervisão de caça-níqueis comandado por JAR, mesmas iniciais do nome do ex-bicheiro.

Arcanjo disse que não tinha conhecimento destes papéis, mas confessou que as iniciais JAR e o símbolo do colibri representavam as suas empresas.

"Não sei a razão dessas anotações. Mas é muito fácil escrever um nome, eu posso escrever o do senhor agora, é muito fácil", argumentou.

Outro fato trazido pelo promotor foi o documento achado na casa de Júlio Bachs, em que Arcanjo constava como sócio da empresa criada por empresários do Rio de Janeiro que ajudaram a instalar os caça-níqueis em Mato Grosso.

"Eu não participei desse negócio. Eles me propuseram, mas eu não aceitei", voltou a dizer o ex-bicheiro.

"Não queria caça-níqueis em Mato Grosso"

A defesa, ao fazer a sustentação, levantou a tese de que foi criado um "mito" em torno da figura de João Arcanjo como o "Comendador".

O advogado Paulo Fabrinny fez diversas perguntas sobre a trajetória de vida e de carreira do ex-bicheiro, assim como sobre a instituições de caridade que Arcanjo auxiliava.

Um dos argumentos da defesa foi o de que não haveria motivo para Arcanjo participar do esquema dos caça-níqueis, pois, na época, já era dono de diversas empresas e obtinha muito lucro com o jogo do bicho.

"Eu entrei na factoring e, no começo, perdi muito dinheiro, mas depois fiz com as pessoas certas e dei continuidade. Tinha fazenda, hotel, factoring, emissora de rádio, um shopping em Rondonópolis. Também não quis participar porque no Rio de Janeiro já ocorriam, por causa dos caça-níqueis, muitas mortes, violência. E, no jogo do bicho, apesar de ser contravenção, não tem isso. Nunca morreu nenhum bicheiro aqui ", contou.

O advogado perguntou porque Arcanjo continuou no jogo do bicho se já ganhava muito dinheiro com os outros negócios. O bicheiro respondeu que continuou para não deixar seus funcionários na mão.

"Eu tinha 4 mil funcionários em todo o Estado. Tinha esse compromisso com eles", alegou.

Promotor e advogado discutem

A tentativa de restaurar a imagem de Arcanjo perante os jurados irritou o promotor de Justiça Vinícius Gahyva, que tachou a situação de "hipocrisia social".

Paulo Fabrinny retrucou e citou a acusação de que o então secretário de Segurança Pública, Benedito Corbelino (que é procurador de Justiça), teria vazado informações da Arca de Noé, na época, para facilitar a fuga de Arcanjo.

"Acho que isso sim é uma hipocrisia social", rebateu o advogado.

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