O desembargador Luiz Carlos da Costa, que morreu nesta sexta-feira (10) em Cuiabá, ficou conhecido, além do rigor em suas decisões, pela irreverência ao proferir seus votos em plenário.
Ele usava como referências personalidades da filosofia, da música, da poesia e do mundo pop, entre outras (confira links de matérias abaixo).
O magistrado já usou letra de enredo da escola de samba Imperatriz Leopoldinense, musicas de Cazuza, Tom Jobim e até Kelly Key. O objetivo, segundo ele, era deixar a Justiça "mais próxima do cidadão".
Ainda quando era juiz, em 2010, Luiz Carlos ganhou as páginas nacionais por citar a música "Baba Baby", da cantora Kelly Key, em uma sentença que determinou a um plano de saúde que ressarcisse as despesas médicas de uma paciente com câncer.
"Isso é para você aprender, você nunca mais vai me esnobar", sentenciou o magistrado.
Na 1ª Vara de Família, à época, ele usou da irreverência e pediu para uma menina perdoar os pais. A ação era sobre uma disputa de guarda da menor.
"Isabele, perdoe seus pais. Eles não sabem o que fazem. Você precisa ter muita paciência. Eles são jovens e a juventude arrebata e fascina".
Em outra sentença, em que julgou a separação de casais, citou a música "Felicidade", de Vinicius de Morais e Antônio Carlos Jobim.
"A felicidade é como gota de orvalho numa pétala de flor. Brilha tranquila, depois de leve oscila. E cai como uma lágrima de amor".
Enredo de samba e Cazuza
Já como desembargador, em 2017, ele usou o bordão da personagem “Filomena”, interpretada pela humorista Gorete Milagres, ao afastar a tese de nepotismo em uma ação que tramitava no Tribunal de Justiça.
“A situação em questão não se enquadra nas hipóteses vedadas pela lei. Porque se for enquadrar tudo como nepotismo, então como diz a personagem da TV: ‘Ô, coitado!’”, disse.
Ele ainda fez uma adaptação do samba enredo de 1989 da escola de samba Imperatriz Leopoldinense. “Honestidade, honestidade. Abre as asas sobre nós. E que a voz da probidade seja sempre a nossa voz”, declamou.
Em 2015, citou a música "Pro Dia Nascer Feliz", de Cazuza, para fundamentar o voto em um recurso.
Ele disse que lamentava ter que discordar do músico, considerado por ele "o maior poeta do século 20", pois iria nadar a favor da corrente no recurso que o plenário estava a julgar e não "contra a corrente", como diz a música.
A morte
O magistrado morreu aos 67 anos na manhã desta sexta-feira (10) no Hospital Santa Rosa, em Cuiabá. Luiz Carlos estava internado desde o mês passado após sofrer uma queda em casa. Devido ao acidente, o desembargador teve complicações na saúde.
O desembargador era viúvo e deixa um filho.
O velório ocorrerá a partir das 16h, na Funerária Santo Antônio, Capela 3, localizada na Avenida Alzira Santana, 501, no bairro Nova Várzea Grande, em Várzea Grande.
Confira algumas matérias sobre o estilo irreverente do magistrado:
Desembargador: "Juiz não soube distinguir gambá de onça"
Desembargador: veia literária em decisão
Desembargador exalta a memória de Cazuza
“Dinheiro usado por juiz caiu do céu?”, questiona desembargador
Em voto, magistrado adapta samba enredo
Desembargador “puxa a orelha” do TJ
Desembargador diz que decisão do TJ é “horripilante”
Desembargador cita “Filomena” em voto
Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).
0 Comentário(s).
|