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“ENCOMENDAVA COM GARIMPEIROS”
26.01.2017 | 16h42 Tamanho do texto A- A+

Ex-Metamat diz que ia de avião buscar ouro para ex-secretários

João Justino é delator da operação "Sodoma 4"; ele alega que não sabia que dinheiro era ilícito

Reprodução

Declaração do ex-Metamat, João Justino, consta em documento de defesa

Declaração do ex-Metamat, João Justino, consta em documento de defesa

THAIZA ASSUNÇÃO
DA REDAÇÃO

O ex-presidente da Companhia Mato-grossense de Mineração (Metamat), João Justino, revelou que utilizava um avião fretado da empresa aérea “Abelha” para ir até Peixoto de Azevedo (672 km ao Norte de Cuiabá) comprar barras de ouro para os ex-secretários de Estado Pedro Nadaf e Marcel De Cursi.

 

João Justino é um dos delatores da Operação Sodoma 4, deflagrada em setembro de 2016.

 

O dinheiro utilizado na compra foi supostamente obtido por meio de um esquema de desapropriação da área conhecida como Jardim Liberdade, em Cuiabá, no governo do ex-governador Silval Barbosa (PMDB), que teria lucrado R$ 15,8 milhões. Cursi está preso desde setembro de 2015 no Centro de Custódia de Cuiabá. Já Nadaf conseguiu liberdade com uso de tornozeleira eletrônica na mesma época da deflagração da operação.

 

Conforme Justino, assim que recebia o dinheiro dos ex-secretários, ele ligava para os garimpeiros e encomendava o ouro. No total, segundo a investigação, o delator adquiriu 10 kg de barra de ouro com dinheiro desviado, a pedido de Nadaf e Cursi, que davam o dinheiro para ele fazer as compras.

 

Quando a encomenda ficava pronta, o denunciado deslocasse através de um avião fretado, da cia. aérea “Abelha” ou de automóvel no sentido de buscá-las, e retornava no mesmo dia, e imediatamente, repasse o ouro para os referidos denunciados

“Quando a encomenda ficava pronta, deslocava-se através de um avião fretado, da cia. aérea “Abelha” ou de automóvel no sentido de buscá-las, e retornava no mesmo dia, e imediatamente, repassava o ouro para os referidos denunciados”, disse.

 

A revelação consta em requerimento apresentado pelo ex-Metamat à juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, em dezembro do ano passado.

 

Em sua defesa, ele alega que não cometeu crime de lavagem de dinheiro, pois não sabia que o dinheiro entregue a ele por Nadaf e Cursi para a compra do ouro possuía origem ilícita. O pedido ainda não foi analisado pela magistrada.

 

“E por tudo mais que dos autos consta, o denunciado concorda com os fatos, mas não aceita a acusação contra ele imputada no libelo acusatório, a qual resta por completo rechaçada, requerendo a vossa excelência, se digne julgar totalmente improcedente a denúncia quanto ao ora denunciado, requerendo a sua absolvição”, afirmou.

 

Dinheiro que bancou o ouro

 

Segundo a Defaz, o empresário Filinto Muller criou uma empresa de fachada, a SF Assessoria e Organização de Eventos, para lavar o dinheiro da desapropriação da terra.

 

 

MidiaNews

Nadaf e Cursi

O ex-secretário Pedro Nadaf foi solto em setembro do ano passado; Cursi continua no CCC

Conforme os autos, Filinto repassou R$ 750 mil a Marcel de Cursi, parte que lhe cabia no  esquema.

 

Cursi então teria acrescentado mais R$ 250 mil ao valor e repassado a João Justino, para que fosse providenciada a compra de 10 kg em barras de ouro.

 

De acordo com a Defaz, as barras de ouro foram entregues a Pedro Nadaf que, por sua vez, repassou pessoalmente o carregamento do metal a Marcel de Cursi, no final de 2014.

 

Além do ex-Metamat e dos ex-secretários Pedro Nadaf e Marcel De Cursi, também são réus: o empresário Filinto Muller; o procurador de Estado aposentado Francisco Gomes de Andrade Lima Filho, o ex-secretário de Planejamento Arnaldo Alves de Souza Neto; o ex-presidente do Intermat, Afonso Dalberto; além do proprietário do imóvel, Antonio Rodrigues Carvalho, seu advogado Levi Machado e o empresário Valdir Piran.

 

Sodoma 4

 

Segundo as investigações, o empresário e delator Filinto Muller foi procurado pelo então procurador do Estado Francisco Andrade Lima Filho, o “Chico Lima”, que teria lhe pedido para criar uma empresa, em nome de laranja, a fim de possibilitar a lavagem de dinheiro da organização.

 

Esta empresa, segundo a Polícia, recebeu várias transferências bancárias da Santorini Empreendimentos, por meio do advogado Levi Machado de Oliveira, no intuito de “lavar” a propina.

 

A Polícia ressaltou que a Santorini tinha autorização para expropriar a área desde 1997, mas só em 2011, por meio do sócio Antônio Rodrigues de Carvalho, pediu que o Estado adquirisse a área pelo valor de R$ 37,1 milhões.

 

Porém, apenas no final de 2013, o então chefe de gabinete do ex-governador Silval Barbosa, Sílvio Araújo, encaminhou o pedido a Chico Lima para que este elaborasse um parecer.

 

Segundo a Polícia, apenas 55 hectares (no valor de R$ 17,8 milhões) estavam aptos a serem desapropriados, mas o grupo aumentou para 97,5 hectares, “a fim de obter lucro”.

 

O delator e sócio da Santorini, Antônio Rodrigues de Carvalho, contou que, em janeiro de 2014, foi a uma reunião agendada com Chico Lima e o então secretário de Estado de Fazenda, Marcel de Cursi, na sede da Sefaz. Nesta reunião, segundo ele, Cursi exigiu que 50% do valor pago pela desapropriação retornasse para o grupo.

 

Dias depois, de acordo com a representação, o à época chefe da Casa Civil, Pedro Nadaf, editou o decreto que autorizou a desapropriação da área, subscrito por Silval Barbosa.

 

Para legalizar o futuro pagamento da indenização, o então presidente do Intermat, Afonso Dalberto, solicitou que a Sefaz agilizasse recursos para garantir o repasse.

 

Entretanto, como na época o Intermat não possuía o recurso para fazer o pagamento, o secretário de Planejamento Arnaldo Alves teria ajustado dotação orçamentária suficiente para atender a demanda da indenização.

 

O próximo passo da organização, conforme a Polícia, foi a abertura de decretos orçamentários que viabilizaram créditos suplementares para a regularização fundiária.

 

Assim, entre maio e outubro de 2014, foram publicados sete decretos que possibilitaram que os R$ 31,7 milhões fossem pagos pela área. Pedro Nadaf detalhou como foi feita a lavagem de dinheiro do esquema, durante depoimento em que confessou os crimes, trazendo cheques da empresa SF Assessoria emitidos a pessoas próximas.

 

No esquema, Afonso Dalberto disse que se beneficiou de R$ 606,4 mil. Já o delator Filinto Muller relatou que Chico Lima ajustou com ele que os R$ 15,8 milhões do “retorno” seriam lavados por meio da empresa dele, a SF Assessoria.

 

As investigações também apontaram que o advogado Levi Machado de Oliveira recebeu uma “comissão” de 3% do montante (R$ 474 mil) para colaborar nas tratativas.

 

Ainda segundo a Polícia, era Chico Lima o responsável por definir quais membros receberiam as propinas oriundas dos desvios. Além dele próprio, também seriam beneficiários: Silval Barbosa, Pedro Nadaf, Marcel de Cursi, Arnaldo Alves e Afonso Dalberto.

 

Segundo a denúncia, a propina recebida por Nadaf e Arnaldo, por outro lado, teria sido lavada com a ajuda do empresário Alan Malouf, sócio do Buffet Leila Malouf.

 

Já a parcela de Silval Barbosa, no valor de R$ 10 milhões, teria sido integralmente repassada ao empresário de factoring Valdir Piran, a título de pagamento de dívidas de campanha.

 

Leia mais:

 

Cursi transformou R$ 1 milhão de propina em 10 kg de ouro

 

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